Tradução
José Filardo
Por quê 1689 – 1997?
Por
referência a um escrito de Marie-Cécile Revauger em seu livro “ O fato
maçônico no século XVIII ”, no qual ela situa o nascimento e os
primórdios da Maçonaria no Reino Unido e no exterior, tomamos 1689 como um ano
crucial em que os eventos se situam antes e depois
de 1689:
A maçonaria moderna realmente nasceu na Escócia, com
homens tais como Shaw, autor de estatutos que regulavam a vida
dos maçons operativos e Robert Moray, Membro da Royal Society.
A partir do século XVII, de fato, especulativos juntaram-se às lojas operativas,
de modo que, ao contrário do que aconteceu na Inglaterra, houve uma verdadeira
continuidade entre as lojas dos séculos XVII e XVIII, entre os operativos e os
especulativos. Simplesmente, é uma verdade que os ingleses têm dificuldade em
aceitar. Eles preferem proclamar em alto e bom tom que a sua Grande Loja,
fundada em 1717, foi a primeira no mundo, antes da Grande Loja da Escócia, que
data apenas de 1736. O que eles não dizem é que a Grande Loja 1717 é uma
organização completamente nova, criada por quatro lojas londrinas onde os
maçons operativo primam por sua ausência. A Grande Loja escocesa de 1736, ao
contrário, é fundada por uma centena de lojas (os historiadores não chegam a um
acordo sobre o número exato), incluindo um grande número de operativos. É
inegável que a osmose entre operativos e especulativos não ocorreu a não ser na
Escócia, e isso no início do século. É significativo que a Grande Loja da
Inglaterra, composta unicamente por especulativos, portanto, tenha surgido
precisamente em 1717. O contexto religioso e político parece essencial para
explicar este nascimento.
1688 é uma data chave para a Grã-Bretanha: ela
marca o fim do reinado de James Stuart II, que encarnava dois perigos, a
monarquia absoluta e o catolicismo. Estes dois perigos parecem definitivamente
descartados, com o fracasso da rebelião Jacobita, partidários dos reis Stuart,
em 1715. É significativo que a moderna Maçonaria tenha decolado em um país de
tradição protestante e não tradição de católica. A Igreja Anglicana tolerava a
diferença, pelo menos até certo ponto: ela tinha se acostumado aos debates
teológicos, ao contrário da Igreja Católica muito mais monolítica e dogmática.
Escusado será dizer que as bulas papais de excomunhão dos maçons são recebidas
com a maior indiferença em 1738 e, em seguida, em 1751. Além disso, após a Revolução
Gloriosa de 1688, os inconformistas religiosos vieram a obter liberdade de
culto, mesmo que eles ainda estivessem privados de seus direitos civis. A
situação religiosa e política permite, assim, o nascimento de uma estrutura
como a loja. O próprio Anderson observa nas Constituições que nunca o contexto
foi tão favorável. Com sabedoria, ou como medida de precaução, ele
estipula que todo debate político ou religioso será descartado das lojas.
Isso tranquiliza as autoridades do país, e também promove a tolerância. Na
verdade, são muitos os não-conformistas que ingressam nas novas oficinas.
Na
verdade, o ano de 1689 tem sua primavera que testemunha a instalação de uma
primeira loja conduzida por David Nairne,cuja existência foi
revelada em seu Diário que aborda a vida dos reis Stuart nos primeiros anos de
exílio em Saint-Germain-en-Laye, na França.
Quanto
à primavera de 1997, ela corresponde à data de partida de Robert Ambelain para
o Oriente Eterno.
….
Situar
o ano de 1688 nos leva à próxima década, para uma apresentação dos Jacobitas,
que Pierre-Yves Beaurepaire, Mestre de Conferências nos apresenta
como os infelizes adeptos de James II expulso do trono da Inglaterra pela
Revolução Gloriosa de 1688.
Os emigrantes JACOBITAS
Acima,
um oficial do Regimento de Dillon, tela extraída da obra de Edmond Lajoux
e
Pierre Mac Orlan "A Lis, a âncora e a cruz", Edições militares
ilustradas,1942.
