O país está vivenciando a mais avassaladora
crise moral e política em toda sua existência, e nunca foi tão necessária
a participação nas questões nacionais de homens livres e de bons costumes, que
têm comportamento consciente e ético.
Essa constatação faz relembrar o notório
protagonismo da Maçonaria na história política brasileira (TREVISAN,
2017). Há registros da participação da Ordem na Inconfidência Mineira e outras
revoltas durante o período colonial, bem como na construção do processo de
Independência nacional e sua consolidação, e mesmo na implantação da República
até os dias atuais.
Merece destacar o pensamento de Campelo
(2010) ao se referir da predestinação histórica da Maçonaria ensina “ser
ela advertência e afirmação a um só tempo”. E complementa: Advertência
para os que não creem, por que se esteia ela num passado histórico de gloriosas
vitórias, sem erros que a inquinem, forjado na luta, onde a arma usada foi
tão-somente a fidelidade aos seus princípios e fins. Afirmação porque
oferece ao Homem a descoberta de si mesmo, fazendo-o nascer de novo, nos
próprios meio e tempo em que vive, para a realização de valores eternos.
O Homem Maçom ao reunir os predicados
exigidos pela Ordem para ser membro dela e os colocando em prática estará
sempre apto para assumir qualquer posição dentro da rede social, pois não deve
perder a oportunidade de ser útil, de prestar serviços à Pátria e à Humanidade.
A ideia de homem livre e de bons costumes
confere aos membros da Ordem atributos de um indivíduo autônomo, com
condições de reger seus próprios atos e se responsabilizar por eles, assim como
ser destituído de preconceitos e superstições, bem como paixões e vícios que fazem
mal ao corpo e à alma, ou causam escravidão; seus hábitos são sadios e conforme
os retilíneos princípios da honestidade e da bondade; suas manifestações são
honradas e justas, expressadas com coerência, bom senso, organização e
equilíbrio, buscando o bom entendimento e rigorosa moralidade, na solução de
problemas pessoais e alheios.
Conforme Adoum (2013), a maçonaria é uma
doutrina que tem por objetivo despertar o homem do sonho da ignorância ao
cumprimento do dever. Assim, sua ritualística traz como um de seus objetivos
manter a lembrança constante de que o Maçom deve ter a mesma conduta livre e de
bons costumes tanto dentro da Loja como fora dela. Esse comportamento torna os
maçons diferentes das demais pessoas, pois essa luta incessante em busca do polimento
moral, faz com que sejam reconhecidos em meio a toda a população, afirma Sousa
(2010). Conforme Veloso (2010), aquele que é livre e de bons costumes será um
predestinado, pois a Maçonaria necessita encontra-los para propor seu ingresso
na Ordem.
Silva (2010) complementa, afirmando que o
Homem Maçom busca a verdade e a virtude, fazendo delas carne de sua carne,
sangue de seu sangue, vida de sua vida, pois conhecer a verdade e praticar a
verdade é o caminho do Maçom e de todos os homens. O iniciado nos mistérios da
Ordem assume o compromisso de investigar a verdade, mergulhando na filosofia
maçônica para obter conhecimento, começando pelo conhecimento interior, e
consciente de que a verdade absoluta só o Gr Arq do Univ conhece, além de
simbolicamente erguer edificações à virtude.
De certo que não é preciso ser um verdadeiro
Maçom para se comportar conforme os preceitos acima expostos. A diferença
do iniciado na Ordem para o profano (não iniciado) é que aquele tem obrigação
de agir corretamente, pois está compromissado com tais procedimentos.
O Homem Político
A relação entre o homem e a política decorre
de sua própria natureza, e como já afirmou Aristóteles (2001) “o homem é
um animal político”, um ser com necessidades que somente podem ser atendidas através
do convívio social. Entretanto, dentro do grupamento social é necessário que
sejam estabelecidas regras de conduta e organização para garantir a própria
sobrevivência e de seus membros, baseada nos costumes, usos, normas sociais,
morais e legitimamente instituídas ou legitimadas pelo grupo. Pressupondo que
cada indivíduo possui interesses e ideias que nem sempre se assemelham ao do
outro, é preciso encontrar um mecanismo para coordenar a tomada de decisões – a
Política.
Melo (2016) resumiu o entendimento acerca do
termo política, que pode ser restrito ao estudo do poder, como também dizer
respeito à ciência do Estado, e ainda como sendo toda ação que produza algum
efeito sobre a organização, o funcionamento e os objetivos de uma sociedade.
Diante da diversidade de conceituações, o citado autor aponta ainda os
elementos que constituem a política:
1.
a)
atividade social – uma vez que não se vislumbra a existência da política fora
da sociedade; b) relação humana – pois somente os seres humanos realizam atos políticos;
c) objetivos comuns – tais como o desenvolvimento social e satisfação de
necessidades individuais e d) bem-estar coletivo – o bem coletivo é o fim de
toda política.
2.
