Por João Anatalino
Quem
foi o Barão de Mauá.
Nasceu
na localidade chamada Arroio Grande, Rio Grande do Sul, em 28 de dezembro de
1813 Petrópolis, e morreu em Petrópolis no dia 21 de outubro de 1889. Tornou-se
o mais famoso empresário brasileiro da época da monarquia. Foi industrial,
banqueiro e político, refletindo sempre o espírito aventureiro, visionário e
empreendedor, que não media sacrifícios, nem opunha limites aos seus sonhos.
Vivendo
num país de regime monárquico, suas atividades lhe valeram os títulos
nobiliárquicos de barão (em 1854) e de visconde (em 1874) de Mauá. Além das
várias empresas que construiu, seu grande feito foi ter construído a primeira
ferrovia brasileira, conhecida como Estrada de Ferro Mauá, no estado do Rio de
Janeiro, ligandodo o Rio á Petrópolis.
De
origem simples, Irineu Evangelista de Souza ascendeu socialmente pelos próprios
méritos e iniciativa. Tornou-se um dos homens mais importantes do país pelas
realizações que empreendeu na área econômica e empresarial, angariando fama e
fortuna, juntamente com o respeito da população do pais e das autoridades
estrangeiras, que viam nele o protótipo do empreendedor ousado e competente,
desbravador de terras inóspitas e fundador de impérios econômicos,
característica peculiar dos visionários do Novo Mundo.
A
fama e a fortuna que conquistou com empresas onde o trabalho livre foi a tônica
dos seus empreendimentos. Isso lhe granjeou muitos inimigos numa sociedade
dominada por barões que enriqueciam com o trabalho escravo. Mauá dizia que
escravo não consome nem tem recursos para impulsionar um mercado consumidor.
Por isso ele sempre condenou o sistema de produção vigorante na monarquia,
baseado no trabalho escravo. Discípulo de Adam Smith, foi ferrenho defensor do
liberalismo econômico, pregou a valorização da mão-de-obra, incentivou o
investimento em tecnologia, a criação de companhias multinacionais brasileiras,
a abertura do mercado brasileiro ao exterior. Foi o precursor da globalização,
do multilateralismo e da criação de um mercado comum na América Latina, o
Mercosul.
Sua
vida, desde criança foi muito movimentada. Aos cinco anos de idade perdeu o pai
(em 1818), morto numa briga contra ladrões de gado. Dois anos depois sua mãe
casou-se de novo, mas como o seu novo marido não desejava os filhos da viúva,
estes foram separados, sendo a sua irmã mais velha, Guilhermina, dada em
casamento para um fazendeiro da região, aos onze anos de idade Irineu foi entregue a um tio, o fazendeiro
Manuel José de Carvalho, que o levou para Rio Claro, no estado de São Paulo,
onde foi alfabetizado Aos nove anos de idade Irineu foi morar com outro tio, José
Batista de Carvalho, que trabalhava na marinha mercante, transportando couros e
charque do porto do Rio Grande para o Rio de Janeiro, então capital do Império
do Brasil.
Mudando-se
para o Rio, se empregou como caixeiro em um armazém. Trabalhava das sete horas
da manhã às dez da noite, recebendo como salário moradia e comida. Aos onze
anos de idade (em 1824), foi trabalhar no empório de um português chamado
Antônio Pereira de Almeida onde as mercadorias mais valiosas eram os escravos.
Essa atividade, que ele exerceu por mais de cinco anos, o tornou mais tarde
alvo de várias criticas, tanto de liberais quanto de conservadores, quando ele
se tornou um importante politico e industrial, e passou a defender abertamente
a libertação dos escravos. Diziam que ele condenava o tráfico de escravos mas enriquecia
com ele.
Em
1830 foi admitido na empresa importadora de um escocês Richard Carruthers onde
aprendeu inglês, contabilidade e aperfeiçoou a sua habilidade de comerciante,
adquirindo inclusive conhecimentos de comércio exterior. Aos vinte e três anos tornou-se
gerente da firma e logo depois foi guindado á sócio da empresa. Quando
Carruthers retornou para a Grã-Bretanha, em 1839, Irineu tornou-se o dono da
companhia.
Casou-se
com Maria Joaquina de Sousa, em 1841. Com ela teve doze filhos. Em 1840 fez uma
viagem à Inglaterra, em busca de recursos para construir uma fábrica de no
Brasil. Nessa viagem conheceu o mundo capitalista inglês, o qual passou a
admirar, e foi então que concebeu o sonho de promover a revolução industrial no
Brasil.
Sua
primeira ação no campo da industrialização foi a produção dos tubos de ferro
para a canalização do rio Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro em 1845. Para
montar uma fundição para produzir esses tubos, ele vendeu a Casa Carruthers e
de comerciante passou a industrial. Mais tarde, com o sucesso da sua produção
metalúrgica, ele transformou sua fundição em um estaleiro de construções
navais, dando início à indústria naval brasileira. No ano seguinte, o
estabelecimento da Fundição e Companhia Estaleiro da Ponta da Areia já
multiplicara por quatro o seu patrimônio inicial, tornando-se o maior
empreendimento industrial do país, empregando mais de mil operários. Sua
produção, além de navios, envolvia caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de
açúcar, guindastes, prensas, além de peças de artilharia, postes para
iluminação e canos de ferro para águas e gás. Em onze anos ele produziu onze
navios de grande porte para a época. Produziu também as fragatas que seriam
usadas nas guerras platinas e as embarcações para o tráfego no rio Amazonas.
