Por Luiz Sérgio Castro
Na tradição maçônica, as ferramentas simbólicas
sempre serviram como instrumentos de reflexão moral, espiritual e filosófica. O
esquadro, o compasso, o nível e o prumo, entre tantas outras, traduzem valores
que moldam o caráter do iniciado e orientam sua conduta na construção do Templo
interior e social. Contudo, no século XXI, em plena era digital e tecnológica,
surge uma questão inevitável: as ferramentas do maçom de ontem ainda são
suficientes para o maçom de amanhã?
A Maçonaria nasceu no seio das corporações de construtores, herdeira de uma linguagem simbólica fundamentada na geometria e na arte da edificação. Por séculos, esses instrumentos representaram a ordem, a harmonia e o equilíbrio entre o material e o espiritual. Entretanto, vivemos um tempo em que os “templos” erguidos já não são de pedra, mas de ideias, conhecimento e informação. Assim, é natural que a Ordem se pergunte: estamos apenas preservando o mundo dos construtores ou estamos prontos para construir um novo mundo de significados?
Do martelo à mente digital
O maçom de hoje já não trabalha apenas com o
cinzel que lapida a pedra bruta, mas com o pensamento crítico que lapida o
conhecimento. O novo canteiro de obras é a sociedade da informação, onde os
dados, as redes e a inteligência artificial se tornaram a matéria-prima da
transformação humana. O verdadeiro desafio é não perder o espírito simbólico
das ferramentas tradicionais, mas reinterpretá-las à luz dos novos tempos.
O compasso, por exemplo, que delimita os
limites da ação justa e racional, pode agora representar a capacidade de
discernimento ético diante das tecnologias emergentes. O esquadro, símbolo da
retidão e da verdade, torna-se um convite à transparência e integridade nas
relações virtuais e institucionais. Já o nível, que recorda a igualdade entre
os homens, convida-nos a lutar por uma inclusão digital e social que garanta
oportunidades iguais a todos, independentemente de sua origem.
A tecnologia como nova linguagem
simbólica
A Maçonaria sempre se destacou por adaptar o
eterno aos tempos mutáveis. As ferramentas do futuro não são apenas de metal ou
madeira; são também softwares, algoritmos, redes de informação e plataformas de
comunicação. O maçom do amanhã precisará dominar não apenas a arte do silêncio
e da meditação, mas também a arte da leitura crítica do mundo digital.
Não se trata de abandonar os símbolos antigos,
mas de reinterpretá-los. A régua de 24 polegadas, que divide o tempo entre
trabalho, descanso e devoção, hoje pode nos lembrar da necessidade de
equilíbrio entre o tempo online e o tempo real, entre a conectividade e o
recolhimento interior. O prumo, que nos mantém fiéis à verticalidade moral,
torna-se o símbolo da consciência ética em um mundo de informações vertiginosas
e instantâneas.
Estar à altura dos padrões
“Estar à altura dos padrões” — esta é a
exigência eterna da Maçonaria. Mas os padrões também evoluem. Hoje, ser um
maçom digno dos antigos ideais significa manter a essência dos valores
tradicionais — sabedoria, justiça, fraternidade — e, ao mesmo tempo, atuar com
lucidez no contexto moderno. A maçonaria do amanhã será aquela capaz de unir o
compasso da tradição à régua do progresso.
Ser um maçom do futuro não significa abandonar
o passado, mas erguer pontes entre o templo simbólico e o mundo tecnológico.
Assim como os construtores medievais transformaram pedra em arte, o maçom
contemporâneo deve transformar dados em sabedoria, informação em discernimento,
e tecnologia em instrumento de elevação humana.
As ferramentas do maçom de amanhã não
substituirão o esquadro nem o compasso — elas os complementarão. A verdadeira
pedra bruta a ser polida continuará sendo o ser humano, agora inserido num
universo digital e interconectado. A missão é a mesma, mas o cenário é outro.
Afinal, o verdadeiro construtor não é aquele
que trabalha com as mãos, mas com o espírito. E, enquanto houver um coração
disposto a aprender, a servir e a construir, a Maçonaria continuará sendo, em
qualquer tempo, o mais elevado canteiro de obras da humanidade.


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