Baruch Spinoza e a Maçonaria: Reflexões sobre o GADU e o Pensamento Racionalista


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Baruch Spinoza, nascido em Amsterdã em 24 de novembro de 1632, viveu um período histórico marcado por transformações intelectuais e religiosas que culminariam no Iluminismo. Embora sua vida tenha terminado em Haia em 21 de fevereiro de 1677, aos 44 anos, antes da criação formal da Maçonaria especulativa em 1717, o legado de seu pensamento racionalista ressoa com aspectos fundamentais da filosofia maçônica. Neste artigo, exploraremos os paralelos entre a visão de Spinoza e a noção do Grande Arquiteto do Universo, símbolo central da Maçonaria.

A Filosofia de Spinoza e o Conceito de Deus

Spinoza revolucionou o pensamento filosófico ao propor uma visão monista de Deus e da Natureza, expressa na famosa fórmula Deus sive Natura ("Deus, isto é, a Natureza"). Para ele, Deus não era uma entidade transcendente separada do mundo, mas a substância única e infinita que constitui toda a existência. Essa concepção desafiava as doutrinas teológicas tradicionais e foi um dos motivos de sua excomunhão pela comunidade judaica portuguesa de Amsterdã.

O racionalismo de Spinoza, que se opunha à visão escolástica e à interpretação literal das Escrituras, trouxe uma perspectiva secularizada às questões religiosas. Ele argumentava que a verdadeira compreensão de Deus só poderia ser alcançada através da razão, e não da fé dogmática. Essa abordagem influenciaria profundamente os pensadores do Iluminismo e, consequentemente, a Maçonaria especulativa.

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O Grande Arquiteto do Universo: Origem e Significado

A metáfora do Grande Arquiteto do Universo precede tanto Spinoza quanto a Maçonaria. Ela aparece em textos antigos, como os de Cícero, e em obras teológicas como Instituição da Religião Cristã, de João Calvino. No entanto, foi no contexto do Iluminismo que essa ideia ganhou força, representando uma visão deísta de Deus como a inteligência suprema que ordena o universo.

Na Maçonaria, o Grande Arquiteto do Universo é um símbolo unificador, aceito por teístas e deístas, mas aberto à interpretação individual. Essa flexibilidade permitiu à Maçonaria transcender barreiras religiosas e se tornar um espaço de diálogo espiritual e filosófico.

Paralelos entre Spinoza e a Maçonaria

Embora Spinoza não tenha sido maçom, sua filosofia compartilha pontos de convergência com os ideais maçônicos:

1. A busca pela Verdade: Assim como Spinoza via a razão como o caminho para compreender Deus e a Natureza, a Maçonaria incentiva seus membros a buscar a verdade por meio da reflexão, do estudo e da introspecção.

2. A unidade da criação: A ideia de Spinoza de que tudo está interligado na substância divina ecoa na visão maçônica de que o Grande Arquiteto unifica o universo.

3. A espiritualidade racional: Spinoza rejeitou dogmas religiosos em favor de uma espiritualidade baseada na razão e na ética. De maneira semelhante, a Maçonaria promove uma espiritualidade que integra ciência, filosofia e moral.

4. A relação entre corpo e espírito: Para Spinoza, corpo e mente são expressões de uma mesma substância. Na Maçonaria, a jornada iniciática busca harmonizar o físico e o espiritual, simbolizando a unificação do ser.

A Ética de Spinoza e o Ideal Maçônico

A Ética de Spinoza, sua obra-prima, apresenta um sistema filosófico que busca a compreensão da felicidade e da liberdade através do conhecimento de si e do universo. Essa visão está em sintonia com o objetivo maçônico de "reunir o que está disperso" e encontrar harmonia entre o individual e o coletivo.

Spinoza descreve uma vida ética como aquela que busca o bem comum e vive em harmonia com os outros e com a Natureza. Da mesma forma, a Maçonaria incentiva seus membros a serem exemplos de virtude e a contribuírem para o progresso da sociedade.

Limites e Contradições

Embora existam muitos paralelos, há também diferenças significativas. Spinoza via Deus como impessoal, enquanto a Maçonaria, especialmente em sua vertente inglesa e americana, mantém uma visão mais próxima do teísmo tradicional. Essa diferença levou a divisões dentro da própria Maçonaria, com obediências como o Grande Oriente da França excluindo o Grande Arquiteto dos rituais, enquanto outras o mantêm como um princípio fundamental.

Conclusão

Baruch Spinoza, precursor do racionalismo moderno, ofereceu uma visão de mundo que ressoa com os ideais iluministas da Maçonaria. Sua abordagem integradora, que une razão, ética e espiritualidade, oferece uma base filosófica para reflexões sobre o Grande Arquiteto do Universo e a busca maçônica pelo Conhecimento.

Embora Spinoza tenha vivido antes da consolidação da Maçonaria especulativa, seu pensamento continua a inspirar aqueles que buscam uma vida em harmonia com a razão, a Natureza e o coletivo. Como escreveu Jean-François Guerry, a ética de Spinoza pode ser vista como uma aspiração à "vida boa", um ideal que também guia os maçons em sua jornada iniciática.

Fonte: http://450.fm -  por Jean-Jacques Zambrowski

Adaptação: Luiz Sérgio Castro



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