Lucas Francisco Galdeano [1]
Kennyo Ismail [2]
Ao se compreender a evolução do local de
reunião das Lojas Maçônicas, de galpões improvisados em canteiros de obras no
período operativo; seguindo para casas de maçons ou salas alugadas ou emprestas
em tavernas e outros estabelecimentos comerciais no período pré-especulativo ou
período de transição; até a construção dos primeiros edifícios maçônicos no
período dito especulativo, mais precisamente a partir do início da segunda metade
do século XVIII; buscou-se analisar as características dos locais de reuniões,
as salas de loja ou templos maçônicos, a partir dos diferentes ritos maçônicos
praticados no Brasil. Verificou-se que a diversidade de ritos praticados no
Brasil se reflete na diversidade de decoração, características e elementos
presentes em seus locais de reuniões.
Introdução
Aquela considerada a “premier” Grande Loja,
tradicionalmente dita fundada em Londres, em 24 de junho de 1717, apresenta em
sua antiga constituição, aquela elaborada pelo clérigo James Anderson, mais
precisamente na edição atualizada de 1738, que quatro Lojas a fundaram. Essas
quatro Lojas se reuniam: Na taberna Ganso e Grelha, ado da Igreja de São Paulo;
Na taberna Coroa, ruela Parker; Na Macieira, rua Charles, distrito Jardim do
Convento; E na Taça e Uvas, Linha do Canal, Westminster (…) (ANDERSON, 1738,
p.109 apud DERMOTT; ISMAIL, 2016, p.40) Isso evidencia a realidade do local
tradicional de reuniões das lojas maçônicas do início do século XVIII: tavernas,
que eram estabelecimentos comerciais que funcionavam como bar, restaurante e,
muitas vezes, também pousadas, com quartos para alugar.
Não iremos nos dedicar ao papel das tavernas,
existentes há milhares de anos e que, em especial na Grã-Bretanha, berço do
sistema maçônico estabelecido no mundo nos últimos três séculos, ainda exerce
importante papel social. Há inúmeros artigos e livros dedicados a tal matéria
(i.e.: KUMIN; TLUSTY, 2002).
Esta figura é de autoria do artista e maçom
William Hogarth. Feita em 1738, é a última de uma série de quatro pinturas
intitulada de “Four Times of the Day”, que pode ser livremente traduzido como
“Quatro momentos do dia” e que ilustram cenas de um dia comum em Londres
naquela época. A primeira pintura era a “manhã”; a segunda, “meio-dia”; a
terceira, “tarde”; e esta, a quarta e última, “noite”. Ela é de relevância à
Maçonaria por ilustrar um Venerável Mestre (título relativo a presidente de uma
Loja Maçônica) embriagado, sendo auxiliado a andar pelo Cobridor (em inglês,
“tyler”, que corresponde ao guarda da reunião).
O Venerável Mestre está trajado com chapéu,
um longo avental e um colar com um esquadro como joia. Vê-se uma mulher
despejando o conteúdo líquido de um penico sobre sua cabeça, não se sabendo se
de propósito ou não. O Cobridor leva uma espada sob seu braço esquerdo,
enquanto auxilia o Venerável Mestre embriagado a andar. Eles estão saindo da
taverna “Taça e Uvas”, uma das quatro Lojas fundadoras da Grande Loja da
Inglaterra. Ou seja, mais de vinte anos após a suposta fundação da Grande Loja,
suas Lojas permaneceram realizando suas reuniões em tavernas.
Figura
1. Hogarth’s Night (1738).
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/ Premier_Grand_Lodge_of_England#/media/ File:Hogarth_05.jpg |
A figura apresenta outros elementos
interessantes. Há um menino no canto inferior esquerdo, soprando uma tocha.
Trata-se de um “linkboy”, que era um garoto que andava com uma tocha à noite
para iluminar o caminho para pedestres em Londres, antes de surgir a iluminação
pública. Graças ao seu sopro, vê-se uma família de sem-teto abrigada abaixo da
janela de um barbeiro-cirurgião, que está realizando um procedimento no nariz
de um cliente. Atrás do Venerável Mestre e seu Cobridor, vê-se um funcionário
de uma das tavernas adulterando o barril de bebida. Essa prática foi eternizada
em uma poesia pelo poeta Matthew Prior, que era sobrinho de Samuel Prior, o
proprietário da taverna “Taça e Uvas” (LEGG, 1921).
