Por
Kennyo Ismail - Fonte: No Esquadro
Atualmente
o Brasil tem enfrentado uma de suas maiores crises políticas, o que tem
incitado maçons e grupos de maçons a defenderem a bandeira da atuação política
da Maçonaria, muitas vezes apelando à suposta atuação política da Ordem na
história do Brasil.
Muitos
são os maçons, Lojas ou até mesmo Obediências maçônicas brasileiras que
acreditam que, na qualidade de maçons ou da Maçonaria, podem exprimir opiniões
favoráveis ou contrárias a algum político ou partido político.
Deve-se
levar em consideração que, em 1938, a Grande Loja Unida da Inglaterra e as
Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda publicaram conjuntamente, “The Aims and
Relations of the Craft”, que basicamente é a relação dos princípios
fundamentais da Maçonaria, que garantem a regularidade dessas três Grandes
Lojas e daquelas que as mesmas reconhecem ou venham a reconhecer. Esses
princípios são compreendidos como universais pela comunidade maçônica regular
internacional. Observe com atenção o item 6 de tais princípios:
Enquanto
a Maçonaria inculca em cada um dos seus membros os deveres de lealdade e de
cidadania, reserva-se ao indivíduo o direito de ter sua própria opinião em
relação a assuntos políticos. Entretanto, nem em uma Loja, nem a
qualquer momento em sua qualidade de maçom, lhe é permitido discutir ou
fazer promover seus pontos de vista sobre questões teológicas ou
políticas (GRIFO NOSSO).
Ora,
tendo a Ordem Maçônica seu aspecto de universalidade no que tange a religiões e
convicções políticas, que se autodeclara eterna defensora das liberdades civil,
religiosa, política e intelectual, como poderia a mesma permitir um
posicionamento maçônico que emita preferência política a favor ou contra quem
ou o que quer que seja, sem desrespeitar o direito universal de seus membros,
independente se maioria ou minoria, e, principalmente, sem desrespeitar sua
própria natureza?
É
por essa razão que uma das obrigações maçônicas mais antigas declara que “um
maçom na sua qualidade maçônica não faz nenhum comentário sobre
política, ou que possa ser interpretado como se aliasse sua Grande Loja com um
determinado partido político ou facção”.
E
a Maçonaria Regular leva esse princípio e essa regra muito a sério. Tanto que,
há poucos anos atrás, a Grande Loja Nacional Francesa perdeu o reconhecimento
das mais importantes Grandes Lojas da Europa, da América do Norte e de outras
partes do mundo, simplesmente por ter publicado uma carta aberta de apoio a um
candidato. E muito precisou ser feito para que a GLNF começasse a recuperar,
aos poucos, tais reconhecimentos. No entanto, por alguma razão, algumas
instituições maçônicas brasileiras cometeram irregularidade idêntica na última
eleição presidencial. Sorte que a repercussão de uma carta aberta da Maçonaria
no Brasil tem muito menos relevância, impacto e divulgação do que em outros
países.
Mas
você tem total direito de pensar que, se for para a Maçonaria mudar o país,
“vale o risco”. Entretanto, parafraseando Burke, “a Maçonaria que não conhece a
sua história está condenada a repeti-la”. Convido-o a analisar quais foram as
consequências da atuação política da Maçonaria brasileira:
Em
1816 é fundada em Pernambuco a Grande Loja Provincial de Pernambuco, tendo como
seu Grão-Mestre o Irmão Antônio Carlos de Andrada e Silva. Ela era subordinada
ao Grande Oriente Brasileiro, fundado em 1809, em Salvador – BA, a verdadeira
Primaz do Brasil (não confundamos com o Grande Oriente do Brasil, fundado
apenas em 1822, no Rio de Janeiro). Essa Obediência pernambucana, em menos de
um ano depois de sua fundação, foi a principal promotora da Revolução
Pernambucana. Resultado: uma lei régia de 1818 proibiu o funcionamento da
Maçonaria no Brasil, fechando as portas do Grande Oriente Brasileiro, de sua
Grande Loja Provincial de Pernambuco e de todas as suas Lojas. E a Maçonaria
brasileira demorou quatro anos para se recuperar do tombo e se reorganizar.
Então
chegamos no período entre junho e setembro de 1822, utilizado como argumento
maior dos defensores de tal atuação política por parte da Ordem, quando temos o
surgimento do Grande Oriente do Brasil e sua intenção de promover a
independência do Brasil. Com apenas três Lojas (a anterior, de iniciativa
nordestina, tinha 09 Lojas quando foi fechada), o GOB já se encontrava
totalmente dividido pela questão política, tendo à época a polarização entre a
turma de Lêdo e a turma de Bonifácio. Um grupo perseguia o outro pública, política
e legalmente. Isso foi bom para a fraternidade? Certamente que não. Havia
harmonia nas Lojas e na Obediência? Com absoluta certeza, não. E dessa vez
valeu a pena? Vejamos… O GOB não colaborou com a Independência, realizando uma
reunião sobre o assunto dois dias após Dom Pedro I já tê-la declarado e
comemorado em São Paulo, e um dos primeiros atos do novo Imperador foi ordenar
o fechamento das portas da Obediência e suas Lojas, proibindo a Maçonaria, o
que fez com que a Ordem, mais uma vez, adormecesse. Dessa vez por uma década
inteira.
