Por Vitor Manuel Adrião (*)
É praticamente certo que na temática
sobre a Ordem dos Templários o assunto mais propício a desencadear teorias e
opiniões fantásticas e fantasistas, tanto lúdicas como positivistas, afirmativas
ou negativas, por norma quase todas desencontradas entre si, será a do seu
pressuposto tesouro. Sobre este, já consultei e li alguns milhares de páginas
de centenas de autores com uns negando abertamente a sua existência e outros
abertamente afirmando que existiu, ainda assim ambas as facções manifestando a
carência de provas efetivas confirmatórias das suas opiniões assertivas. Em
ambos os casos acaba ressaltando a nota comum: incerteza quanto à existência do
tesouro dos Templários, e mesmo que tivesse existido o que seria ele realmente?
Bens pecuniários, móveis e imóveis, saberes ocultados, mistérios encriptados, o
que teria ele sido, se alguma vez foi?…
A verdade indesmentível é que os
Templários eram fabulosamente ricos, indo os dízimos e doações de todas as
Províncias parar à casa-forte do Templo em Paris, assim como os dinheiros
confiados por reis, bispos e nobres à grande banca que a Ordem também foi. É
igualmente indesmentível que a Igreja de Roma e a Coroa de França só
conseguiram, após a extinção da Milícia, apropriar-se de parte dos seus bens
imóveis, mas de nenhuns pecuniários (dinheiro, ouro, prata, jóias, etc.) dos
quais não viu nem um centavo. Onde estava essa fabulosa reserva aurífera?
Quando a tropa do rei Filipe IV invadiu a casa-forte do Templo em Paris, nada
encontrou, pouco menos que paredes nuas. Que aconteceu e como terá acontecido?
Certo é que o monarca francês viu
goradas as suas pretensões de apropriar-se das riquezas do Templo, é facto
comprovado, como também está documentalmente provada a maneira sádica de
através da tortura descarregar a sua fúria nos Templários aprisionados,
tentando a todo o custo extorquir-lhes a confissão do paradeiro das suas
riquezas. Mas ninguém sabia de nada, ou melhor, pouco sabia!… Isso leva a supor
que talvez os Templários, por informações dos seus espiões infiltrados na corte
e na cúria, prevendo a eventualidade da sua prisão eminente, tivessem
antecipadamente feito sair do país os seus bens pecuniários, sabendo que o rei
Filipe os ambicionava, e em seguida esperassem a detenção, entregando-se
pacificamente talvez por acreditarem no julgamento imparcial do papa, seu chefe
supremo e o único a quem deviam prestar contas e obediência. Nisso foram
enganados, pois não foi o papa mas o rei a julgá-los e condená-los à revelia da
autoridade eclesiástica[1].
E o tesouro? Existiu?
Gérard de Sède[2] informa sobre um
texto existente na Biblioteca Nacional de Paris, intercalado nas cartas de
Clemente V, com o título: Aqui estão os nomes dos Irmãos que fugiram (à
prisão decretada pelo rei de França)[3].
Contém a lista de doze dignitários da Ordem e a indicação da direção tomada por
alguns deles, aparecendo os nomes de Hugues de Châlons e de Gérard Villiers,
este “que armou quarenta Irmãos”. Esse documento vem comprovar a
veracidade da declaração feita no final de Junho de 1308 diante do próprio papa
pelo 46.º interrogado, o Templário Jean de Chalon, da igreja de Nemours,
diocese de Troyes. Declarou que na véspera da rusga, a 12 de Outubro de 1307,
viu três carros carregados de palha deixarem, ao cair da noite, o Templo de
Paris conduzidos por Hugues de Chalôns e Gérard Villiers que levavam 50
cavalos. Nos carros estavam dissimulados cofres contendo todo o tesouro do
Grande Visitador de França, Hugues de Pairaud (totum thesaurum Hegenis
Peraldi), e tomaram a direção da costa norte para aí serem embarcados para
o estrangeiro a bordo de 18 navios da Ordem[4].
Tantos
navios supõem uma esquadra fortemente armada pronta para qualquer eventualidade
hostil. Deduzo disso que implicaria a proteção a algo de muito valor, no caso,
a muitos valores…
Gérard
de Sède diz que os fugitivos dirigiram-se com o espólio para Inglaterra. Mas
como a Coroa inglesa hostilizava a francesa e também carecia de bens
necessários para sustentar as despesas das suas campanhas militares contra
França, havia o risco da notícia da presença do tesouro aí suscitar novas
ambições com consequências imprevisíveis para os Templários, pelo que não me
parece ter sido esse o país para onde se dirigiram, apesar de estar mais
próximo por lhes bastar atravessar o Canal da Mancha.
Certamente
prefeririam um país amigo, costeiro, cujo rei perfilhasse do ideal Templário e
onde este nunca seria perseguido, e o único nessas condições era… Portugal.
Parece-me
muitíssimo mais plausível a opinião Maurice Guinguand e Beatrice Lanne[5]quando afirmam
que os fugitivos dirigiram-se para o norte em direção ao Monte de Saint-Michel,
no extremo cabo-mar da Normandia fronteira da Bretanha das anteriores aventuras
iniciáticas e inculcações telúricas do Templo, aí onde se fincou, através dos
Beneditinos do Santuário de Saint-Michel, o culto a Notre-Dame
Sous-Terre (Nossa Senhora Subterrânea, venerada na cripta dessa abadia
românica, terminada em 1084, envolvente do Santuário)[6]. Esses autores
afirmam que na baía do Monte de Saint-Michel aguardavam os fugitivos barcos
portugueses, nos quais foi carregada a preciosa carga (bens e arquivos). Depois
rumaram para Portugal indo desembarcar no bastião portuário da Serra de El-Rei,
propriedade do Templo, daí tendo seguido para Tomar passando por Alcobaça.
