José do Patrocínio: filho de padre e escrava, maçom, negro e jornalista

Por Barbosa Nunes
A data de 20 de novembro é celebrada para lembrar "Zumbi", líder do Quilombo dos Palmares, assassinado por tropas coloniais em 1695. O Dia Nacional da Consciência Negra procura ser uma data para homenagear a resistência do negro à escravidão de forma geral e marcar a luta contra o preconceito racial.
A maçonaria teve e tem grandes quadros negros, entre eles José do Patrocínio, maçom abolicionista, cognominado de "O Tigre da Abolição". Formou um trio famoso com os mulatos maçons, André Rebouças e Luiz Gama. Muitas Lojas recebem o nome deste corajoso e grande brasileiro.
José Carlos do Patrocínio aparece em documentação maçônica. Boletim do Grande Oriente do Brasil de 1897, página 14, por ter sido citado na "Apuração Geral da Eleição de Grão-Mestre Adjunto, de 12 de fevereiro de 1897, em que recebeu seis votos, sendo três da Loja “João Caetano”, dois da Loja “Aurora Escocesa” e um da Loja “Ganganelli do Rio", o que não deixa dúvida de sua atividade maçônica. Na pesquisa sobre “O Tigre da Abolição”, contei com  colaboração, pelo que agradeço, do jornalista Jerônimo Borges, que publica diariamente pela internet, o Informativo JB News, já em 1.182 edições, hoje uma das fontes maiores de divulgação e pesquisa para a maçonaria brasileira. Compartilhador de nossos artigos, todos os sábados, para os seus milhares de leitores. Leia mais
José do Patrocínio nasceu em Campos de Goytacazes, Rio de Janeiro, em 09 de outubro de 1853 e faleceu no dia 29 de janeiro de 1905. Era filho natural do padre João Carlos Monteiro, vigário da paróquia e orador sacro de grande fama na Capela Imperial e da escrava africana Justina, vendedora de frutas, de quinze anos, cedida ao serviço do cônego. O padre não reconheceu a paternidade e mandou o menino para a sua fazenda, onde José do Patrocínio passou a infância convivendo com os escravos e com os rígidos castigos que lhe eram impostos.
Jornalista, farmacêutico, orador, poeta, romancista e ativista político. Pela “Gazeta de Notícias”, iniciou sua atividade que adquiriu grande repercussão com a publicação do quinzenário “Os Ferrões”. Adquiriu grande fama pelo seu talento e por sua atuação social. Fundou a Confederação Abolicionista e lhe redigiu manifesto contundente. Em 13 de maio de 1888, saudou com discurso histórico o advento da abolição, pelo qual tanto lutara.
Fundador da Academia Brasileira de Letras, juntamente com outros quarenta intelectuais, vários maçons, entre eles, Artur Azevedo, Graça Aranha, Joaquim Nabuco, Machado de Assis, Olavo Bilac, Visconde de Taunay, Coelho Neto, Rui Barbosa e Sílvio Romero, com sessão inaugural em 20 de julho de 1897, sendo eleitos Machado de Assis para Presidente, Rodrigo Otávio, 1º Secretário e Joaquim Nabuco como Secretário Geral, que pronunciou o discurso inaugural. Compareceu às sessões preparatórias da instalação da ABL e fundou a cadeira número 21, que tem como patrono Joaquim Serra.
Com Joaquim Nabuco fundou a Sociedade Contra a Escravidão. Com votação maciça e pela causa, foi eleito vereador na cidade do Rio de Janeiro. Cidades, avenidas, ruas, praças, medalhas e comendas o homenageiam reverenciando a sua luta. Pelos seus biógrafos é considerado o maior de todos os jornalistas da abolição.
José do Patrocínio, logo após a Princesa Izabel assinar a Lei Aurea, disse a seguinte frase: “Minha alma sobe de joelho nestes passos”.
Escreveu várias obras, com destaque para os dez números de “Os Ferrões”, e também os romances “A pena de morte”, “Os Retirantes”, “Pedro Espanhol”, também “Manifesto da Confederação Abolicionista”, “Conferência Pública no Teatro Politeama”, artigos publicados em periódicos da época, usando vários pseudônimos e em uma de suas poesias, disse: “Louvado seja o Cristo! Ele era doce como aos domingos o romper da aurora; Escravo! Não é ele quem sustenta o homem torpe e vil que vos explora. Quando se há de curar essa medonha chaga hedionda e fatal do cativeiro?” Parece até que ele está falando para a chaga de corrupção que fere, envergonha e denigre a sociedade brasileira, em grande parte escravizada pela falta de saúde, segurança, oportunidades e vida digna.
Aos 35 anos, veria sua carreira decair. Seu novo jornal “A Cidade do Rio”, que ele fundou em 1887, tornou-se porta voz da monarquia em tempos republicanos. Foi acusado de estimular a formação da Guarda Negra, grupo de escravos libertos que agia com violência nos comícios republicanos, mas ainda aderiu ao movimento tarde demais, sendo abandonado pelo ex-aliados.
Em 1892, após atacar o Marechal Floriano Peixoto, foi exilado na Amazônia. Rui Barbosa o defendeu, num texto vigoroso: “Que sociedade é esta, cuja consciência moral mergulha em lama, ao menor capricho da força, as estrelas de sua admiração?”. Em 1893, voltou ao Rio, mas continuou a atacar o Marechal. Seu jornal foi fechado, a miséria bateu-lhe à porta e Patrocínio mudou-se para um barracão no subúrbio, dedicando-se a um delirante projeto de construir um dirigível de 45 metros de comprimento, mas a nave jamais se ergueu.
Em 29 de janeiro de 1905, na sua modesta escrivaninha começou a redigir: “Fala-se na organização de uma sociedade protetora dos animais. Tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma, ainda que rudimentar e que tem conscientemente revoltas contra a injustiça humana.” Não terminou o texto. A vida lhe fugiu naquele momento e o “Tigre do Abolicionismo” morre pobre e desamparado, mergulhado no esquecimento, porem posteriormente e a cada ano que passa revivido, sobretudo no Dia da Consciência Negra, como um dos grandes heróis do país, que teve uma vida aventurosa, inteiramente dedicada às grandes causas, a maior das quais a Abolição. Bendito seja o nome de José do Patrocínio.

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