Por
Alberto Henrique da Cruz Feliciano
Através
deste trabalho procuraremos analisar alguns aspectos que se relacionam com a
Teosofia e a Maçonaria e, principalmente, as relações entre a Sociedade
Teosófica Brasileira e a Maçonaria Brasileira, culminando com a fundação de uma
Loja Maçônica de linha teosófica conhecida por Estrela do Ocidente,
que teve por orientador e fundador o Professor Henrique José de Souza.
Para
que possamos estabelecer as relações entre as duas Instituições, devemos
reportar-nos às raízes da Sociedade Teosófica Brasileira e à pessoa do seu
fundador, o Professor Henrique José de Souza.
DHÂRANÂ BUDISTA E MAÇÔNICA
A
Sociedade Teosófica Brasileira (S.T.B.) teve como precursora a Dhâranâ –
Sociedade Mental-Espiritualista, fundada em 10 de Agosto de 1924, com a
finalidade de desenvolver mental e espiritualmente os seus associados e
difundir entre os mesmos os ensinos esotéricos[1].
Dhâranâ, fundada
por Henrique José de Souza, era a Quinta Rama das Confrarias Budistas do Norte
da Índia e Oeste do Tibete e trazia para a América do Sul função
importantíssima conhecida por Missão dos Sete Raios de Luz, assim
chamada por ser dirigida pelos Sete Mestres do Mundo, com repercussão em sete
países diferentes, dentre eles a Índia, Egipto, Rússia, Brasil, etc.
A Missão
dos Sete Raios de Luz, embora relacionada com todos os países do Mundo,
tinha em Dhâranâ o seu sustentáculo para a América Latina, com base no Brasil.
Subordinada à Fraternidade Branca do Himalaia, tinha a missão de preparar o
terreno onde a sétima sub-raça da quinta Raça-Mãe virá se implantar, sucedendo
imediatamente à sexta sub-raça que haveria de sair da América do Norte.
O eminente teósofo
espanhol Mário Roso de Luna, em suas Conferências Teosóficas na América
do Sul, fala-nos que a futura sub-raça seria canadiana e que desenvolveria
uma imensa civilização, porém seguir-se-ia, segundo revela Helena Petrovna
Blavatsky na suaA Doutrina Secreta, a civilização sul-americana, sétima
e última do Ciclo Ário.
A Rússia e o
Brasil estavam ocultamente dirigidos pelo Mestre Rakowsky, que para os profanos
chamava-se Justus. O Mestre Rakowsky representa a Linha Egípcia e,
além de outros trabalhos ocultos, procura reerguer a Maçonaria[2].
Esse Mestre, que
se acha à frente do grande Movimento oculto para a América Latina, ou seja, a
parte do Mundo de onde sairá a sétima sub-raça ária, não é outro senão o mesmo
infatigável Ego que em todos os tempos vem trabalhando em prol do progresso
espiritual da Humanidade, já com o nome de Christian Rosenkreutz, já com o de
Saint-Germain, de Hunjadi Jainos, de Bacon Verulânio, etc.
Annie Besant, que
foi presidente da Sociedade Teosófica de Adyar, assim nos fala sobre Christian
Rosenkreutz: “O fundador de todo o Movimento Espiritualista moderno foi
Christian Rosenkreutz que, procedente do Oriente, criou com doze Mestres a
célebre Instituição da Rosa+Cruz. Rosenkreutz reencarnou em Hunjadi Jainos,
célebre defensor da Hungria contra os turcos, e depois em Bacon Verulânio, o
grande escritor e filósofo inglês, fundador de outro organismo de carácter
rosacruciano, e depois no húngaro Rakwsky, príncipe real que, desaparecendo a
tempo da cena do mundo, salvou o seu país na luta contra a Áustria. A sua
personalidade, continuando através dos séculos, é a mesma do Conde de
Saint-Germain, no século XVIII, preclaro discípulo da Loja Branca ou dos
Arhats.”
Esse Grande
Senhor lançou mão, para o seu trabalho, das duas maiores Correntes ocultas, o
Budismo e a Maçonaria, porque de facto elas representam as duas Colunas do
Templo de Salomão que mantêm firme e de pé a Grande Obra da Humanidade. Elas
representam ainda os dois Caminhos que conduzem o discípulo aos pés do Mestre,
ou melhor, ao conhecimento de si mesmo.
Assim, o Mestre
Rakowsky, que dirigia Dhâranâ, não só era o Chefe Supremo do Lamaísmo (Budismo
do Tibete) como também da gloriosa e… pouco conhecida Agharta – a verdadeira
Maçonaria Indiana, complemento da do Egipto, onde Christian Rosenkreutz e
alguns outros foram beber na Fonte da Sabedoria Eterna todos os benefícios
espirituais e materiais que vêm lançando ao Mundo durante séculos e mais
séculos[3].
Desta forma, a
Sociedade Dhâranâ era a um tempo Budista e Maçónica. Sim… porque uma só Coluna
não mantém firme o Grande Templo da Verdade. A Agharta (Maçonaria, Força,
Poder) é o complemento do Lamaísmo ou Budismo do Norte da Índia e Tibete, e a
prova disto é que ambos são dirigidos pelo mesmo Grande Senhor já citado. O
Budismo renovado que Dhâranâ pregava no Ocidente não era outro senão a Teosofia[4].
Helena
Petrovna Blavatsky soube revelar de modo inimitável a Sabedoria dos Deuses,
conservada durante séculos nos templos iniciáticos e nas misteriosas criptas da
Índia e do Egipto, tal como atestam os seus dois gigantescos monumentos da
literatura esotérica que se intitulam Ísis Sem Véu e A
Doutrina Secreta, inesgotável manancial onde vão beber da Água da Sabedoria
todos os sedentos de Luz. Era seu papel completar os grandes esdorços
despendidos em exist~encias anteriores, já como teósofa, na pura acepção da
palavra, já como maçona que sempre foi, pois a Teosofia e a Maçonaria são as
duas Colunas que mantêm firme e resistente o majestoso Templo da Verdade, como
nos esclarece Henrique José de Souza:
“A
Teosofia é a Sabedoria dos Deuses, no seu duplo aspecto de Amor e de Verdade. A
Maçonaria, por sua vez, é a gloriosa Mensageira da Verdade e do Bem, que
através dos séculos vem abrindo largo sulco de caridade e de justiça.