Esse considerando é muito interessante e
tem fundamento, como se irá verificar, a começar pela proteção declarada que D.
Dinis deu a quantos Templários fugitivos procurassem refúgio seguro no Reino.
Sendo assim, então o tesouro do Templo
talvez fosse aplicado em Portugal através de uma nova Milícia Templária,
fundada a instâncias do mesmo monarca, ou seja, a Ordem Militar de
Nosso Senhor Jesus Cristo, na diáspora das Descobertas, e daí o
aparecimento súbito da fartura de bens que seriam aplicados, durante mais de
dois séculos, na empresa marítima que tornou Portugal a primeira potência do
mundo. Fartura de riqueza aparecida tão subitamente num país pequeno e pobre,
na altura com pouco mais de um milhão de habitantes, é enigma que até hoje
a historiografia não decifrou.
Os restos do castelo templário da Serra
de El-Rei ainda existem: estão sobre o morro da Vela (e vela de navio…),
defronte para a igreja da Atouguia da Baleia, ainda que o mar que beijou as
suas muralhas tenha recuado do interior cerca de três quilómetros nos últimos
séculos, só deixando como memória a toponímica “Várzea de Fora”, “Quinta dos
Salgados” e “Porto Salgado”. Coevo da Nacionalidade acaso tendo jogado na trama
do ouro do Templo, há dentro do pequeno castelo, bastante desmontado e que é
hoje propriedade privada, um poço de grande fundura que se prolongará, por
alguma galeria subterrânea, ao interior da igreja próxima de São Leonardo
(celebrado em 6 de Novembro), monumento romano-gótico do século XIII com planta
do tipo mendicante, por isso chamado gótico paroquial[7].
A Atouguia (ou atalaia, como porto de
mar avançado disposto na linha defensiva da costa das incursões inimigas,
igualmente entreposto comercial tal qual faziam os antigos fenícios que por
aqui também andaram, e isso não ingerindo no facto deAtouguia ou Touguia ser
corruptela toponímica da latina Tauria, donde Touril e Touro,
o ex-líbris local evocativo das manadas de touros selvagens
que existiam na região) foi doada em 1158 por D. Afonso Henriques ao cruzado
Templário D. Guilherme Corni ou Licorne, francês provindo do Poitou, região da
lenda nobiliárquica da fada Melusina, posteriormente cristianizada
como a apóstola Madalena[8].
Como esse faleceu sem deixar descendência, sucedeu-lhe o seu irmão, D. Roberto
de Licorne, no senhorio e alcaidaria-mor da vila. Na confirmação do foral de D.
Afonso I aos Francos da Atouguia, D. Sancho I reitera em 1187 a doação do lugar
a Guilherme de Licorne, estando presentes como testemunhas à lavra do documento
homens notáveis do Reino, dentre eles o Grão-Mestre Provincial do Templo, D.
Gualdim Pais[9].
A documentação histórica disponível
induz que os primeiros Templários franceses desembarcados em Portugal aportaram
junto à ilha (hoje península) de Peniche, no porto da Serra de El-Rei que
servia o povoado da Atouguia, tudo propriedade do Templo. E que os Templários
fugidos à perseguição no estrangeiro também aqui aportaram, recebendo protecção
imediata.
Mas por que a Atouguia? Porque não outro
porto?
Primeiro talvez por ser esse um porto da
Ordem do Templo relativamente isolado, propício à discrição, e o mais próximo
de Tomar, onde estava a sua Sede peninsular, e depois por os Templários também
terem aqui exploração aurífera de várias minas abertas outrora pelos fenícios e
depois pelos romanos, de que há vastos vestígios na região e recolha
arqueológica abundante exposta no Museu Municipal de Peniche, cidade com
primazia política sobre este lugar e cuja origem andará ligada à própria
Fenícia[10], mesmo que na
época não passasse de uma ilha cuja importância estratégica, política,
económica e militar coubesse ao Porto da Atouguia da Baleia (onomástico este
oriundo da caça à baleia que se fez até muito tarde ao longo da costa local,
conservando-se vestígios do facto em ossadas da mesma dentro da própria igreja
de São Leonardo, deixando o subentendido do evoco bíblico de “Jonas e a
baleia”, que aparece com toda a clareza retratado em azulejos na igreja
paroquial da Nazaré próxima).
Em França, os Templários chegaram mesmo
a mandar vir da Germânia mineiros e fundidores que trabalhavam em segredo,
formando uma colónia isolada e estreitamente vigiada, num local denominado Les
Charbonnières, enquanto em Portugal o porto da Serra de El-Rei está próximo
do Cabo Carvoeiro. Tratar-se-á do mesmo lugar e de uma truncagem
documental posterior, de maneira a afastar as atenções desta parte de Portugal?
Apesar da carência documental não acredito no simples acaso ante tanto caso a
ver aqui exclusivamente com o Templo, este que já no reinado de D. Sancho I
possuía “não só uma marinha de comércio mas também de guerra, devidamente
organizada”, segundo Jaime Cortesão[11], e que o almirante-mor da
Marinha de Guerra Templária, D. Fuas Roupinho, era natural e donatário de
Óbidos, distado escassos 20 quilómetros da Atouguia.
