Por
Jean-Paul Bled (Tradução José Filardo)
Frederico
II – Cavalheiro e filósofo
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Em
sua forma moderna, a maçonaria apareceria nos países germânicos em 1737, data
em que a primeira loja é criada em Hamburgo. Conhecida inicialmente como a loja
de Hamburgo, ela assume em 1741 o nome de Absalom. Esta localização não se
deve, absolutamente ao acaso. Suas estreitas relações com Londres colocaram o
grande porto hanseático em relação direta com a maçonaria inglesa. Outras lojas
não tardam a se seguir. O conde de Rutkowski está na origem da criação de três
lojas em Dresden a partir de 1738: As Três Espadas, Os três Cisnes, as Três
Águias Brancas. Já em Saxe, a loja Os Três Compassos vê a luz do dia em 1741 em
Leipzig. Naquele mesmo ano, uma loja é fundada em Frankfurt sob o nome de A
União.
Esta
expansão rápida é inseparável da difusão dos movimento do Iluminismo, o
Aufklärung na Alemanha, ao qual uma parte da nobreza e da burguesia se abre
durante estes anos. O fenômeno não é, entretanto, geral. Certos príncipes, como
o rei da Prússia, Frederico-Guilherme I, o célebre “Rei Sargento” mostra à
maçonaria uma hostilidade radical, denunciando nela uma força contrária aos
interesses do Estado e da religião. Fiel a seus princípios, o rei da Prússia,
principalmente, fecha suas fronteiras a
ela.
Esta
oposição explica porque o jovem Frederico, então príncipe da Prússia, deve sair
dos limites do reino para sua iniciação na maçonaria. Isso aconteceu em 1738 em
Brunswick, onde ele é iniciado em uma antena da loja de Hamburgo. Apaixonado
desde cedo pela literatura francesa, ele foi tomado pelo interesse na reflexão
dos filósofos, de quem ele lê avidamente as obras. Ele já entrou em contado com
vários entre eles. Fontenelle, o mais antigo entre eles, está entre seus
correspondentes. E, sobretudo, ele se engaja desde 1736 em uma correspondência
regular com Voltaire, o príncipe dos filósofos.
É
também a época em que Frederico se prepara para o trono na residência de
Rheinsberg, que ele transforma em uma moderna Acádia, símbolo para ele dos anos
felizes em que ele vivia, confessou, a visão da felicidade. Ele se cerou de um
grupo de amigos como gostos e centros de interesse comuns, entre os quais
Dieter von Keyserlingk, Charles-Étienne Jordan, Georg von Knobelsdorff e
Friedrich August de la Motte Fouqué. Este último está associado a uma
iniciativa de Frederico: a criação de uma ordem de Bayard. Ele é, com efeito,
escolhido pelo príncipe herdeiro para ser o grão mestre desta sociedade que
além da referência à cavalaria, se parece com uma loja. Muitos de seus membros
já são, de toda forma, maçons.
Pouco
depois de sua ascensão ao trono, no final de maio de 1740, Frederico II dá um
sinal forte de seu apoio à maçonaria, favorecendo a criação da loja Os Três
Globos em Berlim, a primeira a se instalar no seio do reino. Seu exemplo é logo
seguido por seu cunhado, o marquês de Bayreuth, esposo de sua irmã preferida,
Guilhermina que funda no ano seguinte a
loja da União. Resta saber se no exercício de seu oficio de rei, Frederico II
continuou fiel aos princípios da maçonaria. Apóstolo da tolerância, ele a
pratica no terreno cultural. Por outro lado, ele não admite jamais que vozes
discordantes critiquem sua política. Antes de suceder a seu pai, Frederico II
tinha abordado em o Anti-Maquiavel o retrato de um monarca esclarecido, fechado
principalmente ao espírito da conquista. Grande capitão e grande conquistador,
Frederico II parece ter esquecido rapidamente as lições do Anti-Maquiavel, sem
contar que ele maneja com maestria a arte da intriga e da mentira desde que no
interesse da Prússia lhe pareça estar em jogo.
Na
Alemanha do século XVIII, a maçonaria serve de modelo para outras sociedades
secretas. É o caso da sociedade dos Iluminados – ou Illuminati – fundada em
1776 em Munique por Adam Weishaupt, um professor de direito canônico da
Universidade de Ingolstadt. Reunindo em uam adesão comum aos valores do
Iluminismo, ao mesmo tempo os nobres, os clérigos e os burgueses, pessoas
afortunadas, mas também educadas, ele se propõe a trabalhar pelo
“aperfeiçoamento e o progresso da humanidade, na liberdade, igualdade e fraternidade”.
O duque da Baviera, Charles-Théodore, atribuindo a ela intenções subversivas, a
interdita em 1785. Ela se expande então no resto da Alemanha até atingir 2.000
membros. Ela conta em suas fileiras com diversos príncipes reinantes,
notadamente, Charles-Auguste de Saxe-Weimar, o Conde Charles de Hesse-Cassel, o
príncipe Ferdinando de Brunswick. Ela atrai igualmente personalidades marcantes
na cena cultural. Goethe, Herder, Nicolai são seus afiliados.
Mas
em Berlim, os tempos parecem mudar. Frederico-Guilherme, o príncipe herdeiro,
adere em 1781 à ordem Rosa-Cruz, sob influência de seus dois conselheiros
Johann Christoph von Wöllner e Hans Rudolf von Bischoffswerde. Quatro anos mais
tarde, um e outro teriam fundado na capital prussiana a “ordem Rosa-Cruz do
sistema antigo” a partir da loja maçônica Três Globos. Da parte do príncipe, é
um gesto forte porque ele dá assim sua aprovação a uma ordem que se propõe o
dever de lutar com o Iluminismo e devolver as almas à santa religião. Subindo
ao trono, Frederico-Guilherme II coloca seus atos em consonância com suas
ideias. Em 9 de julho de 1788, ele promulga um “edito de religião” que
inspirado por uma firme vontade de
retomar a mão, rompe com o espírito de Frederico II. Assim, neste fim do século
XVIII, a partilha se faz entre duas correntes bem marcadas, a primeira
reformadora e progressista onde o liberalismo tirará suas raízes, o segundo
conservador, ou reacionário de onde surgirá o romantismo contrarrevolucionário.
No
curso do século XIX, a maçonaria alemã assumirá um viés resolutamente
patriótico e monárquico. Guilherme I, rei da Prússia a partir de 1861 e depois
imperador alemão dez anos mais tarde, será iniciado por seu pai
Frederico-Guilherme III, sobrinho de Frederico, o Grande. Seu chanceler, Bismarck,
lhe reprovará com frequência pela “fidelidade quase religiosa que o liga a seus
irmãos”. O filho de Guilherme I foi igualmente iniciado na maçonaria por seu
próprio pai, antes de se tornar “Grande Protetor” em 1860. Liberal e humanista,
o infeliz Frederico III, imperador e rem em 1888 reinará por apenas três meses,
vitimado por um câncer. Quanto a seu filho, Guilherme II, ele não será jamais
iniciado.
Jean
Paul Bled é professor emérito da Universidade Paris-Sorbonne, especialista em
Alemanha contemporânea e autor de uma biografia de Frederico, o Grande (Fayard,
639 p.) Seu último livro é Bismarck (Perrin, 319 p.)
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