Foi
um fenômeno transcendental. Sobretudo para quem não é muito ligado nas fofocas
do mundo corporativo, para quem não é assinante Você S/A (espécie de “Contigo”
para executivos), ver surgir de uma hora pra outra uma fortuna tão prodigiosa,
como a de Eike Batista. Principalmente num país como o nosso em que os ricos de
nosso ciclo de relacionamento normalmente quebram quando batem o carro (se não
têm seguro).
Há
pouco, ele era apenas uma figura coadjuvante: desportista amador que praticava
corridas de canoa a jato e marido de uma beldade, rainha de bateria de escola de
samba. Afora isso, muito pouco se sabia de Eike Batista. Seu pai era mais
conhecido, como o dinâmico presidente da antiga estatal de mineração Vale do
Rio Doce. Mas, num estalo, o moço-prodígio sai do anonimato (ou do anão no
mato, que dá na mesma) para ser uma divindade no panteão corporativo. Pulou na
listas dos maiores magnatas do mundo, já em 8º lugar geral e 1º no Brasil. E
prometendo chegar ao topo do ranking universal em pouquíssimo tempo,
atropelando Gates, Buffet, Slim, e quem mais passasse à frente de sua canoa
enfurecida. Leia mais
A
mídia, de todos os calibres e naipes, cuidou de ilustrar sua divindade, o mais
que pôde. Injetou-o na veia dos fatos mirabolantes. Estampou nas manchetes
títulos esfuziantes com seu retrato pimpão e sabereta: Nasce o maior bilionário
brasileiro; Eike Xiaoping (numa referência a Deng Xiaoping , o dirigente que
preparou a China para ser o motor do mundo neste início de século); o Mr. X da
bolsa, e assim do mais. Comentaristas econômicos (mas pródigos na louvação)
diziam que Eike era o retrato do Brasil que dá certo, representante do lado
moderno do Brasil, que o futuro enfim teria chegado pelas suas mãos e outras
adulações do gênero. O homem virou um Midas de proporções astronômicas.
Quem
teve a curiosidade de saber qual era mesmo o seu negócio, ficou logo sabendo
que era do ramo da mineração (embora ainda não minerasse), o mesmo de Antônio
Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantin. Só que em razão de sua expertise nas
bolsas de valores pelo mundo afora, com apenas uma fração de tempo em que os
Ermírios de Moraes atuam por gerações, ele teria feito um pé-de-meia
gigantesco, deixando o velho minerador complexado e comendo poeira em suas
profundas catas de níquel e outras patacas. Soube-se também, que o rico
dinheirinho do povo estropiado, canalizado pelo Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social — BNDES — fora injetado em seus negócios
traquinas. Que, por razões de alta indagação estratégica, ele fora escolhido
como um dos “campeões nacionais” para receber polpudos subsídios. E um dia,
quem sabe, poder realizar joint ventures (parcerias galantes) com gigantes
internacionais, cujos capitais extrapolam as centenas de bilhões de dólares em
face de nossas empresas nanicas, em que seus capitais sociais raramente
alcançam dois dígitos.
Uma
coisa nunca entendi bem. Mas isso não tem importância nenhuma. Não tenho a
obrigação de entender coisas assim tão exotéricas. Mas a pergunta que não cala
é como que Eike conseguiu em tão pouco tempo de vida localizar tantas jazidas
de minérios das mais variadas naturezas, nos morros, nos brejos, nos rios, nas
chapadas, nas águas profundas do mar e em tantos lugares ermos para servir de
bases para a emissão de suas ações anabolizadas? E ainda achava tempo de ser
marido de beldade e disputar corridas de canoa. O cara é ninja.
Mas
de repente, o ninja vira um carrapato incômodo nas unhas do sistema, pronto
para ser esmagado. Um fóssil ambulante, ainda que futurista, um fantasma
gosmento do que seria o simbolismo de um Brasil Moderno. A mesma mídia cai de
pau, numa judieira medonha. E lá vêm as manchetes, agora no sentido oposto:
Pobre Eike; O sonho acabou?; Como perder 34,7 bilhões de dólares em um ano;
Empresa de Eike executa demissão em massa e dá calote de R$ 500 milhões; Depois
do calote mundial, Eike não paga nem aluguel.
Numa
quebradeira danada, com as ações antes megavalorizadas, desidratando e virando
pó. Pó de bolsa de valores, provocando urticária nos mercados. O ninja das
finanças vira alvo de chacotas nas redes sociais. Dizem que assumirá a calvície
por falta de condições para reformar a peruca; que está vendendo revista
Playboy autografada pela ex, no Mercado livre, pra comprar passe de busu.
No
País das pirâmides financeiras, do Boi Gordo, da Avestruz Máster e tantas
espertezas mais, parece que esse foi mesmo um salto de vara em que a vara
quebrou no meio do salto.
2 Comentários
Bom ler em dia de Vininha um texto tão profundamente leve, tão pesadamente superficial.
ResponderExcluirA quem agradeço? Ao dono da verve ou ao amigo/irmão editor por nos propiciar tal deleite?
Ambos entendem do riscado demais...
SERÁ QUE ALGUÉM PERCEBE QUE ESTA FORTUNA FOI EVIDENCIADA NOS ÚLTIMOS 10 ANOS. EIKE BATISTA PRÁ CÁ, EIKE BATISTA PRÁ LÁ, VIAJANDO DE JATINHO COM O LULA PRÁ CÁ, VIAJANDO PRÁ LÁ. FORTUNA DESMORONA TÃO RAPIDAMENTE ASSIM???? QUE BELA TRAMÓIA A TRANSFERÊNCIA DE FORTUNA DE FAMÍLIA PARA OUTRA FAMÍLIA. A MÁGICA EXISTE SÓ PARA OS TROUXAS. UMA PENA QUE O SANGUE DO BRASILEIRO É DE BARATA. SE TIVÉSSEMOS SANGUE ÁRABE O TERROR DESVENDARIA RAPIDAMENTE AS MÁGICAS DO EIKE!
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