Seu
estaleiro foi destruído por um incêndio em 1857. Reconstruído três anos mais
tarde, chegou a fabricar 72 navios. Todavia, uma lei imperial, sancionada em
1860 pelas autoridades brasileiras, por pressão dos estaleiros ingleses e
americanos, isentou de direitos alfamdegários e impostos internos a entrada de
navios construídos fora do país. Isso tornou mais barato a importação de
embarcações produzidas no estrangeiro, e em consequência, o estaleiro Mauá
faliu em 1860 por não conseguir competir com os importados.
Para
sobreviver e acumular capital para novas empreitadas, Irineu enrou novamente no
tráfico de escravos, o que muito lhe manchou a biografia, e lhe valeu ásperas
críticas de seus adversários, por se valer de um comércio que violentamente
condenava.
Em
1850 foi promulgada a Lei Eusébio de Queirós, proibindo o tráfico de escravos.
Mauá, que havia acumulado um bom capital com esse comércio, voltou às suas
atividades de industrial e banqueiro. Logo acumulou uma grande fortuna, obtendo
concessões para realização de obras públicas, tais como o projeto de iluminação
a gás da cidade do Rio de Janeiro, cuja concessão de exploração obteve por
vinte anos. Pelo contrato, o empresário comprometia-se a substituir 1 milhar de
lampiões a óleo de baleia por outros á gás, de sua fabricação. Para isso ergueu
uma refinaria de de gás nos limites da
cidade. Depois reuniu uma gama de investidores que confiaram na sua capacidade
de empreendedor. Um de seus sócios era o Loyds Bank da Inglaterra, que mais
tarde assumiu o controle da companhia de gás do Rio de Janeiro.
Outras
empresas que fundou ou participou como acionista foram a Companhia de Navegação do Amazonas, que
fabricava e operava embarcações a vapor no Amazonas; a linha férrea entre o
porto de Mauá, na baía de Guanabara, e a estação de Fragoso, na raiz da serra
da Estrela (Petrópolis), na então Província do Rio de Janeiro, a primeira
ferrovia do Brasil. Em 1873 pela sua empresa União & Indústria, construiu a
primeira estrada pavimentada no país, ligando Petrópolis (RJ) a Juiz de Fora
(MG, e interligando com a Estrada de Ferro Dom Pedro II (depois Estrada de
Ferro Central do Brasil), que havia sido construída pelo governo em 1858 a
partir dos primeiros trilhos construídos pelo Barão de Mauá.
Em
1870 ele fundou uma companhia de bondes puxados por burros na cidade do Rio de
Janeiro, a qual, em 1866 evoluiu para a primeira linha de bondes do país.
Além
de todos esses empreendimentos, participou, como acionista, da estrada de ferro
Recife & São Francisco Railway Company, a segunda do Brasil, em sociedade
com capitalistas ingleses e cafeicultores paulistas, para escoar a safra de
açúcar da região.
Foi
também acionista majoritário da Ferrovia Dom Pedro II (depois Estrada de Ferro
Central do Brasil), e teve larga participação, como empreendedor, na São Paulo
Railway (depois Estrada de Ferro Santos-Jundiaí), empreendimento que foi
praticamente custeado por ele, em 1867.
Participou
do assentamento do cabo submarino, em 1874.
Fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia, com filiais em várias capitais
brasileiras e em Londres, em sociedade com o Loyds Banks. Em 1857, fundou no
Uruguai, o Banco Mauá Y Cia., sendo o primeiro estabelecimento bancário daquele
país, inclusive com autorização de emitir papel-moeda. Seu banco se tornou um
dos mais poderosos da América do Sul, com filial em Buenos Aires.
Mauá
era maçom atuante. Sua iniciação na Maçonaria e adoção dos postulados liberais
defendidos por aquela Instituição, o levou a vários conflitos com os partidos
conservadores e setores da igreja. Suas ideias políticas, que defendiam a
instituição da república e a libertação dos escravos, sua posição contraria à
Guerra do Paraguai, sua posição abolicionista (embora tivesse sido traficante
de escravos)atraiu a antipatia da monarquia e dos monarquistas. Eleito deputado
pela Província do Rio Grande do Sul em diversas legislaturas (1856-1860,
1861-1864, 1864-1866 e 1872-1875), renunciou ao mandato em 1873, pressionado
pelos seus adversários políticos e pelos seus adversários no governo.
A
combinação das suas ideias e a instabilidade política da região platina, onde
tinha seus maiores interesses financeiros fez dele o principal alvo das
intrigas dos conservadores. Logo os seus inimigos no governo e fora dele
passaram a sabotá-lo de todos os modos possíveis. Suas indústrias e companhias
foram alvo de sabotagens criminosas e os seus interesses comerciais acabaram
sendo grandemente prejudicados pela legislação que reduziu as taxas de
importação sobre as importações de máquinas, ferramentas e ferragens (tarifa
Silva Ferraz, 1860). Seu banco faliu em 1875.
Doente,
minado pelo diabetes, teve que vender todos os seus bens para liquidar as
dívidas. Viveu até o fim da vida como corretor de café. No entanto, sua visão
empresarial, seu tino administrativo, sua coragem de empreendedor fizeram dele
o maior e mais famoso empresário do país. Por sua criatividade, intuição,
coragem e capacidade de empreender, o Barão de Mauá pode ser elencado entre os
grandes maiores arquétipos visionários e serve de inspiração para todos aqueles
que amam o progresso e o desenvolvimento.
ANÉIS MAÇÔNICOS EM PRATA DE LEI 350
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