Por Waldir Ferraz de
Camargo (*)
A
história é continuamente reescrita e novas interpretações aparecem nos
mostrando outras respostas que correspondam melhor às necessidades do tempo
atual. Particularmente sobre a Inconfidência Mineira (1789), muito se tem
debatido e questões sobre a participação da Maçonaria no levante, bem como o
papel de Tiradentes, tem motivado historiadores a lançar novos olhares sobre o
episódio para desvendar sua real história.
Fato
é que em boa parte do século XIX a Inconfidência Mineira não teve destaque na
historiografia brasileira e somente a partir de 1870 que o sentimento
nacionalista ressurge na busca de uma identidade republicana que pudesse
particularizá-la.
Com
o golpe militar que inaugurou a República em 1889, essa necessidade foi
reforçada, pois o regime instaurado de cima para baixo estava longe de
representar a satisfação popular. Era preciso legitimá-lo perante o povo como
um desejo histórico presente desde os tempos passados, criando uma tradição
republicana para a nação por meio de heróis que já tivessem lutado pela causa.
Nesse sentido, a Inconfidência e Tiradentes assumiram com propriedade o papel
de precursores da República.
A
escolha de Tiradentes como herói nacional não é difícil de ser explicada. Obras
literárias que ressaltavam o fervor religioso do personagem nos últimos
momentos de sua vida foram escritas reforçando a ideia do fracasso do movimento
em consequência de uma traição, que teve o papel de Judas desempenhado pelo
coronel Joaquim Silvério dos Reis. Além do mais, ele era de Minas, estado que tinha
uma força republicana forte e um polo comercial pujante. Os artistas e pintores
da época deram o toque final e a imagem de Tiradentes semelhante à de Cristo
foi dissipada à população. Era o que bastava. Transformaram-no em herói
nacional cuja figura agradava tanto a elite quanto ao povo.
Contudo,
não foi apenas o governo que se utilizou da influência do movimento e de seu
herói. Também a Maçonaria se apropriou da figura do mártir da independência
como seu expoente maior, ocorrendo um crescimento acelerado de Lojas batizadas
como Tiradentes. A primeira Loja Maçônica fundada no Brasil que se tem registro
deu-se em 1801, portanto 12 anos após a Inconfidência, fato que tem causado
muitas controvérsias nas mais variadas narrativas. O relato que inaugurou a ligação
da Maçonaria com a Inconfidência Mineira deu-se ao historiador, jornalista e
professor Joaquim Felício dos Santos, que curiosamente não era maçon. Em sua
obra “Memórias do distrito diamantino da comarca do Serro Frio”, escrita em
1868, ele afirma que a Conjuração Mineira foi um movimento estreitamente ligado
à Ordem dos Pedreiros Livres.
Ainda
que não existissem Lojas em funcionamento, proibidas na época, grande parte de
seus participantes, inclusive o próprio Tiradentes, eram maçons que se reuniam
disfarçadamente nas residências de Claudio Manuel da Costa, Thomaz Antonio
Gonzaga, José Alvares Maciel, Padre Rolim e de outros homens cultos da época
para participarem de arcádias literárias, saraus e outras atividades culturais.
Já naquela época existia o jeitinho brasileiro de se resolver as coisas. A
historiografia acadêmica está longe de um consenso acerca da participação ou
não da Maçonaria na Inconfidência Mineira, cujas hipóteses vão desde a ação
efetiva até a negação total.
Finalmente,
no meio termo entre essas duas correntes encontra-se o pesquisador Márcio
Jardim, para quem a atuação maçônica foi importante, porém secundária, sendo
seu papel apenas o de aglutinar pessoas e ideias, responsável maior na
articulação da intelectualidade dos poetas com a bravura de um alferes.
Controvérsias à parte, é imperioso reconhecer que a Inconfidência Mineira foi
um movimento com a doutrina ideológica importada da Revolução Francesa,
amplamente planejada no interior das Lojas Maçônicas daquele país, assumida pelos
revoltosos brasileiros e que resultaram no mais importante ato libertador da
nação.
E
Tiradentes é, sem sombra de dúvidas, o maior herói brasileiro conhecido
publicamente por dar sua vida pela causa da Igualdade, Fraternidade e Liberdade
de sua pátria.
(*) O
autor é formado em História, funcionário público estadual e membro
da Loja
Maçônica Deus, Pátria e Família, de Bauru-SP
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1 Comentários
Sim.Tem um conteúdo verídico, posto que, a Proclamação da Independência do Brasil, foi decidida secretamente dentro da Loja. O grito do Ipiranga,foi apenas um ato simbólico para tornar público o que já tinha se decidido.
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