A reforçar tudo isso, tem-se que o Orago
da Atouguia é São Leonardo (nome de raiz Leo, o Leão que como 5.º
signo se associa ao Sol e ao mais nobre metal, o ouro),
precisamente padroeiro dos prospectores de ouro, e no pórtico de entrada na sua
igreja tem-se à direita as figuras de dois touros defronte para dois leões
coroados, à esquerda. Representam a pujança (touros) e a riqueza (leões), além
de expressarem o Poder Real ou Soberano do Espírito (os mesmos leões coroados) impondo-se
à Força Fecundante da Matéria (os mesmos touros), assim se transformando os
esculpidos em mensagem indicadora da fecundação tanto do corpo como sobretudo
da alma, sinal de castidade (agnus castus) ou iluminação interior, fonte
de toda a riqueza. Esses mesmos cornúpetos olham o castelo dos Templários mais
adiante, e com isso acode-me à memória aquele dito enigmático do Hermetismo:
“Para onde olha o touro está o tesouro”!
“Para onde olha o touro está o tesouro”. Capitéis das colunas exteriores da igreja de S. Leonardo da Atouguia (século XIII) |
Touro esse, patente no brasão desta
vila, aceite como símbolo de energia vital e fonte de fertilidade entre os
povos primitivos, pelo que participa, tal como os outros animais cornudos porém
representando-os a todos, de todos os tipos de cultos. O taurobólio –
que veio a ser vulgarizado nas já profanas touradas, e há neste
lugar um “touril” que foi usado por D. Pedro I – acaba sendo o sacrifício da
Era de Taurus, a imolação da Divindade às mãos do Homem que almeja alcançar o
Seu poder e significado celeste[12].
Pelo que também e fundamentalmente esse
será tesouro espiritual, ou seja, a Gnosecomo a mesmíssima Teosofia na
versão e entendimento medieval da mesma, o que se assinala dentro desta igreja
no baixo-relevo do século XIV representativo da “Natividade”, que já foi
frontão de altar e originalmente oferecido à Rainha Santa Isabel: vê-se
nele a Virgem deitada entregando um livro ao Menino sentado no seu ventre,
passando-se tudo sob o olhar atento de São José sentado numa coluna e apoiando
as mãos num tau, desta maneira assumindo-se como Arche-Tekton ou
Grande Arquitecto. O Livro ou Missal será o da Sabedoria Divina que nasceu
do ventre ou seio da Mãe Soberana, feito assim indicativo de Iniciação Mariana
ou Cavaleiresca cujo melhor Cavaleiro será o Infante Divino, o Galaaz ou Cristo apresentando
na sinistra o pomo de ouro, indicativo edénico da Árvore da Vida e da
Sabedoria, logo, sinal de Mistério ou Mistérios que a Cristandade medieval
tomaria posse pela Ordem do Templo e os Monges-Construtores, os nóveis Ioses ou
“Josés” dando nascimento a um novo ciclo de cultura e espiritualidade na
civilização ocidental.
Escassos quilômetros adiante da Atouguia
da Baleia está a aldeia da Serra de El-Rei (D. Pedro I), com a sua igreja paroquial consagrada a São Sebastião, onde aparece numa
pintura em madeira a figura magistral de Melki-Tsedek, o maior dos Soberanos no
culto Templário e Cisterciense do Mosteiro de Alcobaça que trazia este lugar
incorporado nos seus bens[13].
Com efeito, essa pintura em caixotão de madeira (século XVII) está sobre o
vestíbulo de entrada na igreja de São Sebastião da Serra de El-Rei,
edifício com a particularidade de ter pertencido à Ordem do Templo, vendo-se
no seus cunhais exteriores marcos com o selo páteo da Cruz
Templária dispostos nos quatro pontos angulares formando o quadrado
da terra, constituindo a raiz do edifício como exemplar raro
sobrevivente da primitiva arquitetura assente na geometria sagrada,
cujos artífices afiliados em corporações operativas, apadrinhadas e protegidas
pelo Templo, eram tanto construtores como monges (sobretudo beneditinos e
cistercienses). Na pintura em questão, a figura régia coroada junto à
árvore seca aspada, indica o Céu com o indicador direito e a Palavra com o
indicador esquerdo, assinalada no Livro dos Salmos (118,
“Elogio da Lei”, e 119, “Cântico das Ascensões”) e num letreiro escrito em
latim remetendo para o Salmo 31. Este Salmo 31 atribuído
ao rei David – pressupostamente retratado na pintura mas aqui «nacionalizado»
como pai de uma Nova Ish-Ra-Elli (Israel) sefardita em solo
lusitano aclamado Terra do Soberano Universal, donde o epíteto e identificação
pictórica da peça a Melki-Tsedek, “Rei de Salém e Sacerdote do
Altíssimo”, nisto sobretudo “Rei de Salém” como Adonay-Tsedek,
o que vai bem com a prerrogativa guerreira da Ordem do Templo,
consequentemente, com o exercício do Poder Temporal – é considerado Salmo
de Libertação. A Tradição Espiritual dá-lhe o seguinte significado
cabalístico: “Remissão dos pecados. Escolha de um estado. Amor ao estudo.
Paralisação dos sortilégios”…. “Felizes daqueles que nas iniquidades são
perdoados…” (David, Ps. 31).
Indubitavelmente foram os
Monges-Construtores beneditinos, depois cistercienses ou os bernardos com
Casa-Mãe em Alcobaça, protegidos e prediletos do Templo, os principais
divulgadores do mito salvífico do Santo Graal e da escatologia
sagrada das Idades do Mundo, tão do agrado de São Bernardo de Claraval e
de Joaquim de Flora. O próprio Mosteiro alcobacense assumia-se idealmente uma Tebaida
de Irmãos do Santo Sangue (Saint Greal, San Grial, Santo Graal), o que
é confirmado pelas graalísticas Cruzes de Avis fechadas por círculos formando,
duas a duas em cada lado das paredes nave da igreja, o quadrado do chão
sagrado da assembleia indo dar aso à justificativa do culto solar ao
Arcanjo São Miguel, investido na função dupla de Custódio das Almas (balança) e
Custódio do Reino (espada), Porto-Graal, competindo-lhe por missão velar pela
Terra dos Vivos e pelo Oceano dos Mortos, função psicopompa essa retratada em
pintura medieval na Charola de Tomar.
