Por Ir.'. Cláudio Américo - Loja Vera Lux Maringá-PR
Hoje fui ao mercado e durante
as compras me deparei com uma cena inusitada. Vi um irmão, que está adormecido
e a quem vou preservar a identidade, conversando com uma lata de sardinhas.
Limpei a vista para ver se não se tratava de uma miragem daquelas que ocorrem
aos sedentos no deserto, olhei novamente e lá estava o irmão efetivamente
dizendo alguma coisa para uma lata de sardinhas. Não uma qualquer, mas uma da
marca Coqueiro. Olhei ao redor para ver se a cunhada estava acompanhando o
irmão, mas constatei que ele estava só.
Meu primeiro impulso,
confesso-o agora envergonhado, foi o de me aproximar sorrateiramente para ouvir
a conversa, mas fiquei parado e observando tentando decifrar alguma coisa pela
leitura labial, mas vejo-me forçado a proclamar minha ignorância nesta arte,
não obtive êxito, percebi apenas umas poucas palavras espaçadas que pensei
tratar-se de: chuva, atraso, cebola, ônibus. Não conseguia encontrar nexo nelas
com a ausência dos verbos e advérbios de ligação, os quais não consegui captar. Leia mais
Era uma situação um tanto
quanto estranha, mas não podia-se afirmar que totalmente destituída de bom
senso. Talvez o irmão estivesse estudando teatro e estava ensaiando Hamlet com
o conhecido "ser ou não ser, eis a questão.
É possível que ele estivesse
dizendo prá lata de sardinhas: "Sou ou não sou maçom". e talvez ele
tenha captado ela respondendo "uma vez iniciado, serás sempre maçom"
E na verdade essa é uma
questão que efetivamente merece algumas reflexões:
O que de efetivo fazem as
Lojas atualmente para resgatar aos seus quadros aqueles irmãos adormecidos, que
por uma ou outra razão se afastaram do nosso convívio fraterno? Por que aqueles
que um dia foram recebidos em júbilo, não recebem hoje os efusivos cumprimentos
e saudações enlatadas?
Talvez ele tenha dito : Por
que me abandonastes? e talvez ele tenha captado como resposta o silêncio.O
silêncio dos inocentes que fizeram sua parte. Que fizeram o que foi possível.
Mas o que foi possível talvez não tenha sido o adequado. E reina silêncio em
ambas as colunas.
É fato que não só a maçonaria,
mas o mundo passa por uma transformação muito acentuada, e muitas Lojas hoje
talvez funcionem como verdadeiras empresas capitalistas, descartam-se aqueles
que não estão apresentando produção, e contratam-se novos membros, que são
efusivamente recepcionados com discursos empolados e cansativos carregados de
antigos chavões, que infelizmente já ouvimos várias vezes e tem se perpetuado
no tempo, mais por palavras do que por ações: diz-se: a família maçônica está
em júbílo pela aquisição de mais um obreiro, blá,blá,blá, diz-se: agora que
você entrou para a maçonaria deixe a maçonaria entrar em você, blá, blá, blá.
Cada vez menos se tem aquela fala limpa e pura que brota do seio da alma, que
jorra do centro do coração ressaltando o verdadeiro sentido da irmandade. O que
hoje se recebe em júbilo talvez seja o desprezado de amanhã.
É o mundo em pleno compasso de
evolução, e os modernos meios de comunicação tem uma relevância imperativa
nesse processo, vemos poderosos grupos tendo descortinadas suas mazelas,
expondo suas purulentas feridas, à citar como exemplo a Igreja Católica que
atravessa uma aguda crise com a renúncia do atual Papa tendo como epicentro
questões ligadas a pedofilia, corrupção e disputas de poder. A mesma igreja que
nos idos do século XVI tendo a necessidade de vozes agudas em seus corais, onde
não admitiam mulheres, castrava jovens rapazes, que em sua maioria eram
crianças orfãs ou abandonadas, a fim de lhes preservar, ainda na fase adulta, a
tessitura vocal da infância, cuja extensão vocal é quase idêntica àquela
própria das tessituras vocais femininas. Eram os chamados "castrati"
e eram muito valorizados e agraciados (há um excelente filme de 1994 sobre o
tema chamado "Farinelli il castrato", que vale a pena ser visto).
Inclusive há uma bula papal, par ecida com aquela que considera os maçons
excomungados, emitida em 1589 pelo papa Sisto V aprovando formalmente o
recrutamento de castrati para o coro da Igreja de São Pedro. 313 anos e muitos
castrati depois, o Papa Leão XIII proibiu definitivamente a utilização dos
castrati nos coros da igreja O último castrato a abandonar o coro da Capela
Sistina foi Alessandro Moreschi (1858-1922), no ano de 1913.
É fato que ao longo do tempo
sempre estivemos envoltos num contínuo processo de transformação, tenhamos ou
não consciência disso, mas é fato que muitos valores de outrora trasmutaram-se
em outros atualmente e possivelmente serão outros amanhã, mas é preocupante
perceber o verdadeiro conceito de irmandande perdendo sua mais bela pureza. É
triste ver irmãos recebidos com grande alegria em suas Sessões Magnas de
Iniciações e posteriormente serem simplesmente banidos do reino.
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