Por
Julian Rees - Tradução José Filardo
Paineis
de Loja de Aprendiz e Companheiro
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Toda a Maçonaria do mundo se baseia nos três
primeiros graus: o primeiro, o do Aprendiz (ou, mais geralmente no mundo
anglo-saxão, Entered Apprentice); o segundo, o do Companheiro e, finalmente, o
terceiro, o de Mestre Maçom. A prática maçônica francesa espelha a da
Inglaterra, mas apresenta diferenças significativas em nível filosófico,
espiritual e esotérico. Dessa forma, certos aspectos das práticas rituais
maçônicas inglesas não são particularmente claros para os maçons franceses.
Gostaríamos então, neste artigo, esclarecer alguns daqueles que estão em vigor
na Grande Loja Unida da Inglaterra, e, em particular, de seu rito conhecido
pelo nome de Emulação.
Ver esses três graus, como cerimônias separadas é
uma tentação quase inevitável. No entanto, eles são, na verdade, três partes de
um todo. Na verdade, existem muitas correspondências entre os três graus
e é isso que temos de examinar para entender o que eles nos podem ensinar.
Do
Aprendiz ao Mestre
Parece
que a primeira fase lida da saída da escuridão para ir de encontro à luz. É a
caminhada da ignorância em direção ao conhecimento, o primeiro passo no caminho
para a autoconhecimento. Uma fórmula diz: “Não existe escuridão tão negra que
nos impeça de avançar para a luz.” Em seguida, o segundo grau integra em mais
de uma maneira, toda a jornada da vida. Assim, o companheiro maçom (em Inglês,
Fellow Craft, o homem do ofício) é, por isso, às vezes conhecido em outras
jurisdições fora da Inglaterra, sob palavras que dão a ideia de “viajante” ou
de “caminhante” (em Inglês journeyman, em alemão, Geselle; termos que os
franceses podem traduzir no dia a dia como jornaleiro ou simplesmente
trabalhador.) O homem que viaja para adquirir conhecimento, a fim de progredir
a sua aprendizagem até um nível superior. Na França, evidentemente, o maçom do
segundo grau é chamado, portanto, de “Compagnon”, ou seja, “Companheiro”,
porque ele viaja na companhia de seus irmãos. O terceiro grau trata da
transição da vida terrena para o Eterno, e em síntese deste grau, o candidato é
chamado de Mestre Maçom, uma vez que agora ele se tornou “mestre” de si mesmo.
Durante
a cerimônia do terceiro grau, o Venerável Mestre apresenta um resumo dos graus
anteriores. Esta parte do ritual é útil para compreender bem o progresso
necessário entre os três graus. O Venerável indica que o primeiro grau é uma
“representação simbólica da entrada de qualquer ser humano em sua existência
mortal” e que lhe ensina “os princípios ativos da beneficência e caridade”.
Então, ele continua: Prosseguindo em seu caminho, sempre guiado em seu
progresso pelos princípios da verdade e da virtude moral, você passou ao
segundo grau, onde ele o levou a contemplar as faculdades intelectuais e a
acompanhar o seu desenvolvimento pelas vias da ciência divina e mesmo até o
trono do próprio Deus. Os segredos da natureza e os princípios da verdade
intelectual foram, então, revelados aos seus olhos. E para o homem cuja mente
foi formada pela virtude e a ciência, a natureza apresenta uma outra grande e
útil lição.
Ela
vos ensina, pela contemplação, a preparar as horas finais de sua existência. E
quando, através dessa contemplação, ela vos guiou através dos caminhos sinuosos
desta vida mortal, ele vos ensina finalmente … como… morrer.
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Luzes e
escuridão
Para
a recepção no primeiro grau, somos preparados na Inglaterra de uma forma
semelhante ao que se pratica em França – uma venda nos olhos, uma parte de
nossas roupas em desalinho, a parte inferior da perna desnudada. Em seguida,
penetramos no templo como um candidato humilde na escuridão – mas essa
escuridão nos é própria; nós mesmos somos nela mergulhados, porque esta viagem
das trevas à luz é uma jornada individual, pessoal. No entanto, os irmãos
reunidos no templo nos acompanham em um espírito de fraternidade, em primeiro
lugar para garantir que nada nos suceda de mal, seja no plano físico ou
espiritualmente. Segundo, eles também estão lá para garantir que nossa
iniciação seja regular e corretamente executada. E, em terceiro lugar, eles
também estão presentes para “revisitar” a experiência fundamental de suas
próprias iniciações e meditar sobre as lições que eles mesmos aprenderam.