A política é uma atividade eminentemente
social que se baseia no relacionamento humano dentro da polis cujo
objetivo é unir esforços para a realização de objetivo comuns que tenham como
fim o desenvolvimento coletivo. Unido todos os elementos, pode-se dizer que:
política é uma atividade humana realizada dentro de uma sociedade com o objetivo
de estabelecer o bem-estar coletivo bem como o desenvolvimento do grupo social.
Como visto acima, a Política não tem nada de
nefasto ou sórdido, e não deveria afastar os indivíduos, mas o contrário,
apresentar-se como um atraente mecanismo de agrupamento dos cidadãos em torno
das decisões acerca dos seus desígnios. Para complementar, Melo (2016) afirma
que: o homem, por ser um ser social, deve contribuir ativamente para a
atividade política como instrumento de transformação da consciência e das relações
com o mundo. Participar é mais que um direito, é um dever de cada cidadão. Essa
participação pode ser individual ou coletiva, votando ou sendo votado, e
através do exercício de uma função pública.
Infelizmente, conforme pesquisa realizada
pela Cultura Política World Values Survey (WVS), abrangendo entrevistados no
período entre 1990 e 2005 (2012), houve queda do interesse dos brasileiros pela
política, com estagnação nas atividades políticas comprovada pelo crescimento
da desconfiança e decepção dos cidadãos brasileiros na arena política, e ainda
o crescimento de indivíduos que pertencem e participam de entidades não
relacionadas ao aparato estatal, bem superior aos registros relativos a
instituições formais.
Muito embora a pesquisa traga a realidade de 13
anos atrás, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (BBC, 2016),
pode-se perceber que nas eleições municipais de 2016, o número de votos nulos,
brancos e abstenções surpreendeu no primeiro turno, e superou o 1º colocado em
dez capitais e venceu o 2º em outras 11. A matéria informa que no Rio de
Janeiro e em Belo Horizonte, a soma de nulos, brancos e abstenções chegou a
superar os votos obtidos pelos dois primeiros colocados, juntos. Esses dados
recentes refletem que não houve alteração nos níveis de desinteresse popular
pelas questões políticas.
As manifestações populares dos últimos anos
refletem um posicionamento maniqueísta, sendo que cada lado defende os
próprios interesses, sendo raras as manifestações puras de protesto em relação
ao status quo vigente, o que é compreendido pela pesquisa da
Cultura Política WVS (2012), como sendo um ponto positivo, demonstrando que o
brasileiro não está apático em relação à realidade, mas se revela descrente com
a classe política.
Certamente há algo de errado com a forma como
a política está sendo praticada no Brasil, com adulteração no que diz respeito
aos seus objetivos dos governantes, que terminam por afugentar as pessoas
honestas e com boas iniciativas. A nação vivencia um paradoxo, pois as pessoas
bem-intencionadas evitam a política, deixando vagas as funções representativas
e se desinteressando pela política. Os atuais políticos não estão atendendo
mais os anseios da sociedade, e frustram cada vez mais suas expectativas.
É necessário que alguma coisa seja feita para
mudar essa realidade, e as instituições sérias precisam reassumir seu
papel como protagonistas na história nacional, pois como já ensinou Platão: não
há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão
governados por aqueles que gostam.
O problema não está em gostar de política,
mas em utilizá-la em proveito próprio, traindo seus objetivos, corrompendo
o sistema, falindo os entes estatais, despendendo dos recursos públicos para
atender interesses e privilégios privados, sendo que essas pessoas devem ser
afastadas da vida pública.
O Maçom Político
Inicia-se essa parte transcrevendo trecho do
discurso do Ir Quintino Bocayuva, citado por Carneiro (2016), que diz: A
maçonaria é uma associação altamente política. Mas, qual é essa política?
Tendes o direito de perguntar-me. Responderei, começando por definir os termos
da controvérsia: – Política é a arte de educar o povo e dirigi-lo nas vias do
progresso e do engrandecimento, até a consecução dos seus fins no seio da
humanidade. É isto que nós maçons chamamos de alta política; tal qual delineada
na nossa constituição…
O pensamento do “Patriarca da República”
apresenta um assunto polêmico dentro da Maçonaria, as discussões acerca de
questões políticas entre IIr em Loja, expressada na sexta Landmark:
A Maçonaria impõe a todos os seus membros o
respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a
discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro
permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre
os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.
Da leitura do princípio acima advém logo o
questionamento de como a Maçonaria participou dos mais importantes movimentos
nacionais, já citados, e internacionais, como a Revolução Francesa e
Independência dos Estados Unidos da América, diante da acima mencionada
proibição.
A interpretação imediata da “marca da terra”
maçônica é de que a proibição diz respeito tão somente ao preceito de que
devem ser evitadas discussões ou controvérsias sobre política desde que não
seja quebrada a harmonia nem se corrompa a permanente união dos Irmãos. Até
mesmo porque as características do Homem Maçom e do Homem Político mais
aproximam os dois do que afastam.
