*Por Barbosa Nunes
Recebi este magnífico texto de
Drauzio Varella, encaminhado pelo maçom membro do Conselho Estadual do Grande
Oriente do Estado de Goiás e da Loja “João Guerra de Oliveira”, Olavo Junqueira
de Andrade. Por merecimento recentemente nomeado desembargador do Poder
Judiciário Goiano, coroando sua dedicada carreira, no ápice da magistratura
goiana, a quem ratifico cumprimentos e orgulho dos seus irmãos da Maçonaria. O
tema me remete com meditação aos 70 anos de idade, dos quais me aproximo.
Acrescento ao final os cinco principais arrependimentos antes de morrer,
retirados de um livro de Bronnie Ware, enfermeira australiana, especialista em
cuidados de doentes terminais, que merecem profunda meditação. Iniciemos pelo
texto de Drauzio Varella. Leia mais
"Nossos filhos se
tornaram adultos e tiveram filhos. O nascimento de um neto é evidência de que
não somos mais necessários para a perpetuação de nossos genes. Desse momento em
diante a vida seguirá em frente, estejamos ou não por perto. Em 70 anos, uma
recém-nascida se tornou avó ou bisavó. Quando nos aposentamos, a vida corre
mais devagar. Nossos movimentos também estão mais lentos. Os sinais externos da
idade ficam mais evidentes. Nossos sentidos estão menos sensíveis.
Desde o nascimento, começamos
a perder os cílios responsáveis pela captação dos sons, no interior do ouvido.
Nessa idade já temos dificuldade para escutar os sons de alta frequência.
Devagar, com o tempo, perderemos até os que captam frequências baixas. Os
ossículos que transmitem as ondas sonoras da membrana do tímpano para dentro do
ouvido endurecem. Fica difícil ouvir o que os outros falam.
A visão também piora. A vida
inteira expostos aos raios de sol, o cristalino, a lente dos olhos, perde a
elasticidade e escurece. Pode até mudar a cor dos olhos. O cérebro precisa
fazer acrobacias para compensar essas alterações.
O esqueleto reflete bem o
desgaste de muitos anos. Os ossos continuam fabricando células novas para
substituir as velhas, mas os osteoblastos já não dão conta de repor as células
perdidas. A perda constante de massa óssea torna os ossos quebradiços: é a
osteoporose, um perigo permanente. Sofrer uma fratura é muito mais fácil. Isso
acontece com ambos os sexos, mas as alterações hormonais da menopausa aceleram
o processo nas mulheres.
Por que a aparência de nosso
corpo muda tanto entre os 40 e os 70 anos? É bem mais do que uma questão de uso
e desgaste. O envelhecimento é um processo que afeta uma por uma de nossas células.
A cada dia, bilhões de nossas células se dividem em duas. Para isso, precisam
duplicar o DNA, e destinar uma cópia para cada célula-filha. Enquanto as
células mais velhas morrem, as recém criadas ocupam o lugar deixado por elas. O
problema é que o mecanismo de divisão celular é sujeito a pequenos erros.
Quando o DNA é copiado, as imperfeições contidas nele também são duplicadas.
Cada um desses erros é
transmitido às células-filhas, às células-netas e, assim, sucessivamente, para
todas as descendentes. É como nas fotografias: cópias de cópias perdem a
nitidez. Desde o nascimento trocamos todos os ossos do nosso rosto a cada dois
anos. Aos 70 anos, nossa face é a trigésima quinta cópia da que tínhamos ao
nascer. A cada cópia as imperfeições se tornaram mais aparentes. É por isso que
parecemos tão diferentes quando estamos mais velhos.
Outra causa do envelhecimento
está no ar que respiramos. Sem oxigênio não podemos sobreviver, mas ele nos
corrói lentamente. Dentro de cada célula, as mitocôndrias são nossas centrais
energéticas, nossas fábricas de energia. Elas combinam o oxigênio com os
nutrientes para produzir a energia necessária ao funcionamento do organismo.
