Por Giovanni Cecconi
A tristeza é aquela sombra que paralisa
e deprime; a tristeza surge da raiva, pois quanto mais perturbada a mente fica
agitada, mais ela cai em confusão; quando a mente perde a doçura da
tranquilidade, ela se alimenta da tristeza que surge da perturbação.
A tristeza é um abatimento da alma, que
se segue a pensamentos irados; é essa sombra que nos toma, que nos paralisa e
deprime, extinguindo, aos poucos, a vontade de viver em nós.
É reconhecida pela incapacidade de
chorar, pois só graças ao dom das lágrimas podemos vivenciar a tristeza como um
estado pelos nossos erros.
A tristeza insinua-se no coração do
homem, corrói lentamente toda a sua vida e se não for combatida acaba por
habitar em nós, como um inquilino, cada vez mais difícil de afugentar.
A tristeza é o não prazer por
excelência: priva-nos de todo o prazer e seca o coração e está na raiz da
depressão nervosa, porque leva à sensação de não sentido da vida e a um estado
de letargia, em que a vida aparece sem luz e sem esperança: numa palavra, inabitável.
Eu me perguntei: por que minha alma está
perturbada? Por que, às vezes, a tristeza permanece como uma sombra dentro de
nós, como um zumbido que nunca para de nos atormentar?
Podem ser muitos os motivos que, de vez
em quando, geram em nós este estado: o sofrimento sofrido injustamente, as
contradições reais da nossa vida, a constatação das frustrações dos nossos
desejos, mesmo os mais nobres e justos.
Muitas vezes, a vida e a realidade
contradizem-nos em muitos aspectos, mas ai daqueles que pensam que podem viver
num mundo dourado livre de frustrações, ai daqueles que se alimentam de
nostalgia imaginária e de expectativas impossíveis; ai daqueles que se
apaixonam pelos seus papéis e não querem abrir mão deles e crescer...!
Se, porém, praticarmos a aceitação das
contradições diárias; se, apesar do sofrimento, soubermos compreender e tratar
as nossas feridas, os nossos porquês, então poderemos também abrir-nos àquela
consolação que vem do nosso princípio, do nosso ser e da comunhão com os nossos
irmãos.
Indo mais fundo, parece-me que a
essência da tristeza consiste em ser uma patologia da nossa relação com o
tempo; por um lado, o passado é idealizado como um tempo indiscutivelmente
melhor que o atual e é evocado com acentos sinceros de nostalgia, não sem uma
certa obtusidade; por outro lado, sonhamos realizar num futuro mítico o que
está sempre destinado a começar amanhã, ou tememos o futuro pelas incógnitas
que ele pode conter; enfim, de uma forma ou de outra, refugiamo-nos num mundo
imaginário para não aderir à realidade, mas, ao fazê-lo, não apreendemos o
presente, como hoje, como a hora irrepetível que nos é dada para viver.
Sentir tristeza diante da perspectiva da
morte é típico da raça humana; a pedra angular, porém, para seguirmos o nosso
caminho - tudo menos fácil - é apenas quando vislumbramos o amor e quando
sabemos que o amor, a anima mundi, pode ser a razão de viver e de morrer; então
a tristeza cessa e a felicidade e a alegria sempre renovadas que habitam dentro
de nós abrem caminho.
A Maçonaria é alegria e, portanto,
antídoto para a tristeza, capacidade de viver, de forma adequada, a relação com
o tempo, de viver o momento presente, o eterno presente; a alegria é uma
virtude que une o tempo humano no hoje e na plenitude do nosso ser, antecipando,
no presente, a nossa dimensão final, a alegria da meta que nos espera no
conhecimento universal.
A alegria não é um sentimento vago e
espontâneo, mas um estado a ser buscado com esforço e comprometimento; devemos
obedecer ao comando da alegria e praticá-lo, vivendo plenamente o momento
presente, para experimentar que nem o passado nem o futuro podem nos
determinar, mas que isso é possível vivendo apenas o hoje da nossa consciência.
Cada um de nós deve começar o dia
levantando os olhos para o céu e ouvindo o verdadeiro impulso do nosso coração,
agradecendo, à nossa maneira, por ter recebido aquele lindo presente que é a
vida.
Uma forma particular de tristeza é a
inveja e surge da consciência, da observação do bem e da felicidade dos outros;
a matriz deste estado de ser é o desejo de ter a nós mesmos, as “coisas” dos
outros, mesmo que às vezes desejemos simplesmente que o outro não tivesse esses
bens, essas características e esses dons específicos e é por isso que que nós tentamos esconder esse
sentimento indescritível, do qual não nos gabamos, mas do qual nos
envergonhamos.
Mais profundamente, a inveja é um
reflexo que consiste em comparar-se sistematicamente com os outros; é o que
reflete a minha capacidade pessoal de reconhecer o que foi concedido a mim e
aos outros, respectivamente.
Sempre há qualidades que os outros têm e
eu não…; fixando-me nisso, em vez de me alegrar com a vida como ela é, observo
e invejo os dons que ela distribuiu aos outros.
A inveja é um sentimento que,
infelizmente, já surge na infância, principalmente nas relações familiares.
O invejoso é aquele que se sente
excluído de um bem que o outro próximo possui: o bem do outro é sofrido como o
próprio mal.
Os afetados por esta patologia olham com
maus olhos para a felicidade, a bondade e a virtude dos outros, a ponto de
desfigurar a sua imagem e realidade, a ponto de concentrar todos os seus
desejos naquilo que os outros possuem.
A inveja às vezes assume uma conotação
específica, que costumamos definir como ciúme; vem do viver próximo, da
comparação contínua, da verificação do que os outros são e fazem e,
consequentemente, da aprovação e do reconhecimento que recebem: mas é
precisamente aqui que devemos praticar alegrar-se com aqueles que se alegram,
chorar com aqueles que choram, para partilhar as alegrias e as tristezas dos
nossos irmãos e dos nossos pares, porque as alegrias são dádivas para todos e
para o bem comum.
Porém, a inveja e o ciúme são os males
mais presentes na vida comum e provocam discussões, disputas, desentendimentos,
murmúrios...
Existe um antídoto para a inveja e o
ciúme?
Sim, gratidão, isto é, saber agradecer,
saber se surpreender com o bem, não importa quem o faça, saber ver com bom
olhar tudo o que floresce ao nosso redor….
Só quem sabe reconhecer e agradecer o
bem feito pelos outros é capaz de fazer o bem, de purificar o seu trabalho e de
cantar o seu agradecimento ao GADU por tudo o que funciona na história e na
vida de um homem.
O sentimento de inveja só deixa de
existir em todos nós quando somos capazes de dizer que “o bem que pude fazer,
fiz aos outros que estão comigo: sem estes irmãos, sem estes meus entes
queridos, eu não teria sido capaz de fazer o pequeno bem que fiz."
1 Comentários
Que texto impactante é direto. Ótimo para reflexão.
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