Por Kennyo Smail
Alguns intelectuais maçons tem
apregoado a necessidade da Maçonaria Brasileira tornar a ser uma “elite
estratégica” do país. Infelizmente, essa ideia tem sido atualmente abraçada por
líderes e candidatos a líderes da instituição, sem muita ou qualquer reflexão
sobre o que isso significa.
Mas o que diabos é uma “elite
estratégica”? Trata-se de uma minoria dominante, a qual se considera superior
hierarquicamente ao restante da sociedade, e que tem a pretensão de definir o
futuro do país. Só isso. Legal né? Só se for para o Darth Vader.
O conceito de elite
estratégica tem por raiz a Teoria das Elites, cujos pensadores pioneiros foram
Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto. Porém, antes deles, Maquiavel, Montesquieu,
Marx e outros já haviam alertado para esse fenômeno de minorias governantes. No
caso da elite estratégica, o grupo minoritário exerce seu poder influenciando
política, econômica e intelectualmente tanto o governo quanto a sociedade. Pretensiosos,
não?
O termo “elite estratégica”
caiu nas graças dos milicos durante a Ditadura Militar, passando o alto escalão
das Forças Armadas a se autodeclarar a elite estratégica do país, posição essa
mantida por meio de métodos arbitrários e violentos contra seus opositores,
como os pensadores da Teoria das Elites já haviam previsto. A velha-guarda
intelectual da Maçonaria Brasileira, educada nessa época, parece não apenas ter
aprendido o termo como também almejar ser considerado como pertencente de tal.
Entretanto, os desejosos de
tal posição para a Ordem Maçônica parecem ter esquecido apenas de um pequeno
detalhe: o conceito de elite estratégica é contrário aos princípios maçônicos
de igualdade e de emancipação do homem por meio da razão, além de ser incoerente
com o consenso mundial de democratização da informação, democratização do
conhecimento, democratização da comunicação, democratização do ensino, gestão
participativa e tantos outros conceitos cujo objetivo em comum é o de dar à
maioria condições e espaço para participarem das decisões que, infelizmente,
hoje se concentram nas mãos da minoria, da “elite”.
O mais irônico de tudo isso é
que os sonhadores da Maçonaria Brasileira como elite estratégica costumam
declarar em seus discursos defender “ideais iluministas”. Talvez seja
necessário recapitular qual era o principal ideal iluminista para melhor
compreender tamanha ironia. A ideia central do movimento iluminista era a de
que a razão, e não a fé ou a tradição, deveria constituir o principal guia para
a conduta humana. Dessa forma, por meio da razão, o homem poderia se libertar
das amarras da ignorância, da tirania e do fanatismo, e não mais precisar se
sujeitar à opressão das elites. Assim sendo, desejar a existência de uma elite
estratégica enquanto se fala em ideais iluministas é como defender a
necessidade de uma ditadura enquanto se declara ser um democrata. Em outras
palavras, uma total incoerência de discurso.
Por fim, sem o risco de
exageros, desejar ser membro de uma elite estratégica é quase a mesma coisa que
desejar ser dono de escravos. A diferença é que na escravatura convencional o
escravo sabe que é escravo e o dono não esconde o chicote. Já a elite
estratégica é covarde, é “eminência parda”. E agora, depois da Maçonaria em
todo o Continente Americano ter lutado, entre o final do Século XVIII e o do
XIX, pela igualdade entre os homens e pela independência de seus países, para
então poder deixar de ser elite e se juntar às massas, atualmente também
compostas por homens pensantes, eis que surgem aqueles ávidos por retroceder no
tempo e na evolução que houve com o mesmo. Parecem preferir uma Maçonaria
Brasileira feita por 100 membros influentes da classe alta, do que por 200.000
membros livres e de bons costumes de todas as classes, ignorando completamente
o fato de que a Maçonaria existe para servir a sociedade, e não a sociedade
para servir a Maçonaria. E o que a sociedade brasileira parece querer hoje é
uma Maçonaria solidária, que realmente procure colaborar com a felicidade da
humanidade, estendendo a mão ao próximo e reduzindo o sofrimento dos enfermos e
menos afortunados. Não um grupo de “elite”, mas um grupo de “iguais”,
organizados e engajados nessa nobre causa.
Fonte: No Esquadro
Fonte: No Esquadro
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