Por Luiz Sérgio Castro
O fim da guerra entre Israel e Gaza desperta um silêncio diferente — não o da paz completa, mas o da esperança que teima em nascer mesmo entre ruínas.
Um dia, o barulho cessou.
Não foi o silêncio da paz, ainda não. Foi um silêncio cansado, um intervalo entre dois suspiros longos, um daqueles momentos em que até o vento parece se deter para escutar o que restou.
As bombas pararam de cair. As sirenes, desacostumadas ao repouso, calaram-se sem saber se estavam fazendo o certo. Em Gaza, levantaram poeira e esperanças. Em Tel Aviv, abriram janelas com cuidado, como quem teme que o ar ainda esteja armado. E o mundo inteiro, espectador viciado em tragédias, piscou os olhos sem saber se era sonho ou apenas mais uma pausa para a próxima temporada da dor.
Mas algo mudou — um som leve, quase tímido, começou a brotar.
Era o som de panelas batendo, de passos voltando à rua, de crianças tentando lembrar como era brincar sem medo. Era o som das vozes desafinadas que ousavam cantar. E, se escutarmos com o coração aberto, talvez possamos dizer: a banda voltou a passar.
Não uma banda de metais brilhantes, mas de sobreviventes anônimos, que tocam a música possível — uma melodia feita de lágrimas, poeira e vontade.
Os músicos são os que ficaram.
Os instrumentos, o que sobrou.
A plateia, o mundo inteiro tentando acreditar que ainda há concerto após o caos.
Paz é palavra bonita, mas frágil. É como uma flor que cresce entre ruínas: exige olhos atentos e mãos gentis. No Oriente Médio, essa flor já murchou tantas vezes que poucos acreditam que possa florir de novo. Mas basta uma criança sorrir para que o impossível recomece.
E então, o velho mundo se pergunta: o que faremos com esse momento? Vamos celebrá-lo como quem inaugura um novo tempo, ou vamos deixá-lo escapar, mais uma vez, entre promessas e discursos?
Enquanto as autoridades discursam e as câmeras registram abraços cautelosos, há um homem varrendo os destroços de sua casa e uma mulher cozinhando pão com o que restou de farinha. São eles que realmente constroem a paz — pedra por pedra, gesto por gesto, nota por nota.
O tempo dirá se essa trégua é apenas mais um intervalo ou o início de uma nova canção. Mas hoje, pelo menos hoje, há um som diferente no ar. E isso já é milagre suficiente.
Talvez Drummond dissesse:
“O jeito, no momento, é ver a banda passar cantando coisas de amor.”
E talvez Chico sorrisse, porque a melodia dele, escrita há quase sessenta anos, ainda resiste — agora entre as cinzas e as crianças que voltam a correr.
Porque, afinal, mesmo depois da guerra, a vida insiste em fazer música.
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