por Luiz Claudio de Assis Pereira
Este artigo não tem a menor pretensão de
encerrar um assunto que é cercado de tantos mistérios e, por isso, tão
polêmico. A intensão é que ele possa, sim, contribuir com o debate iniciado
pelo Jornal GGN em torno da atuação política da Maçonaria no Brasil.
Ao tentar fazer uma análise imparcial sobre
tema de tamanha complexidade há que se considerar a grande dificuldade em se
abordar uma instituição que, oficialmente, acaba de completar 300 anos de
existência, e que possui inúmeros matizes, caracterizados não só pelos diversos
ritos adotados, mas principalmente pelo livre pensar de seus integrantes. Além,
é claro, do enorme secretismo que a rodeia. Fato real, concreto; infelizmente,
porém, costumeiramente, negado pela mesma, que insiste em se dizer “discreta”,
e não “secreta”.
Mas antes de iniciarmos esta jornada, vale
dizer que, apesar de muitos de nós não gostarmos do modo de vida que as pessoas
levam atualmente, de certo, não fosse a atuação persistente dos maçons no mundo
ocidental, a liberdade de pensar e de agir que temos nos dias de hoje, tanto
quanto o desenvolvimento das artes e da ciência que conseguimos alcançar,
estariam seriamente comprometidos e seriam, certamente, em muito limitados.
No entanto, procuraremos aqui demonstrar que
o que os maçons fazem hoje em dia é tão perverso quanto o que a Igreja Católica
fazia na Idade Média. Há, porém, uma grande diferença, tanto na forma de
atuação, quanto no conteúdo, pois, ao invés da aliança clara e transparente que
havia entre as elites medievais (que se impunham pela força), e a Igreja
Católica (que desejava manter o “monopólio da fé”), temos agora uma aliança
oculta estabelecida entre governantes “democraticamente” eleitos e uma entidade
que aceita as mais diferentes crenças religiosas.
E o que é pior: mesmo quando se quebra, como
em 1964, ou se pretende quebrar, como agora, a “ordem democrática”, é ela, a
Maçonaria, que está sempre à frente, ou, mais apropriadamente, por trás desse
processo. (vide Peça 1 do Xadrez).
Detalhe: não foi só o general Mourão que deu
palestra no Grande Oriente do Brasil. O próprio comandante do Exército
Brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, igualmente fardado, esteve lá falando
de forma mais amena, mas, ainda assim, dando uma interpretação muito peculiar
sobre o artigo 142 da Constituição.
Veja o vídeo da fala do general Villas Bôas e
a matéria da Folha de São Paulo no link abaixo:
Essa forma de atuação dissimulada facilita
muito as coisas, tanto para a Maçonaria, quanto para os membros dos três
poderes (executivo, legislativo e judiciário) a ela associados, pois, resulta
numa relação “invisível” para a grande maioria da população; ao mesmo tempo, em
que a aliança formada entre eles dispõe de um “olho que tudo vê” espalhado por
todo canto.
Nesse contexto, denunciar a relação perniciosa
que existe entre a Maçonaria e os poderes constituídos é tarefa das mais
difíceis, até porque não se pode, pra isso, contar com a grande mídia, tendo em
vista que a mesma é o principal pilar de sustentação de todo o esquema.
A questão central que se apresenta, e que
iremos abordar nas próximas partes deste artigo, é: nossas vidas ainda precisam
ser conduzidas por uma minoria que julga ser a única herdeira de tudo que foi
conquistado ao longo de séculos de esforço e sofrimento de tantas pessoas?
Teriam eles recebido algum dom divino para liderar os pobres mortais profanos?
Os avanços do mundo ocidental nos últimos
séculos
Quem hoje vê a figura carismática do papa
Francisco talvez não consiga nem imaginar que, muito antes do descobrimento da
América, houve um tempo em que a cúpula da Igreja Católica perseguia e, não
raro, punia severamente as pessoas que não pensassem como ela (ou como ela
queria). Tudo com apoio incondicional da realeza da Europa da Idade Média.
