CAPÍTULO VII
Por Ir.’. João Anatalino
Um Conselho formado por vinte e quatro cavaleiros,
vestidos com mantos e capuz negro, com a cruz vermelha do Templo no peito, se reuniu em
Chipre em meados de maio de 1307 para uma seção em que novos Irmãos seriam
admitidos no Circulo Interno Superior da Irmandade. A sala onde se reuniam
tinha formato retangular, sem janelas, com um piso feito em pedras de granito e
mármore, formando um mosaico branco e preto que dava a ideia de um tabuleiro de
xadrez. Duas fileiras de bancos de pedra, em forma de arquibancada, semelhante
aos que se viam em uma sinagoga judia, ficavam encostados ás paredes. Neles,
silentes, com as mãos nos joelhos, sentavam-se os vinte e quatro Irmãos do
Conselho. No meio da sala, em cadeiras dispostas em fila de três, sentavam-se
os novos Irmãos que iriam ser admitidos no Círculo Interno. No fundo da sala,
no Oriente, separada por uma balaustrada de madeira, havia uma mesa com um
candelabro de nove braços, onde nove velas acesas projetavam uma pálida e
bruxuleante luz amarela sobre aquela estranha e fantasmagórica reunião. Em cima
da mesa um pano vermelho cobrindo um objeto de formato oval, do tamanho de um
crânio humano. Na parede ao fundo, uma pintura mostrando uma lua crescente, com
um sol abaixo dela, e abaixo dele uma inscrição em grego:Αβρασα. Ao lado
da mesa, um estandarte de cores semelhantes ao mosaico do piso da sala ─
quadrados pretos e brancos ─ pendurado com os dizeres: “Deus o quer”. Dois
monges-cavaleiros, portando suas espadas, guardavam a porta da sala, pelo lado
de fora, e outro Irmão, armado com um pique, guardava a porta pelo lado de
dentro.
Jacques
de Molay, Hugues de Peyráuld e Geoffroy de Charney, sentados em três cadeiras
de alto espaldar, decorados como se fossem tronos reais ou cardinalícios,
dirigiam a reunião. Era tal o silêncio que reinava no recinto, que podiam ser
ouvidas as respirações dos trinta homens encapuçados que estavam ali reunidos.
Então
Jacques de Molay desembainhou sua espada e bateu com o punho dela três vezes
sobre a mesa. Dos seus lados direito e esquerdo, Geoffroy de Charney e Hugues
de Peyráuld também desembainharam as suas e bateram, cada um por sua vez, três vezes
sobre a mesa. Os demais Irmãos presentes na sala repicaram, com as palmas das
mãos, as três batidas, por três vezes.
─
Está reunido o Capítulo LVIII para a admissão de seis novos membros ao nosso
Círculo Interior. Desde agora é vedado aos Irmãos se levantar de seus lugares
ou tomar a palavra sem ser a isso concitado ─ disse Jacques de Molay.
─
Irmão Cobridor, o Capítulo está bem guardado e a salvo de olhos e ouvidos
profanos?─ perguntou de Molay, ao Irmão que guardava a porta, pelo lado de
dentro.
─
Sim, Irmão Grão-Mestre. O Capítulo está bem guardado e a salvo de olhos
profanos ─ respondeu o Cobridor.
─
Irmão Mestre da Justiça ─ todos os presentes nesta sala são dignos de
participar destes trabalhos? ─ perguntou o Grão-Mestre.
─
Sim, Irmão Grão ─ Mestre ─ respondeu Peyráuld ─ Todos foram examinados e são
dignos de estarem aqui.
─
Irmão Sacrificador, a que horas começam os nossos trabalhos? ─ perguntou o
Grão-Mestre.
─
A meia-noite, Irmão Grão-Mestre, quando o Pai das Luzes se oculta no Ocidente e
a Mãe Divina começa o seu trabalho de parto ─ respondeu Geofrroy de Charney.
─
Honremo-los então ─ disse o Grão-Mestre. E todos os presentes na sala passaram
a mão espalmada sobre a garganta, como se a estivessem cortando com uma lâmina.
Em seguida, todos exclamaram três vezes Huzah! Huzah! Huzah!
─
Irmão Mestre da Justiça, lêde os nomes dos Irmãos que passarão a compartilhar
conosco dos nossos mais sublimes segredos ─ pediu o Grão-Mestre.
Hugues
de Peyráuld tomou um pergaminho e leu os nomes de Reginald de Provins, Geoffroy
de Gonneville, Ponzard de Guizi, Bertrand de Chartres, William de Chambonett e
Gaucerant de Montepezat, suas respectivas origens e cargos dentro da Ordem.
─
Lembrai-vos Irmãos ─ disse ele, após ter terminado a leitura dos nomes ─ que ao
ingressardes em nossa Ordem vós fizestes o juramento solene de guardar vossos
corpos em perfeita castidade, renunciar a todo e qualquer bem pessoal, defender
os pobres e os aflitos e permanecer fiéis e prontos a dar vossa vida em prol da
nossa fé. Tudo isso vós cumpristes. Professastes a fé da nossa Ordem e vivestes
na perfeita obediência aos nossos Estatutos. Passastes também por todas as
provas previstas pelo nosso ritual. Hoje vos é dado conhecer os nossos mais
sublimes Mistérios e segredos, pelo que jurais, solenemente, nunca os revelar a
ninguém, nem os comentar com qualquer outro Irmão que não os que aqui estão
presentes. Lembrai-vos que o perjúrio acarretará a vossa morte. Fazeis, de
coração e alma, esse juramento?