“Ambas
se fundem numa só Força e Poder, porquanto representamas mais valiosas
Correntes para a organização do Edifício Social, os meios mais eficientes para
a realização do sublime ideal da Hierarquia Oculta, a Fraternidade Humana, e
ainda o poder mágico e infalível de cada homem poder decifrar o misterioso
enigma da sua Esfinge interna.”[5]
Henrique
José de Souza, comentando sobre os fundadores da Sociedade Teosófica no
Norte-América, fala-nos que Helena P. Blavatsky era maçona ou aghartina e Henry
S. Olcott era adepto do Budismo[6].
Diploma maçônico de Helena Petrovna Blavatsky
Os
fundadores de Dhâranâ possuíam nomes idênticos, ou seja, Henrique (Director
Chefe) e Helena (Zeladora do Templo), apenas com as polaridades trocadas[7]. Estes representavam as duas
Colunas do Templo de Salomão, Jakim e Bohaz, Egipto e Índia, Maçonaria e
Teosofia ou Budismo. O “H” de ambos tanto pode valer por Hermes como por Hamsa
e até mesmo por Hiram. Henrique representava a Maçonaria Indiana e Egípcia, e
Helena o Budismo ou Teosofia, a Sabedoria Mística, a Coluna B. Henrique
figurava a Coluna J ou a Sabedoria do Mental, a Ciência; representava o S∴ I∴ (Superior Incógnito) ou a Maçonaria
de Agharta, irmã gémea e defensora do Budismo. Eis porque Dhâranâ era Budista e Maçônica. O Grande Senhor que dirigia Dhâranâ os cognominou de “os dois Irmãos
Gémeos Espirituais”.
A
Agharta mantém 22 Templos, como os 22 Arcanos Maiores de Hermes ou as 22 letras
de certos alfabetos sagrados. Um outro Templo encobre esses: é o da Maçonaria
dos Traichu-Marus, cujos Ramos se estendem secretamente na Ásia e em muitos
países cristãos. Esta Maçonaria, cujo Templo de J… se compõe de 33 Lojas, cada
Loja de um Mestre e 33 Obreiros e cada Obreiro tendo 33 discípulos, possui
atrás das suas 33 Lojas um Conselho presidido pelo Rei do Mundo ou Melkitsedek[8].
Podemos,
assim, verificar que Dhâranâ reunia o conhecimento das duas Linhas fundamentais
que derivaram da Atlântida antes da sua queda: a Linha Oriental, da Índia, que
chegou até aos nossos dias como Teosofia, e a Linha Ocidental, do Egipto,
chegando até nós pela Maçonaria[9].
Henrique
José de Souza esteve ligado a estes mistérios desde a sua infância, pois uma
Entidade de nome Samael o protegia, usando um objecto para preveni-lo dos
perigos que o cercavam. Esse objecto era um punhal, que ora aparecia espetado
no tecto, ora no chão, etc., com mensagens alertadoras.
O
punhal é o símbolo da Maçonaria Oculta de Agharta, da qual Henrique era
representante em Dhâranâ, tendo por isso às suas ordens as grandes forças dos
Marus. Esse símbolo foi ainda usado por Cagliostro, com uma serpente enrolada e
mordendo uma maçã (o “fruto do Bem e do Mal”) atravessada pelo punhal do
Conhecimento. Tal emblema caracterizava Cagliostro como um Iniciado e
Mensageiro da Fraternidade Oculta de Agharta[10].
S.T.B.
TEOSÓFICA E MAÇÔNICA
Em
8 de Maio de 1928, Dhâranâ – Sociedade Mental-Espiritualista é remodelada,
tomando o nome de Sociedade Teosófica Brasileira (S.T.B.), em homenagem a
Helena Petrovna Blavatsky, pois o dia 8 de Maio, o Dia do Loto Branco, foi o
dia em que Aquela que serviu de eco à voz dos Mestres de Sabedoria elevou-se às
regiões sublimes da imortalidade.
Embora
tenha mudado o nome, a Missão continuou a mesma. Da mesma forma, o carácter
maçónico de Dhâranâ manteve-se na própria estrutura da S.T.B., como demonstra o
seu primeiro estatuto:
“Para
facilitar a realização dos seus objectivos, a Sociedade Teosófica Brasileira
estabelecerá Ramas ou Lojas nos diversos Estados da União”…
“Nenhuma
Loja da Sociedade Teosófica Brasileira poderá funcionar com número inferior a
sete membros.”[11]
Joaquim
Gervásio de Figueiredo, Grau 33.º, no seu Dicionário de Maçonaria,
esclarece que a etimologia da palavra loja deriva do sânscrito loka,
significando “mundo”, ou ainda, “lugar ou sítio circunscrito”, como também o
diz H. P. Blavatsky no seu Glossário Teosófico.
Uma
Loja Maçônica simboliza o Mundo ou o Universo e é o lugar onde se congregam os
maçons, os “pedreiros livres”, para um trabalho específico, durante o qual a
Loja permanece absolutamente fechada ou coberta, isto é,
circunscrita àqueles participantes dos Mistérios.
Dizem
os antigos manuais maçônicos que três maçons formam uma Loja Simbólica; cinco,
uma Loja Justa; e sete, uma Loja Perfeita. Uma Loja Justa e Perfeita é
constituída de pelo menos sete Mestres Maçons, reunindo-se nos trabalhos o
mínimo de sete Irmãos. Para a formação de Lojas Maçônicas são necessários pelo
menos sete Mestres Maçons.
A
S.T.B. seguia esssas mesmas directivas. Formaram-se então várias Lojas, como a
LojaMorya, no Rio de Janeiro, a seguir a Loja Kut-Humi, em
Niterói, a Loja Hilarião, em Belém do Pará, e a Loja Serapis,
no Rio de Janeiro. Com o tempo, passaram a chamar-se Ramas, Institutos
Culturais e finalmente Departamentos. Algumas chamaram-se Casas Capitulares,
lembrando os Capítulos Maçónicos que são Oficinas ou Lojas de Graus Superiores.
A
S.T.B. possuía, ainda, uma Directoria composta de sete membros, como em
Dhâranâ, seguindo os padrões maçónicos.
A
S.T.B. compunha-se de cinco categorias de sócios, a saber: efectivos,
correspondentes, tutelados, honorários e beneméritos. Os membros efectivos eram
em número de 33, sendo os mantenedores e defensores da Obra em todos os
sectores, e os únicos que possuíam o direito de assistir às reuniões privadas e
assembleias. A S.T.B. era mantida materialmente por esses 33 membros, e
moralmente por todos aqueles que quisessem se alistar em suas fileiras como
membros correspondentes[12].
Esse
esquema já era adoptado em Dhâranâ quando, em determinada época, foi emitido o
seguinte aviso:
“A
Sociedade Dhâranâ faz ciente a quem possa interessar que, por determinações
superiores, não mais recebe inscrições de sócios efectivos e sim de
correspondentes. Para a manutenção da parte esotérica da Obra, o número está
completo, segundo a indicação do verdadeiro Dirigente de Dhâranâ. A
Directoria.”[13]
Somente
eram admitidos novos mebros efectivos no caso de se abrirem vagas, quer por
morte ou outro motivo.