De entre os 4 Arcanjos principais –
Miguel, Gabriel, Rafael, Anjo Custódio – dispostos nos 4 Mundos da Kaballah –
Atziluth, Briah, Yetzirah, Assiah – o “mais elevado”, ou seja Miguel como
arquétipo, manifesta-se pelo “menos elevado”, o Anjo Custódio seu protótipo,
por sua vez arquétipo de toda a Terra como primaz desta em lugar cimeiro, fonte
terreal de toda a Luz, que é dizer, a Lusitânia.
Foi por inspiração Bernardina que D.
Afonso Henriques fundou em Santarém a Ordem de São Miguel da Ala (ou da
Asa), após a tomada da cidade aos mouros em 1171. Diz a lenda que como reconhecimento
do Céu, durante o ardor da luta em volta do estandarte real e a pelejar pelo
rei, brandindo a sua espada apareceu o braço alado de São Miguel Arcanjo, de
quem D. Afonso Henriques era muito devoto cujo auxílio invocara antes da
batalha, e por isso após a vitória cristã ele instituiu a Ordem de São
Miguel da Ala pelo documento Constituitiones Militiuns S.
Michaekis Sive de Ala. Depois o Papa Alexandre III, por bula de 14/1/1177,
reconheceu a Ordem Equitum S. Michaelis Sive de Ala, que se manteve
por largos séculos e, enquanto durou a Ordem do Templo, serviu de medianeira
entre ela e a Coroa de Portugal.
Os atributos de São Miguel ou Mikael (“O
Primeiro no qual é Deus”, e também “Quem é Deus”) são os mesmos de Melki-Tsedek,
a balança e a espada, como distintivos do Rei de Justiça (Lex) e Senhor
de Salém (Pax), aquele modelo de Deus, este émulo de Deus (Quis ut
Deus).
A manifestação de Mikael assinala
sempre a glória da Shekinah, a Grande Paz e Luz do Messias, o que
se representa na Árvore Sephirótica da Kaballah pela décima sephiroth(esfera): Malkuth,
com o significado de o “Reino” (Melki) e o “Justo” (Tsedek).
A Shekinah, “Presença Real
de Deus”, representa-se sephiroticamente por Sandalphon, raiz da
Árvore da Vida e do Saber (Otz Chaim) cuja copa é Metraton,
ambos o mesmíssimo Mikael como Guardião dos homens e das
almas, dos vivos e dos mortos, o mesmo que aparece no início (Kether, a
“Coroa”) e no final da Manifestação Divina e Humana a qual é representada
por Malkuth, cujo Nome Divino é Adonai-Ha-Aretz, “Rei e
Senhor da Terra”.
O primeiro tratado cabalístico aparecido
na Península Ibérica referente a este assunto,Kether-Malkuth, consagrado
ao Altíssimo Adonai e sendo parte integrante do Fons
Vitaepertencente ao espólio literário do Mosteiro de Alcobaça, logo
certamente do conhecimento dos Templários mais ilustrados, foi escrito pelo
primeiro judeu filósofo da Hispânia no século XI, Salomão Ibn Gabirol. Este
Avicebrão dos latinos, natural de Málaga, veio a radicar-se em Portugal onde
faleceu em 1070.
O culto ao Anjo Custódio de Portugal foi
celebrado com toda a pompa e devoção desde muito cedo em todo o país, mormente
na região saloia do Termo de Lisboa. Segundo António de Vasconcelos e como já
disse, D. Afonso Henriques, na conquista de Santarém, invocou São Miguel
Arcanjo, tendo aí instituído a Ordem de São Miguel da Ala, cuja insígnia é uma
asa vermelha em campo branco cercado a ouro. A devoção ao Arcanjo cresceu de
tal modo que D. Manuel I o invocava como “nosso anjo guardador”, tendo-se
antecipado ao movimento do culto em Espanha. Com efeito, D. Manuel solicitou
(6/6/1504) do Papa Leão X a instituição do Anjo Custódio de Portugal, a
celebrar no 3.º domingo de Julho, dando aso a uma tradição que ainda se mantém.
Anteriormente (1480), ao fundir num só vários ofícios litúrgicos, o prior de
Odivelas, Fr. António Castanheira, já encontrara o ofício do Anjo Custódio,
pelo que o gesto de D. Manuel corresponde ao sancionamento de uma tendência
cultual anterior, de raiz judaica (pois Mikael é o Orago da
Sinagoga), depois incorporada nas Ordenações Manuelinas (Liv.
I, tit. 78), onde se determinam os actos da festa: procissão solene, missa e
ofício particular em Lisboa e noutras terras[14].
De maneira que o culto a Mikael ou Metraton está
profundamente enraizado tanto no catecismo popular da Torah como
no esoterismo judaico da Kaballah, esta que significa tanto
Tradição como Conhecimento. Na sinagoga Ele ocupa o “Lugar do Altíssimo”, e na
igreja bizantina situa-se no “Trono de Salomão”, correspondendo na igreja
romana à “Cadeira do Sumo Pontífice”.