Mas
quando adentramos o templo para nossa cerimônia do segundo grau, o contraste é
total. É certo, que fomos preparados de um modo semelhante ao do primeiro grau,
mas não mais temos os olhos vendados. Assim, embora não houvesse ali nenhuma
luz – fora aquele que podemos encontrar nas profundezas de nós mesmos – ela
agora resplandece; é a luz do dia de que todo companheiro pode precisar para se
deslocar à frente em seu caminho. A sensação geral deste grau é uma impressão
de luz, de alegria e paz. Considerando que no primeiro grau, fisicamente
colocado em dificuldades e mentalmente desorientado, tropeçamos e cambaleamos;
aqui estamos na situação de viajar e apreciar plenamente a beleza e a alegria
da Natureza, uma alegoria de nossa própria natureza – esta verdadeira natureza
que estamos em vias de descobrir e de medir a precisão.
Então,
quando somos admitidos no templo no terceiro grau, o contraste é ainda mais
impressionante. Desta vez, tudo está mergulhado em trevas. Não só para nós, os
candidatos, mas para todos os presentes. Os irmãos compartilham com o candidato
a privação de luz, de toda luz, com exceção de um brilho muito tímido no
Oriente. Para todos os irmãos, essa escuridão quase total é um lembrete sombrio
de que a busca da nosso Ser, livre de qualquer preocupação ou obsessão
materialista pelas provas enfrentadas nos dois primeiros graus, é um assunto
sério e que o seu objetivo é aquele que todos aspiramos ao final: primeiro
vislumbrar a ideia de ser um só com a Eternidade, em seguida, totalmente a
experiência … se tivermos a oportunidade chegar até lá. Esta ideia ecoa uma das
instruções do primeiro grau: E como o fabricante levanta sua coluna por meio do
nível e da perpendicular assim deve se conduzir o maçom em relação ao mundo.
Ele deve observar um equilíbrio justo entre avareza e a prodigalidade, manter
em equilíbrio os pratos da Justiça em um equilíbrio e conter suas paixões e
preconceitos dentro dos limites de uma conduta justa; e em todas as ocupações,
ter em vista a Eternidade.
Viagens…
Mas
a ressonância entre os graus não se restringe às suas respectivas cerimônias
introdutórias. Se vemos toda a Maçonaria como a alegoria de uma viagem que vai
do nascimento até a morte e à perfeição depois de ter percorrido toda a sua
existência, então cada grau incorpora pequenas viagens como fases da “Grande
Viagem”. No primeiro grau, começamos por dar a volta ao templo para mostrar que
merecemos ter acesso aos mistérios da Maçonaria, em seguida, uma segunda viagem
deve nos permitir demonstrar o que aprendemos. No segundo grau, primeiro
fazemos a prova de que somos maçons, em seguida mostramos que realizamos o
trabalho necessário para nosso avanço e, finalmente, após o avanço, um novo
exame nos põe à prova mais uma vez. O terceiro grau é decididamente diferente.
Empreendemos três viagens. As duas primeiras estão ligadas aos dois primeiros
graus. Mais uma vez, é nos solicitado que provemos ser um maçom do primeiro
grau e depois, do segundo grau. Quanto à terceira viagem, ela deve mostrar que
somos qualificados para sermos promovidos – exaltados – ao terceiro grau e, em
particular, que estamos na posse da senha que nos permite fazê-lo. No entanto,
o que falta aqui é a última viagem, aquela no decorrer da qual somos examinados
para mostrar nossa competência e demonstrar o nosso conhecimento. Todavia, os
segredos expressos pelos Vigilantes durante a cerimônia de encerramento dos
trabalhos do terceiro grau são apenas segredos substitutos. O verdadeiro
segredo, aquele que está em nossos corações, é tão íntimo que é incomunicável a
um terceiro, e é assim que deve ser, porque esse segredo diz respeito à
eternidade; e isso não pode e não deve ser descoberto a não ser por nós mesmos.
O
meio de progredir em cada grau em direção à luz no Oriente é interessante. No
primeiro grau, estamos mergulhados na escuridão completa, de modo que os passos
que damos são necessariamente hesitantes e que somente vamos conseguir dá-los
com a ajuda do Diácono (correspondente ao Experto no rito francês), que
permanece ao nosso lado. À medida que avançamos, ganhamos mais confiança, de
modo que cada passo é um pouco mais seguro do que o anterior. Note-se que todos
os passos do primeiro grau são em linha reta e no mesmo plano.
Ao
contrário, no segundo grau, nós não só nos desviamos da linha reta, mas também
começamos a subir, o que é uma alegoria óbvia da ascensão que deve nos levar do
campo das aspirações materiais à união esperada na Câmara do Meio. Estes passos
são seguros e determinados e eles refletem a nova confiança que o segundo grau
permite.