Existem
Lojas Maçónicas que limitam a 33 o número de obreiros, podendo ser admitidos
novos membros quando da abertura de vagas. Este esquema é o mesmo da Maçonaria
dos Traichu Marus, como já comentámos.
O
número 33 possui significado importante na Maçonaria, haja visto ser esse o seu
mais alto Grau em muitos dos Ritos.
O
número 33 é ainda o da idade da Libertação final do Ser, como a idade de Cristo
e de Krishna; é a daquele que, tendo percorrido os 32 portais da Sabedoria,
encontra-se no 33.º e último estágio. Esses 32 portais estão representados nos
dentes da boca, 16 no maxilar e 16 na mandíbula, formando as 32 maneiras (22
letras e 10 números) de que o Espírito Divino, o 33.º, se utiliza para executar
a Sua Obra na Terra.
Os
sócios tutelados eram os menores de 21 anos, cuja admissão na S.T.B. só era
permitida com a autorização por escrito dos pais. Na Maçonaria, como na S.T.B.,
somente são afmitidos maiores de 21 anos, os quais, tendo simbolicamente
passado ou percorrido os 21 Arcanos Maiores, podem assim ingressar na Ordem
para conhecer os Mistérios do Universo ou do Mundo, o 22.º. As Lojas Maçónicas
podem adoptar menores de 21 anos, os lowtons, filhos de maçons entre
os 7 e 14 anos de idade.
Em
determinada fase da S.T.B. só deveriam ser admitidos em suas fileiras menores
de 21 anos, preparando assim as sementes para a Sociedade Futura, para a Era de
Aquarius, conforme preconiza o seu lema, Spes Messis in Semine, ou “A
esperança da colheita reside na semente”.
A
S.T.B. teve ainda sob a sua tutela, de acordo com os seus Estatutos, crianças
que seriam educadas não só no programa de ensino do Governo, mas também, em
idade apropriada, 21 anos, como se sujeitavam os 33 membros efectivos ou Irmãos
Maiores, em ensinamentos mais profundos. Essas crianças deveriam ser também em
número de 33 e seriam fiéis continuadoras do Ideal da S.T.B., como porta-vozes
dos ensinamentos esotéricos. Por sua vez, tomariam a responsabilidade de educar
outras crianças[14].
Muitas
são as relações entre a S.T.B. e a Maçonaria, não sendo possível enumerar a
todas sem que invadamos os seus mistérios intrínsecos, porém, não poderíamos
deixar de comentar sobre o dia 24 de Junho.
Como
sabemos, a data de 24 de Junho é dedicada a São João e é de fundamental
transcendência para a S.T.B.,, por ser a da sua Fundação Histórica ou Cíclica:
24 de Junho de 1899.
Damos
a palavra a quem de direito pode levantar os “véus da Ilusão” sobre esse dia,
Henrique José de Souza:
“Erguem-se
por toda a parte as fogueiras dedicadas a São João, principalmente no Brasil,
como se fossem fachos enormes, iluminando aldeias, vilas, cidades, países
inteiros. E as fogueiras continuam ensinando aos homens que devem ser
iluminados pelo Fogo Divino, pela Essência Divina.
“Do
mesmo modo, os fogos rasgando o espaço, em formas arabescas, como se quisessem
inscrever na tradicional noite de São João tudo quanto de grandioso transcende
do nome Tradição.
“O
nome João só por si é uma legenda. Johan, Johanes, Jean, John, Jing, Dzyan, Dzin ouDjin,
em várias línguas, não é mais do que o Génio ou Jina, que serve de guia aos
homens vulgares da Terra.
João
Batista, Yokanan ou Anunciador do Avatara de Piscis
“A
Igreja distingue o termo Yokanan do de João Batista.
Mas a verdade é que o Arauto ou Anunciador do “Messias Prometido” possuía
aquele título iniciático. E isto porqueYokanan ou Io-Canaan é
o guia, além de arauto de um clã, família, etc., para a “Terra da Promissão”.
“Sobre
João Batista, as duas iniciais por Ele adoptadas, como Io-Kanaan do
Ciclo de Piscis, são as mesmas das Colunas do Templo de Salomão adoptadas pela
Maçonaria, ou sejam, Jakim e Bohaz, uma de ouro, outra de prata (Sol e Lua); do
mesmo modo que das cidades onde Jesus nasceu e morreu: Belém e Jerusalém. Jnana
(o Conhecimento, a Sabedoria) e Bhakti (o Amor, a Devoção) são os dois Caminhos
da Vedanta.
“Cagliostro,
representante da Maçonaria Egípcia, adoptou como um dos seus pseudónimos o de
José Bálsamo. Pelo que se vê, as duas iniciais, J e B, aparecem em toda a parte
onde houver um motivo iniciático, ou melhor, alguém investido de poderes
superiores, ou mesmo um lugar jina ou do mesmo carácter…
“No
Templo da S.T.B. em São Lourenço, Minas Gerais, fundado em 24 de Fevereiro de
1949 e dedicado a todas as religiões do Mundo, figuram essas duas Colunas, além
de nas mesmas estar impresso o signo de Aquarius, do futuro Avatara.
“Na
Maçonaria, ainda, existe o Rito do Adonhiramita – Adon ou Adam, Hiram, o
“Resssuscitado”, como dizem as suas próprias tradições… e Mita ou Mitra, que é
um termo francamente solar, haja visto o número de Cristo ser o 608, ou seja, o
de um ciclo solar.
“João
Batista, como Arauto do Cristo, acha-se estreitamente ligado ao mistério das
três iniciais de que se serviu o mesmo Cristo, senão vejamos de acordo com a
lenda da sua “degolação”: João, Herodes e Salomé, formando o JHS.”[15]
São
João é o Patrono da Maçonaria Simbólica. Nicola Aslan, em seu Grande
Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, explica-nos que São
João é Padroeiro da Maçonaria desde a Idade Média. Há muito que os maçons celebram
duas grandes festas anuais, chamadas indistintamente Festas de São João ou Festas
da Ordem, durante as quais são eleitos e empossados os novos Grãos-Mestres.
Essas festas correspondem à época dos solstícios, 24 de Junho, dedicado a São
João Batista, e 27 de Dezembro, dedicado a São João Evangelista. São João
Batista é o Patrono bem apropriado para a Instituição Maçónica, enquanto São
João Evangelista, devido às suas epístolas, foi incluído nos calendários
maçónicos depois do século VI.