Assim, revela-se de extrema importância que
os Homens Livres e de Bons Costumes deste país cumpram seu dever de fidelidade
e devotamento à Pátria, para deliberarem sobre mecanismos que ajudem a
sociedade a sair deste momento tão ruim, contribuindo para o restabelecimento
dos valores éticos, bem como resgatar a autoestima do povo e a confiabilidade
nas instituições políticas.
Sousa (2011) manifestou, já em 1994, que o
país vivia numa profunda crise de moral, que desde então nunca passou,
salvo as momentâneas estabilidades, e continua: Nossa organização pública
e seus representantes vivem em quase total, ou total descrédito. É sabido que
em outros tempos difíceis, semelhantes ao que estamos passando, a Maçonaria
influenciou e até decidiu de maneira implacável os rumos do país, quer pela
participação direta de seus obreiros na vida política como homens públicos,
quer como berço de heróis e formadores de opiniões. A Maçonaria de hoje não é
diferente daquela, pois seus princípios básicos lastreados pela moral continuam
firmes, entre estas colunas.
Acredito sinceramente, meus irmãos, que é
chegada a hora de nós maçons, homens de bem, homens de moral, darmos mais
exemplos à nossa nação. De fato, os maçons por compromisso com a Ordem
Maçônica, precisam contribuir para a formação de uma classe política de pessoas
que pratiquem os valores éticos, seja comprometida com a Pátria, responsável
com o trato da coisa pública e com o bem comum. Essa nova geração de políticos
deve se empenhar em lutar pelo investimento na educação para formação de
brasileiros com ética, com noções para o pleno e livre exercício da cidadania.
A inserção maçônica deve ser mais ousada
ainda, com a formação e oferecimento de lideranças maçônicas, ou de
esferas sociais profanas, que sejam comprometidos com a ética, com a probidade
administrativa e com a moralidade pública e possam atuar na transformação da
sociedade (BALLOUK FILHO, 2016).
Outro aspecto também importante e que pode
ser considerado como importante bandeira na contribuição na mudança do trato da
coisa pública é a incessante fiscalização que as Lojas situadas em todos os
Orientes do Brasil podem realizar junto aos agentes políticos e públicos,
revelando até mesmo a simbologia da Ordem de sempre vigilante.
Mais uma vez a nação necessita da participação
do Homem Maçom Político, e ele deve se apresentar para contribuir para a
sociedade, juntamente com a instituição a que pertence.
REFERÊNCIAS
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Jorge. GRAU DO APRENDIZ E SEUS MISTÉRIOS. São Paulo: Editora
Pensamento, 1ª Edição, 2ª Reimpressão, 2013.
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3.
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O Estado de S. Paulo. Publicado em 23 Julho 2016. Disponível em:
4.
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em 03 outubro 2016. Disponível em:
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João Francisco Pereira. O conceito de animal político em Aristóteles;
Brasil Escola. Disponível em
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Tomaz Gomes. Maçonaria – Advertência e Afirmação. In: PEREIRA, Odimilson Alves
(Org.). TRABALHOS E ESTUDOS MAÇÔNICOS – Coletânea de textos e
dissertações. Teresina: Editora PIAUIPEL, 2010.
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Lauê Carregari. MAÇONARIA, POLÍTICA E LIBERDADE. Jundiaí: Paco
Editorial, 2016.
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Henrique Carlos de Oliveira de. REIS, Fernanda Teixeira. Participação
política no Brasil no século XXI: mudanças e continuidades; Teoria &
Pesquisa – Revista de Ciência Política. Publicado em outubro de 2012.
Disponível em .
Acesso em 30 de julho de 2017.
9.
MELO,
José Octávio de Castro. CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO. Teresina:
Dinâmica Jurídica, 2016.
10.
SILVA,
Benjamim Ferreira da. A verdade que fere. In: PEREIRA, Odimilson Alves
(Org.). TRABALHOS E ESTUDOS MAÇÔNICOS – Coletânea de textos e
dissertações. Teresina: Editora PIAUIPEL, 2010.
11.
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Jorge Ivan Teles de. Moral Maçônica como exemplo nacional. In: PEREIRA,
Odimilson Alves (Org.). TRABALHOS E ESTUDOS MAÇÔNICOS – Coletânea de
textos e dissertações.Teresina: Editora PIAUIPEL, 2010.
12.
TREVIZAN,
Karina. Brasil enfrenta pior crise já registrada poucos anos após um
boom econômico. Publicado em 07 março 2017 e Atualizado em 15 março
2017. Disponível em: TRABALHOS E ESTUDOS
MAÇÔNICOS – Coletânea de textos e dissertações.
Teresina: Editora
PIAUIPEL, 2010.
* Eduardo Albuquerque Rodrigues Diniz é
M M da Aug Resp Loj Simb Liberdade Teresinense nº 1.314 Oriente de Teresina
Esse artigo recebeu Honra ao Mérito e
Laureado em 3º Lugar no 2º Concurso Literário Maçônico, Grande Oriente do
Brasil – Piauí, 2017/2018.
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