Rogério Gentile –Folha de S. Paulo
O governador do Estado de São Paulo, Márcio França (PSB), durante encontro com o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) - |
Prefeito
e governador de SP pertencem à principal associação maçônica do país
A relação dos recém empossados Bruno Covas
(PSDB) e Márcio França (PSB), prefeito e governador de São Paulo,
respectivamente, transcende o chamado “mundo profano”.
O ponto em comum entre eles é uma organização
discreta, antiga, com rituais sigilosos, muito simbolismo e que considera a
liberdade, a igualdade e a fraternidade como seus fins supremos.
Covas e França pertencem à Grande Oriente do
Brasil, a principal associação maçônica do país, com cerca de 80 mil filiados e
3.000 lojas.
Criada em junho 1822, possuiu uma conformação
administrativa que espelha a do Estado, com Executivo, Legislativo e Judiciário
próprios. O presidente é intitulado de Grão-Mestre Geral.
Há até uma Constituição, aprovada sob a
proteção do “Grande Arquiteto do Universo”, como Deus é designado,
respeitando-se a pluralidade de credos. Um associado se refere ao outro como
“irmão”.
GOVERNADOR
Márcio França é membro da loja Estrela
Vicentina, de São Vicente, cidade da qual foi prefeito por dois mandatos
(1997-2000 e 2001-2004).
Internamente, defende que a entidade tenha
uma atuação política de modo a influenciar os rumos do país.
“Pelo tamanho que a ordem tem, pela posição
que os irmãos exercem no mundo profano, seria uma covardia, um desserviço, não
atuar politicamente”, disse, em 2008, para a Rede Colmeia, um portal de
integração maçônica.
“A nossa omissão ao longo desses últimos 20,
30 anos, de certa forma, ajudou a conduzir o país [no sentido] errado, com
muitas distorções sociais”, afirmou, à época. “Os princípios da Ordem,
igualdade, fraternidade e liberdade não estão implantados em sua plenitude no
Brasil.”
Na entrevista, o hoje governador disse que,
“se José Bonifácio, o patriarca da Independência, referência maçônica, não se
metesse na política, talvez o Brasil estivesse até hoje com escravos”.
À época em que era prefeito de São Vicente,
Márcio colocou vários maçons em cargos do secretariado. Criou também um sistema
para recepcionar sugestões e ideias de membros da entidade.
Quando a cidade recebia recursos para algum
projeto, por exemplo, recorria a esse grupo para se aconselhar sobre a melhor
destinação para a verba. “Não é à toa que fui reeleito com 93% [dos votos]”,
disse, na entrevista de 2008.
PREFEITO
A Grande Oriente aceita a admissão apenas de
candidatos homens, maiores de 18 anos, de boa saúde e “que tenham aptidão para
a prática dos atos de ritualística” —o que é um veto às pessoas com alguma
deficiência física.
É necessário também ser de bons costumes, ter
reputação ilibada, estar em pleno gozo dos direitos civis e não professar
ideologia contrária aos princípios da Ordem.
Além disso, os interessados precisam ter
condição econômica que assegure a subsistência própria e da sua família, sem
prejuízo dos encargos maçônicos.
Já Bruno Covas foi iniciado em setembro de
2005. Na Assembleia Legislativa, em 2014, foi apresentado numa sessão como
membro “ativo e regular” do quadro de obreiros da Loja Simbólica Lautaro 2642,
na Vila Gumercindo. Em 2007 passou de “aprendiz” para o grau “companheiro” e,
dois anos depois, ascendeu ao grau “mestre”.
Naquele ano, no “Dia do Maçom” (20 de
agosto), na tribuna, relatou sua impressão pessoal. “A iniciação, momento
sublime e emocionante, fez com que eu percorresse um caminho de autoconhecimento,
disciplina e ação.”
E completou: “Sejamos bons maçons, não apenas
dentro de nossas lojas, mas também [para] transmitir a toda a sociedade os
nossos valores e princípios”.
Na semana passada, um encontro entre Covas e
França, que deve disputar a reeleição em outubro, causou desconforto entre
aliados do ex-prefeito João Doria, também postulante ao cargo. Covas era o seu
vice.
No que depender dos princípios maçônicos, os
dois deverão provocar ainda muitas chateações ao ex-prefeito.
Afinal, a lei maior da entidade diz que um
dos principais deveres de todo maçom é, justamente, “prestar proteção e ajuda a
seus irmãos, principalmente contra as injustiças de que for alvo”.
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