Da Redação
O 4º Congresso da Internacional Comunista,
realizado em Moscou em 17 de dezembro de 1922, marcou um momento decisivo na relação
entre o movimento comunista e a Maçonaria. Neste evento, Leon Trotsky, uma das
figuras proeminentes da Revolução Russa e líder do Exército Vermelho, anunciou
com veemência que a Maçonaria deveria ser “varrida com uma vassoura de ferro”.
O pronunciamento refletia o rompimento definitivo do Partido Comunista com
qualquer relação considerada ambígua ou prejudicial à sua hegemonia ideológica.
O
Contexto da Declaração
A Maçonaria, que ao longo do século XIX
desempenhou papel crucial em diversos movimentos liberais e revolucionários,
incluindo os processos de unificação nacional e a luta contra regimes
absolutistas, foi inicialmente tolerada ou mesmo considerada aliada por setores
comunistas. Contudo, à medida que o comunismo soviético se consolidava na URSS,
qualquer organização que não estivesse diretamente subordinada ao partido era
vista como uma ameaça ao monopólio do poder revolucionário.
Trotsky, interpretando a Maçonaria como uma
força burguesa e liberal, afirmou que os “idiotas úteis” das lojas maçônicas
haviam servido aos interesses do comunismo apenas enquanto convinha. Com a
vitória revolucionária na Rússia, a Maçonaria tornou-se dispensável e perigosa.
Sua influência deveria ser eliminada, especialmente porque, no entender do
partido, sua natureza secreta e supranacional representava um possível foco de
oposição.
A
Implementação da 22ª Condição
Durante o Congresso, foi ratificada a 22ª
condição para a adesão dos partidos comunistas à Internacional Comunista
(Comintern). Esta condição exigia que todos os membros do partido rompessem com
a Maçonaria. Na União Soviética, a Maçonaria foi imediatamente proibida, e os
membros do Partido Comunista que fossem identificados como maçons deveriam
abdicar dos símbolos tradicionais do esquadro e compasso, substituindo-os pela
foice e o martelo – ícones do proletariado.
A repressão aos recalcitrantes foi delegada à
Tcheka, a temida polícia secreta soviética. A “vassoura de ferro” de Trotsky
não era uma mera figura de linguagem; representava uma perseguição concreta e
sistemática. Aqueles que resistissem enfrentariam prisões, torturas e
execuções, métodos comuns utilizados pela Tcheka para consolidar o controle do
partido.
Repercussão
na França
A influência do 4º Congresso se estendeu para
além das fronteiras da URSS, atingindo também os partidos comunistas na Europa.
Na França, uma ordem específica foi dirigida ao Comitê Diretor do Partido
Comunista Francês, determinando que, até 1º de janeiro de 1923, todos os
membros do partido rompessem qualquer ligação com a Maçonaria. Aqueles que
tivessem sido maçons no passado não poderiam exercer cargos de responsabilidade
no partido sem passar por um período probatório de dois anos, uma medida que
buscava garantir lealdade absoluta à ideologia comunista.
A decisão causou rupturas entre os comunistas
franceses e os membros maçônicos. Até aquele momento, muitos militantes haviam
transitado entre ambos os ambientes, acreditando na compatibilidade entre os
ideais de emancipação e justiça social promovidos pelas duas instituições. A
imposição da 22ª condição, no entanto, revelou o abismo irreconciliável entre o
comunismo soviético e a Maçonaria liberal.
A
Incompatibilidade Ideológica
A Maçonaria e o comunismo, apesar de
compartilharem alguns ideais de justiça social, diferem em aspectos
fundamentais. Enquanto a Maçonaria se organiza de forma descentralizada,
respeitando a liberdade individual e os princípios do liberalismo, o comunismo
exige centralização, disciplina rígida e submissão ao partido. A aversão do
comunismo à Maçonaria baseava-se, sobretudo, no caráter supranacional e secreto
das lojas maçônicas, que poderiam ser interpretadas como um potencial “Estado
dentro do Estado”.
Além disso, a tradição maçônica de defesa da
liberdade de pensamento e expressão entrou em choque com o dogmatismo
revolucionário imposto pelos comunistas.
Conclusão
A declaração de Trotsky em 1922 e a
subsequente aplicação da 22ª condição representaram um marco histórico na
relação entre a Maçonaria e o comunismo. O episódio ilustra a perseguição
sistemática conduzida pelos regimes soviéticos contra organizações consideradas
ameaças ideológicas. O rompimento com a Maçonaria não apenas reforçou o
controle ideológico dos partidos comunistas, mas também evidenciou a
intolerância do comunismo revolucionário frente a qualquer força que pudesse
rivalizar com sua hegemonia.
Na prática, a “vassoura de ferro” de Trotsky
simbolizou o fim de uma coexistência que, para muitos, parecia possível, mas
que, diante das exigências do totalitarismo, tornou-se insustentável. A
Maçonaria, com seu legado liberal, permaneceu como alvo preferencial dos
regimes comunistas, sendo combatida como uma força contrarrevolucionária até o
colapso da União Soviética.
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