OBRIGADO AOS ODD-FELLOWS POR ESTE BODE DADO AO ANTIMAÇONISMO


por Hervé HOINT-LECOQ –TraduçãoJ. Filardo

O leigo que se interessa pela Maçonaria necessariamente encontrou antes de sua recepção a imagem de um bode, ou uma cabra que o antimaçonismo espalhou. Mas o iniciado rapidamente percebe que na Maçonaria não há cabra, bode ou dahu. De onde vem então essa estranha associação de ideias? É preciso buscar no lado da Bíblia.


“Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, ele se assentará no trono de sua glória. Todas as nações serão reunidas diante dele.  Ele separará uns de outros, como o pastor separa as ovelhas dos bodes; e porá as ovelhas à sua direita, e os bodes à sua esquerda. […] Em seguida ele dirá aos que estão à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide ao fogo eterno que foi preparado para o diabo e seus anjos. […] E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna”. Mateus 25, v31 a 46.

A figura do bode ou da cabra é, portanto, o símbolo da danação no inferno, de acordo com a Bíblia. Relevada nos tempos medievais e modernos pela divindade herética Baphomet atribuída aos templários, essa figura teve um ressurgimento nos círculos ocultistas no século XIX.  Não é portanto de se admirar que nos círculos antimaçônicos dos Estados Unidos da década de 1830 se desenvolvesse um rumor curioso de montar uma cabra na Maçonaria. Não foi a Maçonaria que deu origem a esse rumor, mas sim a sociedade dos Odd Fellows. (Estranhos Amigos) um jogo de palavras com Old Fellows (Velhos amigos) Criada no século XVIII com o mesmo modelo da Maçonaria, a Ordem dos Odd-Fellows era originalmente uma espécie de estrutura beneficente que reunia membros de diferentes ofícios, que não tivessem artesãos suficientes para criar uma Guilda.  Este modelo evoluiu e em 1819, em Baltimore, tornou-se a Ordem Internacional dos Odd Fellows. No entanto, se acreditarmos em William D. Moore (autor de Cavalgando o bode – Segredo, Masculinidade, e Altos Pulos Fraternais nos Estados Unidos, 1845-1930), o fato de montar uma cabra era parte de sua iniciação (Americana pelo menos). Cavalgando o bode, o candidato devia ser derrubado, ou seja cair sob o risco de se machucar. Podemos ver que, a partir de um símbolo negativo, as sociedades fraternas americanas tornaram esse bode símbolo de orgulho e até fizeram imagens difundidas durante as festividades. Isso não foi um pouco excessivo?  Não, porque apresentando o fato de se montar um bode ou cabra como o ápice da iniciação, era mais fácil esconder os verdadeiros mistérios da cerimônia. A cabra tornara-se uma isca para a curiosidade e um espelho para as andorinhas.

Resta saber por que os Odd-Fellows optaram por integrar o bode em seus rituais.  A história não diz nada sobre isso.  Haveria essa expressão “God of All Things (Deus de todas as coisas) … G.O.A.T.  significando cabra) que poderia nos dar uma pista …

Ilustração: Exposição em Kirk dos Odd-Fellows com sinais, toques, palavras de passe dos cinco graus conforme usados pela Ordem nos Estados Unidos (Nova York, 1857).

Publicado na Revista FM Maçonnerie no. 63



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