Da Redação
O Grande Oriente
Lusitano (GOL), a mais antiga e influente obediência maçônica de Portugal, vive
um dos momentos mais tensos de sua história recente. A decisão de admitir
mulheres em suas fileiras abriu uma verdadeira crise interna, resultando na
saída de dezenas de maçons e levantando o espectro de novas cisões.
A debandada em Vila Nova de Gaia
O caso mais
simbólico ocorreu na Loja União Portucalense, de Vila Nova de Gaia. Liderados
pelo médico e ex-coordenador do Plano de Emergência para a Saúde, Eurico Castro
Alves, cerca de 40 maçons entregaram seus pedidos de desligamento neste mês. Em
documentos internos, os membros afirmaram ser contrários à entrada de mulheres
e solicitaram o “abatimento das colunas” da loja — termo usado na maçonaria
para marcar a dissolução de uma oficina.
Expansão do mal-estar
A tensão, porém, não
se limita ao norte do país. Outras lojas, como a Estado da Arte, em Cascais,
também avaliam abandonar o GOL. No Algarve, pelo menos uma das seis lojas da
região encontra-se em rota de colisão com a liderança da obediência. Fontes maçônicas
apontam que parte dos dissidentes poderá migrar para a Grande Loja Legal de
Portugal (GLLP), rival histórica do GOL.
Atualmente, o GOL reúne 2.400 membros distribuídos em 103 lojas, enquanto a GLLP possui 3.884 maçons em 180 oficinas ativas. Apesar da especulação, a GLLP nega, por ora, negociações para receber em bloco os desertores.
A origem da controvérsia
O estopim da crise
remonta a maio deste ano, quando o parlamento maçônico do GOL aprovou a revisão
constitucional que abre as portas para a iniciação de mulheres. A decisão foi
promulgada em junho pelo grão-mestre Fernando Cabecinha. No entanto, como a aplicação
prática dependia de um regulamento geral ainda em elaboração, o grão-mestre
publicou em 21 de agosto um decreto com regras provisórias.
Segundo o texto,
qualquer loja interessada em tornar-se mista deve apresentar proposta assinada
por pelo menos sete membros ativos e obter aprovação por maioria absoluta. Já
há registros de oficinas solicitando a mudança. A pioneira foi a Loja Delta,
que há anos tentava incluir uma mulher em suas sessões.
Fim de semana de reuniões e disputas
Enquanto as
divergências se aprofundam, o novo ano maçônico começa sob clima de
efervescência. Neste fim de semana, diversas obediências realizam encontros e
jantares para marcar a abertura dos trabalhos.
O GOL se reunirá no
Palácio do Bairro Alto e depois na Casa do Alentejo, em Lisboa. Já a GLLP
organiza sua assembleia no Hotel Corinthia, enquanto a Grande Loja Soberana de
Portugal, nascida de uma cisão da GLLP, promove evento no Penha Longa.
Entre tradição e mudança
A questão da
admissão de mulheres, vista por muitos como inevitável em um mundo cada vez
mais igualitário, tornou-se uma das maiores fraturas internas do GOL. Se para
uns a decisão simboliza abertura e modernização, para outros representa uma
quebra de tradições seculares.
O futuro da
maçonaria portuguesa dependerá de como essas tensões serão administradas. O que
já se pode afirmar é que a entrada das primeiras “irmãs” no GOL não apenas
altera a paisagem interna da obediência, mas também redefine os rumos do poder
maçônico no país.
Fonte: https://sol.sapo.pt
2 Comentários
É uma tradição? Sim. Mas uma tradição que não empobrece nem enriquece NADA no simbolismo e filosofia da Ordem - diferente de políticas de pequenos poderes, disputas de cargos e baixa qualidade na produção intelectual de trabalhos. Sem contar pouco engajamento nas atividades sociais e de beneficência. Isso sim, deveria ser o grande motivo de preocupação de todos.
ResponderExcluirA tradição direciona para par outras searas, conseguir aceitar uma hierarquia, o momento de ouvir e calar-se, de saber guardar o acontecido e dito em loja, e a forma da iniciação tradicional, seria mudada? Empoderação demais levará a Ordem para ruínas.
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