AS REVOLUÇÕES MAÇÔNICAS

José Maurício Guimarães

 

frase é de Millôr Fernandes: "DESCONFIO DE TODO IDEALISTA QUE LUCRA COM SEU IDEAL."

Millôr Fernandes (1923-2012) foi jornalista, escritor, tradutor, desenhista, dramaturgo e poeta. Mas a geração dos anos 60 e 70 o consagrou como humorista notório por suas colunas em publicações da boa (e velha) imprensa brasileira (mais boa do que velha). Isso foi nos tempos que amarrávamos cachorro com linguiça e podíamos rir de tudo sem a censura do politicamente correto. Éramos incorretos e ponto final. Millôr Fernandes era humorista no sentido amplo: percebia e manifestava, criticamente, a comicidade da vida absurda que levamos na tentativa de agradar os que nos cercam e os que nos cerceiam. Como eu disse no artigo anterior, "Ridendo Castigat Mores" (através do riso corrigem-se os costumes), sentença do neolatino Jean de Santeuil.

Guimarães Rosa desconfiou de muita coisa ("Eu quase que nada não sei. mas desconfio de muita coisa") e o carioca Millôr desconfiou do idealista que lucra com o ideal.

Lucrar não é apenas auferir ganhos materiais ou dinheiro de uma atividade ou empreendimento; lucrar é também (e principalmente) a obtenção de vantagem ou proveitos – sejam posições ou condição de superioridade de alguém com relação aos outros.

Passados mais de cinquenta anos da época de ouro do humor inteligente no Brasil, pergunto-me se ainda há chance de corrigirem-se os costumes ou simplesmente rirmos das nossas próprias limitações. Estamos a cada dia mais sérios – não por virtude, mas porque o ideal está sendo negociado nas bolsas de valores. Assim o mundo ficou carrancudo e burro; ninguém mais sabe brincar. Todos os esforços assestam para posições ou condição de superioridade almejadas por gente de pouco ou nenhum valor.

 TAPETES PERSONALIZADOS

Por isso Millôr desconfiava desses idealistas. Eu nem chego a desconfiar; coloco-me antecipadamente de sobreaviso quando pressinto um discurso melífluo a escorrer como correnteza açucarada e empapuçada de lugares-comuns. Tenho lido tanta coisa açucarada na internet que meu computador ficou cheio de formigas doceiras.

O primeiro e maior desafio está em readquirirmos o bom-humor, voltarmos a achar graça nos enormes aparatos que criamos e que não servem para nada.

A virtude continua no meio: “nem tanto à terra, nem tanto ao mar”. Se o pessimismo paralisa, o otimismo a qualquer custo jogará todos no abismo.

Já dizia minha avó: “muito riso é sinal de pouco siso”.

NO CASO DA MAÇONARIA

Provoca-nos verdadeiro entusiasmo o recente surgimento de tantos maçons produzindo textos e desenvolvendo pesquisas. Há também brilhantes oradores − muitas vezes autodidatas – que se saem muito bem naquilo que se dispõem fazer. Esses bons escritores, oradores e pesquisadores todos sabemos quem são: as atenções das assembleias e nas reuniões das Lojas voltam-se para eles quando pedem a palavra, pois sempre têm qualidades a conferir numa discussão. Ao contrário dos impertinentes e da fala mansa, os bons construtores do Templo moldam palavras e conteúdos ao público a que se destinam; instruem sem pedantismo ou inflexões ríspidas de voz e gestos. Sabemos que o bom discurso não exibe conhecimentos de quem não os possui, nem ostenta elementos garimpados em obras alheias ou internet com o intuito dissimulado de humilhar os circundantes ou amedrontar iniciantes. Eu posso discernir com precisão de onde esses "novos sábios" copiam seus malabarismos e péssima literatura.

Volto a observar atentamente o momento que vivemos e aprofundo-me em reflexões sobre o que nos espera nos próximos meses deste 2020.