Na
Maçonaria, os três Graus primitivos do Simbolismo são chamados Graus de
São João: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Nestes Graus está contida toda a
doutrina maçónica. Henrique José de Souza assim nos fala destes Graus:
Se
partirmos da Unidade para a Diversidade, logo deparamos com a sua Tríplice
Manifestação, com os nomes que lhe dão as várias escolas filosóficas e
religiosas, como por exemplo: Vontade, Sabedoria e Actividade; Pai, Filho e
Espírito Santo; a Trimurti hindu Brahma, Vishnu e Shiva, etc. E é partindo
desse princípio que a Franco-Maçonaria adoptou os Graus do Aprendiz,
Companheiro e Mestre, do mesmo modo expressos nos três Caminhos ou Veredas das
Iniciações brahmânicas: Jnana, o Conhecimento, Bhakti, a Devoção, e Karma, a
Acção, sendo que os dois laterais condizem perfeitamente com as Colunas do
Templo de Salomão: Jakim e Bohaz[16].
“A
esses três estados, ainda, relaciona-se a Pobreza do Aprendiz que começa; a
Suprema Arte do Companheiro, que já dominou as ciências profanas, e finalmente
a Morte, da qual triunfou o Mestre ressuscitado, como Jesus do seu sepulcro que
outro não é senão o da carne ou corpo físico[17].”
Os
Graus Iniciáticos da S.T.B. seguem o mesmo padrão. O Budismo adoptava quatro
Graus Iniciáticos, que se chamavam: Anagamim, ou o adepto do 1.º
Grau; Sartagamim, o adepto do 2.º Grau; Kurtagamim, ou
o adepto do 3.º Grau; e finalmente Arhat ou adepto do 4.º
Grau, também chamado de Arhat de Fogo, por ser o homem de
inteligência elevada.
Esses
Graus têm correspondência com os Graus Iniciáticos da S.T.B. e também da
Administração Política: Manu, o Legislador; Yama, o
Executor; Karuna, o Julgador; e finalmente Astaroth,
termo que indica a perfeita Consciência, o princípio Coordenador e igualmente
Moderador.
Os
três Graus da Ordem do Santo Graal representam tanto as Leis Divinas como as
Terrenas, portanto, o equilíbrio perfeito das coisas. Por isso, o homem que
chegar a alcançar o 4.º Grau da Ordem do Santo Graal ( o Grau Real e não o
Simbólico, evidentemente) é digno e capaz de arcar com todas as
responsabilidades da vida, inclusive a de governar seja o que for, a começar
pelos destinos da Pátria[18].
Os
três Graus Iniciáticos fundamentais das duas Instituições que analisamos,
formam a base dos conhecimentos que um homem deve ter para, numa quarta etapa,
assumir o seu papel na sociedade. Astaroth, na Maçonaria,
corresponde tanto aos altos Graus como à Venerança.
Como
estamos vendo, a Teosofia e a Maçonaria se completam, ou melhor, se fundem em
uma só, porque ambas representam no Mundo Humano o eco das vozes dos Adeptos
que vivem no seio das verdadeiras Fraternidades Secretas, como Guias e
Instrutores ocultos da Humanidade. Elas são, portanto, a ponte que conduz o
Homem ao outro lado da Vida, isto é, ao Mundo da Verdade ou do Espírito[19].
Novo
Esplendor Divino na Terra
De
muita importância são os conhecimentos teosóficos para os maçons, pois com
esses podem compreender a simbologia dos seus templos e ritos, assim como muito
proveito têm os teósofos em conhecer a Maçonaria, pois poderão dar mais
objectividade e força aos seus conhecimentos.
GRANDE
OCIDENTE E GRANDE ORIENTE
O
Professor Henrique José de Souza, profundo conhecedor da Sabedoria Iniciática
das Idades e incansável batalhador em prol da Fraternidade Humana, expressou
por várias ocasiões a necessidade da união dos ideais das duas Instituições que
estamos analisando: a Sociedade Teosófica Brasileira, portadora da Missão
dos Sete Raios de Luz para a América do Sul, conhecida também por Missão
Y no seu aspecto mais abrangente e relacionado ao advento das sexta e
sétima sub-raças (da quinta Raça-Raiz) nas Américas do Norte e do Sul, e a
Maçonaria, que sempre combateu a ignorância, trabalhando pela liberdade, o
triunfo e a vitória da razão, contribuindo em todas as épocas para a
implantação da fraternidade entre os homens e a evolução dos povos.
A
Ordem do Santo Graal, como complemento da S.T.B. e como Grande Ocidente que se
tornou para melhor desenvolver as suas finalidades, manteve relações com o
Grande Oriente (denominação dada à Grande Loja Maçónica, onde são celebradas as
reuniões e de onde emanam os seus decretos) a fim de se lograr uma efectiva
conscientização do povo brasileiro quanto ao seu futuro destino e
responsabilidades no panorama mundial. Comprovando o que dizemos, damos a
palavra a Henrique José de Souza:
“Cumpra-se
a Lei que a tudo e a todos rege. Quem melhor nos poderia julgar era a
Maçonaria, principalmente se tivesse lido com os olhos do Espírito o capítulo
que lhe dedicamos em nossa obra Ocultismo e Teosofia, quando
dissemos: a flor de acácia não deve mirrar nos túmulos dos nossos antepassados.
Os de hoje tudo devem fazer para que a mesma floresça na Terra, pois a ela o
mundo inteiro muito deve… Por isso mesmo, a nossa referida Mensagem intitulada Dies
Irae [20] não incluía o
respeitabilíssimo nome da verdadeira Maçonaria, à qual prestaremos sempre o
nosso apoio quando de nós precisar. A hora é das mais dolorosas. E faz jus ao
construtivo termo “unamo-nos para resistir”, em oposição ao destrutivo
“dividamos para governar”.
“Entre
o Grande Oriente e o Grande Ocidente não há nenhuma diferença, como possam
julgar os não Iniciados nos Grandes Mistérios, inclusive o dos vários Ciclos em
que é repartida a Vida Universal e, consequentemente, a manifestação dos
Avataras.
“Sim,
os Dois caminharão juntos sob a égide do Supremo Arquitecto. Pelicano e Pomba
do Espírito Santo, mais que nunca, são Avis raris in Terris… O
Grande Oriente mantém a Tradição do Passado. O Grande Ocidente mantém a do
Presente, projectando-se no Futuro[21].
“Conhecendo-se o
Passado, trabalharemos conscientes no Presente para construirmos o Futuro!”
