*Por Barbosa Nunes
Tiradentes-MG |
Conduzido
pelo Grão-Mestre Amintas de Araújo Xavier, percorremos o roteiro das cidades
históricas de Minas Gerais, chegando a Tiradentes, cidade nos pés da Serra de
São José. Pelas suas ruas de pedras do Centro Histórico, misturam-se igrejas
barrocas, pousadinhas, pousadas em casarões em estilo colonial, restaurantes
românticos, ateliês e lojinhas de artesanato. Tiradentes, fundada por volta de
1702, é cidade tombada pelo então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional desde 1938. A cidade se destaca pelo Festival de Cinema Internacional
e Festival Cultura e Gastronomia, dois eventos que atraem centenas de milhares
de pessoas.Lei mais
Durante o
deslizar tranquilo do veículo entre serras e morros de Minas Gerais, o
comunicativo Amintas contou histórias sobre São João Del Rei, Congonhas,
Mariana, Ouro Preto e Tiradentes. Após muitas curvas, a rodovia margeou
Congonhas do Campo. Neste ponto fui levado a Basílica do Senhor Jesus de
Matosinhos, que abriga as doze estátuas dos profetas, esculpidas em pedra sabão,
por Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, que viveu de
1730 a 1814, filho do carpinteiro português, Francisco Lisboa e de uma escrava
negra.
É o maior
artista da escultura brasileira de todos os tempos. Filho bastardo, mestiço,
carregou no corpo e na alma, além dos preconceitos, uma doença não definida até
hoje, que foi privando o artista dos dedos dos pés e das mãos, deformando-o.
Teve uma força maior que a sua doença e esta força o impulsionava a continuar
produzindo as obras que o iriam imortalizar. Foi sepultado quase que como um
indigente em uma vala comum e foi negado a ele mínimo reconhecimento.
O
conjunto apresenta os quatro principais profetas do Antigo Testamento – Isaias,
Jeremias, Ezequiel e Daniel, em posição de destaque na ala central da
escadaria.
Os, Baruc
(não foi profeta), Oséias, Jonas, Joel, Abdias, Amós, Naum, Habacuc, estão em
esculturas de proporções muito distorcidas. Uns afirmam que pela doença de
Aleijadinho, que dificultava o manejo do cinzel, outros se inclinam para
identificar uma intencionalidade expressiva, que se apresenta em uma
gesticulação variada e teatral, imbuída de significados simbólicos e até com
propósitos ocultos na composição do conjunto.
Nos
profetas de Aleijadinho a simetria é rigorosa. O profeta da extrema esquerda
está inclinado para o centro, assim como o da extrema direita. O dedo apontado
para o alto do profeta da direita se casa à perfeição com dedo apontado para o
alto do da esquerda.
Os seis
profetas de um lado falam de temas otimistas e têm expressões alegres, os seis
do outro lado, alertam para flagelos e horrores, retratados com fisionomias
sérias e graves. Há dezenas ângulos retos nas esculturas dos 12 profetas. Se se
pegar um conjunto de três profetas, quaisquer deles, cria-se um triângulo
equilátero. Os guias turísticos dizem de que há relação com a maçonaria. Alguns
estudiosos veem um templo maçônico com os profetas em posicionamento normal de
uma Loja. Ao fundo, a igreja como se fosse o altar maçônico, tendo o céu como a
abóboda celeste.
Outro
fato muito citado é que Aleijadinho ao escolher quais profetas retratar em
pedra sabão, compôs o seu próprio nome. No posicionamento dos gestos, muitos
historiadores maçons encontram sinais maçônicos.
Marilei
Vasconcelos, pesquisadora, distinguiu nos profetas uma série de símbolos
maçônicos e Isoldi Venturele, atribuiu a Aleijadinho inclinações políticas
libertárias.
Aleijadinho
não foi maçom, mas o seu pai, mestre de obras e arquiteto português, foi maçom
ativo. Na certidão de batismo, consta que Aleijadinho nasceu escravo, sendo
alforriado, conforme dados aceitos pelo museu Aleijadinho, localizado em Ouro
Preto.
Seguimos
viagem e chegamos à cidade de Tiradentes. Fomos
recepcionados pelos maçons das Lojas ‘Umbral das Vertentes’ e ‘Liberdade e
Fraternidade Pradense’, respectivamente Gelson Inácio da Silva, Valmir Neves
Lombello, Tarcísio Nonato de Paula, Gabriel Campos de Oliveira, Júlio de Pilar
Bolognani, César Murilo Trindade Velho, Manoel Messias de Alves Lima, Cláudio
Márcio Ferreira, Marco Antônio da Silva Rios, Luiz Cláudio da Silva e Gustavo
Rodrigues Dias, que nos levaram aos pratos da culinária mineira, em amplo
restaurante e suas varandas, com um fumegante fogão contendo tutu mineiro,
linguiça, frango ao molho pardo, feijão tropeiro, leitão à pururuca, frango com
“orapronobis”, crocante torresmo à pururuca, couve e angu, frango com quiabo,
não faltando a tradicional cachaça, seguido por canudo de doce de leite, pé de
moleque, canjica, queijo fresco, este símbolo maior das iguarias de Minas
Gerais e derivados, como pão de queijo e coalhada, além de ambrosia e outras
delícias. A comida mineira é substanciosa e como bom mineiro, Amintas disse:
“Comida com sustança.”
Nos
deslocamos pelas ladeiras da cidade, entre pedras altas e baixas que não
permitem um andar equilibrado, muito menos para mulheres portando salto alto,
mas chegamos ao objetivo da viagem realizada, que era por indicação que
agradeço, do Grão-Mestre Amintas de Araújo Xavier, participar da solenidade e receber
o Colar do Mérito Cívico Joaquim José da Silva Xavier “Alferes Tiradentes”,
concedido pela Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência Mineira, acompanhado do
certificado assinado pelo Comendador Grão Colar, Celso Rafael de Oliveira.
A Ordem
dos Cavaleiros da Inconfidência Mineira é uma instituição cívica, filantrópica
e cultural, que tem como pilar do seu objetivo social, um dos mais importantes
movimentos sócio/culturais e históricos do Estado de Minas Gerais, a
Inconfidência Mineira. Tem na sua essência uma das mais importantes premiações
ao reconhecimento de pessoas físicas e jurídicas que prestam comprovados
serviços à história, cultura e sociedade. É seguidora dos princípios
tradicionais da Ordem dos Cavaleiros Hospitaleiros, de Vila Rica, criada na antiga
capital de Minas Gerais, possivelmente pelo inconfidente Tomás Antônio Gonzaga,
por volta de 1789, atuando em Tiradentes na época da Colônia.
Barbosa
Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do GOB
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