Dentro da Kaballah podem-se
distinguir duas tendências que confluiriam, com o decorrer dos tempos, em duas
correntes de pensamento tradicional: o Kabalismo Profético,
atribuído a Abrahão Abulafia, e o Kabalismo Rabínico, atribuído a
Isaac Luria[15]. Das duas
correntes, é no Kabalismo Profético que se encontra o domínio
da intuição e inspiração sobre a Tradição e a Comunicação. Esta faceta
kabalística originou-se na região Oeste da Europa por volta do ano 1200 d. C.,
estendendo-se ao Centro-Sul de França e daí passando para cá dos Pirinéus
descendo para a Estremadura e Andaluzia espanholas, por um lado, e por outro
deslocando-se através das Astúrias para a Galiza e daí, pela linha costeira,
descendo ao Sul com forte implantação e difusão sinagogal no Centro-Oeste de
Portugal, quase sempre dando primazia ao sentido messiânico da Palavra. De
maneira que é também conhecida pelo nome deKaballah Sefardita ou Ibérica,
base do movimento de Messianismo hispânico, indo contrapor-se à Kaballah
de Safed, cidade da Palestina onde viveu Luria.
A finalidade da doutrina de Abulafia,
segundo as suas próprias palavras, é “desvelar a alma, desatar os nós que a
amarram”. Para conseguir esse fim, estabeleceu um objecto absoluto de
meditação: a teoria da contemplação mística das letras e das suas formas como
sendo as constituintes do Nome de Deus. Partindo deste conceito, Abrahão
Abulafia desenvolveu uma disciplina particular que chamou Hokmath
Ma-Tseruf, isto é, a “ciência da combinação das letras”. Assim, introduziu
uma forma de iniciação pelo raciocínio visando ir além deste, ao
desenvolvimento da faculdade intuitiva pela Gematria. De maneira
que para interpretar um nome deveria, primeiro, fazer a combinação das letras e
dos números, e depois a transposição das letras para números até chegar àquele
que correspondesse ao respectivo nome.
Para compreender a Kaballah deve-se
ter presente as três espécies de operações que comporta, a saber:
1.ª – O Notarikon ou a
arte dos signos;
2.ª – A Gematria ou a
comutação e combinação das letras e dos números;
3.ª – A Temurah ou as
transposições.
Pela proximidade do Templo à Sinagoga e
aos seus mistérios doutrinais, é de aceitar que os Templários mais ilustrados e
vocacionados à Mística pelo Saber, devotionis per inteligere,
detivessem esses conhecimentos e mesmo os tenham infundido na civilização ocidental.
Nisto é muito sintomático o artigo 9 da 2.ª parte dos pressupostos Estatutos
Secretos do Mestre Roncelin: “Sendo a ignorância a fonte de muitos
erros, ninguém será admitido entre os Eleitos se não conhecer, pelo menos, oTrivio e
o Quadrivio“. Sabe-se que estas concepções designavam as sete artes
liberais que dominaram a cultura medieval e até a da Renascença: Gramática,
Retórica, Lógica, por um lado, e Aritmética, Geometria, Astronomia e Música,
por outro. Através da Gramática e da Retórica seria dada ao postulante a arte
de falar para convencer pela Lógica. Em seguida o Número Divino seria
matematicamente compreendido, acompanhado do estudo da Geometria. A Astronomia
dar-lhe-ia o entendimento perfeito da máquina celeste e do Poder Supremo. Finalmente
a Música, derradeira arte em aprofundar-se, iria desenvolver-lhe o sentido da
harmonia interior, sem o que jamais compreenderia a Harmonia Universal. Depois
vinha a Gnose, antes, a Teosofia [16].
Observando a heterodoxia dos interesses
espirituais de vários dos Templários tanto no Médio-Oriente como na Europa, e
juntando as várias correntes de Tradição com quem o Templo conviveu e
recebeu influências notórias, concluo que a Teosofia Templária se constituiria
de cinco grupos de corrente gnóstica: o asiático, o egípcio, o hebraico, o
árabe e o celta.
António Carlos Boin diz que os
Templários possuíam na sua vertente interna uma hierarquia privada – que
pressuponho ter sido um Colégio Magisterial formado exclusivamente por
interessados pelo Hermetismo na época, desconhecido mas rumorado sem se saber
bem o que era, à margem da autoridade Papal e até do Mestrado oficial da
Milícia, donde acredito Jacques de Molay ter sido sincero quando
afirmou aos inquisidores “nunca ter havido uma Ordem Secreta dentro da Ordem” –
distribuída em sete graus iniciáticos: três elementares –
Adepto, Companheiro e Mestre Perfeito; três filosóficos –
Cavaleiro da Cruz, Intendente da Caverna Sagrada e Cavaleiro do Oriente; e um
grau cabalístico, o de Grande Pontífice da Montanha Sagrada. Transmito esta
informação confessando sérias dúvidas sobre terem existido tanto uns
pressupostos “Estatutos Secretos” como a pressuposta existência de uma
“Ordem Secreta” do género descrito, pois a escatologia desse modelo é
claramente apropriada do maçonismo moderno. Mas não tenho dúvidas quanto aos
interesses herméticos de alguns Templários e à intensidade hermética assistindo
ao simbolismo cerimonial das suas recepções aos que se afiliavam na Ordem.
Também não as tenho quanto ao sentido axial da Regra e dos Estatutos do Templo
referentes à Montanha e à Caverna Sagradas, o que lhes confere significado
profundamente hermético ou iniciático muito além da vulgar catequese.