─
Eu o juro! responderam todos.
─
Ouvi então, o que tem a dizer o nosso Grão ─ Mestre. Peço-vos que não o
interrompeis, a não ser que a isso sejais concitados.
─
Aprendestes que a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei
Salomão foi fundada por nove nobres cavaleiros, no ano de 1118, sob a chefia do
conde Hugues de Payns, com o objetivo de proteger o caminho do Santo Sepulcro,
para que os peregrinos cristãos pudessem visitar, em segurança, o túmulo de
Nosso Senhor ─ disse Jacques de Molay.
─
Assim está escrito em nossas crônicas e tem sido informado ao mundo. E de fato,
foi o que fizeram nossos primeiros Irmãos durante algum tempo, para justificar
a fundação da Ordem e não atrair a atenção para os verdadeiros objetivos que
motivaram aqueles nobres cavaleiros a criar a nossa Irmandade.
─
A verdade, porém ─ continuou de Molay ─ é que a nossa Irmandade não nasceu em
Jerusalém no ano de 1118, como as crônicas dizem, mas bem antes, em 1104, em
Troyes, sob a tutela de nobre Hugues, conde de Champagne. Entre seus cavaleiros
vassalos estavam dois dos Irmãos fundadores, o nosso primeiro Grão-Mestre
Hugues de Payns e aquele que foi o segundo na linha sucessória, o Irmão André
de Montbard. Entre os idealizadores da Irmandade, também estava o nosso santo
abade Bernardo de Clairvaux, redator das nossas Regras.
─
Desde o início nossa Irmandade tinha uma missão específica ─ continuou de
Molay. ─ Essa missão era trabalhar pela realização da obra pela qual Nosso
Senhor Jesus Cristo veio ao mundo. Isso porque o objetivo da missão de Jesus
era a reconstituição do reino de Israel nos mesmos fundamentos em que ele
existira nos tempos de Davi e Salomão. Como sabeis, Jesus era descendente do
rei Davi por parte de pai. Mas ele não era filho do carpinteiro José, como
dizem as Escrituras, mas sim, filho de um príncipe da linhagem de Davi, chamado
Yeshua Pandira, com uma jovem chamada Maria, donzela a serviço a Deus no Templo
do Senhor.
Esse
príncipe, que era fariser e membro do Sinédrio, enamorou-se da jovem Maria, mas
as leis judaicas não permitiam o casamento de uma donzela consagrada ao serviço
do Senhor, pois tais jovens deviam ser conservadas para sempre
virgens.
Assim,
quando Jesus nasceu, o príncipe Yeshua Pandira não pode assumi-lo como filho
legítimo. Para que a jovem Maria não sofresse as penas da lei, previstas para o
caso, ela foi dispensada do serviço no Templo e casou-se então com o
carpinteiro José graças a um arranjo feito pela família de Pandira. E José, o
carpinteiro, tornou-se seu pai adotivo. Quando Jesus cresceu, sua condição de príncipe
de Israel foi revelada, e ele foi levado para uma colônia de essênios para ser
por eles educado. Pois os essênios viviam em uma Irmandade semelhante á nossa,
preparando o povo de Israel para fundação do reino do Messias. E o Messias, ele
o reconheceram na pessoa do Nosso Senhor Jesus, por que ele era descendente de
Davi e tinha qualidades de guerreiro e de profeta, justamente o perfil do
Messias que eles acreditavam que um dia viria.
A
palavra passou para Hugues de Peyráuld.
─
Quando Jesus completou o seu ensinamento ─ continuou Peyráuld ─ ele começou a
organizar o seu próprio plano para libertar o povo judeu do jugo romano e dar
ele uma nova forma de viver. Foi por isso que ele convocou exatamente doze
discípulos para fazer parte do seu Circulo Superior.
Os
cavaleiros ali sentados ouviam serenos e contritos. Ninguém fazia sequer um
movimento de olhos. Peyráuld continuou.
─
Isso ele fez porque doze eram as tribos de Israel nos tempos de Salomão e Jesus
queria reconstituir o reino de Israel exatamente nos mesmos moldes em que ele
existira naqueles áureos tempos. Cada um dos seus discípulos seria o príncipe
de uma tribo. E além disso ─ continuou Peyráuld ─ ele instruiu outros setenta
para correr as cidades e as aldeias da Judéia e da Samaria, onde houvesse
colônias do povo israelita, para que os instruísse e preparasse para a chegada
do Messias e consequente a restauração do reino de Israel.
Boa
parte dos cavaleiros ali reunidos já conhecia a história que de Molay e
Peyráuld estavam contando. Eram Mestres do Circulo Interno de Irmãos que já
haviam galgado os mais altos postos na hierarquia do Templo. Eram todos
Grãos-Mestres de países onde o Templo estava instalado e Preceptores das
províncias mais importantes da Europa. Porém, para aqueles que estavam frequentando
o Capítulo LVIII pela primeira vez, essa versão heterodoxa da vida de Jesus era
completamente nova. Por isso, na luz amarelada e bruxuleante que iluminava
aquele ambiente totalmente insalubre, não era possível ver em suas testas o
vinco de estranheza e preocupação que aquela bizarra lição de história estava
provocando.