Assim foi que, em 1209, por acreditarem na existência
de dois deuses, pelo menos 7.000 cátaros, que habitavam o que hoje é o sul da
França, foram brutalmente assassinados por tropas de um exército reunido pela
Igreja Católica, no que ficou conhecido como o Massacre de Béziers, na
única cruzada organizada contra cristãos, a Cruzada Albigense.
Curiosamente, os dois deuses do catarismo
foram tirados da própria Bíblia. Os cátaros acreditavam que o Novo Testamento
trazia a mensagem de um Deus bom, criador do reino espiritual, enquanto que o
Antigo Testamento descrevia um Deus mau, criador do mundo físico. Eles
rejeitavam o conceito de inferno, pois, para eles, o equivalente a este seria o
próprio mundo em que vivemos. Assim, julgavam que as almas humanas eram almas
de anjo sem sexo, aprisionadas dentro do corpo humano e condenadas à
reencarnação até que alcançassem a salvação e, por essa razão,
pregavam a pobreza, e até mesmo a castidade, e outros valores que ajudariam as
pessoas a se distanciarem do mundo material.
Por mais de cem anos após o massacre de 1209,
o movimento cátaro continuou sendo perseguido, mas ainda assim resistiu, devido
à organização e à milícia armada que possuía.
Por conta da existência de muitos seguidores
do catarismo (espalhados pelo que hoje é a França, Itália, Alemanha, Inglaterra
e Catalunha), a Igreja Católica decidiu estabelecer os tribunais da Santa
Inquisição, quando, então, os castigos impostos aos “hereges” tomaram proporção
de extrema crueldade.
Alguns historiadores afirmam que a Inquisição
Medieval, criada contra os cátaros, suspeitava da ligação entre estes e os
judeus cabalistas (um ramo místico-esotérico do judaísmo), de quem teriam
recebido influência. Outros, ainda, consideram que os cátaros tiveram contato
direto com os Cavaleiros Templários, sendo uns influenciados pelos outros.
O fato é que durante a Santa Inquisição,
tantos os cátaros, quanto os judeus (cabalistas ou não) e, mais adiante, os
próprios Templários, foram duramente castigados, tendo muitos deles sido
atirados em fogueiras e queimados vivos em praça pública. O mais reverenciado
exemplo para os maçons, último grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários,
Jacques de Molay, se tornou patrono da uma ordem iniciática para jovens do sexo
masculino.
Pois bem, essa situação se manteve sem
grandes alterações até que, finalmente, em outubro de 1517, ou seja, há exatos
500 anos, Martin Lutero conseguiu romper de vez o paradigma de não poder pensar
diferente da Igreja Católica. Mas esta, ainda assim, permaneceu exercendo, até
a Revolução Francesa, forte influência sobre a realeza em quase toda a Europa.
Assim foi que, em 1542, como resposta ao avanço do protestantismo, a Igreja
Católica criou uma versão ampliada da Inquisição Medieval.
É nesse cenário que a Maçonaria, tal como a
conhecemos nos dias de hoje, se desenvolveu. Desse modo, não há por que se
surpreender com o fato dela ter sido concebida como uma “sociedade secreta
baseada nos ensinamentos da cabala judaica e em princípios que orientaram a
criação do movimento cátaro, bem como, na experiência adquirida pelos
Cavaleiros Templários, não só, mas em especial, quanto à gestão de um sistema
bancário”.
O grande mérito da Maçonaria, portanto, foi
justamente livrar a sociedade ocidental do cerceamento exercido pela Igreja
Católica sobre todas as formas de pensamento e manifestação não só
político-religiosa, como também, na ciência, nas artes, na cultura, etc. Não
fosse isso, talvez ainda estivéssemos a pensar que a terra é o centro do
sistema solar.
No próximo capítulo iremos
detalhar como a Maçonaria atua dentro dos partidos políticos em outros países e
como o que é feito lá é muito semelhante ao que é feito aqui no Brasil.
Falaremos também como a imprensa estrangeira costuma tratar a ingerência da
Maçonaria na política nacional e, nesse caso, como o que é feito lá é bem
diferente do que é feito aqui.
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