A “Caverna Sagrada”, reproduzida tanto
em Hipógeo como em Sala de Capítulo e Recepção, por norma tradicional era em
formato quadrilátero e aí se reuniam os Cavaleiros Iniciados na gnose e na
catequese da doutrina única constituindo o Corpo de Eleitos ou a Elite, em
conformidade às palavras evangélicas: “Muitos serão os chamados e poucos os
escolhidos” ou eleitos, e “o Mestre ensinava ao povo por parábolas e aos
discípulos falava tudo abertamente”, revelando o binômio esotérico/exotérico do
Seu ensinamento, e isso certamente para não confundir mentes despreparadas em
receber conhecimentos muito além das suas capacidades assim descartando o risco
sempre presente de profanação dos Mistérios Sagrados que têm a sua origem na
Sabedoria Primordial ou Tradição Iniciática das Idades. Quem os quisesse
aprofundar, iria responsável e paulatinamente realizando os Graus de Iniciação
até chegar ao domínio pleno da Sabedoria Divina e tornar-se, pela
conscientização dela, não “um prenhe de Cristo”, como diria S. Paulo, mas
“Cristo Vivo em si mesmo”, segundo o mesmo Apóstolo Iluminado. Este é o sentido
primaz da existência e objectivo de quantas Ordens Iniciáticas e Secretas
houveram na Antiguidade, algumas raras perdurando até ao Presente.
O quadrilátero liga-se simbolicamente às
quatro fases da existência: o Oriente para o Nascimento, o Sul para a
Adolescência, o Ocidente para a Maturidade, e o Norte para a Velhice. Há o
Nadir e o Zénite, o ponto onde se está e o ponto para onde se dirige,
representando a ante-manifestação e a pós-manifestação, ou seja, antes de
nascer e depois de morrer.
Ora, é precisamente essa geometria que
se encontra na estrutura da Sala do Capítulo e Recepção defronte
para a Charola do Convento de Cristo, em Tomar. Situada no piso inferior
ou cave deitando para a Horta dos Frades (ou Laranjal dos Freires), há uma
outra sala com a pressuposta mesma finalidade da Capitular mas convertida
em adega no século XVII, a qual fazia parte do extenso piso longitudinal onde
suportam todo o edifício por cima colunas com capitéis decorados
com cabeças d´Anjos ou Querubins (de Cherub ou Kerub,
em hebreu, significando “Tesouro”). Essa sala não existia até aos meados dos
anos 70 do século passado, mas as obras então realizadas deram-lhe duas paredes
de cimento e assim foi convertida em compartimento, com alguns mais ligeiros
depressa interpretando-a como “câmara de reflexão”, “sala de iniciação” e
outros epítetos afins a finalidades esotéricas inscritas no
hodierno imobiliário “templário-maçônico”. Aí está uma laje enorme tapando um
pressuposto “poço da iniciação” mas que é o poço de rega da horta, e sobre
ele um medalhão com o Sol radiante, e nisto, sim, há esoterismo: o Sol e a
Água representam os dois elementos primordiais sustentando a Vida e sendo mesmo
expressivos dos Divinos Pai (Sol, Fogo) e Mãe (Lua, Água), sendo o Filho
(Terra, Comunidade dos Fiéis) representado por toda esta mesma Domus
Domini, Casa do Senhor.
Ainda neste Convento de Cristo, sob o
claustro da Micha, estão os depósitos de água cujo espaço
interior demonstra bem que não seria essa a sua finalidade original:
trata-se de uma enorme sala subterrânea quadrilátera suportada por colunas
donde irrompem palmeirais de nervuras da abóbada ligadas por medalhões
colocados nos entrecruzados da mesma. Sobre o significado esotérico do espaço
como se apresenta já me manifestei, ainda que sob anonimato, em reportagem
realizada pelo jornalista Victor Mendanha[17]:
“As nervuras de entrelaçamento
triangular, sustentando o céu da cripta, designam os veios da Terra, as
correntes telúricas que circundam e animam a vida planetária, sendo de três
qualidades: telurismo eléctrico, telurismo magnético e telurismo
electromagnético. São como que as veias sanguíneas de um homem visto por
dentro, aqui, as da Terra vistas esotericamente no seu interior ou útero.
“Os medalhões são como que selos
teúrgicos e assim representam os plexos psico-nevro-sanguíneos ligando numa
unidade as nervuras do tecto, assim criando um estado de tensão ou concentração
da força telúrica no espaço e no iniciado, acabando os dois por tornar-se um e,
dessa maneira, Terra-Mãe, Templo e Cavaleiro convertem os três para uma só
unidade.
“As colunas, além da função óbvia de
sustentarem a abóbada, igualmente possuem a função de ligar as correntes
telúricas das 12 constelações tradicionais às correntes geopsíquicas da
Terra. A base dessas colunas é quadrada e, teosoficamente, o 4 designa a Terra,
a cripta, a harmonia dos sólidos.”
Segundo Eugênio de Figueiredo e Silva[18], este claustro da Micha
está na área da alcáçova, próxima da desaparecida igreja de Santa Maria do Castelo,
que foi das freiras Templárias. Sendo micha uma palavra
feminina oriunda do francês miche que é um “farináceo”, neste
caso talvez alusão à hóstia, posso aventar a hipótese de acaso ter
ocorrido nesta cripta alguma espécie de celebração hipogeica pelas Tempreiras na bantinas,
ou tão-só a celebração benta da Água como simbólica da Mãe de Deus em que
assenta a Criação cuja raiz está na fundura da Terra, no Centro do Mundo que
por isto mesmo também leva a consignação Laboratório do Espírito Santo.