Professor
Henrique José de Souza em seu Retro-Trono de Agharta
O que vimos até
aqui expondo é mais que suficiente para avaliarmos o que o fundador da
Sociedade Teosófica Brasileira pensava da Maçonaria e da Teosofia, e o que
significam estas duas Instituições em relação à Missão Y para
o Brasil e a América do Sul. Estes conhecimentos constituem os ideais que
inspiram as mentes daqueles que participam das fileiras da S.T.B., o que levou
Henrique José de Souza a sugerir e recomendar a fundação de uma Loja Maçónica,
como passaremos a relatar.
A LOJA PIONEIRA
“ESTRELA DO OCIDENTE”
Três Mestres
Maçons, desejosos do engrandecimento espiritual da Humanidade e conhecedores
dos mistérios que envolvem a Missão Y, decidiram fundar uma Loja Maçónica de
carácter espiritualista, onde seriam desenvolvidos trabalhos de importância
para a sociedade brasileira[22].
Incentivados pelo
Professor Henrique José de Souza, os maçons integrantes da S.T.B. formariam uma
Loja que seria o corpo de uma importante missão para o povo brasileiro.
Os conhecimentos
teosóficos relativos à Missão Y seriam vertidos nos modelos maçónicos, de forma
a serem conhecidos por todas as Lojas do território nacional. O Professor, como
era chamado, orientaria os maçons que estavam fazendo a ponte entre a S.T.B. e
a Maçonaria, fornecendo as instruções necessárias aos trabalhos.
Afirmava que a
Maçonaria estava vivendo das tradições dos grandes feitos do Passado e que se
encontrava sem uma missão específica na época, mas que tinha função no Mundo
por muito tempo. Era um corpo pronto para o Espírito habitar na hora que fosse
preciso; e que os Irmãos Maçons se preparassem, pois assim que a Loja estivesse
trabalhando a missão chegaria até eles.
A Loja Estrela
do Ocidente seria o corpo, para a S.T.B. ser o cérebro. Iria difundir
a Missão Y pelo Brasil através de todas as Lojas Maçónicas, e assim o povo
brasileiro tomaria consciência dessa. A Maçonaria não deveria esmorecer neste
final de Ciclo de Piscis, pois muito teria a fazer para o Novo Ciclo de
Aquarius.
Os preparativos
foram sendo feitos e participados ao Professor, que sempre completava as ideias
com detalhes históricos e esotéricos de grande valor.
Foi escolhida uma
data singular para a fundação da Loja Simbólica Estrela do Ocidente:
28 de Setembro de 1962. Esta data é de muita significação para a S.T.B., por em
28 de Setembro de 1921 ter ocorrido a sua Fundação Espiritual em São Lourenço,
Minas Gerais.
Uma nova Estrela
vinha brilhar nos céus do Ocidente, difundindo a Luz da Espiritualidade.
Em São Paulo, na
Rua Conselheiro Crispiniano n.º 344, 2.º andar, conjunto 205, sala 1, Edifício
JB, escritório do Doutor Raul Fernandes Cruz, Instrutor da S.T.B. e Mestre
Maçom, é fundada a Loja Simbólica Estrela do Ocidente por 12
Mestres Maçons (12 signos do Zodíaco, 12 Apóstolos, 12 Cavaleiros da Távola
Redonda, etc.), dentre eles Álvaro Solon Coelho e Ludgero Borges, membros da
S.T.B., auxiliados pelo Doutor Raul Fernandes Cruz.
A Loja adotou
como Patrono o Professor Henrique José de Souza, por ser o seu Fundador
Espiritual ou Mentor, como sendo o 13.º membro ou o Sol que percorre as doze
casas zodiacais.
Loja Maçônica Estrela
do Ocidente
Assim foi
constituída a Loja: Ven∴
Mest∴
Álvaro Solon Coelho M∴
M∴,
1.º Vig∴
Olímpio Gomes Marinho M∴
M∴,
2.º Vig∴
Silvio Rubini M∴
M∴,
Orad∴
Ludgero Borges M∴
M∴,
Secr∴
Nadir de Oliveira M∴
M∴,
Tes∴
Alberto de Souza Bauk M∴
M∴,
Chanc∴
José Lanzone M∴
M∴,
Hosp∴
Carlos Piva M∴
M∴,
Mest∴
de Cer∴
Kamel Madi M∴
M∴,
1.º Diac∴
Damião Rodrigues M∴
M∴,
1.º Exp∴
Ivan Neiva Neves M∴
M∴,
Cobr∴
Oscar Cerqueira Cesar M∴
M∴
As iniciais dos
nomes dos 12 fundadores da Loja foram assim analisadas:
1.º) Konj
Sodiacal ou Koni Zodiacal, sendo o triângulo gerado pelas constelações, ou a
Divindade sendo gerada, alimentada pelos 12 membros. Koni, do grego konos,
significa sólido gerado por um triângulo rectângulo. Zodiacal é relativo ao
Zodíaco, que é uma faixa ou zona circular no céu tendo por centro o plano da
eclíptica e que contém as 12 constelações que o Sol percorre em um ano ou 12
meses;
2.º) Locas do Jakin
ou lugar do Verbo Divino, ou o lugar da manifestação do Verbo Divino. Locas, do
latim, significa lugar, e Jakin, da Coluna J a que já nos referimos, é a
Palavra Sagrada que quer dizer Verbo Divino Manifestado.
A Sociedade
Teosófica Brasileira ofertou um valioso presente à Loja: o Delta Sagrado,
desenhado por H. J. Souza, possuindo o símbolo de Aquarius, do Novo Ciclo que
estamos adentrando, encimado pelo Olho que a tudo e a todos vê.
Delta Sagrado da
Loja Maçônica Estrela do Ocidente
O estandarte da
Loja foi preparado tendo por base as orientações do Professor Henrique José de
Souza. Analisemos sinteticamente a simbologia do estandarte da Loja Estrela
do Ocidente:
O estandarte,
segundo o Dicionário de Maçonaria de Joaquim Gervásio de Figueiredo,
33.º, é uma insígnia usada pelas Lojas Maçônicas para figurar em suas sessões e
servir-lhe de bandeira ao representar-se em algumas solenidades. É assim a Loja
dedicada à Glória do Grande Arquitecto do Universo, geralmente expressando em
seu estandarte o carácter do trabalho ou tónica que a Loja possui.
As cores
utilizadas para a confecção do estandarte são as três cores primárias: amarela,
azul e vermelha. Estas cores estão relacionadas, segundo a Filosofia Oriental,
às três Gunas, qualidades ou atributos da Matéria Universal: Satva,
a Inteligência, Rajas, a Emoção, Tamas, a Inércia ou
Matéria bruta, ou ainda, o Espírito, a Alma e o Corpo.