Infelizes
partidários do católico James II que foi expulso do trono da Inglaterra pela
Revolução Gloriosa de 1688, os jacobitas tentam em vão até meados do século
XVIII restaurar a dinastia caída dos Stuarts. De 1689 a 1746 (data do desastre
de Culloden), sucessivas ondas de refugiados jacobitas desembarcam,
principalmente na França, onde Louis XIV instala James II em
Saint-Germain-en-Laye. De 1689 a 1692, 40.000 refugiados estabelecem as bases
da diáspora Jacobita. Ela é, então, composta principalmente
por militar, irlandeses e católicos que se alistam a serviço
da França. Posteriormente, Ingleses e Escoceses, anglicanos e presbiterianos
virão a se juntar a eles no continente. Esta diáspora é caracterizada por seu
componente aristocrático, quase 40% de seu número. Na segunda metade do século
XVIII… credita-se a eles a fundação de algumas das mais antigas lojas
europeias, a criação dos altos graus “escoceses” e a divulgação da Arte Real
até os confins europeus e o estabelecimento uma rede maçônica estruturada para
facilitar o seu objetivo político de recuperar o poder. Os legendários
Superiores Desconhecidos da Maçonaria e, principalmente, a Estrita Observância
Templária foram frequentemente identificados com os pretendentes Stuart e, de
acordo com G. Bord, a maioria dos historiadores contemporâneos admite a
existência de lojas “jacobitas”em Paris. Tendo à sua frente figuras importantes
do movimento, tais comoCharles Radclyffe, Lord Darwentwater, Fundador
da loja St. Thomas No. 1 e Grão-Mestre da Grande Loja de França de 1736 a 1738,
a historiografia as opõe às lojas ”Hanoverianas”, cujos membros reconheciam a
legitimidade da sucessão protestante e alemã ao trono da Inglaterra com George
I em 1714, e a autoridade maçônica da Grande Loja de Londres.
Para
entender o lugar exato ocupado pelos ambientes jacobitas no desenvolvimento da
sociabilidade maçônica, é importante distinguir os fatos obtidos de histórias
apócrifas de fundação. G. Bord e seus sucessores, apesar das recentes e
sedutoras tentativas de Andre Kervella, não conseguiram produzir prova tangível
de suas alegações e a suposta patente escocesa da Saint Jean d’Ecosse
de Marselha (Veja o próximo parágrafo) é claramente uma falsificação
destinada a cofirmar a posteriori a loja em sua oposição ao Grande Oriente de
França. No entanto, é certo que os maçons eram numerosos nas primeiras ondas de
refugiados, particularmente entre os nobres e militares do círculo dos
pretendentes sucessivos, conforme Edward Corp mostrou com a Casa do rei Stuart
e a corte de Lord Burlington. Seu desejo de reconstruir um vínculo social, como
farão tantos refugiados que a França acolherá durante o século XIX, também
parece certo. Por outro lado, os registros policiais atestam que refugiados
pobres bateram às portas de templos parisienses na década de 1740 para serem
auxiliddos por seus irmãos. Finalmente, tanto em Toulouse com os representantes
da família Barnewall, quanto na Rússia, com Keith e Gordon, há
evidências de que Jacobitasdesempenharam um papel de liderança no
desenvolvimento da Arte Real.
…..
Pode-se assim considerar que foi criada uma verdadeira rede de lojas “jacobitas
“, correspondendo-se, tentando renovar contatos com seus irmãos nas ilhas
britânicas partidários da causa Stuart? Isso não é certo. Na verdade, o perigo
Jacobite é na Inglaterra dos Hanover, e mais particularmente, na do ”Primeiro
Ministro” Robert Walpole, uma arma política formidável que o partido Whig no
poder usou e abusou para excluir seu rival toryacusado de ter
traído a Inglaterra e de conspirar para restaurar os Stuarts. Seus
representantes na França, destacando-se o embaixador maçom Waldegrave, tinham
todo o interesse em estigmatizar a existência de redes formidáveis de oponentes
jacobitas, chefiadas por homens como Darwentwater. Se não se considerar o clube
de l’Entresol como Jacobita, já que sua fundação foi sugerida por Bolingbroke,
o inimigo jurado de Walpole, e que contava entre os seus membros Ramsay, não
se hesitou em considerar como jacobitas as oficinas compostas em parte dos
refugiados, mas abertas rapidamente a irmãos franceses, e que respeitavam a
obrigação de neutralidade política dos maçons. A situação política externa
também proibia o desenvolvimento de tais nós jacobitas ativos na França. Se
Louis XIV tinha se preocupado em acolher a dinastia Stuart na sua luta contra
as potências marítimas protestantes, o regente Philippe d’Orleans tinha
celebrado uma aliança estratégica com a Inglaterra até 1740 pelo cardeal
Fleury, que estava na origem do fechamento do clube de l’Entresol e de sanções
que atingiriam as lojas parisienses no final dos anos 1730. A partir da
Regência, a presença de jacobitas ativos tinha, assim, se tornado embaraçosa
para os interesses diplomáticos franceses e nessas condições o estabelecimento
de uma verdadeira rede política jacobita, tendo como apoio a maçonaria, teria
inevitavelmente levado a uma reação rápida dos representantes do Estado. O fato
de que os maçons parisienses tivessem, eles mesmos, considerado Darwentwater
como um jacobita ‘ indignado” prova bem seu isolamento, ainda mais considerando
que havia na França numerosas pontes entre Jacobitas e Hanoverianos. As
academias de ensino, como a de Angers ou o hotel parisiense do Duque de
Picquigny, um maçom notório, constituem exemplos concretos.