Bem sei que aparte o pressuposto do
eventual e ctônico culto feminino, micha possui uma explicação
mais plausível e nada transcendente: miche ou micha era
no século XVI o pão redondo que se cozinhava no forno comunitário vizinho deste
claustro que os monges davam como esmola de pão e caldo aos pobres, e também
era neste claustro, o único com saída à direita para o exterior do convento,
que se cobravam os dízimos dos impostos aos agricultores que traziam aforradas
terras de cultivo da Ordem de Cristo.
Mas também nada me desdiz que antes das
reformas radicais impostas na feição original do edifício pelo arquitecto João
de Castilho, a quem se deve os claustros da Micha e do Corvo onde mais
claramente se reflete o Maneirismo, por ordem de D. João III e do seu capataz
da Mesa Censória, Fr. António de Lisboa, no século XVI, as criptas não tenham
servido para fins mais reservados que profanos e esses claustros tenham sido
feitos sobre as mesmas, tanto que a sua feição interior delas não é da época
dessas reformas mas propriamente dos meados do século XIV ou, com toda a
certeza, do século XV. Lembro que assim como houveram Templárias igualmente
houveram Freiras de Cristo, estas só terminando a sua existência no convento
aquando da reforma da Ordem de Cristo em 1529, acometida por D. João III a Fr.
António Moniz, de Lisboa, que expulsou daí os antigos freires e freiras,
colocou outros novos (só homens) que mandou vir de várias partes do país e lhes
impôs o regime de clausura, elaborando novos estatutos baseados na Regra de S.
Bento mas à maneira do real inquisidor.
No interior da Cripta da Micha há uma
abertura comunicando diretamente com a adjacente Cripta do Corvo, situada sob
o claustro que lhe leva o nome, de formato igual à anterior e talvez também do
uso das mesmas Tempreiras, como era uso chamá-las em Portugal.
Sobre o simbolismo do corvo, tive ocasião de dizer na citada reportagem no Correio
da Manhã, tomando por inspiração um brilhante artigo do esoterista Olímpio
Neves Gonçalves[19]:
“A lenda do corvo, ligada à hagiografia
de S. Vicente, beatificação cristã do deus céltico Lug a quem os romanos
chamavam Lúcifer, a Estrela d’Alva, anda ligada às iniciações crípticas,
e tem paralelismo nos mitos e nas tradições dos povos mais antigos. O deus
escandinavo Odin era frequentemente representado com dois corvos simbolizando a
Memória e o Espírito. Diziam que os corvos adejavam em torno da deusa Saga e
lhe murmuravam nos ouvidos o passado e o futuro. De um modo geral, encontramos
o corvo representado nas mitologias dos maias e dos celtas como sendo o
mensageiro dos deuses. Tudo isto, já de si, é deveras singular, mas que o corvo
– emblema da Sabedoria Divina, ave profética e mensageira dos deuses, ave
sagrada, totem do deus Lug – se denomine, em linguagem lígure, com o vocábulo Lu,
que daria no latino Lux, não será este facto excepcionalmente
significativo na trama secreta que subjaze à fenomenologia da História?”[20]
Volto assim à questão principal deste
estudo, o suposto tesouro dos Templários e o trajecto que terá seguido,
resumindo tudo nos itens seguintes:
– O tesouro material seria constituído
pelos bens móveis depositados na ocasião na casa-forte do Templo, em Paris,
constando de dinheiro, jóias e documentos.
– O tesouro espiritual seria constituído
pelos conhecimentos tanto gerais como reservados dos mais doutos e espirituais
da Ordem.
– O tesouro material seria salvo da
fúria rapace do rei de França embarcando-o em segredo para Portugal
e desembarcado em segredo no Porto da Atouguia, daí sendo levado para o
Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça e finalmente para Tomar, onde ficaria ao
encargo do Mestre Geral português sob a protecção do rei de Portugal, D.
Dinis.
– Já antes o tesouro
espiritual começara a trasladar-se cada vez mais ao Extremo-Ocidente
da Europa, ou seja, Portugal, demonstrado tanto no geral cumprimento fiel
da Regra e do Estatuto da Milícia, como no reservado e criterioso de preservação
da Tradição Primordial, detida por pressuposto Colégio Magisterial ou, o que é
mais certo, por alguns dos mais doutos e espirituais da Ordem, cujo ecletismo
inter-racial e inter-religioso os vocacionava a uma missão política de carácter
sinárquico e a uma missão espiritual de carácter católico no mais amplo e puro
sentido do termo, “universalista”, tudo em conformidade aos paradigmas sagrados
da mesma Tradição Primordial, a do Centro do Mundo, dê-se-lhe o nome que se der
desde que corresponda à proporção exata.
– O tesouro material seria aplicado no
desenvolvimento de Portugal, neste caso, o Portugal Templário cuja missão ecumênica de chegar a todos os povos do Mundo teria consumação com a Diáspora
dos Mares, projeto já iniciado no reinado de D. Afonso Henriques, protetor
dos Templários e fundando uma outra Ordem Templária, a de São Miguel da Ala,
juntamente com a de São Bento de Avis, sendo esse projeto ecumênico prosseguido por D. Dinis e concretizado pelo Infante D. Henrique, gastando-se
em tal empresa o tesouro herdado séculos antes.
– O tesouro espiritual seria herdado
pela sucessora do Templo, a Ordem Militar de Nosso-Senhor Jesus Cristo,
depositária da Tradição Primordial, e prevenindo-se de dos eventuais
imprevistos que infelizmente vieram a acontecer, indo reparti-la por duas
outras correntes tradicionais entretanto surgidas em Portugal: a Ordem
Mística da Rosa+Cruz, inicialmente formada por franciscanos beguinos, e a
Confraria dos Mestres-Canteiros, primariamente constituída de
artífices esclarecidos franceses.