As duas Colunas
do Templo de Salomão, J e B, que temos comentado, representam os dois Caminhos
da Vedanta: Jnana, o Conhecimento, e Bhakti, o Amor, a
Devoção, além de outras correlações. Sustendo pelas colunas está um triângulo
com as letras da palavra PAX inscritas, também em forma triangular, entre as
hastes de um Y. Sebemos que PAX não só significa o vocábulo latino paz,
mas também, do sânscrito, a suprema comunhão de pensamento, viver a
Vida Una. O Y denota a ligação com a Missão Y que abrange as duas Américas do
Norte e do Sul, para o desenvolvimento espiritual desses povos no advento das
sexta e sétima sub-raças da Raça Ariana. O Y representa também os dois Caminhos
da Vedanta a que já nos referimos, bem como as duas sub-raças a se encontrarem
num só ramo sintético.
Dentro do
“Templo” formado pelas colunas e o triângulo superior está o Delta Sagrado,
emblema da Divindade, contendo o Olho que tudo vê. Os egípcios representavam
Osíris com um Olho aberto, que jamais dorme, figurando a Omnisciência do
Supremo Arquitecto. Além desse Olho, temos a representação do signo de
Aquarius, formado por dois “MM” superpostos dos Mestres Maçons que trabalham
pela Era de Aquarius.
Estandarte da
Loja Maçônica Estrela do Ocidente
Entre as colunas
do “Templo” dedicado à Suprema Divindade Aquariana temos a Estrela de Salomão,
com um 7 no centro ou ainda a letra hebraica iod, que também
simboliza a Divindade. A estrela de seis pontas representa a união do Espírito
com a Matéria. Deus manifestado no Universo. Da Divindade Una surgem o Espírito
e a Matéria… Da estrela saem sete fulgurantes raios, a representar os 7
Dhyan-Choans saídos da Tríade Primordial – Divindade, Espírito, Matéria.
Ladeando, temos o
Sol e a Lua. O Sol com os seus 32 Raios e a Lua tendo como fundo o Cruzeiro do
Sul. Os 32 Raios da sabedoria, do Conhecimento, haja visto o Sol estar sobre a
Coluna J, e a Lua representando a Emoção, o Amor, etc., sobre a Coluna B.
A faixa superior
com o Ex-Occidente Lux reconhece que a Luz vem do Ocidente, ao
invés do Oriente, ou ainda que os Pólos espirituais transladaram-se do Oriente
para o Ocidente, trabalhando em prol da Missão Y nas Américas, palco onde se
desenrola o desenvolvimento das raças futuras.
Por baixo das
colunas estão o nome da Loja, a sua data de fundação, cidade e país.
O esquadro e o
compasso formam o hexágono no plano inferior, o Eu Superior do Homem e o seu Eu
Inferior; o esquadro do Eu Inferior deve ser alinhado pelo compasso do
Espírito. Representam também os veículos do Homem, que são sete, em evolução.
Na parte inferior
temos o LPD, as misteriosas iniciais que são uma chave cabalística adoptada
pelos Adeptos. Cagliostro, Grão-Copta da Maçonaria Egípcia, trazia no peito um
emblema donde refulgia a famosa frase Lillium Pedibus Destrue, pois
com a destruição da Flor-de-Lis dos Bourbons adviriam proveitos materiais e
espirituais para a França e o Mundo. A Revolução Francesa, além de um Movimento
político foi também de ordem cultural e espiritual, cujo Chefe, possuidor do
nome Lorenzo Paolo Domiciani, tinha por escudo o incompreendido Cagliostro, que
adoptava por pseudónimo o nome José Bálsamo. O primeiro não é outro senão o
Conde de Saint-Germain, que é o mesmo Rei do Mundo ou Melkitsedek… e paremos por
aqui.
A Loja Estrela
do Ocidente deliberou entregar aos maçons fundadores o título deFundador,
acompanhado de uma medalha comemorativa da fundação. Entregou também títulos e
medalhas, tais como: Fundador Benemérito, ao Grão-Mestre do Grande
Oriente de São Paulo; ao Dr. Raul Fernandes Cruz, da S.T.B. e Mestre Maçom; ao
Sr. Ary Telles Cordeiro, Presidente da Rama Cruzeiro do Sul da
S.T.B. Fundador Honorário ao Sr. Mário Paziente, Instrutor da
S.T.B., e a diversas autoridades maçónicas. Fundador Espiritualao Professor
Henrique José de Souza, Grão-Mestre da Ordem do Santo Graal e Presidente da
S.T.B.
Porém, o tempo
corre mais que os homens e não foi possível homenagear em vida Àquele que tanto
significou para a Loja. No dia 9 de Setembro de 1963, o Professor Henrique José
de Souza cerrou os olhos deixando este Mundo em troca de outro, onde continua a
cumprir a sua Missão em pról da Evolução Humana, da Paz e da Justiça no Mundo.
Nesse dia,
durante as solenidades fúnebres que se realizavam no Templo da Sociedade Teosófica
Brasileira em São Lourenço, Minas Gerais, foi entregue a medalha e o título à
viúva, Dona Helena Jefferson de Souza.
A Folha
do Povo, jornal de São Lourenço, em edição especial noticiou:
“De São Paulo, da
Loja Maçônica Estrela do Ocidente, veio a comenda Estrela
do Ocidente (Mentor), cujo diploma respectivo traz a assinatura do Ven∴ Mestre Álvaro
Solon Coelho, os quais deveriam ter sido entregues ainda em vida ao Professor
Henrique José de Souza, sendo deles portador o Ven∴ Ir∴ Raul F. Cruz,
que com breves palavras os entregou à viúva.”[23]
Transcrevemos a
seguir a homenagem da entrega da comenda:
“Dona Helena
falou: “O Dr. Cruz é um enviado da Maçonaria. Ele foi incumbido pelos maçons de
oferecer uma comenda, uma medalha da Maçonaria ao meu marido, o Professor. Mas,
infelizmente, não deu tempo. Ele, então, neste momento entregará um diploma de
honra, que depois eu guardarei como uma grande recordação de uma homenagem post-mortem”.
“A seguir falou o
Dr. Raul F. Cruz:
“Este diploma
foi-me incumbido hoje pelo V∴
Mestre da Loja de ser o portador, porquanto todos da Maçonaria de São Paulo
reconhecem em nosso Mestre o seu Dirigente máximo. Assim, a Loja Estrela
do Ocidente, recém-fundada, aliás, para ser preciso, fundada a 28 de
Setembro de 1962, no ano passado, em São Paulo, esta Loja se propôs ser o corpo
físico de tudo quanto o nosso Mestre ensinou, pregou e recomendou que fosse
feito junto à Humanidade. Esta Loja conferiu ao Professor Henrique José de
Souza este diploma de mérito onde se lêem, além dos nomes de todos os
fundadores, as seguintes palavras: Via Veritas Vita.
