Por Bruno Oliveira
Brasileiro tem carência de herói, vota em
palhaço e analfabeto, e tem como herói jogador de bola, esquece que honestidade
não é virtude mas obrigação. Ao tempo em que exalta funcionário público que
cumpre a próprio dever ou líder de movimentos social que se corrompe.
Tiradentes se aproxima com seu falso
heroísmo, junto com sua imagem atrelada a Inconfidência Mineira, e antes que
passe pelo “Raio Maçonilizador” (neologismo meu, para o hábito de atribuir
afiliação maçônica a quem não tem), apresentamos o seguinte trecho de nossa
pesquisa:
“A ideia da Inconfidência não era apenas
protestar contra a derrama, mas tentar mobilizar o povo mineiro a iniciar uma
revolução para se proclamar a independência de Minas Gerais e se fundar uma
república (ideia que tinha reforço ideológico com a independência das colônias
estadunidenses e a formação dos Estados Unidos). Diferente do que se
conjecturou, os inconfidentes não pensavam em libertar o Brasil, mas apenas
Minas Gerais”
Sendo assim, onde esta o nosso feriado de
Garibaldi ?
Mas por qual motivo a escolha de Tiradentes?
Vamos lá:
O texto abaixo é fonte de pesquisa do
historiador Diego Bayer.
Vários são os motivos. Primeiro, pertencia ao
exército, quais foram os grandes responsáveis pela Proclamação da República.
Foi um homem da classe baixa (intuito de se remeter a questão do “povo”, do
“popular”), foi o único a ser culpado e executado e teve a execução presidida
por discursos que salvavam e glorificavam a rainha Dona Maria I. Os
republicanos viram nisso uma reafirmação de seus ideais, ou seja, um “rebelde
contra a opressão da monarquia portuguesa”, dando a entender ao povo que era
isso que eles queriam, que o republicanismo seria a liberdade da opressão
monárquica.
Outra discussão é em relação a sua imagem,
sua retratação. Nenhum retrato seu foi pintado na época. Utilizaram então os
republicanos uma imagem semelhante a de Jesus Cristo, ou seja, homem de longa
barba e cabelos. A primeira imagem dele é datada de 1889, sendo certo que os
pintores não tinham como o retratar a época, se criou um “personagem”.
Neste caso, em 1889, foi encomendado ao
renomado artista André Delpino (1864-1942) o trabalho de se pintar a imagem
oficial de Tiradentes. Então, Delpino desenhou uma imagem de perfil do mártir
da Inconfidência, ainda usando o “laço da morte” envolta do seu pescoço.
Hoje, os historiadores tem demonstrado que na
realidade, a história é outra. Como Tiradentes serviu no exército, era alferes,
ele não poderia ter os cabelos e a barba longos, no máximo um bigode. Na
prisão, era comum os presos terem as cabeças raspadas ou cabelos curtos e a
barba feita, para se evitar problemas com piolhos, algo comum em muitas prisões
antigas, pois os presos não tinham o direito de tomar banho com frequência, e
para se evitar a proliferação de piolhos, era comum ter os cabelos e a barba
aparados.
Com isso, a ideia de se representar
Tiradentes com cabelos longos e barba, parecido com Jesus, era uma forma de se
reforçar sua mitificação, e a imagem de “bom homem”. Além do mais, o Brasil
desde a época colonial até hoje é predominantemente católico, e Jesus Cristo
era a figura mais conhecida pelo povo.
Logo, tornar Tiradentes parecido com Jesus,
era uma boa maneira de torná-lo conhecido aos olhos da nação, e reforçar sua
importância. Concluído esta mitificação da imagem de Tiradentes, os
representantes republicanos lhe consagraram uma data comemorativa que de fato
veio a se tornar feriado nacional, o dia 21 de abril (transformando quase que
em nula a data do “Descobrimento do Brasil”, em 22 de abril).