E, ainda relativo ao interesse maçônico pela
pintura, vê-se, à direita, um homem portando um esfregão, o que pode sugerir
alusão à possível prática das lojas maçônicas da época de desenharem com carvão
os símbolos maçônicos no piso do aposento utilizado para reuniões nas tavernas,
e apagá-los após o término da reunião.
Assim, compreender a evolução desse modelo de
funcionamento retratado na figura e registrado na constituição daquela
“primeira” Grande Loja, para os modelos atuais; das tavernas aos complexos
templos sagrados; é a intenção deste artigo.
Resquícios
históricos
2.1. As
Lojas e a evolução de seus locais de reuniões
O termo “Loja”, na verdade, está diretamente
relacionado ao termo “alojamento”, no sentido de abrigar trabalhadores, sem
qualquer relação com o sentido de estabelecimento comercial empregado à palavra
“loja” na língua portuguesa atualmente. Esse entendimento é mais nítido ao
observar o termo em inglês, “lodge”, pelo qual as lojas maçônicas são chamadas
nos países que adotam tal língua, além dos termos em francês, italiano,
espanhol e alemão, cujos países europeus berços de tais línguas receberam as
primeiras lojas maçônicas quando da expansão a partir da Grã-Bretanha (ISMAIL,
2012).
Stevenson (2009) afirma que essas lojas eram
inicialmente construções temporárias nos canteiros de obras, às vezes
barracões, nas quais os maçons guardavam suas ferramentas, trabalhavam sobre as
pedras protegidos do sol ou da chuva, mas também podiam comer, descansar e, em
alguns casos, até viver temporariamente. Essa visão também é seguida por Robert
Cooper (2009), que cita um documento de 1491, intitulado “statue anent Masons
of St. Gilles”, o qual determina que aos “mestres pedreiros” seja permitido
“ter uma recreação na Loja comum” (COOPER, 2009, p.28), o que indicaria que as
lojas eram grandes o bastante para reuniões recreativas, por exemplo.
Esses alojamentos, chamados de “lojas”, inicialmente
tinham um caráter provisório, sendo dissolvidos ao final da construção. No
entanto, conforme surgiram construções que demandavam décadas de trabalho, como
as grandes catedrais, castelos e fortes, essas lojas foram sendo desenvolvidas
em caráter cada vez mais permanente, com estruturas sólidas e grandes o
bastante para atender dezenas de pedreiros. Anderson, em sua já mencionada
segunda edição da constituição (1738, p.106-7, apud STEVENSON, 2009, p.267),
relata que “lojas particulares eram tão frequentes e, na maioria dos casos,
apenas ocasionais no Sul (da Inglaterra), exceto nos lugares onde grandes obras
eram executadas, ou perto deles”.
Há, por exemplo, o registro de uma loja de
pedreiros com edifício próprio, em Aberdeen, Escócia, em, pelo menos, 1483;
que, em 1605, após alguns anos de inatividades da mesma, teria sido reparada e
dividida para abrigar três escolas. Assim, vê-se não somente o tamanho e
estabilidade da edificação, mas o pioneirismo escocês nesse sentido.
Entretanto, há que se observar que, nesse caso, refere-se a uma loja
estritamente operativa.
De fato, as três lojas maçônicas mais antigas
com funcionamento que possa ser considerado pré-especulativo (concessão de
graus com transmissão de modos de reconhecimento) e que se pode documentalmente
comprovar são também na Escócia: a Loja de Aitchison’s Haven (BEAVER, 2017), a
Loja Mãe Kilwinning e a Loja de Edimburgo “Mary Chapel” (STEVENSON, 2009);
todas com séries ininterruptas de atas a partir ainda do século XVI, enquanto
que as primeiras atas maçônicas inglesas datam de 1716.
No entanto, as atas dessas e de outras lojas
maçônicas da Escócia que funcionavam durante todo o século XVII indicam que as
mesmas funcionavam nas casas dos membros, em estalagens ou tavernas.
A primeira dessas lojas com edifício dedicado
exclusivamente à Maçonaria foi a Loja de Aberdeen, que adquiriu uma casa de
campo para seu funcionamento, em 1700. Em 1712, a Loja de Hamilton discutiu a
possibilidade de construir uma sede, mas a proposta não prosperou. Já a primeira
construção realizada com finalidade estritamente maçônica teria ocorrido,
conforme afirma George Smith (1866), em sua obra “O uso e abuso da Maçonaria”,
em 1765, em Marselha, na França. Mas Coil e Brown (1961, p.301) desmentem essa
afirmação ao informar que “a honra de ser a primeira a fazer um edifício
dedicado exclusivamente aos propósitos maçônicos foi da Filadélfia, onde o
templo maçônico foi dedicado em 24 de junho de 1755”.
