Repressão à Maçonaria em Cuba: Líder José Ramón Vinhas Alonso é Interrogado pela Segurança do Estado


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Da Redação

A repressão política em Cuba ganhou novos contornos nesta semana com o interrogatório de José Ramón Vinhas Alonso, Soberano Grande Comendador do Conselho Supremo do 33º Grau, uma das principais autoridades maçônicas do país. Convocado pela temida Segurança do Estado, Vinhas Alonso é alvo de acusações econômicas que, segundo fontes independentes e membros da Maçonaria, fazem parte de uma crescente ofensiva contra a instituição e seus representantes mais críticos ao regime.

O episódio mais recente dessa escalada ocorreu na delegacia de Acosta e Diez de Octubre, em Havana, onde Vinhas foi novamente intimado a depor. Um vídeo divulgado pelo portal independente Cubanet mostrou dezenas de maçons reunidos em frente à unidade policial, demonstrando solidariedade ao seu líder. A situação gerou forte comoção entre os membros da fraternidade, que denunciam perseguições, violações de direitos e tentativas de desestabilizar sua organização.

 Acusações Econômicas e Repressão Política

Oficialmente, Vinhas Alonso é acusado de tráfico de divisas, devido a uma troca de dólares feita entre irmãos da Maçonaria a uma taxa não oficial de 370 pesos por dólar, quando a taxa governamental estipulada é de 120. Segundo o próprio líder, a transação visava cobrir despesas urgentes com o asilo administrado pela instituição. O regime, no entanto, enquadra essa prática como crime econômico, passível de prisão de 2 a 5 anos.

Em sua defesa, Vinhas argumentou nas redes sociais que tudo foi feito de forma transparente e justificada por registros contábeis. “Não temos preocupações, porque como cidadãos não temos nem multa de trânsito”, escreveu ele. "Sabemos o que se busca com tudo isso (...), mas quero declarar aos meus irmãos nossa inocência.”

Por trás das acusações financeiras, o contexto político fala mais alto. Vinhas é conhecido por sua postura crítica, especialmente após a divulgação de uma carta pública, em 11 de julho de 2021, condenando a ordem de repressão contra o povo cubano durante manifestações antigovernamentais. Desde então, tornou-se alvo da polícia política.

 Solidariedade e Resistência

Relatos publicados nas redes sociais e em meios independentes dão conta de que a repressão contra a Maçonaria se intensificou nas últimas horas. O escritor e ativista Ángel Santiesteban-Prats afirmou que patrulhas e agentes repressivos cercaram sua residência para impedi-lo de apoiar os maçons na delegacia. Ele denunciou que um posto de comando da Segurança do Estado foi instalado nas proximidades.

“Pedimos solidariedade internacional contra o vergonhoso assassinato que está sendo cometido contra a Maçonaria em Cuba”, declarou Santiesteban.

Apesar das ameaças, a Maçonaria cubana segue demonstrando resiliência. Em meio à repressão, irmãos se reuniram em público diante da estátua de Carlos Manuel de Céspedes, sob intensa vigilância, reafirmando sua independência e autonomia. “Se o governo quiser nos dominar, não permitiremos”, disse anteriormente o Grão-Mestre eleito, Juan Alberto Kessell Linares.

 Conflito Institucional e Interferência Estatal

O caso de Vinhas não é isolado. A Maçonaria cubana enfrenta desde maio um conflito institucional agravado pela interferência do regime. Centenas de maçons destituíram o então Grão-Mestre Mayker Filema Duarte, acusado de tentar perpetuar-se no cargo. A decisão foi legal e respaldada pelas instâncias internas da fraternidade, mas o Ministério da Justiça recusou-se a reconhecê-la e impôs um novo líder alinhado ao governo.

Desde então, houve convocações policiais, ameaças de congelamento de contas bancárias, expulsões de templos e censura às atividades maçônicas. Ainda assim, os irmãos se mantêm firmes na defesa de sua soberania.

O próprio ministro da Justiça, Óscar Manuel Silvera Martínez, declarou recentemente na televisão estatal que o governo "não interfere" nos assuntos internos da Maçonaria, apesar das evidências em contrário. Para os maçons, essas declarações contrastam com a realidade dos fatos: uma estrutura estatal que busca controlar, desmobilizar e silenciar uma das poucas organizações independentes que ainda resistem no país.

 A Luta pela Autonomia e Liberdade

A perseguição a José Ramón Vinhas Alonso é símbolo de uma tentativa sistemática de fragilizar a Maçonaria como espaço de articulação e pensamento livre em Cuba. Mais do que uma questão econômica, as acusações refletem o incômodo do regime com instituições que ainda preservam certa autonomia moral, ética e social.

A Maçonaria, com sua longa tradição de defesa da liberdade, da justiça e da fraternidade, representa um foco de resistência num cenário cada vez mais marcado por censura, vigilância e autoritarismo. O caso de Vinhas Alonso exige atenção internacional, não apenas como uma denúncia de repressão política, mas como um alerta sobre o futuro das liberdades civis em Cuba.

A fraternidade cubana, apesar da pressão, continua a levantar sua voz. E nas palavras de Vinhas, “será o que tiver de ser, mas nossa inocência é clara”. A história, como tantas vezes na ilha, segue sendo escrita com coragem.

 Fonte: https://fr.cibercuba.com

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