Outro ponto interessante é o do
pesquisador José Geraldo Vidigal de
Carvalho da Universidade Federal de Ouro Preto/Mariana que diz
que na obra “ Na História Geral da Civilização Brasileira” , sob a
responsabilidade de vários especialistas, lemos o seguinte sobre os participantes
da Conjuração Mineira: “Surgiu a questão da escravidão, mas não como
instituição incompatível com a nova República, que pretendiam fundar. Estavam
tão pouco imbuídos do humanitarismo do século XVIII que a ideia não lhes
ocorreu. Os escravos apresentavam-se como um possível obstáculos seus intentos.
Sendo muito maior o número de pretos, poderiam aproveitar-se da situação e
matar os brancos. Alvarenga sugeriu então que se lhes concedesse a liberdade,
objetando Maciel que seria desorganizar os trabalhos das minas e da lavoura.
Com sua habitual inconsequência, Alvarenga respondeu que se libertassem apenas
os mulatos. Os inconfidentes não se detiveram no exame de tão importante
questão que ficou em suspenso.” E a
apoiaram mais tarde ao constatar que faltaria contingente para o novo estado e
não por ideal humanitário ou nobre como é descrito no documentos históricos.
Sem contar que foi movido pelas suas
dificuldades financeiras e pela figura
de José Álvares Maciel, filho de grande comerciante e fazendeiro de Vila Rica.
Em vez de lhe emprestar dinheiro, Álvares Maciel propôs que ele participasse do
movimento para libertar as Minas Gerais.
Em sua obra, “O Guia Politicamente Incorreto
da História do Brasil “ e outras de sua autoria esclarece mais sobre esse
ponto.
A questão é, quais critérios temos usados
para escolha de nossos heróis ?
Ao que parece o simples populismo e adoção de
ícones que os condutores da historias
nos dão, afinal o herói citado acima foi entregue como mártir por não ser líder
do movimento e muito menos com papel estratégico a não ser que viesse a morrer
pela causa.
Considero particularmente, que o Brasil vive
uma Sapiofobia, um movimento silencioso de aversão a intelectualidade,
principalmente no que tange a escolha de seus ícones.
Hans-Hermann Hoppe nos forneceu a resposta a
esta questão apresentando a estratégia do “intelectualismo
anti-intelectual”. Seguindo a
constatação de Étienne de La Boétie, de que o poder e a legitimidade do governo
advêm da opinião pública, temos de reconhecer que são os intelectuais que
moldam a opinião pública. Deste modo,
Hoppe convoca “intelectuais anti-intelectuais” para que assumam a missão de
confrontar os intelectuais pró-estado, tirar definitivamente a legitimidade do
estado e, deste modo e em última instância, destruam o estado.
As duas seções principais desta estratégia
são (1) basear seus argumentos na moralidade e não meramente no utilitarismo, e
ao mesmo tempo (2) contornar o mundo acadêmico e alcançar o público em
geral. Assim, diz Hoppe, “estados, por
mais poderosos e invencíveis que possam parecer, devem sua existência essencialmente
às ideias; e, uma vez que ideias podem,
ao menos em princípio, ser mudadas instantaneamente, estados podem ser
derrubados e esfacelados quase que da noite para o dia.”
Talvez desse pensamento o motivo da exaltação
de ícones populares que em suma não colaboraram de forma significativa para
nossa nação ..
Exalta-se a farsa de Tiradentes, e poucos
sabem quem foi Ruy Barbosa, um político, diplomata, advogado e jurista
brasileiro. Representou o Brasil na Conferência de Haia. Membro e fundador da
Academia Brasileira de letras foi seu presidente entre 1908 e 1919.
Elaborou projetos para a reforma
eleitoral, para a libertação dos escravos sexagenários e para a reforma do
ensino.
O maior líder da esquerda mundial é Noam
Chomsky, não me lembro de ter visto exaltação de suas políticas ou de suas
obras formidáveis de estudo da linguística com aritmética, e consequentemente
melhorar nosso nível de educação, obvio já que para se incentivar precisa
ler, porém nas escolas, as lideranças por meio do CNE ( Conselho
Nacional da Educação) tentaram banir obras de Monteiro Lobato. Obras que
incentivam o raciocínio e aguçam a curiosidade infantil.