Poderíamos
prosseguir com tal análise histórica, como na Era Vargas e na Ditadura Militar,
mas não se faz necessário. Fato é que, quando as organizações maçônicas
brasileiras se envolveram em questões políticas, elas sucumbiram ou traíram
seus próprios princípios e membros, tornando-se apoiadoras de regimes não
democráticos (mesmo a Maçonaria sendo a mãe da democracia moderna) e às vezes
até expulsando, ou pior, delatando, membros da Ordem que eram no mundo profano
declaradamente de ideologia oposta a tais regimes outrora instalados.
Resumindo, a atuação política da Maçonaria brasileira (clara irregularidade
maçônica) só obteve como resultado sérios prejuízos à fraternidade, entre
perseguições e injustiças a irmãos; divisões; traições; adormecimento
institucional; desvirtuação e descumprimento de princípios; etc. E nós, como
maçons, não podemos permitir que tal irregularidade e tamanhos prejuízos
continuem a ser produzidos pela simples vaidade de alguns irmãos que querem se
declarar membros de uma instituição protagonista de mudanças políticas.
Afinal
de contas, Maçonaria é uma bela escola de moralidade, baseada em alegorias e
símbolos. Não é partido político nem tem objetivo ou finalidade questões
políticas. Seu objetivo de promover a felicidade da humanidade é pelo amor,
pelo auto aperfeiçoamento, pela tolerância pelo respeito às opiniões de cada
um, ou seja, princípios e valores morais que ela ensina. Não é por meio da
derrubada, permanência ou mudança de políticos, partidos ou regimes de governo.
Se um maçom deseja isso (e tem total direito de desejar), que corra atrás, mas
bem longe da Maçonaria, sem uso do esquadro e do compasso para tal.
Se
uma Loja ou Obediência comete a irregularidade maçônica de apoiar A, como ficam
os maçons, mesmo quando minoria, que apoiam B, C ou D? Ou mesmo, que optam pelo
voto nulo ou em branco? Desde quando deixamos de nos colocar no lugar do
próximo, de dar o benefício da dúvida, para nos tornarmos os detentores da
verdade absoluta? Desde quando a seara política se tornou um campo preto e
branco, de lado 100% certo e outro 100% errado?
O
maçom, na qualidade de cidadão, tem total direito e até dever cívico de atuar
politicamente. Enquanto maçom, não. Se exigimos o terno ou balandrau preto
dentro de Loja, e temos uma justificativa de neutralidade e universalidade para
isso, não podemos concordar com uma camisa amarela ou vermelha estampando o
esquadro e o compasso. Nosso primeiro dever enquanto maçom é preservar a
Maçonaria. E não é isso que temos visto por aí. Não precisamos estar condenados
a repetir os mesmos erros do passado. Sejamos melhores que nossos antecessores,
ou essa escola de moralidade não estará cumprindo seu dever de aperfeiçoamento
moral a que se tem prestado há séculos.
2 Comentários
Pela Ordem.
ResponderExcluirEm busca da verdade, alguns fatos merecem ser melhor analisados.
""Ela era subordinada ao Grande Oriente Brasileiro, fundado em 1809, em Salvador – BA, a verdadeira Primaz do Brasil (não confundamos com o Grande Oriente do Brasil, fundado apenas em 1822, no Rio de Janeiro).""
SEGUNDO O AUTOR KURT PROBER. ESTE GOB FOI FUNDADO EM 1813 E NÃO EM 1809 COMO CONTA A MATÉRIA.
HOUVE AINDA UMA 2ª POTENCIA, DEPOIS, FINALMENTE EM 1822 FOI FUNDADO O ATUAL GOB, COM APENAS UMA ÚNICA LOJA, A COMERCIO E ARTES.
Um TFA a todos.
kimcostar@hotmail.com
Pela Ordem!
ResponderExcluirO GLNF perdeu, pois feriu um de nossos landmarks. Não teve nada a ver com a carta de apoio a Holland.
E o Maçom tem o dever de falar, influenciar e atuar na política. Basta ler com a atenção devida nossa iniciação. O que não devemos é fazer política partidária.
Como dizia meu avô, Maçons se inspiram dentro dos templos e transpiram fora deles!
Nilton Caccáos Jr. - Fundador do Movimento Avança Brasil Maçons.BR