Os
seis Irmãos que ali estavam, para serem iniciados no Círculo Superior dos
Mistérios Templários, eram, em sua maioria, cavaleiros oriundos da pequena
nobreza europeia, que fora educada na ortodoxia católica e seu espanto com
aquela versão completamente diferente da que haviam aprendido desde a infância,
de algum modo, os assustava.
Geoffroy
de Charney havia assumido a narração.
─
Quando Jesus achou que estava na hora de proclamar a restauração do reino de
Deus, o reino do Messias ─ continuou Charney ─ ele foi a Jerusalém. Por que ele
sabia que a grande maioria do povo judeu se reunia em Jerusalém nessa época, e
essa proclamação deveria ser feita no Templo, o mais sagrado dos seus locais.
─
E como era a semana da Páscoa Jesus esperava que o povo ali reunido o apoiasse,
pois ele seria revelado como o Messias, o
descendente
de Davi, lídimo herdeiro do trono de Israel.
Ninguém
ousava romper o silêncio no círculo. Os veteranos porque já conheciam aquela
história, os iniciandos porque estavam chocados ou curiosos demais para
perguntar. Então, Charney continuou.
─
Eis porque o chamavam de Filho de Davi, ou Filho do Homem. Filho de Davi porque
ele descendia do famoso rei e os essênios reconheceram nele o Messias
guerreiro, que as escrituras prometiam. O guerreiro que libertaria Israel do
jugo romano. E Filho do Homem porque ele era também o Messias sacerdote, que
restabeleceria a antiga religião de Israel, tal qual Moises a ensinara. Assim o
profeta Daniel chamara áquele que levaria Israel á sua antiga posição de glória
entre os reinos da terra e perante Deus.
─
Dessa forma ─ continuou Charney ─ Jesus seria proclamado rei dos judeus e daria
início á sua revolução. Por isso ele dizia que destruiria o Templo e o
restabeleceria em três dias. Pois ele esperava que até o fim da semana da
Páscoa, tudo estivesse consumado, e então ele começaria a erguer o novo Templo
─ que seria um novo reino e uma nova religião, a antiga religião de Moisés,
restabelecida em sua pureza primitiva.
─
Mas antes que a rebelião fosse desencadeada, o seu plano foi descoberto pelos
membros do Sinédrio. Judas Iscariotes o traiu, denunciando para eles o que
Jesus pretendia fazer. Os membros do Sinédrio não acreditavam em Jesus, pois
sabiam quem ele era. Não admitiam que um filho ilegítimo de um seus membros
(pois Yeshua Pandira fora, a seu tempo, membro daquela casa), reivindicasse
para si o trono de Israel. E os anciãos tinham também muito medo de uma
rebelião, pois sabiam que os romanos eram sanguinários e passariam a fio de
espada toda a população de Jerusalém.
O
silêncio era geral na sala. Todos os cavaleiros, contritos, seguiam á risca a
regra da Ordem. Quando o Mestre fala, todos devem ouvir sem interromper.
Atenção, respeito, comedimento, silêncio e humildade eram virtudes cultivadas
por aqueles cavaleiros. A Regra, escrita por São Bernardo, seguia á risca os
preceitos do Sermão da Montanha. “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque
deles é o reino dos céus”. Eles sabiam que ser pobre de espírito não era ser
tolo ou mesmo ignorante. Era sim, ser humilde e mesmo tendo muita sabedoria,
comportar-se como se nada soubesse. Mais ouvir do que falar, mais aprender do
que ensinar, mais dar do que receber, servir antes de ser servido. A verdadeira
sabedoria não vinha das letras, do conhecimento enciclopédico, mas da
verdadeira fé e da disposição de lutar pela razão certa.
A
narrativa voltara, agora, para o Grão-Mestre.
Jacques
de Molay limpou a garganta e continuou.
─
Jesus foi preso pelos guardas do Sinédrio, julgado pelos anciãos e depois
entregue aos romanos, porque pela lei judaica, ninguém podia ser executado na
semana da Páscoa. E ele foi executado como criminoso, um sedutor do povo, um
conspirador e usurpador.
─
Essa é a verdadeira história do Nosso Senhor Jesus Cristo ─ disse de Molay,
sentando-se. Estava suado e ofegante.
─
A palavra será agora aberta aos Irmãos iniciandos ─ disse Geoffroy de Charney,
assumindo novamente a condução dos trabalhos. ─ Podeis fazer as perguntas que
vos apetecer.
─
Sendo verdade tudo isso que o Irmão Grão-Mestre disse, então o que o as
Escrituras ensinam sobre a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo está errado? ─
perguntou Reginald de Provins.
─
O Irmão Mestre da Justiça irá responder á vossa pergunta ─ disse Geoffroy de
Charney.
─
Não, Irmão Reginald ─ disse Hugues de Peyráuld, levantando-se. Depois, com ar
professoral, como era sua postura normal, continuou:
─
Tudo que a Igreja e as Escrituras ensinam é verdade, mas só que não devemos
tomar os escritos ao pé da letra ─ disse Peyráuld. Na verdade ─ continuou ─
Jesus era um monge-guerreiro como nós. Ele sabia a verdade das Escrituras
antigas e conhecia o poder da palavra. Assim, ele pregava uma doutrina e uma
ideia de liberdade, que era tanto política quanto religiosa, mas muito perigosa
para a época, pois Roma dominava a região com mão de ferro.
