Por Ir.'. Rui Bandeira
Há
tempos, no jornal Público, Ricardo Sá Fernandes, meu colega de profissão e
membro do GOL (Grande Oriente Lusitano), publicou um pequeno texto em que se
assumia como católico e maçom, defendendo que ambas as qualidades são
plenamente compatíveis. Respondeu o padre Gonçalo Portocarrera de Almada,
sustentando a posição inversa. Recentemente, um senhor de nome João Mendia
afirmou também a incompatibilidade das duas condições.
Decido
intervir na polémica. Antes do mais, e como convém, eis a minha declaração de
interesses: sou maçom regular, isto é, integro a orientação maçónica original,
que só admite no seu seio crentes, qualquer que seja a crença religiosa de cada
um. Em termos de convicção religiosa, não me defino como católico, antes como
deísta, crente no Criador sem necessidade da intermediação das religiões
organizadas, na minha opinião cada uma delas se afadigando a moldar o Criador
às suas respetivas conceções particulares. Nesta polémica de se um católico
pode ser maçom, parto, pois, de uma posição neutral.
Maçom
que sou, mais do que criticar as opiniões expressas pelos que se pronunciaram
sobre a questão (opiniões que, concorde ou discorde delas, me cumpre
respeitar), vou-me limitar a expor a
minha opinião e as razões dela.
Advogado
que sou, tenho a deformação profissional de analisar os conflitos, as
divergências de opinião, recorrendo ao que está escrito nos livros da lei. E,
nesta matéria de religião e espiritualidade, nada me parece melhor do que
recorrer ao Volume da Lei Sagrada que é aceite por todas as partes, católicos,
maçons e católicos maçons: a Bíblia.
2 Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do
Egito, da casa da servidão.
3 Não terás outros deuses diante de mim.
4 Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma
semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas
debaixo da terra.
5 Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque
eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos
filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
6 E faço misericórdia a milhares dos que me amam e
aos que guardam os meus mandamentos.
7 Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão;
porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
8 Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
9 Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.
10 Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus;
não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo,
nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das
tuas portas.
11 Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a
terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou
o SENHOR o dia do sábado, e o santificou.
12 Honra a teu pai e a tua mãe, para que se
prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá.
13 Não matarás.
14 Não adulterarás.
15 Não furtarás.
16 Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
17 Não cobiçarás a casa do teu próximo, não
cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu
boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.
Neste
texto nada objetivamente se encontra que permita concluir que ser maçom
infringe qualquer dos mandamentos divinos. Cuidadoso que sou com os pormenores,
esclareço que o Grande Arquiteto do Universo invocado pelos maçons mais não é
do que a designação particular que estes dão ao Criador, evitando assim ter de
utilizar uma denominação utilizada por uma religião e não por outra, não sendo
um qualquer “outro deus”.
Mas
prossigamos até ao Novo Testamento e aportemos a Mateus,22, 34-40:
34 os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito
calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo, 35 e um deles perguntou a
Jesus, para experimentá-lo: 36 “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”
37 Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo
o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento!’ 38 Esse é o
maior e o primeiro mandamento. 39 O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás ao teu
próximo como a ti mesmo’. 40 Toda a Lei e os profetas dependem desses dois
mandamentos”.
Também
aqui, obviamente, nada é infringido com a filiação maçónica. Para um católico
que não seja um primário antimaçom, parece-me estar qualquer dúvida desfeita:
nem os dez Mandamentos do Antigo Testamento, nem os dois mandamentos invocados
por Jesus Cristo impedem que um crente, designadamente um católico, possa ser
maçom.
Mas
houve condenações e proibições papais. Houve! Porém, por grande que seja a
importância dos Papas – e só posso aceitar que, para os católicos, o seja -, o
certo é que todos foram, e o atual é, apenas homens. Entre as determinações
divinas e as humanas eu, simples crente deísta, atribuo primazia às divinas…
Confesso que me faz alguma confusão que haja quem, reclamando-se da pureza do
catolicismo, roce a blasfémia de sobrepor as determinações humanas às divinas…
Lição
a tirar desta polémica? O fundamentalismo religioso é tão irrazoável e tão
perigoso sendo cristão, católico ou de outra orientação espiritual, como
islâmico. Que ninguém disto se esqueça!
Fonte: Cerberus Magazine
(Artigo
anteriormente publicado no Blog A Partir Pedra)
RECEBA NOSSA NEWSLETTER
9 Comentários
Obrigado.
ResponderExcluirObrigado.
ResponderExcluirOBRIGADO
ResponderExcluirPode e eu o sou desde crianca, nao vejo nada que se choque contra minha fe, pelo contrario fazemos o que o Mestre pregou e pediu a seus dicipulos. Existe sim o preconceito e a ignorancia de quem nao sabe o que e ser macom. Mas fe e de cada pessoa e pessoal
ResponderExcluircabe ao maçom se perguntar se ele continua a ser católico... Sabedor das mazelas da inquisição que o perseguiu...
ResponderExcluircabe ao maçom se perguntar se ele continua a ser católico... Sabedor das mazelas da inquisição que o perseguiu...
ResponderExcluirMuito bom texto, contudo me vejo distante de alguma resposta. Afinal refutar a autoridade papal, trazendo-o a condição de homem, e assim quebrar uma "regra" daquela "instituição" à minha necessidade não me convenceu. Seria o mesmo que não cumprir as determinações de sua potência, afinal aquela decisão pode ir de encontro com o nosso entendimento. Enfim, acredito que poderemos em algum momento "unir" os entendimentos entre os Cristãos e Maçons, lembrando-nos todos que a construção de um bom templo se faz com bons artífices, independentemente de sua origem. Se ouvidarmos o conhecimento de um ou outro lado, não haverá progresso. Oriente de Salvador.
ResponderExcluirMuitos não sabem o que é ser maçom, mas o mais grave são os que não sabem o quê é ser cristão ou católico.Dizendo que o são.
ResponderExcluirMuitos não sabem o que é ser maçom, mas o mais grave são os que não sabem o quê é ser cristão ou católico.Dizendo que o são.
ResponderExcluir