Os
Jacobitas vão até a Provence para fundar
A Loja Mãe Escocesa de Marselha,
de
acordo com as conclusões fornecidas por Michel-André Iafelice (Doutor em
História).
Casa
influente do escocismo fundada em Marselha sob o títuloSaint-Jean d’Ecosse,
seu aparecimento ocorreu em circunstâncias bastante misteriosas. A oficina
teria sido fundada por umemigrante Jacobita, George Duvalmon (Ou de
Valmonle) em 27 de agosto de 1751. Este nobre escocês teria transferido seus
poderes de venerável mestre ao comerciante Alexandre Routier, mas a
autenticidade desta fundação parece muito contestável. O que é certo é que a Saint-Jean
d’Ecosse muniu-se nesse meio tempo de constituições e estatutos, e se
comporta como uma potência maçônica independente e rival das outras potências
francesas. Os dignitários provinciais do Grande Oriente a consideram um
formidável obstáculo ao progresso do Regime Francês. Em 1762, a oficina se
constitui como Loja Mãe Escocesa, título distintivo que testemunha uma incontestável
vontade de se expandir. A primeira filial é fundada em 1763 e, em 1765, seis
outras adotam o nome de Saint-Jean d’Ecosse fora de Marselha.
Na véspera da Revolução, cerca de trinta lojas estão filiadas à Loja Mãe
Escocesa. O site marselhês está entre os principais polos maçônicos do
Mediterrâneo e sua área de influência abrange o interior provincial e o
Languedoc Mediterrâneo. Sua influência também se estende ao exterior,
principalmente o Levante e se mostra duradouro. Os emissários da Loja Mãe Escocesa
exportam ainda a maçonaria para as colônias no Caribe. […] O comportamento
elitista de irmãos se percebe diante da velocidade nas passagens de grau e nas
ausências de muitos irmãos… enquanto a maioria dos membros da Loja Mãe Escocesa
prontamente aceita os princípios da Revolução de 1789, a irrupção do movimento
popular desconcerta aqueles membros da oligarquia mercantil hostis à economia
dirigida. Eles participam maciçamente em junho de 1793 do episódio federalista
e o ex-venerável Samatan fornece fundos significativos para equipar o exército
departamental rebelado. O Irmão Bruniquel preside o comitê de segurança geral e
se coloca em contato com o almirante inglês Hood para combater o exército
jacobino. A Loja Mãe Escocesa deve se colocar temporariamente adormecida a
partir do Verão de 1793; cinco irmãos são vítimas da repressão e executados em
janeiro de 1794. É sob a liderança do juiz marselhês Julien de Madon que o
reavivamento da potência acontece sob o Consulado. Ela renasceu em 1801 sob o
título de Loja Mãe Escocesa de França. Sua audiência é alta
porque ela conta com cerca de vinte filiais espalhadas por todo o mundo. A
oficina assume uma nova fisionomia. A força motriz dessa potência maçônica não
é mais os negócios, mas o meio de funcionários civis e militares. A direção da
Loja Mãe Escocesa de Marselha é colocada nas mãos da autoridade política e, em
1809, o prefeito Thibaudeau assume o malhete de uma oficina que tem em suas
fileiras os principais chefes de departamento do regime napoleônico, tais como
os generais Cervony e du Muy, o Barão Anthoine, prefeito de Marselha, ou
Bruniquel, presidente da administração do departamento de Bouches-du-Rhône. Uma
verdadeira instituição oficial, a Loja Mãe Escocesa cessa
definitivamente seus trabalhos sob a Restauração que não lhe perdoa suas
relações culposas com o sistema napoleônico.
