O Discurso de um Padre Maçom que Deflagrou a Questão Religiosa (1872)


Da Redação

O discurso do Irm:. Padre Almeida Martins em 1872, homenageando o Visconde do Rio Branco pela Lei do Ventre Livre, foi um marco que desencadeou a chamada Questão Religiosa no Brasil. Esse episódio está inserido em um contexto de crescente tensão entre a Igreja Católica e a Maçonaria no Império do Brasil.

A Lei do Ventre Livre e a Reação da Igreja

A Lei do Ventre Livre, sancionada em 28 de setembro de 1871, declarava livres os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir daquela data. A Maçonaria, fortemente envolvida no movimento abolicionista, teve um papel crucial na elaboração e defesa dessa legislação, e o Visconde do Rio Branco, ele próprio maçom, foi o principal articulador dessa conquista.

A Igreja Católica, que vinha se distanciando da Monarquia e da Maçonaria, viu a aprovação da lei como uma interferência indevida do Estado em questões sociais e religiosas. Muitos clérigos, especialmente os mais conservadores, se opuseram à lei, enquanto outros, como o Padre Almeida Martins, a defenderam publicamente.

O Discurso como Estopim

O discurso do Padre Almeida Martins, proferido em uma sessão maçônica em homenagem ao Visconde do Rio Branco, foi interpretado como um desafio direto à autoridade eclesiástica. Naquele momento, a Maçonaria já era alvo de críticas por parte da Igreja, especialmente após as condenações papais feitas por Pio IX, que, na Encíclica Humanum Genus (1884), reafirmou a incompatibilidade entre catolicismo e Maçonaria.

O Início da Questão Religiosa

A Questão Religiosa (1872-1875) foi um conflito entre a Igreja e o Império, impulsionado pelo fato de que alguns bispos começaram a proibir que padres e leigos participassem da Maçonaria, seguindo diretrizes vindas de Roma. O Imperador Dom Pedro II, defensor do regime do Padroado (sistema em que a Igreja estava subordinada ao Estado), viu essa atitude como uma afronta à autoridade imperial.

Os eventos levaram ao processo e prisão dos bispos de Olinda e Belém (Dom Vital e Dom Macedo Costa), que se recusaram a voltar atrás em suas decisões contra os maçons. Isso gerou uma crise que só foi resolvida em 1875, com o perdão imperial concedido aos bispos.

Conclusão

O discurso do Padre Almeida Martins foi um momento simbólico que evidenciou o choque entre Maçonaria, Igreja e Estado, antecipando o grande conflito da Questão Religiosa. Esse episódio reforçou a cisão entre catolicismo e Maçonaria no Brasil e marcou um dos momentos mais tensos do Segundo Reinado, pavimentando o caminho para a futura separação entre Igreja e Estado na República (1890).

                          AJUDE A MANTER VIVO O BLOG 

E A REVISTA O MALHETE!

Sua doação, de qualquer valor, é essencial para continuarmos compartilhando conteúdos de qualidade. Contribua e faça parte desta jornada conosco!

Postar um comentário

2 Comentários

  1. Como congregados todos aqueles que professam existir um grande arquiteto do universo, não deveria ter essa acepção sobre religião, afinal não é somente um CRIADOR?

    ResponderExcluir
  2. Infelizmente, onde o homem está integrado surgem diversas manifestações distintas. O que falta, no entanto, é discutir racionalmente, sem ataques, sem pré-conceitos, a posição de cada um, compreendendo suas razões e não radicalizando. Se fossemos todos iguais, seríamos robôs. A Igreja já cometeu incontáveis perseguições a grupos que discordam de suas posições, sem contar a Inquisição que permitiu atrocidades e julgamentos sem defesa dos implicados. Pregam a moral de Cristo e, no entanto, mataram, torturaram, condenaram a prisão milhares de seres humanos, esquecendo-se do amor de Jesus que pede que amemo-nos uns aos outros, além do perdão incondicional de 70x7x.

    ResponderExcluir