*Por Barbosa Nunes
Em
26 de julho, celebramos os avós, data em razão da comemoração do Dia da Santa
Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo. Em 1879, o Papa Leão
XIII, estendeu essa festa a toda a Igreja e o Papa Paulo VI, a associou num
único dia, 26 de julho.
Mas
com a emoção e o sentimento puro, não vou falar muito dos avô, um pouco mais da
avó e mais ainda de netos. Os avós sempre destacando a “vó”, quando com seus
netos estão em um mundo renovado, sentindo-se mais jovens e atualizados,
aprendendo muito com as crianças.
Dizem
que avós “estragam” os netos, o que na realidade não é verdade, não tem nada de
prejudicial. A psicóloga Silvana Martan, diz: “O papel dos avós é de curtir a
criança, de permitir que se coma aquele pedaço de bolo na hora do almoço. O
passeio, a permanência, os pernoites na casa da avó, sempre é uma festa para os
netos, marcando essa relação de afeto como cumplicidade entre eles e nas
crianças, lembranças positivas da infância”.
A
avó é aquela que conta histórias da família, de quando era criança, de como era
a vida em outros tempos, às vezes repetindo as mesmas histórias, com os netos
ouvindo com toda atenção, pois a avó é uma referência importantíssima para o
pequeno. A avó é uma presença inesquecível e importante em todos os momentos da
vida da criança.
A
escritora e jornalista Rachel de Queiroz, primeira mulher a ingressar na
Academia Brasileira de Letras, vida de 1910 a 2003, produziu uma crônica
emocionante intitulada “A arte de ser avó”.
“Netos
são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de
repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se
passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da
maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o
neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho
mesmo...
Quarenta
anos, quarenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo
passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A
velhice tem as suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso embora
você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.
Todavia,
também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela
nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não
lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e
lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço.
Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para
onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são
os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações,
você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e
mulheres - não são mais aqueles que você recorda.
E
então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação
ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis -
nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua
raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida.
Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é
"devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito
de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se
você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos
se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim,
tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as
mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm
ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás,
desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências
da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avô,
trocaria calmamente dez Margaridas por um neto...”
Avós
detém a pureza e a perfeição da magia divina, com o encantamento dos seus
netos, que lhes trazem paciência e muito amor. Dizem que ser avó é a melhor
época da vida, convivendo com os netos sem a obrigação de educá-los, sendo
exemplo de outra geração, com costumes diferentes, muitas vezes considerados
pelos netos, “fora de moda”.
Em
um comentário à crônica de Rachel de Queiroz, encontrei a neta Andressa,
postando uma poesia de Ana Canéo, que muito bem traz o coração do neto, no
gostar da avó e na felicidade de estar em sua casa. Esta poesia é riso, é
alegria, é sinceridade da criança, quando se define totalmente pela preferência
da casa da vó.
“Chega
de tanta injustiça, de castigo e confusão! Vou pra casa da vovó, não tem outra
solução! Estou mesmo decidido e pra sempre eu me mudo. Aqui eu não posso nada e
por lá eu posso tudo!
Posso
comer chocolate, posso até me empanturrar. Posso comer sobremesa até antes do
jantar. Mesmo que eu faça bagunça, vovó não briga comigo. Se eu beliscar o
irmãozinho, vovó não me põe de castigo! Vou fazer a minha mala, meu carrinho eu
vou levar. Vou levar o meu cachorro e o meu jogo de armar.
Vou
levar meu travesseiro, levo também meu pião, pego os meus livros de história
e o meu time de botão. Levo as coisas que eu gosto, pra ter tudo sempre a mão: levo também o papai, a mamãe e o meu irmão!”
e o meu time de botão. Levo as coisas que eu gosto, pra ter tudo sempre a mão: levo também o papai, a mamãe e o meu irmão!”
Com
lágrimas de emoção correndo pela face eu e minha companheira Vera Lúcia, em
nossos netos, Paulo Henrique e Vinícius, neste “Dia dos Avós”, abraçamos todos
os “vôs” e “vós”, como se todos os netos lhes estivessem dizendo, cantando com
Cristina Mel, “canção para a Vovó”.
“É
tão fácil te amar, te seguir, te admirar. É difícil, não te ver, impossível te
esquecer”.
(*) Barbosa Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil
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