– Tesouro espiritual esse irrompido de
Portugal ao Médio-Oriente e a França, e a ele volvido, como Tradição Iniciática
das Idades, de que era depositária e representante legítima e directa a
Secreta e Soberana Ordem de Mariz, ligada aos Mistérios de Melki-Tsedek
e do Santo Graal, aqui mesmo, no Porto-Graal, segundo o sinal
rodado de D. Afonso Henriques, cujas colunas defensivas teriam sido
na época a Ordem do Templo e a Ordem de Avis, e depois a Ordem de Cristo e
a Ordem de Montesa, mais uma vez, unindo toda a Hispânia na Diáspora dos Lusos
no Mundo, abrindo um novo ciclo de progresso ao Género Humano.
NOTAS
[1] Vitor
Manuel Adrião, Portugal Templário – Vida e Obra da Ordem do Templo.
Madras Editora Ltda., São Paulo, 2011.
[2] Gérard de
Sède, Os Templários estão entre nós. Edições Estúdios Cor,
S.A.R.L., Lisboa, 1974.
[3]
Biblioteca Nacional de Paris, manuscrito latino 10919, vol. 84, verso.
[4] O
documento dessa declaração figura nos Arquivos Secretos do Vaticano com a quota
“Regito Aven. N.º 48, Benedicti XII, tomo I, fólios 448-451”.
[5] Maurice
Guinguand e Beatrice Lanne, O Ouro dos Templários (Gisors ou Tomar?).
Livraria Bertrand, Lisboa, 1978.
[6] Lucien
Bély, El Mont Saint-Michel. Versão espanhola. Éditions
Ouest-France, Rennes, 1993.
[7] Agostinho
Correia Faustino, S. Leonardo de Atouguia da Baleia. Edição
da Junta de Freguesia das Gaeiras, 1991.
[8] Vitor
Manuel Adrião, Quinta da Regaleira (Sintra, História e Tradição).
Editora Dinapress, Abril de 2013, Lisboa.
[9] Mariano Calado, Peniche
na História e na Lenda. 4.ª edição, 1991, Peniche.
[10] A Peniche os
fenícios chamavam Phoenix, situando-a a sul da Ilha de Creta,
conforme descreveu João O. Coelho em Origem e significado de Peniche,
Figueira da Foz, 1947: “Ao sul desta Ilha [Creta] existe uma cidade com o seu
porto marítimo numa enseada notável, que se denominava Phoenix ou Phenix ainda
nos tempos do apóstolo S. Paulo, como pode ver-se no Novo Testamento, Act. XXVII,
12, e muito próximo se encontra também um promontório [Carvoeiro] designado
pelo nome deErytreia! Curiosamente, Osberno, guerreiro-historiador que
acompanhou os cruzados na conquista de Lisboa aos Mouros, escreveu referindo-se
a Peniche: “Os Tírios [Fenícios naturais de Tiro, capital política do país]
chamaram-na Eritreia”…”
[11] Jaime
Cortesão, Os Descobrimentos Portugueses, vol. I. Edição
Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa.
[12] Tão
importante foi o simbolismo hermético do touro para os Templários que estes o
esculpiram e pintaram nos diversos lugares do país por onde passaram (Tomar,
Santiago do Cacém, etc.), sendo talvez o caso mais notável o seu antigo domínio
de Vila do Touro, concelho do Sabugal, distrito da Guarda, Beira Interior
Norte.
[13] In O
Domingo Illustrado, página 654, Lisboa, Maio de 1899.
[14] Pinharanda
Gomes, Povo e Religião no Termo de Loures. Paróquia de Santo
António dos Cavaleiros, Loures, 1982.
[15] António
Castaño Ferreira, Mistérios e Misticismos da Bíblia. Artigo
publicado originalmente na revista Dhâranâ n.os 32
e 33, edições de 1969 e 1970/73, São Paulo, Brasil.
[16] António
Carlos Boin, A Ordem de Malta e a Embocadura de Karana-Loka.
Revista Aquarius, ano 8, n.º 26, 1982, Rio de Janeiro.
[17] Victor
Mendanha, Os Subterrâneos do Convento de Cristo em Tomar.
Matutino Correio da Manhã, 6.ª feira, 1 de Novembro de 1985.
[18] Eugénio
Sobreiro de Figueiredo e Silva, O Convento de Cristo nos fins do
Séc. XIX e nos princípios do Séc. XX, vol. III, pág. 6. Separata
dos Anais dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo, Tomar, 1958.
[19] Olímpio
Neves Gonçalves, Lisboa à luz dos seus Arcanos. Revista Graal,
Ano I, N.º 2/3, Verão-Outono 1982, Sintra.
[20] Vitor
Manuel Adrião, Lisboa Secreta – Capital do Quinto Império.
Nova Vega, Lda., Lisboa, 2015.
(*) Vítor Manuel
Adrião, renomado escritor esotérico português, é consultor de investigação filosófica
e histórica, formado em História e Filosofia pela Faculdade de Letras de
Lisboa, tendo feito especialização na área medieval pela Universidade de
Coimbra. Presidente-Fundador da Comunidade Teúrgica Portuguesa e Director da
Revista de Estudos Teúrgicos Pax, Adrião é profundo conhecedor da História
Medieval do Sagrado, sendo conferencista de diversos temas relacionados ao
esoterismo, às religiões oficiais, aos mitos e tradições portuguesas, às Ordens
de Kurat (em Sintra) e do Santo Graal, das quais também faz parte.
Fonte: https://lusophia.wordpress.com/
DOAÇÃO
0 Comentários