MAÇONARIA DO SÉCULO XXI

Por Hélmiton Prateado
Luíz Carlos Coelho (foto: Mel Castro)
Líder do Grande do Oriente do Brasil, em Goiás, diz que reforma política é prioridade para instituição e prega que maçons devem participar mais ativamente das decisões políticas
O advogado e professor universitário Luís Carlos de Castro Coelho lidera uma legião de aproximadamente 4.800 indivíduos em Goiás, preparados de forma individual e culturalmente e que sempre estiveram na vanguarda das principais mudanças do País e do Estado. O Grande Oriente do Brasil é a potência maçônica mais antiga do Brasil, fundada em 1822 às vésperas da Proclamação da Independência e em Goiás sempre teve papel ativo em todas as instâncias da sociedade.

Como instituição de participação vanguardista nos propósitos da população, a maçonaria assume o papel de protagonista em assuntos diversos. Em entrevista ao DM, Luís Carlos Coelho diz que a prioridade a ordem maçônica para 2015 será uma ampla campanha para reformar o sistema político brasileiro, visando aprimorar a forma de escolha dos representantes, aumentar a legitimidade do processo e depurar os maus elementos que ainda estejam na atividade política.

“Vamos, junto a dezenas de outras instituições de respeito pelo Brasil afora, unir forças para fazer a política no Brasil ser algo que nos dê orgulho e que não cause tanta vergonha, que os representantes do povo nos governos e nos Legislativos sejam escolhidos pelos méritos e propostas e não pelo poder econômico”, explica.

Prestes a ser reeleito para um mandato de quatro anos – ele encerra um período de dois anos – ele dá o exemplo de que toda renovação é salutar ao dizer que pretende estar ao comando da instituição somente esse mandato e promover uma renovação para a próxima gestão. “Renovar sempre é importante e saudável para qualquer instituição”, frisa. Numa demonstração de que a conciliação é sempre uma forma ponderada de exercer a democracia o grão-mestre do GOB lidera uma chapa única, tendo como adjunto João Batista Machado, de Morrinhos.

O Grande Oriente do Brasil, em Goiás, tem 134 lojas em atividade espalhadas pela capital e pelos municípios do interior, com cerca de 4.800 integrantes regulares e em plena atividade. “Esse universo de irmãos espalhados em nosso estado precisa  acompanhar de modo mais estreito tudo o que é feito para poder cobrar, fiscalizando o dinheiro que chega em cada cidade, observando se é tudo plenamente aplicado e se o bem comum é respeitado. Só se pode cobrar quando se participa ativamente de cada instância”, resume.

A ENTREVISTA

DM – Como a maçonaria vai participar dos novos tempos que estão se abrindo agora com novas administrações nos Estados e no País?

Luís Carlos de Castro Coelho – Os novos tempos estão se mostrando um grande desafio para todos nós. Estamos deixando momentos passados para trás e mostrando que de lá podemos tirar ensinamentos inestimáveis que signifiquem avanço para hoje. Estamos com problemas em vários setores da sociedade e nossa ordem é talvez a única que ainda busque unir valores como seriedade, dignidade e honradez em seu seio. Portanto, a ordem maçônica precisa ter atitude de modo interno ao fazer com que seus membros sejam exemplo do pensar e do agir e devemos ter também postura frente aos grandes desafios que estão colocados aí no Brasil, como nos envolvermos de modo efetivo para dar resposta e soluções a questões urgentes. Falo de assuntos como corrupção, drogas, segurança pública, educação, saúde etc. Temos de nos envolver e apresentar alternativas para solucionar tantos pontos cruciais. Precisamos ter maçons envolvidos com o debate, a propositura de soluções e ações efetivas em todos estados e em todos os municípios.



DM – O senhor defende participação ativa de maçons em todos os momentos decisivos da vida política?

Luís Carlos de Castro Coelho – Exatamente isto. Aquela loja maçônica que funcione naquele pequeno município tem de saber como estão sendo geridos os recursos naquele município, precisa exigir e dar total transparência da aplicação do dinheiro público. Ela faz parte da vida da comunidade e suas ações ou omissões podem representar a vitória da ética ou o fim das esperanças de nossa população. Os maçons precisam fazer parte do conselho da comunidade, olhando os recursos para a saúde e para a educação, onde estão as falhas na segurança ou onde podem estar sendo desviados recursos importantes como para obas ou a merenda escolar. Porque um maçom ou a loja maçônica não pode fazer isto. Ao contrário, precisam acompanhar tudo e não deixar que o mal se sobreponha ao bem. Deve fazer parte de tudo e influir nas decisões. Recentemente, em encontro com o governador Marconi Perillo nós nos colocamos à sua disposição para ter uma controladoria em todos os municípios e explicamos que assim como o governo destina recursos para os municípios que sejamos informados quais foram esses recursos para acompanharmos junto aos prefeitos se os destinos foram corretos. Nós vamos manter o governo informado também com total transparência e sem nenhum jogo político ou ideológico. Esse é o ponto. Precisamos também unir mais as instituições em defesa do bem comum e não ficarmos restritos a nossos guetos.