O mesmo Lobato que criou a Companhia
Petróleos do Brasil, privada, de capital aberto, que, tendo se constituído num
sucesso, vendeu no primeiro mês mais de 50 por cento de suas ações. A empresa
começou a explorar petróleo no campo de Araquá, em São Paulo, onde hoje é a
cidade de São Pedro. Posteriormente, o escritor criou a Companhia de Petróleo
Cruzeiro do Sul e a Companhia Mato grossense de Petróleo.
E o mesmo já dizia “O Brasil é uma pobre
coisa enorme, inerme e condenada a um triste destino porque somos muito pobres
de inteligência. Essa pobreza determina a outra, a material. Tão ininteligentes
que nem o fato de dispormos dum dos maiores territórios unificados do mundo nos
dá mais que os magros territórios da Dinamarca, da Suíça, da Holanda, da Suécia
dão a esses pequenos países europeus. Sentados em cima de gigantescas riquezas
potenciais, somos um país de pé no chão, miseravelmente vestido, miseravelmente
alimentado e miseravelmente governado – e hoje destituído até desse oxigênio
político dos povos, que é a liberdade de manifestação de pensamento.
E a política dos que nos governam à força é a
do avestruz diante do perigo: esconder a cabeça. A atual supressão da imprensa
livre e a proibição do livre debate dos nossos defeitos e mazelas, articulada
com a pomada cor-de-rosa das insistentes, renitentes e imbecilizantes “horas
nacionais” sob todas as suas sórdidas modalidades, está precipitando esta pobre
massa de gente doentia e estúpida na senda dum novo Oriente Médio. Somos cada
vez mais a maior vergonha do mundo. Caiação oficial por fora, dourados de
pechisbeques – e bicheiras roedoras por dentro. E para supremo escárnio, um
grande Coordenador coordena em benefício do clã dominante os restos da nossa
magra riqueza acumulada.”
Fica para a reflexão também o motivo pelo
qual muitos não sabem essa parte da historia de nosso país, que insiste em
exaltar líderes que em seu signo e significado não levam ou inspiram o povo a
progredir ou melhorar em sua educação mas apenas a se rebelar contra tudo, numa
massa de rebeldes sem causa.
Em tempo, Tiradentes não foi maçom.
Então meus irmãos, reflitamos a respeito de
nossas escolhas de modelos heróicos.
Além de que, segundo nosso historiador
mineiro:
“Celebremos o Tiradentes, e sempre nos
lembremos que, como muitos de nós, ele ‘carregou algo na cabeça’, isto é, foi
corno.” Luiz Carlos Villalta, professor
da UFMG, sobre Joaquim José da Silva Xavier…
O Portal da Inconfidência
(http://portaldainconfidencia.iof.mg.gov.br/) traz a versão impressa da
investigação feita na época, cheia de curiosidades.
“Se eu digitar ‘feio’, eu vou encontrar a
maneira como Alvarenga Peixoto caracterizou Tiradentes: ‘feio’ e ‘espantado’”,
diz Luiz Carlos Villalta, historiador da UFMG.
Parte dos documentos está no Arquivo
Nacional, no Rio de Janeiro, e outra parte, no Museu da Inconfidência, em Ouro
Preto, como a sentença de morte de Tiradentes, acusado de “rebelião e alta
traição”.
Hoje relembro meu saudoso avô, que dizia pra
eu largar a televisão para pegar um livro do
Ir. Ruy Barbosa em sua biblioteca.
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto
ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da
virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”RB
Fonte:
AQUINO, Rubim Santos Leão de; BELLO, Marco
Antônio Bueno; DOMINGUES, Gilson Magalhães. Um sonho de liberdade: a conjuração
de Minas. São Paulo: Editora Moderna, 1998.
MACEDO, Joaquim Manuel de (1878). “7”.
Memórias da Rua do Ouvidor [S. L.: s. N.]p. 227. ISBN 8523001107. Digitalizado
por Google Livros.
COSTA E SILVA, Paulo (1 de abril de 2007). “A
outra face do alferes”. Revista de História da Biblioteca Nacional. Consultado
em 7 de abril de 2010.
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