─
Mas o que era, na verdade, o Reino dos Céus, que ele pregava? ─ perguntou
Geoffroy de Gonneville, recém-empossado como Preceptor de Aquitânia e Poitou.
─
Era o reino prometido a Davi e Salomão, Irmão Geoffroy. Um reino de justiça e
paz, onde todos viveriam como Irmãos, como se o reino todo fosse uma grande
Irmandade, unida pelos laços do sangue e da religião, fortalecida pela crença
em um único Deus.
─
Mas porque ele disse que seu reino não era desse mundo? ─ perguntou Ponzard de
Guizi. As perguntas agora começavam a pipocar.
─
Porque não era, Irmão Ponzard ─ respondeu Peyráuld. ─ Pelo menos, não daquele
mundo em que eles estavam vivendo. Eram de um mundo que já havia sido destruído
a vários séculos, desde que o primeiro Templo, o de Salomão, havia sido
derrubado. Israel nunca mais foi o mesmo depois disso. Jesus queria voltar á
antiga glória que existia naqueles dias.
─
Então ele era, na verdade, um homem comum, embora de sangue real? ─ perguntou
Bertrand de Chartres.
─
Sim, Irmão Bertrand. Ele era um rei e um profeta, mas era tão mortal quanto eu
e vós ─ respondeu Peyráuld.
─
Então não ressuscitou de verdade, como dizem as Escrituras? ─ inquiriu,
perplexo, o cavaleiro identificado pelo nome de William de Chambonett.
─
É verdade, Irmão William ─ respondeu Peyráuld, como se tivesse chegado ao âmago
da questão e mostrasse muita satisfação por ter conduzido sua aula á conclusão
desejada ─ ele está tão morto quanto Hugues de Payns, o fundador da nossa
Ordem.
O
que os altos dignatários do Templo estavam dizendo era por demais chocante e
difícil de acreditar para aqueles cavaleiros que estavam ouvindo aquela
história pela primeira vez. Não para os veteranos que já a conheciam. Por isso,
alguns deles ainda não tinham saído do seu estupor e olhavam, desconfiados e
aturdidos para o rosto dos seus Irmãos mais antigos, procurando neles algum
sinal de que tudo aquilo era uma pilhéria, uma brincadeira, como achavam que
era aqueles rituais de iniciação, onde eles foram obrigados a negar Cristo,
cuspir na cruz e beijar as nádegas do Preceptor. Seria outra provação de fé,
como aquela? A negação de Cristo era uma prova de coragem. Aqui se procurava
descontruir toda a história de Jesus, contada pelos Evangelhos, para que o
Irmão se insurgisse e revelasse a firmeza sua fé?
─
Mas que provas podeis nos dar de que tudo isso é verdade? ─ perguntou, por fim,
o cavaleiro Reginald de Provins. E imediatamente se arrependeu, porque não era
comum entre os Irmãos da Ordem, e muito menos daquele seleto Círculo, mostrar o
mínimo sinal de dúvida ou contradição em relação a qualquer coisa que lhes
fosse ensinada, ordenada ou informada por seus Mestres. A regra Templária
exigia obediência e confiança irrestrita.
─
Esperávamos que algum de vós, Irmãos que aqui vem pela primeira vez neste grau
do nosso Capítulo ─ disse de Molay, se levantando ─ fizésseis todas essas
perguntas. ─ Como sabeis, a dúvida, em nosso meio, é punida com penitência e
estudo, e a desobediência com a prisão e até com a morte. Mas nestes graus do
Capítulo vos é dado saber que todas essas nossas crenças estão apoiadas em
verdadeiras provas e não apenas em tradições compiladas ao longo dos séculos,
como faz a Igreja com a sua doutrina.
─
Dissemos que os Irmãos que fundaram nossa Ordem não eram apenas os nove
cavaleiros que se reuniram em Jerusalém para criar um grupo de
monges-guerreiros para proteger os Lugares Santos. Na verdade ─ continuou de
Molay ─ o Templo foi fundado quatorze anos antes, em Troyes, a pedido do
comandante do exército cruzado, o nobre Duque da Lorena, o grande Geoffroy de
Boillon. E ele nunca teve, como geralmente se pensa, o objetivo de policiar os
caminhos de Jerusalém e guardar os lugares santos, mas sim, de reunir provas de
que a família do Duque de Lorena é a verdadeiro herdeiro do sangue de Jesus,
pois sua linhagem provém de Sara, a filha que ele teve com Maria Madalena.
─
Jesus então teve filhos? ─ perguntou, perplexo, o Irmão Gaucerant de
Montpezat, Preceptor da província do mesmo nome. ─ E porque não se diz nada
sobre isso nos Evangelhos e a Igreja sempre fez questão de defender o celibato,
se o próprio Jesus era casado? ─ emendou na mesma pergunta, pois ainda parecia
não estar nada convencido daquelas histórias. Elas eram tão extraordinárias,
que ele mal conseguia pensar direito.
─
Primeiro porque Jesus e Madalena não eram casados de fato ─ respondeu de Molay.
Quando Jesus conheceu Madalena ela era uma mulher possuída por vários demônios.
Ele a curou. Ela então entrou a seu serviço e passou a segui-lo por todos os
lugares. Logo nasceu entre eles o amor de homem e mulher. Mas os discípulos de
Jesus não gostavam dela. Tinham ciúme e inveja dela. Mas foi ela a quem Jesus
amou mais. Depois que Jesus foi crucificado, seus discípulos começaram a
persegui-la e difamá-la entre os seus seguidores, porque foi a ela a quem Jesus
confiou os segredos da sua doutrina e o encargo de continuar a sua missão.