… Se
nós mencionamos acima a Loja-Mãe Escocesa de Marselha é para nos conduzir
inevitavelmente a Toulouse, onde a Maçonaria Jacobita, através do sistema ” Napoléomagne “,
teria se desenvolvido nas circunstâncias que revela Gustave Bord.
Os
dois autores citados acima confirmam um avanço dos jacobitas, que Robert
Ambelain desejou reconduzir vários séculos mais tarde, com a fundação de uma
loja sob o título distintivo “Os Escoceses Fieis “, muito
perto do título da Loja de 1747, da qual resumimos a seguir a cronologia
histórica:
Em
1747 ou 1748, dois oficiais de Charles Edward Stuart, Sir Samuel Lockhart e
Barneval, Visconde de Kingston, fundaram em Toulouse um novo regime, sob o
título de Escoceses Fiéis, conhecido em seguida pelo nome de ”Velha
Bru ”.
À
frente deste regime encontrava-se um consistório com três capítulos, cujos
membros chamavam-se menatzchims ou chefes supremos,
–
O primeiro capítulo incluia os graus de aprendiz, companheiro, mestre e mestre
de arte;
–
O segundo seguia o sistema Templário (Ramsay); ele compreendia quatro graus de
eleitos;
–
O terceiro incluía os iniciados na maçonaria científica (Cabala, alquimia,
etc.).
O
G.O. não quis reconhecer a Velha Bru e mais tarde, quando a
Escoceses Fieis tornou-se ”Napoleomagne ”, esta aoja pediu, em vão, datam que
sua fundação fosse datada de 1747. A autenticidade da patente original era
questionável e a ” Napoleomagne ” assumiu a data de 27 de março de 1805.
…..
Na segunda parte do seu livro A Maçonaria na França, Gustave Bord dá os
seguintes detalhes:
Esta
Loja teria sido, diz-se, fundada diretamente por Charles Edward, mas nenhuma
documentação foi fornecida para apoiar esta alegação. Houve muita discussão
sobre a origem incomum do nome Velha Bru. Pesquisamos as etimologias mais
instruídas e as mais complicadas, sem dar qualquer prova séria. Podemos admitir
com uma certa probabilidade de que criada em favor do Venerável Mestre de Bru
mais velho, ela fosse chamada de ‘Velha Loja de Bru ” e depois “Velha Bru. Esta
loja continuou seus trabalhos sob o Império, sob o título de Napoleomagne. Em
08 de fevereiro de 1812, o diretório de ritos do Grande Oriente se recusou a
reconhecer sob o título de Escoceses Fieis ou de Velha
Bru, as suas cartas constitutivas não tendo nenhum caráter de
autenticidade. Em 1808, o Venerável Mestre era du Puger, proprietário. Em 1813,
ele foi substituído por Montané de la Roque, presidente do tribunal, e em 1814,
por Gardes. comerciante. Seu secretário era Clausolles e seu auxiliar Laflotte,
advogado (1808) e depois Delaroche (1813-1814). Para esta Loja, consulte
Lecoutleux, p. 112; Ragon, Ortodoxia, p. 122; Daruty, p. 174; Thory, Acta
Latomorum, I, 251; Gros, As Lojas Maçônicas de Toulouse.
…..
Finalmente, terminamos este folheto compilado a partir de diferentes relatórios
de obras históricas pela fundação exposta acima da Respeitável Loja “Escoceses
Fiéis” no Oriente de Toulouse. Esta criação de uma loja em local
toulousiano pelo próprio Robert Ambelain, acompanhou o renascimento do Rito
Escocês Primitivo. Esta Loja, sob a responsabilidade de seu Venerável Michael
Bellonet, trabalhou até 1994 sob os auspícios da Grande Loja do Rito Escocês
Primitivo (anteriormente a GLFREP) e depois tornou-se independente.
Publicado originalmente aqui
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