DM – O senhor propõe uma abertura maior da maçonaria?

Luís Carlos de Castro Coelho – Isso também. Precisamos unir forças com instituições de respeito e comprovado compromisso com o bem da população. Internamente vamos continuar com nossa ritualística e nossos procedimentos, fazendo nossos trabalhos de pensar e propor um mundo melhor sem problema, mas em sociedade precisamos dar as mãos a todos os que querem o bem da humanidade e da nação para promovermos o bem comum. A maçonaria no Século XXI tem de começar a rever seus conceitos e saber unir forças a todos para fazer um mundo melhor, mais justo e fraterno. Nós, maçons, homens livres e de bons costumes precisamos com nossas atitudes e exemplos melhorar a sociedade em que vivemos, inclusive depurando dentro de nossas fileiras também. Isso porque sabemos que ainda existem maçons que se ocultam dentro de nossa ordem para fazer atos espúrios. Precisamos ter atos dignos e de força também para tirarmos esses homens de dentro de nossas fileiras, combater esse mal dentro de nossa instituição também.



DM – A maçonaria propõe depurar atitudes indignas dentro de suas fileiras também?

Luís Carlos de Castro Coelho – Claro. A impunidade não pode triunfar. Se um líder, que seja o grão-mestre comete falhas e não é punido, aquele pequenininho que está lá na base poderá acreditar que pode fazer coisas erradas do mesmo modo, o que é inaceitável. Isso é uma situação triste que está acontecendo com nosso país, em que a corrupção está parecendo quase que uma coisa endêmica. Parece tão natural transigir a lei e ficar na impunidade que nossa capacidade de indignação está se atrofiando. Há pouco tempo, uma aluna me perguntou uma coisa que me deixou abismado. Ela quis saber qual o percentual de plágio ela poderia usar em um trabalho acadêmico. Eu disse que era o mesmo percentual que ela poderia matar alguém. Não existe percentual aceitável para plagiar um trabalho que outro pensou, abstraiu e escreveu. Mas, para uma acadêmica de direito isto está soando tão natural que passa até sem receio de falar abertamente com o professor.



DM – Como a maçonaria vai atuar nas grandes campanhas nacionais que sempre integrou?

Luís Carlos de Castro Coelho – Vamos prosseguir com todas as campanhas que sempre estivemos à frente, como Maçonaria contra as drogas, Maçonaria contra a corrupção e a impunidade. Essas permanecem e agora vai começar uma nova campanha do Grande Oriente do Brasil junto a outras 150 instituições como a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), OAB e outras, que é a reforma política. Essa, sim, é de fundamental importância para nosso futuro. É essencial. Um dos expoentes dessa campanha é um juiz de direito maçom do Grande Oriente, doutor Marlon Reis, do Maranhão, que foi um dos autores da Lei da Ficha Limpa. Vamos discutir tudo sobre o processo político e as eleições, desde gastos políticos, financiamento das campanhas, formas de eleição, coligações, atacando as siglas de aluguel e visando o fortalecimento das instituições políticas sérias e a depuração do processo político. Isso é tão importante e pode ser mensurado pelo volume de instituições envolvidas nisso, numa frente de atuação nunca visto no Brasil. Nunca se uniu tanta instituição nesse sentido. Todos conscientes de que precisamos renovar o pensamento e a prática política no Brasil como forma de projetarmos um país verdadeiramente progressista para o futuro. Temos certeza de que vamos conseguir ferir de morte essa prática nefasta e clientelista de fazer política baseada no dar e receber e se possível lucrar mais ainda.



“A ordem maçônica precisa ter atitude de modo interno ao fazer com que seus membros sejam exemplos do pensar e do agir e devemos ter também postura frente aos grandes desafios que estão colocados aí no Brasil, como nos envolvermos de modo efetivo para dar resposta e soluções a questões urgentes”

FONTE: DIÁRIO DA MANHÃ - GOIÂNIA Edição do dia 25/01/2015

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