“E para gozar dos
direitos e regalias, é expedido o presente título, assinado pelas Luzes, ao
Fundador Irmão Professor Henrique José de Souza, que também recebe a respectiva
medalha Estrela do Ocidente, de Fundador.
“Dado e traçado na sessão desta Augusta e
Respeitável Loja aos 27 dias do mês de Julho do ano cinco mil novecentos e
sessenta e três da V∴
L∴
“Entrego o
diploma e a medalha a Dona Helena.
“A Loja se propõe
a estender esse movimento começado pelo Professor Henrique José de Souza por
todo o Brasil.”[24]
Tanto
a medalha como o título encontram-se actualmente no Museu do Templo da
Sociedade Teosófica Brasileira, em São Lourenço, Minas Gerais.
Como
recordação e homenagem ao Professor Henrique José de Souza, a Loja Estrela
do Ocidente mantém desde a sua fundação um trono vazio. A respeito do
trono vazio, adoptado tanto pela S.T.B. como pela Loja Estrela do
Ocidente, o facto liga-se à tradição que remonta aos Mistérios Egípcios,
conforme nos relata Manly P. Hall em sua obra Orders of the Quest:
“Um
dos rituais anuais dos Maniqueístas (seguidores de Manes, que fundou uma
doutrina no século III na Pérsia) era celebrado para comemorar a crucificação
do Profeta. Consistia em colocar uma cadeira ou trono numa plataforma de 5
degraus. Aqueles membros da Ordem que se tinham purificado para a ocasião
ajoelhavam-se diante dessa cadeira vazia, que simbolizava o “Mestre Invisível”
da sua religião. Esta cadeira vazia é reminiscência do Trono Vazio de Osíris,
do Ritual de Iniciação egípcio. Os seguidores de Manes eram chamados de os
“Filhos da Viúva”, e o fundador era referido como o “Filho da Viúva”. Hórus, o
Deus-Salvador dos Mistérios Osíricos do Egipto, era o “Filho da Viúva”. Ele foi
concebido após a morte de Osíris por seu Espírito Santo. O fantasma de Osíris
cobriu a sua esposa-irmã Ísis, que havia se vestido como viúva para lamentar a
morte de seu marido. Hórus, tão estranhamente e imaculadamente concebido, foi
destinado a tornar-se o “Herói do Mundo” e o vingador de seu Pai. De facto,
acredita-se que Hórus fosse possuído pelo Espírito de seu próprio Pai. O
hieróglifo de Osíris é o Olho que tudo vê, combinado com o Trono Vazio. Ísis é
a Virgem do Mundo, que engendra a divina Criança sem perder a virgindade. É a
Tradição Esotérica, que dá nascimento aos Adeptos pelo mistério do Espírito.”
Como
podemos notar, os Mistérios do Cristianismo Primitivo, como os da Maçonaria,
remontam a muitas Eras.
Trono
Vazio de JHS no Museu do Templo de São Lourenço, Minas Gerais
Além
do Trono Vazio, a Loja Estrela do Ocidente mantém uma
fotografia do Professor na sala que antecede a entrada no Templo Maçônico da
Loja, que se chama Templo Ocidente.
NOVAS
LOJAS: “GRAAL DO OCIDENTE” E “CAVALEIROS DO OCIDENTE”
Completando
o trabalho de desenvolvimento da expansão da Filosofia Teosófica, outra Loja Maçônica é formada em São João Del Rey, Minas Gerais, no centro da Brasilidade
cultuada pelos Inconfidentes: a Loja Graal do Ocidente, fundada em
21 de Abril de 1967, tomando por Patrono o Tiradentes.
Outra
Loja vem formar a tríade de divulgação da Doutrina Teosófica, a Loja Cavaleiros
do Ocidente, fundada em 7 de Setembro de 1971.
As
três Lojas possuem funções específicas e complementares, onde a Estrela
do Ocidente, qual Pilar da Sabedoria, representa a parte filosófica do
Conhecimento Teosófico; a Cavaleiros do Ocidente, qual Pilar da
Força, representa os protetores da Doutrina Teosófica, enquanto a Graal
do Ocidente, qual Pilar da Beleza, empenha-se na comunhão espiritual da
comunidade maçónica. Correspondem aos Goros, Arqueiros e Cavaleiros da Ordem do
Santo Graal.
Uma
quarta Loja veio sintetizar esse esquema, qual Olho do Triângulo, a Loja Ypiranga,
uma das primeiras Lojas de São Paulo, fundada em 15 de Junho de 1847, tendo
sido visitada por D. Pedro I quando ainda era o Clube Pátria.
Interrompeu as suas atividades em 1936, vindo a ser reerguida em 21 de Abril
de 1977 por 21 Mestres Maçons.
Podemos
ainda comparar essas quatro Lojas às quatro Ordens derivadas ou complementares
que compõem a Ordem do Santo Graal.
CONCLUSÃO
Para
finalizar este trabalho, nada melhor do que as palavras de Henrique José de
Souza:
Os Grandes Seres que dirigem o destino da
Humanidade, principalmente Aquele que se acha à frente da Grande Obra para a
América Latina, servem-se de todos os grandes centros de actividade
espiritualista. A Maçonaria será talvez a que maiores serviços prestará à Causa
que nos empolga, porém… já está entendido, passando pela grande reforma de que
se vem ressentindo há tanto tempo.
Mister se faz que o “Ramo da Acácia” de todos os
Tempos não venha a secar sobre os túmulos gloriosos dos seus antepassados!…
Os Tempos são chegados, Ir∴, e Hiram vai ressuscitar dentro
de cada um daqueles que quiserem imitar o eterno gesto do Supremo Arquitecto:
construir, edificar coisas belas e perfeitas para a Grande Obra do Humanidade…
Maçons e Teósofos, uni-vos! Uni-vos na verdadeira Fraternidade, para
construirmos um Brasil digno de ser o Berço da Nova Civilização, a Nação
portadora da Espiritualidade para a Nova Era!…
NOTAS
[1] Estatutos da Sociedade
Dhâranâ, Cap. I, Art. 1.º, publicado na revista Dhâranâ, número
especial de apresentação, Agosto de 1925, pág. 25.
[2] A Missão dos Sete Raios
de Luz, Henrique José de Souza, Dhâranâ n.º 8 a 12, págs.
9 e 10, 1926.
[3] Missão de Dhâranâ,
H. J. Souza, Dhâranâ n.º 13 a 17, 1927.
[6] Sobre o assunto,
consulte-se a obra do Doutor Mário Roso de Luna, Una Martir del Siglo
XIX – Helena Petrovna Blavatsky, onde nos fala que tanto H. P. Blavatsky
como Henry S. Olcott, os fundadores da Sociedade Teosófica, eram maçons. HPB,
ainda, foi reconhecida como sendo do Grau 33 pela Maçonaria Inglesa, porém
refutou tal qualificação esclarecendo que só tinha experiência na Maçonaria Oriental,
embora não desconhecesse a Maçonaria Ocidental.
