O Alvará de Dom João VI e o
Caso da Loja São João de Bragança
Em 3 de
maio de 1818, o rei Dom João VI, já coroado como monarca do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves, assinou um alvará que proibia todas as
sociedades secretas no Brasil, incluindo a Maçonaria. A pena para os
envolvidos podia chegar à morte, numa clara demonstração da gravidade
com que o governo tratava qualquer organização considerada potencialmente
subversiva. Este decreto representa um marco importante na tensa relação entre
o Estado português e a Maçonaria em território brasileiro.
O contexto político e o medo de conspirações
A medida de
Dom João VI refletia o clima político de instabilidade que reinava no início do
século XIX. As ideias iluministas e os movimentos revolucionários ganhavam
força, circulando entre elites militares e intelectuais, desafiando as
estruturas do poder monárquico. A lembrança da Revolução Francesa ainda era
recente, e diversas revoltas internas causavam inquietação na Coroa.
Foi nesse
ambiente de desconfiança que se descobriu a existência da Loja Maçônica São
João de Bragança, que operava discretamente dentro do próprio Paço Real,
no Rio de Janeiro. A revelação causou alarme: temia-se que maçons ligados à
corte estivessem conspirando contra o regime ou fomentando ideias republicanas.
Sociedades secretas sob vigilância
Embora a
Maçonaria regular promovesse valores como liberdade, fraternidade e progresso
intelectual, o segredo de seus rituais e o caráter reservado de suas reuniões
geravam desconfiança nas autoridades. Dom João VI, influenciado por
conselheiros e temeroso de perder o controle político, decidiu criminalizar
todas as sociedades secretas — e, com isso, reprimiu duramente a Maçonaria.
Efeitos da repressão
Com o
alvará em vigor, a Maçonaria brasileira mergulhou num período de
clandestinidade. Muitas lojas foram dissolvidas ou silenciadas. No entanto, a
repressão não foi suficiente para extinguir a atividade maçônica, que sobreviveu
de forma oculta, esperando tempos mais favoráveis.
Essa
mudança começou com a independência do Brasil, em 1822, quando o então
imperador Dom Pedro I demonstrou simpatia por ideias maçônicas e chegou
a ser iniciado, em determinado momento, em uma loja simbólica.
Um episódio revelador
A proibição
da Maçonaria em 1818 mostra como a Ordem esteve envolvida nas grandes
transformações políticas e sociais do Brasil. A Loja São João de Bragança
tornou-se símbolo da influência discreta, porém poderosa, da Maçonaria
nos bastidores do poder — e da sua constante vigilância pelos regimes
absolutistas que temiam sua capacidade de articulação intelectual e política.
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