Levo em consideração os movimentos de Irmãos ou grupo de Irmãos que, distanciados de suas Lojas, buscam no mundo virtual alguma esperança, uma palavra amiga ou – quem sabe? – o socorro que esperam da fraternidade. Quase ouço o grito sufocado dos que se acham em situação de perigo, desamparo ou doença, gritos que se perdem no vazio de arengas enfadonhas e prolixidades sobre a "arte de bem viver", "os deveres do maçom" e discussões improdutivas sobre "sexo dos anjos" -- detalhes dispensáveis de instruções, formulários, listas, regulamentos e intermináveis beija-mãos.

Para quem desejava ver a maçonaria retomar sua vocação revolucionária, O MOMENTO CHEGOU. Não percam o trem da História, levantem a cabeça e reajam.



Apesar da luz que vem surgindo no fim do túnel, permanecemos mergulhados numa crise sanitária sem precedentes. Acossados por disputas políticas e vertiginosa queda na economia, ficamos expostos a um bombardeio do falso otimismo e de ilusórias expectativas. Na qualidade de maçons, somos uma organização de homens adultos, livres e inteligentes. Cada um deveria saber pensar por si mesmo, pois não precisamos de condutores, nem líderes, nem gurus. Nossa organização precisa de bons dirigentes – executivos e administradores de primeira linha – e isso já temos em nossas Potências e Obediências, graças ao voto livre. Mas o momento, repito, nos obriga repensar velhos conceitos de liberdade e igualdade. Grandes e pequenos, aprendizes e mestres, precisamos, mais do que nunca, exercitar FRATERNIDADE e solidariedade. Essa foi a promessa que fizemos na Iniciação; e esse foi o compromisso que a Ordem assumiu conosco naquele mesmo instante.

Água-com-açúcar não vai resolver nada; flores mimosas e polidez afetada são dispensáveis; rapapés e mesuras são salamaleques inúteis até que nos reorganizemos − primeiro como pessoas; em seguida, como cidadãos e como pátria; e finalmente, como maçonaria – é nessa ordem que caminharemos bem no pós-pandemia.

A maior punição para quem se cala é ser dominado pelos que tagarelam nos desvãos das organizações. Desconfiemos, nós também, desses idealistas que vêm vestidos com peles de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes.

Não podemos ter medo de falar, questionar ou pedir. Se preciso for, um sonoro 'NÃO' será grito de liberdade.

ADENDO DE 15 DE JUNHO DE 2020

Muita gente questiona os dados sobre a pandemia causada pelo COVID19 alimentando, dessa forma, um debate que deveria ser científico – mas não é, uma vez que envolve paixões políticas – razão pela qual prefiro não me imiscuir em firulas estatísticas ou picuinhas irrelevantes. Se nalgum canto desse sertão ou veredas um sinal vermelho de alerta acender, eu prefiro parar o trote, apear da mula e ficar atento no horizonte das gerais.

NA MAÇONARIA, O DEVER DE CASA: Na minha opinião, todos os maçons devem se conscientizar dessa realidade. Muita gente continua pensando que a pandemia "é uma brincadeira", uma gripe de nada ou o resultado de uma conspiração política mundial. Não pretendo discutir isso, pois cada um carregará na consciência as opiniões desastradas que divulgam nas redes (piadinhas, principalmente), que desorientam a população e beneficiam o "comércio da morte". Não pretendo discutir tais aspectos, nem reagirei aos prováveis ataques que me serão endereçados pelo simples fato de eu não ter líderes que me puxam pela coleira, nem gurus que me forcem com correntes de ouro. Na qualidade de leigo, sei apenas sei que a tragédia e a dor de alguém ser vitimado pela Covid19 existe: acabo de sofrer a perda de uma parente e acompanho o longo sofrimento da família, a angústia de não podermos fazer nada, nem ao menos nos encontrarmos para o consolo mútuo e despedidas fúnebres de um velório. Por isso estou escrevendo esta mensagem; CONSCIENTIZEM-SE e CUIDEM-SE.

