A Maçonaria Nicaraguense Sob o Regime Ortega: Um Espelho da Situação Cubana


Da Redação

No dia 2 de março de 2025, o jornal cubano independente 14ymedio publicou um artigo intitulado "A Maçonaria Nicaraguense Segue os Passos de Cuba para se Dobrar Diante do Regime Ortega". O título inquietante expõe uma crise profunda que assola a fraternidade nicaraguense, confrontada com pressões autoritárias semelhantes àquelas enfrentadas pelos maçons cubanos ao longo das décadas.

Em um momento em que a Maçonaria global defende valores de independência e humanismo, o caso nicaraguense levanta um questionamento essencial: até que ponto uma obediência pode se curvar sem trair sua própria essência? Este artigo analisa os fatos, seu contexto histórico e suas repercussões para a Arte Real, baseando-se em testemunhos e na dinâmica regional.

Repressão e Controle Estatal na Nicaragua

Desde que reassumiu a presidência em 2007, Daniel Ortega tem reforçado seu controle sobre a sociedade civil. Segundo a Anistia Internacional (Relatório 2023), mais de 5.600 organizações não governamentais, associações e entidades culturais tiveram seu registro legal cassado desde 2018. Esse período também foi marcado por protestos reprimidos com extrema violência, resultando em mais de 300 mortes, conforme dados da ONU.

Entre as vítimas desse regime de repressão encontra-se a Maçonaria Nicaraguense. Em 2024, a Grande Loja da Nicaragua e o Supremo Conselho perderam sua personalidade jurídica, tornando-se mais um alvo da estratégia de Ortega para eliminar qualquer voz independente. Esse padrão de ataque à Maçonaria já havia sido observado em Cuba nos anos 1960, quando Fidel Castro confiscou bens da fraternidade e implementou medidas de vigilância e infiltração.

De acordo com 14ymedio, a resposta da Maçonaria nicaraguense tem sido uma tentativa de compromisso com o regime. Essa aproximação se reflete na incorporação de antigos políticos sandinistas nas fileiras maçônicas e na marginalização de membros que defendem um retorno à plenitude democrática. O ponto de ruptura ocorreu em 17 de fevereiro de 2025, quando, durante uma reunião da Confederação Maçônica Interamericana (CMI) com o secretário da OEA, os maçons nicaraguenses decidiram romper com essa histórica coalizão de 94 obediências.

O Reflexo da Situação Cubana

As semelhanças com Cuba são notáveis. A Grande Loja de Cuba, fundada em 1859 e com 30.000 membros antes da Revolução de 1959, passou por décadas de vigilância e infiltração estatal. Eduardo Torres-Cuevas, historiador cubano, relata em Cinco Ensayos sobre la Masonería Cubana (2013) que Fidel Castro utilizou uma facção favorável ao regime para neutralizar a ordem.

Mais recentemente, em 2024, um escândalo envolvendo o Grande Mestre Mario Urquía Carreño revelou novas tentativas de controle estatal. Ele foi acusado de estar a serviço da Segurança do Estado e expulso em meio a protestos. O caso exemplifica como o regime cubano buscou subjugar a Maçonaria, um processo que os maçons nicaraguenses parecem agora repetir.

Hiram, um maçom de Manágua entrevistado pelo 14ymedio, comenta a situação com preocupação: "Observamos Cuba e nos perguntamos: por que um Grande Mestre fugiu em 2023? Por que o dinheiro desapareceu?". A Maçonaria cubana, que já foi um bastião dos ideais independentistas com figuras como José Martí, hoje luta para preservar sua autonomia, com um número de membros reduzido a 20.000, segundo estimativas do El País Uruguai (2017).

A Tradição Maçônica na Resistência Latino-Americana

Historicamente, a Maçonaria na América Latina tem sido um bastião da liberdade. No século XIX, desempenhou um papel crucial nas lutas pela independência. Na Nicargua, figuras como Tomás Martínez foram influentes no movimento liberal, enquanto em Cuba, José Martí e Antônio Maceo levaram os ideais maçônicos para a luta contra o domínio espanhol. Segundo Francisco J. Ponte Domínguez (La Masonería en la Independência de Cuba, 1954), essa tradição de resistência está no DNA da fraternidade.

Contudo, regimes autoritários têm tentado neutralizar essa força. Na Venezuela, o chavismo marginalizou as lojas maçônicas. Em Cuba, pressões levaram ao exílio de Grandes Mestres como Francisco Javier Alfonso Vidal em 2023 (14ymedio, 3 de janeiro de 2023). Na Nicaragua, o pequeno número de membros ativos (cerca de 200, segundo Hiram) torna a Maçonaria vulnerável, mas também estratégicamente visada pelo regime Ortega.

Compromisso ou Traição?

O 14ymedio detalha os sinais do compromisso da Maçonaria nicaraguense com o regime. A inclusão de ex-políticos sandinistas nos altos escalões e a saída do CMI apontam para um alinhamento preocupante. Segundo o Confidencial (16 de julho de 2024), o regime de Ortega não precisa de uma Maçonaria forte, apenas de uma instituição neutralizada.

A sobrevivência institucional não pode justificar o abandono dos princípios fundamentais da fraternidade. Para os maçons internacionais, surge um dilema: devem intervir ou respeitar a soberania das obediências locais? A história recente da Maçonaria na Bulgária, que renasceu em 1990 com apoio externo, sugere que a solidariedade internacional pode desempenhar um papel vital (California Freemason, 2022).

Conclusão: Vigilância e Solidariedade

A Maçonaria Nicaraguense caminha para um destino semelhante ao de Cuba, arriscando-se a perder sua identidade em meio a compromissos com o autoritarismo. Em tempos de repressão, a história ensina que a Luz pode atravessar a escuridão. Que os maçons livres do mundo, lembrem-se disso, oferecendo apoio aos seus Irmãos e Irmãs em tempos difíceis.

 Fonte: 14ymedio14ymedio


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