Porque ela era mãe da sua filha, a única pessoa na terra que ainda tinha o
sangue de Davi nas veias.
─
Mas não foi Madalena quem encontrou a tumba de Jesus vazia e anunciou aos
discípulos que ele havia ressuscitado? ─ perguntou Bertrand de Chartres.
─
Esse é o grande segredo, Irmão Bertrand ─ disse de Molay, olhando para todos os
Irmãos ali sentados. ─ Pois foi Madalena, com a ajuda de José de Arimatéia, que
era tio dele, quem roubou o corpo de Jesus e o ocultou em lugar que somente ela
e o tio sabiam. E depois disseram aos discípulos que a tumba estava vazia e o
corpo havia desaparecido.
─
Mas as Escrituras dizem que os discípulos o viram e falaram com ele depois que
ele ressuscitou ─ contestou Reginald de
Provins.
─
Os discípulos dele inventaram essas histórias, Irmão Reginald, ou então tiveram
alucinações em virtude da vida tensa que eles então estavam vivendo.
─
Sabíeis disso, Irmão Pedro? ─ perguntou Reginald de Provins, dirigindo-se a um
Irmão, sentado á sua direita, no degrau inferior. Esse Irmão era o monge
Pedro de Bolonha, procurador jurídico da Ordem. Reginaldo de Provins era o seu
secretário e também exercia o cargo de procurador da Ordem.
Pedro
de Bolonha só balançou a cabeça em sinal de afirmação. Ele era um dos altos
dignatários da Ordem, que já tinha galgado todos os graus dentro da complicada
hierarquia dos Capítulos. Formado em direito pela Universidade da cidade que
lhe dera o nome, tinha quarenta anos e há vinte fora iniciado na Irmandade. Há
cerca de dez fora nomeado consultor jurídico e nessa condição ocupava um lugar
de destaque na Ordem. Mas havia a hierarquia e o ritual não permitia que um
Irmão falasse quando a palavra não estivesse com ele. Por isso ele não
respondeu á pergunta do cavaleiro Reginald, limitando-se a balançar a cabeça em
sinal de anuência.
─
E o que aconteceu com ela? ─ perguntou Gaucerant de Montpezat.
─
Maria Madalena e José de Arimatéia vieram para a França, onde divulgaram a nova
fé aos franceses. Fizeram muitos discípulos na França, que ficaram conhecidos
como os “Filhos da Viúva”.
─
Mas os “Filhos da Viúva” não são os membros da nossa Ordem?─ perguntou
Gaucerand.
─
Sim Irmão ─ respondeu de Molay. E também os maçons, os pedreiros e carpinteiros
que constroem nossas igrejas e preceptorias, os alquimistas e todos os cristãos
que conhecem de fato, a verdadeira história das nossas crenças.
─
Não entendi ─ Irmão Grão-Mestre ─ retrucou o cavaleiro Gaucerand.
─
Os cristãos franceses receberam esse apelido porque Jesus era carpinteiro,
filho de uma viúva, Maria, sua mãe, e porque seus discípulos franceses foram
catequisados por sua viúva, Maria Madalena. E os discípulos de Madalena na
França foram feitos exatamente entre os operários, os trabalhadores, as pessoas
de condição servil. Somente alguns séculos depois é que os nobres começaram a
aderir á nova religião, e o culto cristão dos “Filhos da Viúva” passou a ser um
culto dirigido principalmente á Notre Dame.
─
É por isso que o povo francês é tão devoto á Notre Dame? ─ perguntou Bertrand
de Chartres.
─
Exatamente, Irmão Bertrand, e nós também, pois como sabe, nossa Ordem é
consagrada a Maria, mãe de Nosso Senhor ─ disse de Molay, apontando para o
desenho da lua crescente, que ali simbolizava o Sagrado Feminino.
─
O que foi feito do corpo do Nosso Senhor? ─ indagou Geoffroy de
Gonneville, que desde que fizera a sua primeira pergunta se mantivera calado,
tentando digerir aquela história. Tudo aquilo lhe parecia uma rematada loucura,
mas fora educado para nunca duvidar dos seus Mestres.
─
Maria Madalena e José de Arimateia o haviam enterrado em uma tumba da família
Arimatéia, em um jardim nos arredores de Jerusalém. Nossos Irmãos fundadores
encontraram os restos mortais dele e trouxeram-no para a França. Eles estão
agora guardados em uma das nossas preceptorias ─ disse de Molay.
Essa
foi a mais chocante de todas as revelações que aqueles cavaleiros que estavam
frequentando o Circulo Interior pela primeira vez ouviram. Mudos de espanto,
eles olhavam para seus Irmãos veteranos, sentados nos bancos de pedra em volta
deles, mas estes não mostravam nenhum sinal de espanto. Já haviam ouvido aquilo
antes.
Ponzard
de Guizi parecia o mais atônito.
─
Irmão Grão-Mestre ─ disse ele, levantando-se da sua cadeira. ─ Sei que é
costume da nossa Ordem crer e obedecer a nossos Mestres sem reservas, aceitando
no coração e na alma todos os preceitos que nos forem transmitidos. Mas tudo
que se disse aqui é tão extraordinário que me será muito difícil acreditar
nisso se não forem apresentadas provas dessa verdade. E creio que isso é o que
pensam todos os meus Irmãos, que aqui estão pela primeira vez.