Os registros indicam que a iniciativa de se
construir uma sede própria para a maçonaria inglesa somente ocorreu em 28 de
outubro de 1768, quando decidiu-se por um projeto “para buscar o meio mais
eficaz de se criar um fundo para construir um Salão e comprar joias,
mobiliário, etc., para a Grande Loja” (LIBRARY…, 2006, p.4), o qual foi
inaugurado no dia 23 de maio de 1776. Ismail (DERMOTT; ISMAIL, 2016) credita a
William Preston e Thomas Durckenley os principais esforços para tal
empreendimento.
2.2. O
Templo de Salomão e as Lojas Maçônicas
O ritual maçônico mais antigo historicamente
aceito que se tem conhecimento, o Edinburgh Register House MS, data de 1696 e
menciona em seu cate cismo o Templo de Salomão, não colocando a Loja como uma
réplica do mesmo, mas declarando que a primeira Loja se encontrava no pórtico
daquele templo e, ao se erguer uma Loja, deve-se observar a direção do ocidente
para o oriente, como ele era em Jerusalém (CARR, 2012).
Outro catecismo antigo que faz interessante
menção indiretamente relacionada ao Templo de Salomão é o de Dumfries No.4, que
afirma que a “nobre arte ou ciência” foi encontrada “em duas colunas de pedra;
uma não afundava e a outra não queimava” (STEVENSON, 2009, p.181) Stevenson
interpreta que, a partir daí, há uma fusão do conceito dos pilares do conhecimento
e das colunas do Templo de Salomão.
Ainda, o famoso Manuscrito Cooke, de cerca de
1410, afirma a tradição de que “o próprio Salomão ensinou-lhes as suas maneiras
(isto é, costumes e práticas), que pouco diferem das maneiras ora em uso”
(COOKE, 1410 apud HORNE, 1995, p.9), tradição essa que, também presente em
outros manuscritos e documentos similares, por muitos anos alimentou as crença
de que a Maçonaria possui tal antiguidade milenar e está diretamente ligada ao
Templo de Salomão, e não apenas simbolicamente.
Horne (1995, p.16) lamenta o fato de muitos
maçons, até mesmo ditos doutos, acabam por confundir tal tradição com uma
verdade, ao afirmar que “malgrado todas as indicações em contrário a respeito
da origem maçônica do Templo do Rei Salomão, verificamos que nos tempos atuais
também se acredita nessa tradição”. Por sorte, alguns pesquisadores sérios
sobre o assunto têm levado luz à questão, como no caso de Fort (1881), que, já
no século XIX, alertou para o fato de que nem nas Old Charges, no Poema Regius,
ou mesmo no Manuscrito de Halliwell, há qualquer afirmação de que a Maçonaria
surgiu quando da construção do Templo de Salomão.
2.3.
Aspectos do Edifício Maçônico
Atualmente, os edifícios maçônicos são
comumente chamados de “templos maçônicos”, em especial nos sistemas de origem
latina; e de “salas de lojas” (“lodge rooms”, em inglês), em especial nos
sistemas de origem anglo-saxônica. A principal diferença que se vê entre o uso
de tais nomenclaturas é o aspecto sagrado nos sistemas latinos, nos quais, em
muitos casos, a construção precisa necessariamente passar por uma cerimônia
especial de “sagração” ou “consagração”, sendo então condizente o uso do termo
“templo”; enquanto que, naqueles sistemas em que se refere ao local de reuniões
como “sala da loja”, esse status sacro não se faz predominante.
Enquanto os franceses, precursores da
maçonaria latina e de suas edificações, tomaram como modelo de templo as
igrejas; os ingleses, precursores da maçonaria anglo-saxônica, tomaram como
modelo de sala aquela que era a principal sala de reuniões de Londres: o
parlamento inglês. Castellani (1991, p.20) corroborava com esse entendimento,
ao defender que a Maçonaria do século XVIII adotou “os modelos que lhe eram
mais conhecidos: as igrejas e o parlamento britânico”.
No entanto, independente se o sistema
maçônico é de inspiração latina ou anglo-saxônica, há características comuns
desejáveis, mas não obrigatórias, conforme apontado por Mackey (1914): Uma Sala
da Loja sempre deve, se possível, estar devidamente situada ao Oriente e ao
Ocidente. Esta posição não é absolutamente necessária. Mas cabe exigir que
alguns sacrifícios sejam feitos, se possível, para obter tal posição desejável.
