Crise da Maçonaria Cubana: "É melhor que a Maçonaria feche e desapareça com dignidade do que vê-la manipulada pelo regime."


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Por Michael Soarez

Em julho de 2025, a Maçonaria cubana vive uma crise sem precedentes, marcada por tensões internas e crescente pressão do regime. Uma frase impactante, dita pelo escritor Ángel Santiesteban e analisada com o advogado Edel González em entrevista recente publicada no Diario de Cuba, resume a questão: " É melhor que a Maçonaria seja fechada e desapareça com dignidade do que vê-la descaradamente manipulada pelo regime. " Essa declaração ilustra um profundo debate sobre a autonomia dessa instituição diante da interferência estatal, tema que preocupa os membros e levanta questionamentos sobre o futuro da Maçonaria em Cuba.

Uma instituição sob influência

Historicamente, a Maçonaria desempenhou um papel influente na sociedade cubana, particularmente durante as lutas pela independência do século XIX. No entanto, sob o regime atual, enfrenta uma regulamentação rigorosa imposta pelo Ministério da Justiça, que supervisiona suas atividades. Segundo analistas, essa supervisão tornou-se uma forma de controle, com acusações recorrentes de infiltração de agentes da Segurança do Estado. Ángel Santiesteban, um conhecido crítico do governo, enfatiza que essa manipulação visa alinhar as lojas aos objetivos políticos do Partido Comunista, minando assim sua independência espiritual e filosófica.

Edel González, advogado de direitos humanos, acrescenta que os fundos em moeda estrangeira, essenciais para as operações das lojas, estão sendo criminalizados ou confiscados, aumentando a pressão financeira. Essa estratégia, afirma ele, visa enfraquecer a organização internamente, tornando seus membros vulneráveis às diretrizes estatais. Essas intervenções levantam questões sobre a capacidade da Maçonaria de preservar seus valores tradicionais, como a liberdade de pensamento e a fraternidade, em um contexto autoritário.

Uma revolta interna

A crise atingiu o clímax com ações dramáticas de membros dissidentes. Em julho de 2025, grupos de maçons tentaram retomar o controle da Grande Loja de Cuba, acusando o Grande Mestre, Mayker Filema Duarte, de ter sido imposto pelo regime. Essa demissão, decidida em reuniões extraordinárias, marcou uma ruptura aberta com os líderes percebidos como " falsos irmãos " a serviço da ditadura.

Esses eventos, amplamente divulgados nas redes sociais, refletem um desejo de resistência, mas também uma fratura dentro da instituição. Os depoimentos coletados indicam que essa implosão é resultado de uma tensão crescente, acumulada ao longo de vários anos. Alguns membros acreditam que a Maçonaria cubana, antes um espaço de debate e reflexão, tornou-se uma ferramenta de propaganda, esvaziando seus rituais de seu significado original.

Essa situação leva parte da comunidade a preferir a dissolução à submissão degradante.

Uma dignidade ameaçada.

 A declaração de Santiesteban reflete um dilema ético central: preservar a integridade da Maçonaria ao custo de seu desaparecimento ou permitir que ela sobreviva de forma distorcida. Para González, essa opção de fechamento seria um ato de resistência simbólica, permitindo que os membros mantenham sua honra diante de uma manipulação que trai os ideais maçônicos. No entanto, essa perspectiva é controversa, com alguns defendendo uma luta interna para restaurar a autonomia, apesar dos riscos.

Em 2025, esta crise insere-se num contexto mais amplo de restrições sociais em Cuba, onde as liberdades individuais são cada vez mais limitadas. A Maçonaria, como organização estruturada e influente, tornou-se um símbolo desta batalha entre o controlo estatal e a aspiração à independência. Os debates sobre o seu futuro refletem, portanto, uma luta mais ampla por dignidade e identidade num país assolado por desafios económicos e políticos.

Um resultado incerto

Até hoje, o desfecho desta crise permanece incerto. As tentativas de reconquista da Grande Loja provocaram reações mistas, que vão da esperança à repressão. O regime, por sua vez, nega qualquer interferência, alegando respeitar a autonomia das organizações privadas, uma posição amplamente contestada. Enquanto isso, a comunidade maçônica cubana se encontra em uma encruzilhada, dividida entre a resiliência e a resignação.

Este episódio ilustra uma tensão universal:

Até que ponto uma instituição pode preservar seus valores diante da pressão externa? Para Ángel Santiesteban e Edel González, a resposta está em uma escolha radical, onde a dignidade prevalece sobre a sobrevivência a todo custo.

Em julho de 2025, a Maçonaria cubana incorpora um microcosmo das lutas pela liberdade em um contexto autoritário, oferecendo uma reflexão pungente sobre os compromissos impostos pelo poder.

Fonte: Diário de Cuba

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