Por Nelson Motta, O Globo
Donadon agradece de joelhos a não cassação de seu mandato. Foto: Sergio Lima |
“Não acredito”, bradou aos céus o
deputado Natan Donadon, caindo de joelhos em patética pantomima, quando viu no
placar da Câmara 131 votos a favor, 41 abstenções e 108 bem-vindas ausências,
que mantinham o seu mandato e o consagravam como o primeiro
deputado-presidiário da nossa história. Que ronco das ruas que nada, eles não
ouvem e não têm medo, e mais uma vez votaram, ou fugiram, em causa própria,
porque também acumulam processos na Justiça e podem ser o Donadon de amanhã.
“Não a-cre-di-to” digo eu, dizemos nós,
diante da cena inacreditável, mas quando se trata dos 300 picaretas que Luiz
Inácio falou deve-se acreditar em tudo, porque de tudo eles são capazes. Nunca
na história deste país houve um deputado-detento, mas Lula agora diz que fica
puto quando falam mal de políticos.
Zoologicamente é fácil identificá-los:
andam em bandos, têm pelagem acaju, negro graúna ou raposa prateada,
alimentam-se de verbas públicas e são pacíficos e afáveis, condição necessária
para seus golpes e tramoias, mas quando ameaçados podem se tornar hostis e
violentos em defesa dos privilégios e impunidades do bando. Seu habitat natural
é a Câmara dos Deputados.
Donadon é o símbolo máximo do ponto mais
baixo de uma instituição que existe para dar voz e poder aos representantes dos
eleitores, mas, unindo o espírito de corpo ao espírito de porco, não hesita em
se solidarizar com um condenado pelo STF, que teve amplo direito de defesa e
usou todos os recursos e chicanas para retardar o processo.
Aprendi com meu pai que é covardia
tripudiar sobre os caídos, que a compaixão beneficia mais quem se compadece do
que ao compadecido, que perdoar é mais leve do que carregar o saco do rancor e
do ressentimento. Mas no caso desse picareta foram ele e seus colegas de
trabalho que tripudiaram sobre todos os cidadãos honestos e as instituições
democráticas.
E também sobre os presidiários.
Reclamando da comida, da falta de água, das algemas, do camburão “escuro como
um caixão”, viveu a realidade diária dos presos brasileiros, a maioria por
crimes menores que os dele, que prejudicaram toda a sociedade.
Nelson Motta é jornalista.
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