Por José Maurício Guimarães
Apesar disso, o raciocínio verossímil (porém
inverídico) dessas afirmações reside no fato de que o proponente que não CREIA
na existência de Deus não é aceito na maçonaria ‒ seja esse Deus um princípio
criador, um ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si só; seja
esse princípio a causa necessária e fim último de tudo que existe, etc. O
Landmark XIX, compilado por Albert Mackey é taxativo:
“XIX – A crença no Grande Arquiteto do
Universo é um dos mais importantes Landmarks da Ordem. A negação dessa crença é
impedimento absoluto e irremovível para a Iniciação.”
Antes de Albert Mackey, a Constituição
escrita por James Anderson (ministro da Igreja da Escócia e pastor nas Igrejas
Presbiterianas de Swallow Street e Lisle Street) determinou peremptoriamente:
“Um Maçom é obrigado, por dever de ofício, a
obedecer a Lei Moral; e se ele compreende corretamente a Arte, nunca será um
estúpido ateu nem um libertino irreligioso.”
Apesar das cláusulas pétreas estabelecidas
nos Landmarks, muitos curiosos (e mesmo pretensos autores) vêm questionando as
tradições maçônicas. Mal sabem eles (ou se sabem, agem de má fé) que a
Maçonaria é uma Ordem Tradicional ‒ ou seja: um movimento fundado e conservado
na tradição ‒ entendendo-se por tradição a herança cultural, o legado de
processos mentais ou atitudes e técnicas de uma geração para outra; tradição é,
queiram ou não esses “sábios”, o conjunto dos valores morais e espirituais
transmitidos de geração em geração.
A Maçonaria só se sustenta no mundo por causa
da TRADIÇÃO. Removam esses Ladmarks, alterem-se as leis e os costumes, e
chegaremos ao ponto de excluirmos o Avental, o Esquadro, o Compasso e os
Juramentos. O decréscimo de nossa autoridade ética, assim como as “maçonarias”
irregulares que povoam o noticiário, têm sua origem no relativismo com que
alguns segmentos vêm tratando os assuntos maçônicos, inclusive na internet: no
Facebook aos olhos de todos e no WhatsApp.
Modernizar a linguagem, SIM; vulgarizar e
profanar, JAMAIS.
Ainda há entre nós os piratas que propõem
listas próprias ou mais curtas de Ladmarks, modificando alguns (entre eles o
número XIX), eliminando os números I e II (sobre os métodos de reconhecimento e
a divisão do Simbolismo em três graus), e por aí vai ‒ tudo em nome da
“modernidade”. O pedantismo e a autossuficiência invadem assim vários recantos
da Ordem onde são aceitos discursos sobre temas de especialização Universitária
proferidos por quem sequer se deu ao trabalho de ler os primeiros capítulos das
obras que citam. Mais valeria se nos ativéssemos às Instruções de Aprendizes
que, por si só, já contêm material de sobra para tirar o sono de muitos
“professores”.
Essa pirataria apoia-se no sofisma de que a
moralidade está subordinada às necessidades da época e que o maçom é livre para
interpretar a filosofia da Ordem e independente para seguir o caminho que bem
entender. Não é bem assim. A liberdade de pensamento consiste no grau de
independência e no conjunto de direitos e faculdades humanas que têm como
objetivo o conhecimento. Essa independência e esses direitos têm que ser,
necessariamente, conduzidos pela inteligência.
O simples fato de alguém estar “na Maçonaria”
‒ numa Loja regular ‒ não lhe dá o direito de alterar a Tradição Maçônica em
nome de uma pretensa “liberdade de pensamento”, independentemente do seu grau
de instrução profana, cargo maçônico ou Grau alcançado em quaisquer dos ritos.
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