Por Carl Claudy (1879-1957)
Tradução: Edgard da Costa Freitas Neto, M∴ M∴
Os “Diálogos
de um velho Cobridor” são uma série de pequenas peças escritas pelo Ir∴ Carl Claudy no ano de 1924 que
retratam, através do diálogo fictício entre um maçom com pouco tempo de
iniciado e um maçom mais antigo e experiente, a visão de Claudy sobre a
filosofia maçônica. São 70, no total, divididas em 7 capítulos. As questões
tratadas nos diálogos são atualíssimas, mesmo tendo sido escritas há quase cem
anos atrás. O Malhete disponibilizará a tradução de dois diálogos por semana
para os seus leitores;
Capítulo I – Shekinah
O que é a Maçonaria?
“Sou
maçom a seis meses e já deveria saber alguma coisa sobre Maçonaria. Mas há mais
segredos na fraternidade que desconheço do que os que me contaram!”
O
aprendiz estava confuso. O velho Cobridor baixou sua espada, pegou um cigarro
apagado – já meio fumado – e o acendeu. Sentou-se, então, na sua cadeira.
“Desembuche”,
convidou.
“É
a maçonaria uma religião” continuou o novato, “ou um sistema
de filosofia, ou uma puerilidade de homens crescidos que brincam de política e
de ostentarem títulos? Já ouvi as três hipóteses. Às vezes penso que é uma,
depois penso que seja outra. O que você acha?”
“Bom,
não é uma puerilidade de homens que se juntam pelo amor aos títulos e honras”,
respondeu o Cobridor. “Os homens inventariam organizações melhores para
satisfação destes propósitos. De fato, já inventaram melhores. Homens que
queiram brincar de política e serem chamados de Supremo Grande Emproado
Exaltado da Câmara Central do Sanctorum Secreto podem se juntar a elas. Se a
Maçonaria não é mais que brincadeira, não poderia viver e, vivendo, crescer.
Tampouco é uma religião. Uma religião, tal como a
vejo, é a crença numa deidade e um meio de expressar essa adoração. Maçons
reconhecem a existência de uma Deidade, e não seguem adiante senão pleiteando
Sua divina direção. Mas a Maçonaria não especifica nenhuma deidade em
particular. Você pode adorar o Deus que bem entender e seguir sendo um maçom.
Isso não é verdade com nenhuma religião. Se você é Budista, você venera o Buda.
Se é Cristão, Cristo é Deus. Se é maometano, venera a Allah. Na Maçonaria você
vai encontrar cristãos, judeus, maometanos e budistas lado a lado.
A Maçonaria já foi chamada de sistema de filosofia,
mas essa é uma interpretação restritiva. Não creio que a Maçonaria tenha sido
perfeitamente definida.”
“Ou
Deus”, atalhou o novato.
“Exato. Um
francês astuto[1], perguntado sobre se cria em Deus,
respondeu: ‘Antes que eu responda peço que responda qual a sua definição de
Deus. E quando você o fizer, aí eu te respondo ‘não’, pois um deus definido é
um deus limitado, e um deus limitado não é Deus.’ A maçonaria é
algo assim: Fraternidade, ilimitada, e quando você tenta limitá-la ao defini-la
você faz dela algo que ela não é.”
“Profundo…”, comentou
o jovem irmão.
“A
maçonaria é ‘profunda’” respondeu o Cobridor. “É tão profunda que
nenhum homem jamais chegou ao fundo. Talvez seja esse o seu atrativo. Você pode
ir fundo o quanto queira, e ainda não vai ver o fim. A fascinação pela
astronomia é infinita, por exemplo. Nenhum telescópio pode ver as fronteiras do
Universo. O fascinante da Maçonaria é que ela não tem limites. O coração humano
não tem limites, e aquilo que apela ao coração não pode ter limites”
“Mas
isso parece tão difícil de entender!”, suspirou o novato.
“Mas
não é melhor por ser difícil de compreender?”, perguntou o velho
Cobridor. “Alguns dias atrás ouvi um eminente maçom fazer um discurso
inspirador. Já ouvi muitos discursos. Nove em dez são palavras vazias adornadas
com uns penduricalhos para passarem a imagem de que têm alguma ideia escondida
por lá. Então quando um verdadeiro orador permite que a claridade total de uma
ideia brilhe para uma audiência, isso é algo memorável. Este orador citou um
poema maravilhoso de William Herbert Carruth[2]. Pedi-lhe que me enviasse o texto, e ele
o fez. Veja bem: esse homem ocupado, reitor de uma Universidade com mil coisas
para fazer, não esqueceu de um pedido de um Irmão que ele nunca vira antes!”
O
velho Cobridor pôs a mão no bolso e pegou um pedaço de papel amarrotado pelo
manuseio.
“Escute
aí”, disse, “até que eu leia ele até o fim:
“Um sentinela congelando em seu posto
Uma mãe, faminta por dar de comer aos seus filhos
Sócrates bebendo da Cicuta
E Jesus crucificado
E milhões, humildes e inominados que
Se arrastam pelo caminho mais duro
Alguns chamam isso de consagração
Outros chamam isso Deus”
Uma mãe, faminta por dar de comer aos seus filhos
Sócrates bebendo da Cicuta
E Jesus crucificado
E milhões, humildes e inominados que
Se arrastam pelo caminho mais duro
Alguns chamam isso de consagração
Outros chamam isso Deus”
O
irmão novato nada disse, quedando-se silente pela beleza das linhas
“Não
sou poeta”, continuou o velho Cobridor “e sei que isso não está lá muito
esquadrado, mas escrevi algo para ir junto com esses versos, só para ler para
irmãos como você”. Timidamente, o velho Cobridor continuou:
“Muitos homens ajuntados
Na posição em que Hiram esteve
Apoiando aqueles que caem
Ajudando-os, fraternalmente.
O sábio, o médico, o advogado
O pobre, o roceiro
Muitos chamam isso de Maçonaria
Outros chamam de Deus”
Na posição em que Hiram esteve
Apoiando aqueles que caem
Ajudando-os, fraternalmente.
O sábio, o médico, o advogado
O pobre, o roceiro
Muitos chamam isso de Maçonaria
Outros chamam de Deus”
“Humm.
Acho que não faz muita diferença como a chamamos, não acha?” perguntou
o novato.
[1] Voltaire? (N.T)
FONTE: http://york.blog.br
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