─
Que essas luzes vos sejam dadas ─ disse o Grão-Mestre.
Então
Jacques de Molay levantou o pano vermelho que cobria o objeto que estava sobre
a mesa. Uma cabeça humana, extremamente bem conservada, que parecia ser de um
homem jovem, com cabelos longos e barba negra e cerrada, juntamente com dois
ossos de tíbias, cruzados em baixo dela, foram mostrados atônitos novos
cavaleiros do Círculo Interior. Seus olhos pareciam estar vivos. Na atmosfera
lúgubre e fantasmagórica daquela câmara, a estranha aparição provocou um
arrepio nas suas espinhas. Mas eles eram Cavaleiros Templários. Homens de espírito
treinado para nunca experimentar o medo no campo de batalha. Mas eles também
eram homens criados no temor da religião e viviam em uma época e em um ambiente
propício ao mistério e á superstição. Eles temiam o desconhecido, por isso
ficaram imóveis, boquiabertos, atônitos, não sabendo o que dizer nem pensar.
Imediatamente os cavaleiros veteranos se abaixaram e prostraram suas cabeças no
chão, em atitude de adoração.
─
Abhulaphia! Abhulaphia! Abhulaphia!─ gritaram três vezes.
─
Irmãos, este é o nosso verdadeiro Salvador ─ disse de Molay, erguendo á frente
da contrita plateia, a mais sagrada relíquia da cristandade. ─ Eis a prova do
que dizíamos! Esta é a Cabeça de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Na
plateia nenhum murmúrio se ouvia. Ninguém ousava também erguer o rosto para
olhar aquele objeto sagrado, que de Molay levantava em suas mãos,
movimentando-o para a direita e para a esquerda, como se com ela estivesse
abençoando todos os presentes.
─ Levantemo-nos e saudemos nosso Salvador, por quem todas as coisas nos são
dadas. Por quem as chuvas caem, as flores nascem, as moléstias são curadas e
todos os milagres são feitos!
─
Béauseant! ─ gritaram todos.
─
Nós somos os verdadeiros “Filhos da Viúva.” ─ gritou de Molay, erguendo o mais
alto que podia o Crânio Sagrado, enquanto, ao seu lado, Geoffroy de Charney
levantava o estandarte preto e branco da Ordem.
─
Béauseant! Gritaram todos, novamente. Desta vez, os novos cavaleiros também
repetiram o coro.
Notas
explicativas
1.O
nove é um número mágico que está conectado com a história dos Templários de uma
forma mística e profundamente simbólica. Ele representa o Thau, o X, que é cruz
de Santo André, e a letra Theth do alfabeto judaico, que simboliza a serpente.
Nove foram os cavaleiros que fundaram a Ordem e nove anos se passaram até que
eles se tornassem uma organização formal e começassem a recrutar novos membros.
Nove é o número perfeito que simboliza o fim de um ciclo e o começo de outro.
Marca a última etapa do processo de purificação iniciática e simboliza a missão
cumprida. Por isso, Jesus morre na nona hora do dia. Na tradição vedanta Vishnu
encarna nove vezes para salvar a humanidade. Para os filósofos gnósticos,
cultores da aritmosofia, o número de Cristo era 801 (soma de 8+0+1); nove era
também o número da santidade. Na tradição católica tornou-se regra encerrar uma
festividade com uma “novena”.
2,Que
havia segredos iniciáticos na estrutura curricular da Ordem do Templo parece
inegável, pois nas próprias regras escritas por São Bernardo (§§ 226) consta a
proibição de um Irmão revelar “segredos” do seu Capítulo a quem não fosse do
mesmo grau. Essa inconfidência era punida com a exclusão e conforme o segredo
revelado, com a prisão perpétua. O rito Templário, ao que tudo indica, teria
três níveis de aplicação: o primeiro seria aberto a todos os membros, não
conteria nenhum simbolismo iniciático, constando apenas de2. uma cerimônia de
recepção, onde o neófito jurava fidelidade á Ordem e á Igreja, prometia
conservar-se casto e viver na pobreza; o segundo, a que seriam admitidos apenas
os cavaleiros, era aquele em se aplicava o simbolismo da negação de Cristo e da
cusparada na cruz como forma de provação da fé do noviço e da sua verdadeira
fidelidade aos preceitos da Ordem, e a terceira, na qual a explicação de todos
esses simbolismos, e os demais mistérios de que a Ordem era detentora, eram
comunicados. Desse terceiro grau ─ o chamado Círculo Interior ─ só participavam
os altos dignatários da Ordem, que frequentavam um Capítulo especial,
supostamente o chamado Caput LVIII, dedicado á Virgem. Um paralelo dessa
estrutura é a que foi montada pelos alemães durante o governo nazista, na
organização conhecida como SS. Nesse círculo íntimo de “monges-guerreiros”,
havia um grupo comum de soldados que lutava pela Alemanha, politica e
militarmente; dentro da Organização, no entanto, havia outro grupo, seleto, nos
altos círculos da SS que trabalhava pela implantação das doutrinas raciais e
religiosas dos líderes nazistas. Em relação á Ordem do Templo, essa disposição
foi revelada por um dos depoentes frente ao Tribunal de Inquisição. Esse
depoente, identificado como sendo um cavaleiro chamado Gaucerant de Montpezat,
disse haver no rito Templário “três artigos que ninguém conhecerá jamais,
exceto Deus, o Diabo e os Mestres.” Esse Irmão foi torturado e queimado vivo,
mas não revelou o conteúdo desses mistérios. Os demais nomes que aparecem neste
capítulo foram extraídos dos autos do processo movido contra os Templários.