Basta
manusearmos a sua obra máxima, A Doutrina Secreta, para notarmos as
inúmeras referências à tradição maçónica. Na mesma obra de Roso de Luna, H. S.
Olcott confidencia que “a maior desgraça que pesou sobre a Sociedade Teosófica
desde o seu nascimento foi o facto de não ter sido organizada maçonicamente, ao
tom das sábias e constantes tradições do Passado”. A falta de graus e
hierarquia trazia profundos prejuízos à S.T. e era necessário transformá-la em
uma Sociedade Secreta, com a instituição de sinais de passe, etc. Notamos que
Henrique José de Souza era conhecedor deste facto e não deixou de dar um
carácter maçónico à S.T.B., como vimos analisando.
Não
devemos confundir a Sociedade Teosófica Brasileira com a Sociedade Teosófica no
Brasil, Ramo da Sociedade Teosófica fundada em New York em 17 de Novembro de
1875 por H. P. Blavatsky e H. S. Olcott e que foi transferida para Adyar,
Madras, na Índia, em 3 de Abril de 1905.
Henrique
José de Souza participou de uma Loja Teosófica filiada à S.T. de Adyar,
denominada Alcyone, tendo o mesmo H.J.S. fundado a 1.ª Loja da S.T.
no Brasil.
As
Lojas Teosóficas necessitam da autorização da S.T. para trabalhar, através da
emissão de uma Carta Constitutiva. Este procedimento vem demonstrar
que a S.T. passou a ter uma estrutura eminentemente maçónica.
Interessante
ainda de se notar é que actualmente no Brasil temos duas Instituições
difundindo a Teosofia; e a Maçonaria está também se desenvolvendo em dois tipos
de Potências: Grandes Lojas e Grande Oriente.
[7] Contribuições para a
Futura História da Sociedade Dhâranâ, António Castaño Ferreira (Dhâranâ n.º
18 a 20, pág. 15, 1927).
[8] O Rei do Mundo no centro e
os dois Ministros nas extremidades formam a Tríade principal do Governo Oculto
do Mundo. Deste mistério saíram as duas Colunas do Templo de Salomão, até hoje
adoptadas pela Maçonaria, embora esteja bem longe de saber, com exactidão, o
verdadeiro significado dos seus símbolos. Uma Coluna de Ouro ou Solar, e outra
de Prata ou Lunar. Na Vedanta são os dois Caminhos: Jakim ou Jnana,
Conhecimento, Iluminação, etc., e Bohaz ou Bhakti,
Devoção, Mística, Amor, mas em verdade, Justiça. A expressão, portanto, do
mesmo Rei Salomão: Justo e Sábio. O Grão-Mestre, nas Sociedades Secretas,
representa o terceira Caminho da Vedanta, que é o deKarma. Por isso,
toma lugar entre as duas Colunas. É ainda a haste central da Balança, cujas
conchas de Sabedoria e Justiça devem estar equilibradas, sob pena de não ser um
Adepto ou Homem Perfeito (Dhâranâ n.º 110, pág. 4, 1941).
[9] Kunaton ou Amenophis IV
foi, pois, a origem de todas as associações verdadeiramente espiritualistas até
hoje existentes no Mundo. Possuía dois Ministros ou “Colunas”, com os nomes
egípcios Morirá, como sumo sacerdote, e Mirtabá, na administração e justiça do
país. Os dois Ministros do Rei do Mundo ou Melkitsedek são Mahima e Mahinga. Em
certo rito maçónico egípcio, tal Trindade é representada pelos nomes Memphis,
Misraim, Maisim. É de se nota a coincidência da letra “M” para tais cargos (Dhâranâ n.º
110, pág. 66, 1941).
[10] Contribuições para a
Futura História da Sociedade Dhâranâ, António Castaño Ferreira (Dhâranâ n.º
18 a 20, pág. 15, 1927).
[11] Estatutos da Sociedade
Teosófica Brasileira (Dhâranâ n.º 29 a 36, pág. 90, 1928).
[12] Em 1952, 33 místicos
cristãos, piedosamente reunidos em assembleia e com o pensamento no Redentor da
Humanidade e nos seus Divinos Mistérios, resolveram fundar uma instituição que
veio completar o trabalho da S.T.B.: a Ordem do Santo Graal. Desde
1921, a Ordem se mantinha de modo esotérico, passando em 24 de Junho de 1952 à
condição de Ordem de carácter místico e hierático, com o fim de estabelecer um
círculo de estudos sobre a tradição antiga do Cristianismo e da Sabedoria
Antiga, além de trabalhar pela Fraternidade entre todos os homens, segundo os
ensinamentos de Cristo (Luzeiro n.º 8/9, pág. 96, 1953).
[13] A S.T.B. e o Ano de 1956 (Dhâranâ n.º
9/10, pág. 179, 1955).
[14] Dhâranâ n.º 37
a 48, pág. 135, 1929.
[15] A Eterna Tradição,
H. J. Souza (Dhâranâ n.º 3, pág. 59, 1954).
[16] A Minha Mensagem ao
Mundo Espiritualista, H. J. Souza (Dhâranâ n.º 73/74, pág. 126,
1932).
[17] Explicações necessárias,
H. J. Souza (Dhâranâ n.º 77, pág. 206, 1933).
[18] Ordem do Santo Graal,
H. J. Souza (Dhâranâ n.º 15/16, pág. 268, 1956).
[19] A Minha Mensagem ao
Mundo Espiritualista, H. J. Souza (Dhâranâ n.º 71, pág. 43,
1932).
[20] Dies Irae, Laurentus
(Dhâranâ n.º 13/14, pág. 250, 1956).
[21] Ordem do Santo Graal,
H. J. Souza (Dhâranâ n.º 15/16, pág. 268, 1956).
[22] A matéria aqui apresentada
é fruto das entrevistas realizadas pessoalmente com os senhores Álvaro Solon
Coelho, Ludgero Borges e Raul Fernandes Cruz.
[23] Folha do Povo,
edição especial de 11 de Setembro de 1963, São Lourenço, Minas Gerais.
[24] Acta do Ritual realizado
no dia 9 de Setembro de 1963, no Templo da Sociedade Teosófica Brasileira,
em São Lourenço, Minas Gerais.
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Offon A Maçonaria e a Teosofia – Por Alberto Henrique da Cruz Feliciano
FONTE: LUSOPHIA
FONTE: LUSOPHIA
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