Em conversas com médicos amigos, inclusive médicos maçons, sou levado a aceitar o fato de que a situação continua preocupante, em Minas Gerais assim como noutras partes do país. Mais do que um manifesto de alerta, assinado pelos Grão-Mestres da maçonaria brasileira, é necessário que cada Irmão assuma seu urgente papel de multiplicador dos protocolos de cuidados que o momento exige. Tudo que “a maçonaria falou” ou os maçons escreveram nos tempos normais será posto à prova AGORA, que estamos ‘numa guerra’ sem precedentes. Com o perdão da rima inevitável, "É AGORA QUE DEIXARÃO DE SEREM RECONHECIDOS COMO TAL OS QUE APENAS USAM AVENTAL".

Se os governantes, devido ao conflitos políticos, estão relapsos ou desencontrados, cabe à maçonaria encabeçar um movimento em defesa da paz, da saúde e do bom-senso. Pessimismo não ajuda; o otimismo, além de não ajudar nada, atrapalha; temos que ser REALISTAS. Temos que ter sempre em mente que, na qualidade de maçons, nosso DEVER é promover o bem estar da Pátria e da humanidade, combatendo a ignorância e os erros. Por isso somos uma instituição progressista e humanitária – não apenas um clube de compadres aplaudindo-se uns aos outros em reuniões semanais. Somos uma organização iniciática de homens livres com o objetivo de tornarmos feliz a humanidade − pelo aperfeiçoamento dos costumes e pelo respeito à autoridade.

Não estou liderando nenhum grupo nem vendendo cursos, livros ou facilidades. Não sou candidato a nada, nem agora, nem no futuro – nem ambiciono o relevante cargo de síndico do condomínio onde resido. Tampouco me sobreponho à autoridade dos Grão-Mestres da maçonaria, aos quais reitero lealdade e constante apoio em suas ações, desde que acertadas e compromissadas com a realidade que ora se nos apresenta. Escrevo esta mensagem para conclamar os Irmãos a pensar e agir com liberdade, disciplina e ordem – na certeza de que temos dirigentes eleitos aos quais foram delegadas as decisões em benefício da Ordem e, por consequência, visando o bem do Brasil e de toda a humanidade.

Chegou o MOMENTO HISTÓRICO de dizermos "a que viemos". Reconheço o trabalho que as GRANDES LOJA, o GOB-MG e o GRANDES ORIENTES/COMAB estão implementando através de seus Oficiais e funcionários. Tenho por princípio confiar no bom discernimento e sabedoria desses dirigentes eleitos por nós. Mas ouso sugerir medidas mais urgentes. O futuro e a História vão cobrar isso de nós, pois vidas humanas estão em jogo.

As pessoas com quem busco me informar são médicos de minha inteira confiança (inclusive, como eu disse acima, maçons médicos atuantes nas frentes de combate à pandemia). Todos são unânimes no sentido de que, para mais ou para menos em relação às estatísticas, temos que redobrar os cuidados.

Não acompanho os achismos de internet nem os delírios de alguns Irmãos que, infelizmente, se utilizam dessa tragédia para outros fins. Tenho alertado para essas manobras e quem sabe ler nas entrelinhas do que escrevo, sabe onde estão esses “primos” desavisados. Chega de brincadeiras infantis e amenidades. É hora de levantarmos a cabeça e agirmos conforme exige a honra e a dignidade.

Escrevo por dever de consciência, pois não vivo dos frutos do ofício de escrever. Se recebo uma pedra de sal, que seja, para o meu bem, tenho o dever de compartilhá-la com as pessoas que amo e respeito.

Que o Grande Arquiteto do Universo, o DEUS PAI ONIPOTENTE, nos ilumine a todos com PAZ, AMOR, HARMONIA, BONDADE e SAÚDE.

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2 Comentários

  1. Para reflexão e leitura consciente. Realmente é necessária contribuição seria e focada na realidade. Seguimos recomendações mais políticas do que científicas e mesmo essas pouco concluem. Estamos por enquanto à deriva. Temos fé e cremos no Grande Arquiteto mas temos que fazer mais. As verdadeiras lideranças faxem falta.

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