3,O
primeiro historiador a escrever sob a Ordem do Templo foi Guilherme de Tiro.
Mas suas crônicas foram escritas entre 1175 e 1185. Nessa ocasião a Ordem já
existia há mais de cinquenta anos. Suas fontes foram depoimentos dos próprios
Cavaleiros Templários, que, evidentemente, só contaram o que sabiam, ou o que
podiam contar. Nessa época o Templo já era uma organização poderosa e também já
desenvolvera uma boa parte da mística que a acompanhava. Toda a nobreza
europeia almejava entrar para os seus quadros ou mesmo ter um Templário na
família. Ela era uma verdadeira confraria, envolta em mistérios e lendas, em
razão dos feitos heroicos dos seus membros nas lutas contra os sarracenos.
Guilherme era bispo de Tiro, na Síria, e nutria profunda antipatia pelos
Templários, a quem taxava de avarentos, egoístas e arrogantes. Ele informa,
inclusive, que os Templários mantinham estreitas relações com a seita muçulmana
dos Assassinos, os quais pagavam 2000 peças de ouro aos Templo na forma de
dízimos. Na opinião desse cronista, as propaladas doutrinas heréticas,
cultivadas pelos Irmãos do Templo, teriam sido inspiradas por essa seita de
terroristas muçulmanos.
4.O
“reino de Cristo sobre a terra” não era uma mera metáfora espiritual, mas sim
uma realidade politica que os líderes cruzados, juntamente com o papa Urbano
II, tinham em mente quando iniciaram a primeira cruzada. Esse ideal era uma
inspiração cavaleiresca, que tinha como mentor justamente o grande Bernardo de
Clairvaux, redator das regras da Ordem do Templo. A finalidade dessa cruzada
não era meramente libertar Jerusalém do domínio sarraceno, como geralmente se
pensa, mas sim estabelecer o domínio cristão na região onde o cristianismo
tinha nascido. Destarte, a missão que São Bernardo deu aos Templários era
exatamente aquela que Jesus se atribuiu em sua vida, ou seja, reconstruir o
reino de Israel nos moldes em que ele existiu nos dias de Salomão. Essa missão
foi expressa na metáfora de reconstrução do Templo de Jerusalém sobre as ruínas
do antigo Templo de Salomão, metáfora essa que significava o restabelecimento
do reino de Israel nos moldes em que ele existira nos tempos bíblicos. O
próprio Jesus havia usado esse simbolismo na revelação que fez aos seus
discípulos, de que aquele magnífico edifício que eles estavam contemplando ─ o
Templo de Jerusalém ─ seria destruído e dele não ficaria pedra sobre pedra.
Essa metáfora, que era também uma profecia, se referia principalmente á nova
religião que ele iria implantar no lugar da religião que os judeus estavam
professando naqueles dias, uma relicião contaminada pelo paganismo, como Jesus
acreditava e deixou patente em suas diatribes contra os escribas e os fariseus
que a monopolizavam. Segundo essa tese, a profecia da destruição do
Templo deve ser analisada em conjunto com outra metáfora, a da ressurreição, na
qual Jesus se diz capaz de reconstruir o Templo em três dias. Essa profecia foi
feita na quarta-feira da semana da Páscoa, pois Jesus esperava que no sábado,
quando a sagrada semana judaica terminasse, a sua revolução já estivesse estabelecida.
Essa tese foi proposta pelos chamados idealistas alemães, especialmente Herman
Samuel Reinarus ((1694-1768) para quem Jesus se propôs a realizar uma
missão politica e seus discípulos, depois do fracasso dessa missão, resolveram
fundar uma igreja. Ernest Renan (1823-1892 foi outro escritor que demonstrou a
impossibilidade de recuperar a verdadeira história de Jesus, mas via nela
claros traços de uma aventura política inspirada pela própria tradição do povo
judeu. Para os Templários a idéia de reconstrução do Templo simbolizava o
desejo de um renascimento da humanidade a partir das virtudes cristãs, na forma
como São Bernardo as entendia. Encaixava-se perfeitamente na mística de uma
época, onde o romantismo mágico se misturava á virtude cristã, para compor o
caráter do homem perfeito. Esse homem perfeito era justamente o Cavaleiro
Templário, conforme definido na regra elaborada por São Bernardo, ou seja, um
monge, misto de santo e guerreiro, como o próprio Jesus havia sido, na visão do
famoso abade de Clairvaux. A ressurreição de Jesus, no caso, era entendida pelo
Círculo Interior dos Templários como um simbolismo que significava o surgimento
de uma nova religião “um novo Templo”, que iria congregar toda a humanidade.
Era nesse sentido que eles estariam cumprindo a missão de Jesus iniciou.
