CULTURA
Por Luis Nascif
As fases de transição em um
país são confusas. Especialmente nos períodos em que o velho não morreu e o
novo ainda está nascendo. É o que ocorre no mercado da música.
Historicamente, a música
popular dependia de uma cadeia produtiva centralizadora, um funil que abria espaço para poucos – mas
lhes conferia enorme visibilidade graças à concentração de poder no mercado do
entretenimento.
Nascia nas chamadas majors (as
grandes gravadoras), em condições de investir em grandes estúdios . Chegava ao
público pelos esquemas de divulgação convencionais, os grupos de mídia,
emissoras de rádio e televisão, alimentados por “jabás” – isto é, o pagamento
por fora para divulgar músicas e músicos.
A perna final era a imprensa
escrita, que conferir status aos músicos e cujas editorias dependiam
basicamente dos releases e CDs enviados pelas gravadoras. Leia mais
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A conquista do mercado
internacional era mais fechada ainda. As majors praticamente detinham o
monopólio das grandes turnês mundiais, a estrutura para fechar contratos com
grandes palcos em vários países do mundo.
Todo esse aparato produziu uma
homogeneização dos padrões de música, abrindo pouco espaço para a diversidade.
No caso brasileiro, havia
respiros na estrutura de shows universitários, na extraordinária competência do
sistema Sesc e nas manifestações regionais, na trincheira dos botecos e das
universidades.
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A Internet implodiu
definitivamente o velho modelo fechado. Barateou as gravações, permitiu a
divulgação dos artistas através da rede, facilitou o contato com artistas e
estruturas musicais de outros países e, especialmente, abriu um universo
inédito de informação para os jovens músicos.
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Acompanho a música brasileira
desde a minha adolescência, dos tempos em que o violão brasileiro – já
universal – restringia-se a meia dúzia de grandes nomes conhecidos.
Hoje em dia, pululam
instrumentistas de primeiríssima em todos os centros musicais brasileiros. Há uma
constelação que passa pelo inigualável Rio de Janeiro, mas se propaga por
quatro centros essenciais – São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Recife – que,
nos tempos de centralização, eram apenas canais de passagem dos músicos de sua
região.
Todo o espectro da música
brasileira do século está renascendo com uma vitalidade sem tamanho. O samba
carioca, o forró, o maracatu, a música caipira-folclórica, a sertaneja, a
música mais jazzificada, o choro explodindo, atendendo a todos os
públicos.
O renascimento da música de
bar, em todo o país, está atraindo uma
geração de jovens instrumentistas de formação musical universitária, com amplo
domínio da leitura de partituras.
Mais que isso, os músicos
brasileiros estão invadindo todos os cantos do planeta, não apenas os popstars,
mas uma infinidade de músicos de enorme talento e menor projeção, sendo
convidados para turnês europeias, para festivais no Canadá, Bélgica, Noruega,
Japão, Inglaterra, França, interior da Itália – e menciono de cabeça apenas os
países que receberam músicos conhecidos meus nos últimos meses.
Há uma explosão cultural a
caminho. É questão de tempo para que venha para a superfície.
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