Por Brian Robin
Fazer parte de algo maior do que si mesmo.
Foi esse o impulso que levou Conor Moorman a procurar sua loja maçônica no dia
em que completou 18 anos. Ele sabia das dificuldades que enfrentaria, mas
estava pronto para superá-las. Treze anos depois, Moorman não apenas venceu
esses obstáculos, como também se tornou uma inspiração para outros maçons da
Califórnia que, como ele, precisaram trilhar seus próprios caminhos dentro da
Ordem.
Moorman vive praticamente toda a vida com tetraplegia,
resultado da síndrome pós-poliomielite que contraiu ainda bebê.
“Quando a
Maçonaria foi criada, não pensaram em alguém como eu”, diz. “Mas eu consigo
fazer isso muito bem.”
E ele realmente consegue. Pessoas com
deficiência — físicas ou mentais — estão presentes em diversas lojas do estado.
Algumas, como Moorman, têm limitações visíveis. Outras, não. É o caso de Kelly
Ranasinghe, ex-Venerável Mestre da Loja Imperial Valley nº 390, diagnosticado
com transtorno bipolar tipo 1, transtorno depressivo maior, TDAH e TEPT. Para
ele, dominar os trabalhos escritos, orais e de memória foi um grande desafio.
Ainda assim, tanto Moorman quanto Ranasinghe conseguiram vencer as barreiras
com criatividade e apoio dos irmãos de loja.
De “sãos de corpo e mente” à inclusão
Nem sempre foi assim. Historicamente, um
dos requisitos para ingressar na Maçonaria era que o candidato fosse “são de
corpo e mente” — o que excluía pessoas com deficiência.
Somente após a Primeira Guerra Mundial
essa visão começou a mudar. Em 1918, o Grão-Mestre de Rhode Island escreveu:
“É elementar que as qualificações internas, e
não as externas, sejam os requisitos essenciais para ingressar na instituição.
Se um homem possui as qualidades adequadas de mente e coração, as limitações
físicas devem ser consideradas secundárias.”
Hoje, Moorman, membro das lojas Cypress
Mountain nº 196 (Atascadero) e King David’s nº 209 (San Luis Obispo), é um
exemplo vivo dessa transformação. Desde que se juntou à fraternidade, em 2011,
já atuou como presidente do comitê de caridade, integrante do comitê executivo,
mestre ex officio da Paso Robles Temple Association e membro do comitê de
construção.
Quando sua antiga loja, Atascadero nº 493,
se fundiu com a Thaddeus Sherman nº 196 em 2021, Moorman foi eleito o primeiro Venerável
Mestre da nova loja — cargo que ocupou nos três anos seguintes.
“O entusiasmo e a paixão dele pela Ordem
são incomparáveis”, afirma o secretário David Coss.
Superação e reconhecimento
Nada disso, porém, veio sem esforço.
Moorman utiliza cadeira de rodas e fala com ajuda de um ventilador mecânico.
“Nem consigo
imaginar o quanto foi difícil obter meus graus”, lembra. “Gostaria de ter visto
como discutiram a maneira de me conduzir ao terceiro grau. Eles têm sorte de eu
ser um bom motorista, porque não seria fácil me mover pela sala vendado numa
cadeira de rodas grande se eu não fosse.”
Apesar das limitações físicas, Moorman se
tornou um dos ritualistas mais respeitados da Califórnia. Em 2022 e 2023,
conquistou o Prêmio de Ritual Maçônico do Estado e já recebeu outras distinções
em competições anteriores.
Ele brinca:
“Participo das
competições de ritual porque não posso jogar futebol — e isso eu sei fazer. Sou
competitivo e adoro poder dizer que venci.”
Durante as sessões, Moorman conta com o
apoio de dois irmãos, que ele chama de “as sombras” — responsáveis por executar
as tarefas físicas do ritual, como ajustar o avental do candidato ou
ajoelhar-se ao lado dele durante uma obrigação. Em alguns momentos da
cerimônia, ele faz pausas para descrever os movimentos previstos no ritual.
Deficiências invisíveis
Enquanto Moorman lida com limitações
visíveis, Ranasinghe enfrenta desafios menos aparentes — mas igualmente
exigentes.
Como qualquer maçom sabe, recitar um
ritual complexo diante de uma sala cheia de irmãos pode ser estressante. Para
quem tem dificuldades de leitura ou aprendizagem, essa tarefa pode se tornar
aterrorizante.
Advogado do governo e especialista em bem-estar
infantil, Ranasinghe se define como um “geek do conhecimento”. Foi atraído pela
Maçonaria ao saber que figuras como Edward Jenner (pai da imunologia) e Alexander
Fleming (descobridor da penicilina) também eram maçons. Iniciado na Loja San
Diego nº 35, ele se mudou depois para El Centro, tornando-se ativo na Loja
Imperial Valley nº 390, onde se envolveu em projetos comunitários.
Mas aprender o ritual foi um desafio
enorme.
“Tentei todos os truques possíveis para
memorizar”, conta. “Ler e decorar era torturante. Meu cérebro simplesmente
pulava de um lado para o outro.”
Para vencer a dificuldade, ele desenvolveu
métodos criativos: desenhos, slides em PowerPoint, poemas, quebra-cabeças e até
códigos de cores para destacar trechos. Transformou palavras em movimentos e
andava pela sala enquanto recitava.
“Interpretei o ritual de todas as formas
artísticas possíveis”, diz rindo. “Os antigos ritualistas provavelmente estão
se revirando no túmulo.”
Hoje, Ranasinghe atua como defensor da
saúde mental e participa da Aliança Nacional sobre Doenças Mentais. Tornou-se
uma voz ativa em defesa das pessoas com o que chama de ‘deficiências
invisíveis’ no Vale Imperial.
Durante o Mês Nacional de Conscientização
sobre o Suicídio, em setembro, ele liderou uma campanha de arrecadação de
fundos na sua loja para instituições de apoio à saúde mental. “Fiquei
impressionado com o carinho e o apoio dos irmãos”, afirma.
Ainda há muito a fazer
Apesar dos avanços, Ranasinghe reconhece
que ainda há barreiras a vencer dentro da Maçonaria.
“O estigma em torno das doenças mentais
ainda existe, e isso faz com que muitos sintam receio de falar sobre o
assunto”, diz:
“É importante que
os maçons entendam que existe um grupo entre nós que enfrenta essas
deficiências — e que o papel deles dentro da fraternidade é igualmente
valioso.”
Tradução: Antônio Jorge
Fonte: https://www.freemason.pt
LEIA TAMBÉM:






0 Comentários