Também deve ser isolada, quando praticável, de edifícios circundantes, e sempre
deve ser colocado em um andar superior. Nenhuma Loja deve ser mantida no piso
térreo. A forma de uma Sala da Loja deve ser a de um paralelogramo ou quadrado
oblongo, pelo menos um terço maior do Oriente ao Oeste do que é de Norte a Sul.
O teto deve ser elevado, dando dignidade à aparência da sala, bem como para
fins de saúde, compensando, em certa medida, o inconveniente das janelas
fechadas, o que necessariamente irá deteriorar a qualidade do ar em um muito
pouco tempo em uma sala baixa.
O atual status das Lojas físicas
Ao compreendermos a evolução do local de
reunião das Lojas Maçônicas, de galpões improvisados em canteiros de obras no
período operativo; seguindo para casas de maçons ou salas alugadas ou emprestas
em tavernas e outros estabelecimentos comerciais no período pré-especulativo ou
período de transição; até a construção dos primeiros edifícios maçônicos no
período dito especulativo, mais precisamente a partir do início da segunda
metade do século XVIII; dediquemos esforços para analisar as características
dos locais de reuniões, as salas de loja ou templos maçônicos, a partir dos
diferentes ritos maçônicos praticados no Brasil.
Para tanto, tomamos por base as descrições e
layouts disponíveis nos rituais do grau de Aprendiz Maçom dos sete ritos
adotados pelo Grande Oriente do Brasil, além do Rito de York, de origem
norte-americana, versão da Grande Loja do Estado de New York traduzida para o
português e adotada pela maioria das Grandes Lojas da CMSB e Grandes Orientes
da COMAB.
Entre as características, levantadas, algumas
possuem diferentes nomenclaturas para um mesmo elemento. Como exemplo, tem-se o
“livro sagrado”, que pode aparecer como “livro das sagradas escrituras” ou
mesmo “livro da lei”. O mesmo com o “altar dos juramentos”, em alguns casos
chamado apenas de “altar” e, no caso do Rito Moderno, “altar dos compromissos”.
Optamos por adotar o termo mais comum entre eles, considerando que a presente
pesquisa não tem objetivo terminológico, mas simbológico.
Outra regra adotada foi quanto à forma de
tais características. Optou-se por distinguir quanto à forma ou relevância, mas
apenas pela visão binária do elemento estar visualmente presente ou não no
local de reuniões, mesmo que apenas de forma ilustrada, ou seja, desenhado em
um painel ou tapete exposto no local.
Quadro 1: Quadro Comparativo de
características e elementos nas Salas e Templos dos diferentes ritos maçônicos
praticados no Brasil.
Fonte: elaborado pelos autores.
Ao analisar o quadro apresentado, observa-se
que há uma presença maior de elementos nos ritos de origem latina no que
daqueles de origem anglo-saxônica, o que, acreditamos, se deve ao aspecto
sagrado dado ao local de reuniões maçônicas nos primeiros, conforme mencionado
anteriormente, o que pode ser reforçado ao observarmos os elementos adicionais
comuns aos ritos latinos: oriente elevado, balaustrada, delta, dossel, altar
dos perfumes e abóbada celeste. Tais elementos não estão diretamente ligados à
simbologia estritamente maçônica, ou seja, ao operativismo e à ritualística, ou
mesmo com o Templo de Salomão. São elementos comuns a igrejas católicas
medievais, templos sagrados majoritários no mundo latino quando do século
XVIII, período inicial do surgimento dos primeiros templos maçônicos.
Os ritos que apresentaram maior concentração
de elementos foram o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Rito Brasileiro, sendo
este último inspirado no primeiro, contendo, ambos, a mesma quantidade de elementos,
22, e a mesma quantidade de graus maçônicos, 33. O rito que apresentou menor
quantidade de elementos, tendo, assim, um local de reuniões mais próximo do
período de transição operativo-especulativo, ou pré-especulativo, foi o Rito de
Schroeder, com apenas 5 elementos: o livro sagrado, o esquadro e o compasso;
castiçais junto aos três principais oficiais ou luzes; as três luzes menores
(três pedestais de vela única); as pedras bruta e polida; e o painel do grau
que, no caso do Rito de Schroeder, tem a forma de um tapete, o que é outra
característica “pré- especulativa”. O segundo rito com menos elementos é o Rito
de York (norte-americano), com 11 elementos, empatado com seu irmão mais novo,
o Ritual de Emulação (de origem britânica). Dentre os ritos latinos, os que
apresentam templo mais simples são o Rito Escocês Retificado e o Rito Moderno,
cada um com, respectivamente, 16 e 18 elementos.