Nesse processo são liberados poluentes, chamados de radicais livres, que
agridem as próprias paredes das mitocôndrias e comprometem a produção de
energia. Como consequência, não conseguimos mais repor as células necessárias,
nem corrigir os defeitos ocorridos em seu DNA. O funcionamento dos órgãos fica
comprometido. Eles podem falhar.
A morte, como a vida, é um
processo construído no interior de nossas células. Da mesma forma que o DNA
controla nosso desenvolvimento, também limita a duração de nossas vidas. Em
cada cópia de si mesma, a célula perde um pequeno fragmento de DNA. Depois de
bilhões de divisões, foi perdido tanto DNA que a capacidade de formar novas
células fica comprometida.
A morte não é um acontecimento
instantâneo. É um processo através do qual os órgãos pouco a pouco entram em
falência. Ao dar as últimas batidas, o coração espalha pelo corpo um hormônio
que alivia a dor: as endorfinas. Sem oxigênio, os órgãos param de funcionar. Em
dez segundos a atividade cerebral cai. Em quatro minutos o cérebro será lesado
irreversivelmente. Perderemos a condição humana.
A audição é o último sentido a
nos abandonar. Mas algumas células permanecem vivas até mesmo depois da morte:
as da pele ainda se dividem por 24 horas. E são necessárias 37 horas para que o
último neurônio encerre a sua atividade.
Para alguns de nós, a vida
pode durar muito tempo. Quem nasce hoje tem expectativa de viver 80 anos ou
mais. Mas todas as jornadas um dia devem terminar.
Depois de nossa morte, nossos
filhos e netos carregarão nossos genes no interior de suas células, e vão
transmiti-los para seus descendentes. Nossa vida continuará dentro deles. As
memórias que deixamos, também. A nossa Viagem Fantástica chegou ao fim."
O livro de Bronnie Ware, nos
ajuda muito a aceitar a vida e vivê-la nos exemplos que ela nos traz, assim
sintetizados após anos de convivência com pacientes terminais, que assim
falaram:
1 - Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo,
e não a vida que os outros esperavam de mim — Este foi o arrependimento mais comum. Quando
as pessoas percebem que sua vida está quase no fim e olham para trás, percebem
claramente que muitos sonhos não foram realizados.
2 - Gostaria de não ter trabalhado tanto — Ouvi isso de todos os pacientes do sexo
masculino que cuidei. Eles perderam a juventude de seus filhos e a companhia de
seus parceiros. Todos os homens lamentaram profundamente gastar tanto tempo de
suas vidas no trabalho.
3 - Queria de ter tido a coragem de expressar meus sentimentos —
Muitas pessoas suprimiram seus sentimentos para ficar em paz com os outros.
Como resultado, eles se acomodaram em uma existência medíocre e nunca se
tornaram quem eles realmente eram capazes de ser. Muitos desenvolveram doenças
relacionadas à amargura e ressentimento que carregavam.
4 - Gostaria de ter mantido contato com meus amigos — Muitas vezes eles não percebiam as
vantagens de ter velhos amigos até que nas últimas semanas de vida percebem que
não foi possível encontrar essas pessoas. Todo mundo sente falta dos amigos
quando está morrendo.
5 - Eu queria ter me permitido ser mais feliz — Esse é um arrependimento surpreendentemente
comum. Muitos só percebem que a felicidade é uma escolha no fim da vida. As
pessoas ficam presas em antigos hábitos e padrões, o famoso “conforto” com as
coisas que são familiares. O medo da mudança fez com que elas finjam para os
outros e para si que estavam contentes quando, no fundo, queriam poder rir de
verdade e aproveitar as coisas boas da vida.
Vivamos enquanto há tempo,
procurando viver a vida com otimismo, alegria,
amizade e sem arrependimentos no seu final.
*Barbosa Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil
barbosanunes@terra.com.br.
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