No
terceiro grau, as dificuldades são muito maiores do que aquelas que encontramos
no primeiro. É verdade que dessa vez podemos ver o caminho que devemos tomar.
Mas, esta estrada está bloqueada por um obstáculo. E este obstáculo sobre a
qual devemos passar, é um caixão, a própria negação da vida. É, em suma, por
esses passos que enterramos alegoricamente nosso Ser materialista afim de nos
aproximarmos da perfeição.
As ferramentas
As
ferramentas dos três graus fornecem outra percepção significativa da correlação
do conjunto do percurso maçônico. Estas ferramentas são: no primeiro grau, a
régua de 24 polegadas, o formão e o malho; no segundo grau, o esquadro, o nível
e o prumo (ou perpendicular); e no terceiro grau é o cordel, o lápis e o
compasso. Diz-se que as únicas ferramentas da verdadeira construção são aqueles
do segundo grau. As do primeiro grau são ferramentas de preparação – com a
ajuda do malho, do cinzel e da régua, preparamos e talhamos a boa dimensão e
embelezamos as diferentes pedras. Quanto às ferramentas do terceiro grau, elas
são instrumentos de criatividade que permitem traçar o plano do solo
corretamente estudado para determinar as proporções e projetar o edifício,
antes de transferir tudo isso sobre a prancha de traçar.
Mas,
de fato, são as ferramentas do segundo grau que são as mais reveladoras. Já
temos à nossa disposição as pedras, devidamente preparadas e prontas para serem
colocadas no lugar para formar o edifício. Já temos os planos e o própria
terreno foi preparado para nos permitir começar. Através do esquadro, do nível
e do prumo – as ferramentas do segundo grau, que seremos capazes de posicionar
as pedras. Então, essas são os instrumentos de controle da qualidade que
asseguram que a base está no nível, que as pedras estão perfeitamente formadas,
como nos prova o esquadro, vão se montar perfeitamente e que elas vão se
ajustar verticalmente conforme demonstra o prumo.
No
primeiro grau, uma das primeiras coisas que notamos depois de encontrar a luz
material, é o pavimento mosaico sobre o qual nos colocamos. O preto e o branco
nos lembram conscientemente os contrastes da alegria e da tristeza, da luz e da
escuridão, da fortuna e do infortúnio, e até mesmo da vida e da morte. Assim,
mesmo que a luz física seja restaurada, podemos continuar a encontrar a
prosperidade e a adversidade no curso de nossas existências. Portanto, no
segundo grau, mesmo que o Companheiro caminhe em um novo ambiente de alegria e
fecundidade, ele é constantemente lembrado que a escuridão é uma oposição e um
perigo onipresentes. Em certo sentido, elas podem aparecer nesta fase como um
aviso, uma vez que quando ele atinge o terceiro grau, vai encontrar escuridões
muito mais sombrias do que qualquer coisa que ele tenha experimentado no
primeiro grau. Tem-se a esperança de que os “alimentos” do segundo grau – o
trigo, o vinho e o azeite – serão suficientes para o sustentar na última e
suprema prova.
Em
direção ao grau sublime
Apesar
de que o conjunto da Maçonaria é apresentado como uma série de viagens, há
diferenças significativas em relação ao destino de cada uma delas. O primeiro
grau nos leva, pelos passos dados de nível, no mesmo plano horizontal, até este
lugar onde, pela graça do voto de fidelidade, poderemos receber a luz, tanto
física quanto simbólica e espiritual. Mas, por enquanto, não iremos mais longe.
No segundo grau , nossos passos não são mais na horizontal: tendo passado o
altar, o ponto em que chegamos à luz, temos o direito, conforme mostra o nosso
uso da palavra de passe, de nos alçarmos a um outro nível, onde vamos conseguir
a permissão para entrar na Câmara do Meio, para ali pagar nossas dívidas, e
para mostrar que merecemos “receber nosso salário”; um salário simbolizando um
valor espiritual.
No
terceiro grau, permanecemos nesse nível superior, mas atravessamos o véu que
nos separa da esperança da vida eterna, para entrar no Sanctum Sanctorum, o
Santo dos Santos. É por esta razão que falamos do terceiro grau como o grau
“Sublime”, uma vez que é ali que chegamos diante do Grande Arquiteto, cara a
cara, e que aprendemos a conhecer e nos apropriarmos da centelha divina dentro
de nós, que pode ser justamente considerada como o auge de nossa viagem e o
objeto de nossa verdadeira aspiração.
A
viagem através dos três graus é, portanto, ao mesmo tempo complexa e completa.
Essa viagem que nos faz tomar um caminho em certos momentos inesperados, mas
também gratificantes, pode ser realmente vista como uma busca pela vida.
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