5.Uma
boa fonte de compreensão da filosofia dos Templários são os trovadores
provençais. Esses famosos “poetas” medievais não eram meros artistas que
entretiam as nobres senhoras nos serões das cortes cavaleirescas. Em grande
parte, eram filósofos esotéricos que levavam, de corte em corte, ideias de uma
crença não muito ortodoxa, que tinha mais a ver com o cristianismo místico,
praticado pelos cultores do gnosticismo, do que com a doutrina admitida pela
Igreja de Roma. Daí a preocupação que o Vaticano sempre demonstrou com o
chamado trovadorismo, muitas vezes condenando suas produções artísticas como
mensagens eivadas de heresias. O trovadorismo, especialmente aquele que se
referia á literatura ligada aos contos do Graal foram claramente inspirada em
motivos Templários. Cabe lembrar que a Igreja sempre condenou os romances do
Graal por entender que eles veiculavam ideías pagãs, heréticas e perigosas para
a fé cristã e contrárias aos ensinamentos dos evangelhos. Imagem: Selo
templário que mostra dois cavaleiros montados no mesmo cavalo, portando o beauséant.
Fonte: Knight Templars Vault.
6.A
ideia de que a Ordem do Templo era uma organização iniciática fica clara nas
atas do julgamento ao que os Templários foram submetidos. Embora o Templo
administrasse uma imensidade de interesses profanos, era o conteúdo
espiritualista da sua doutrina que atraia os intelectuais da época. E era
também esse conteúdo que incomodava a Igreja, pois tais ensinamentos, de
caráter secreto, supostamente contrariavam aqueles admitidos por Roma como
únicas verdades espirituais. Na verdade, a Regra Templária foi escrita com base
em uma filosofia que justificava uma guerra santa contra os sarracenos. Proibia
o derramamento de sangue de cristãos, mas incitava o morticínio entre os
inimigos da fé cristã. Foi esse caráter de nobreza, santificada pela fé, que
atraiu a grande massa dos nobres ocidentais para as fileiras do Templo e do
Hospital. Isso fez das Ordens militares uma grande potência, pois junto com os
nobres vinham também suas propriedades. E com a imunidade dada pela Igreja, as
Ordens se tornaram uma atração irresistível para a empobrecida nobreza
medieval, ávida de aventuras e de justificativas para a liberação do seu
espírito místico e belicoso. Assim, seguir o beauséant, era o mesmo que lutar
por Cristo.
7.A
informação de que Jesus seria filho de um rabino chamado Yoshua Pandira, o qual
teria tido um relacionamento com Maria, consta do Talmude, passagens 104,b,
Sanedrin 67a, Sanedrin 107 b, Shotah, 47 a;Talmude Sanedrin, 67ª.
8.A
tese segundo a qual Jesus manteve um relacionamento amoroso com Maria Madalena
aparece, pela primeira vez, no Evangelho gnóstico de Filipe, onde esse suposto
discípulo confessa a preferência de Jesus por Madalena e provoca o ciúme dos
discípulos. Filipe diz também que Madalena era “a companheira do Senhor” e que
ele a “beijava na boca muitas vezes”. A tese segundo a qual a família de
Geoffroy de Boillon, o místico comandante da primeira cruzada era descendente
de Jesus, através da filha que ele teve com Madalena foi exposta no best-seller
“The Holy Blood and The Holy Grail”, dos escritores ingleses, Michael
Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln. Já a informação de que a misteriosa
cabeça adorada pelos Templários era a cabeça embalsamada de Cristo, provém de
uma especulação feita pelo escritor Keith Laidler - The Head of God-
Londres- 2002
9.
Literalmente, a palavra francesa beauséant significa
estandarte. Mas para os arte. Mas para os Tem motivos TTemplários, além de ser
o estandarte que eles usualmente portavam quando entravam em batalha, essa
palavra era um grito de guerra. Uma tradição compilada por Weil (Biblical
Legends, pag.70), diz que os exércitos de Alexandre, o Grande, usavam
estandartes nas cores preta e branca, sendo que o branco ia na frente do
exército e o preto atrás. Era um simbolismo que significava o domínio que ele
queria ter sob a luz e a sombra. Assim, ele era o Senhor da Luz e das Trevas.
Dessa forma, seus estandartes, em preto e branco, eram símbolos da
invencibilidade do seu exército. Essa mística também se refere aos Templários
em relação ao beauséant, pois que esse grito de guerra estava
conectado com a fama de bravura que eles adquiriram. Destarte, a palavra beau
(bom, nobre, virtuoso) e séant (assento), se refere ao sinete Templário que
mostra dois cavaleiros sobre o mesmo cavalo. Essa regra de pobreza e virtude
tomou o significado de santa aliança, verdadeira Irmandade. O beauséant simbolizava
exatamente as qualidades que São Bernardo tinha em mente para os Cavaleiros de
Cristo, quando ele redigiu as Regras. Os Templários seriam os “guerreiros da
luz”, como referido nos ensinamentos essênios, onde os soldados do Messias eram
assim chamados. O simbolismo dobeauséant fundamenta um dos graus
filosóficos mais importantes da Maçonaria do Arco Real e do Rito Escocês,
denominado “Cavaleiro do Leste e do Oeste.” Por emulação, também, esse
simbolismo de “filtrar” a luz está refletido no piso da Loja maçônica, que
obrigatoriamente tem que ostentar um quadrilátero preto e branco. Esse
quadrilátero simboliza o beauséant do Templo maçônico, o
"filtro de luz”, no qual o espírito do Irmão é purificado e adquire as
virtudes maçônicas.excerto do capítulo vii do livro "filhos da
viúva", no prelo
João Anatalino
FONTE: RECANTO DAS LETRAS
FONTE: RECANTO DAS LETRAS
0 Comentários