1869 – O Primeiro Projeto Maçônico de Emancipação dos Escravos


                                               Ubaldino do Amaral 

Da Redação 

Em um Brasil ainda marcado pela chaga da escravidão, o ano de 1869 representou um marco na história dos movimentos abolicionistas com inspiração maçônica. Neste ano, foi apresentado o primeiro projeto maçônico de emancipação dos escravos, fruto da ação de dois ilustres maçons: Ubaldino do Amaral Fontoura e José Leite Penteado.

Um Projeto Pioneiro

O projeto, de caráter progressista e humanitário, antecipava em quase duas décadas a assinatura da Lei Áurea. Concebido no seio de uma elite intelectual comprometida com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade — pilares da Maçonaria —, visava propor medidas concretas para a gradual emancipação dos escravizados no Brasil.

Embora não tenha sido imediatamente aprovado ou transformado em lei, o projeto representava uma mudança importante no discurso político e humanitário da época. Mostrava que dentro das Lojas Maçônicas brasileiras crescia uma corrente de pensamento que reconhecia a escravidão como uma afronta aos direitos humanos e à dignidade.

Ubaldino do Amaral: O Intelectual Engajado

Nascido em 27 de agosto de 1842, na Lapa (PR), então parte da Província de São Paulo, Ubaldino do Amaral Fontoura foi uma das figuras mais versáteis do Brasil Imperial e da Primeira República. Jurista, jornalista, político, dramaturgo e professor, ele acumulou ao longo da vida cargos de grande relevância:

Ministro do Supremo Tribunal Federal (1894–1896)

Senador pelo Paraná

Prefeito do então Distrito Federal (Rio de Janeiro)

Presidente do Banco do Brasil

Sua atuação política foi marcada por ideias avançadas para a época, e sua filiação à Maçonaria não foi apenas formal, mas ideológica. Defensor da educação, das reformas sociais e do fim da escravidão, Ubaldino se tornou símbolo de uma geração que tentou reconciliar progresso e justiça em meio às estruturas conservadoras do Império.

José Leite Penteado: O Parceiro Esquecido

Infelizmente, poucos registros detalham a biografia de José Leite Penteado, coautor do projeto de 1869. Sabe-se, no entanto, que ele também era maçom e esteve diretamente envolvido na formulação do projeto de emancipação. Sua atuação ao lado de Ubaldino evidencia que havia uma rede de maçons comprometidos com a causa abolicionista, muitos dos quais atuaram discretamente nos bastidores do poder, influenciando decisões e formando opinião.

A Maçonaria e a Luta Pela Abolição

A Maçonaria brasileira desempenhou papel relevante nos movimentos que culminaram na abolição da escravidão em 1888. Diversas Lojas Maçônicas, especialmente a partir da década de 1870, passaram a atuar como espaços de mobilização intelectual e política contra o sistema escravista.

Muitos dos principais abolicionistas — como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e José do Patrocínio — eram ligados à Maçonaria ou mantinham relações próximas com seus membros. As Lojas se tornaram núcleos de resistência moral ao escravismo, promovendo debates, ações libertadoras e até mesmo a compra de alforrias.

Legado e Reconhecimento

O projeto de 1869, ainda que não tenha tido efeitos imediatos, ocupa um lugar de honra na história dos esforços emancipatórios brasileiros. É um testemunho da influência da Maçonaria na promoção de ideais civilizatórios e na formação de lideranças comprometidas com a justiça social.

Reconhecer essa iniciativa é também reconhecer que o fim da escravidão não foi apenas resultado de um ato de governo, mas sim de uma longa luta travada em diversas frentes — política, jurídica, religiosa, cultural e maçônica.


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