Um livro da lei acompanhado do esquadro e do
compasso, e as pedras bruta e polida, são os únicos dois elementos comuns a
todos os ritos. Eles, de certa forma, estão conectados aos princípios de
regularidade maçônica mais comuns entre as obediências: que o compromisso ou
juramento seja assumido perante as três grandes luzes (livro, esquadro e
compasso), e que deve haver simbolismo baseado na maçonaria operativa (ISMAIL,
2012).
Dentre as exceções, temos a ausência de Sol e
Lua; dos estrados ou estações dos três oficiais principais; das colunas J e B;
e do pavimento mosaico; apenas no Rito de Schroeder. Já o Rito de York é o
único com ausência de um painel ou tapete do grau.
Há também aqueles elementos que somente estão
presentes em um único rito. O Rito Escocês Antigo e Aceito, conforme praticado
no Brasil, apresenta as adições de mar de bronze e colunas zodiacais. O Rito
Brasileiro é o único que oficialmente exige a presença das estátuas de três
deuses, Athena, Hércules e Vênus, apesar de adornar os templos de outros ritos
ultimamente. E o Rito Adonhiramita é o único que prevê a presença em seu templo
de um sino e um altar da chama sagrada.
Considerações finais
A diversidade de ritos praticados no Brasil
se reflete na diversidade de decoração, características e elementos presentes
em seus locais de reuniões. Enquanto os ritos anglo-saxônicos tornam possível
que as lojas maçônicas que os praticam trabalhem em qualquer sala fechada,
bastando, para isso, que alguns móveis sejam providenciados e utensílios
maçônicos que, de forma geral, cabem em uma caixa, sejam levados, os ritos de
origem latina demandam um maior investimento de tempo e recursos financeiros na
construção ou reforma de espaços próprios para uso das lojas.
Dessa forma, enquanto o primeiro grupo de
ritos, o de origem anglo-saxônica, está mais próximo das práticas maçônicas
pré-especulativas, do período ilustrado por William Hogarth; o segundo grupo,
de origem latina, parece ter implementado elementos não-maçônicos, emprestados
de outras tradições, conforme o desenvolver de seus graus. As colunas
zodiacais, por exemplo, relacionadas à Astrologia, arte distante do
operativismo maçônico.
A análise realizada sobre o quadro
comparativo das características apresentadas de cada rito levanta a hipótese
dos ritos de origem latina terem adotado elementos religiosos, em especial
católicos, por influência da hegemonia católica nos países latinos europeus.
Suposições quanto à similaridade entre o mar de bronze de uma loja maçônica e a
fonte de água benta de um igreja, inclusive quanto a suas posições nos
respectivos templos; assim como entre o oriente elevado e sua balaustrada com
os altares elevados com suas grades; ou mesmo a abóbada celeste, comum entre
ambos; além de outras características similares, reforçam tal hipótese e
merecem atenção em eventuais futuras pesquisas.
Por fim, fica o questionamento quanto a
influência que elevados preços no mercado imobiliário, em material de
construção e mão-de-obra na área pode ter sobre grupos de maçons em processo de
fundação de novas lojas maçônicas, quanto especificamente a escolha do rito a
ser adotado pelas mesmas.
Referências
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STEVENSON, D. As origens da Maçonaria: O
século da Escócia (1590-1710). São Paulo: Madras, 2009.
NOTAS
[1] Lucas Francisco Galdeano tem
Pós-graduação Lato Sensu em História da Maçonaria pela Universidade Cruzeiro do
Sul / UDF. Atual Grão-Mestre do Grande Oriente do Distrito Federal – GODF/GOB,
foi Grande Secretário Adjunto de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil
(1993-2001).
[2] Kennyo Ismail é Bacharel em Administração
pela UnB, com MBA em Gestão de Marketing pela ESAMC e Mestrado Acadêmico em
Administração pela EBAPE-FGV. É professor de pós-graduação em História da
Maçonaria na UnyLeya e em Maçonologia na Uninter.
Publicado na Revista Ciência & Maçonaria
em 2013 sob uma Licença Creative Commons
Attribution 3.0
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