*Por Barbosa Nunes
Desde
05 de fevereiro de 2011, data do meu primeiro artigo neste Caderno “Opinião
Pública”, do “Diário da Manhã”, a este de número 157, nos encontramos aqui
sempre aos sábados. Sou privilegiado em estar aumentando o número de amigos,
criando maior familiaridade com os leitores. Procuro pesquisar e resgatar
histórias de vida. Machado de Assis dizia que o cronista é uma espécie de
colibri que beija um assunto aqui, outro ali.
O
artigo anterior intitulado: "Doutora Cristina: história comovente de
persistência" foi marcante. Milhares de leituras, centenas de
compartilhamentos, incontáveis e-mails, telefonemas e cumprimentos pessoais.
Falo de uma mulher que chegou em Goiânia no dia 10 de fevereiro de 1986, em
pleno carnaval, com 85% do corpo queimado, sendo 65%, por queimaduras de
terceiro grau. Foi diretamente para um hospital de uma praça, popularmente
conhecida como "Praça da Cirrose", local, diz ela, “onde o clima nos
bares era de samba, alegria, cheiro de boa comida e muita cerveja, como o bar
do simpático casal que dela e de sua família se tornou amigo, Maria e Marconi
Perillo, pais de um jovem que trabalhava no mesmo bar, hoje governador do
Estado de Goiás, que davam duro no trabalho. Leia mais
Em
nossos encontros conheci um pouco da sua dramática história, que no todo
comporta ser contada em livro, novela e filme. Conheci seu carisma, seu
idealismo político, muito desenvoltura nas opiniões, sinceridade ao afirmar que
não acredita na estrutura partidária do Brasil. É favorável ao debate, sem
estar comprometida, não se conformando com a situação que vivemos. A ela fiz um
questionamento ao final deste, respondido, sobre o campo político que ela
ingressou, eleita Vereadora com mais de seis mil votos, em Goiânia.
"Se
algum dia alguém me perguntasse se eu suportaria ou sobreviveria a uma
queimadura como esta, tendo necessidade de cura cirúrgica por enxerto da minha
própria pele que restou preservada, certamente responderia, claro que não!
Contrariando toda lógica médica e o suporte da dor, eu sobrevivi. Planos e
expectativas para o futuro se transformaram em dor, sofrimento para mim, minha
família, amigas e amigos. O trauma da queimadura é assim. Desconhecido, devastador
e muda uma história em segundos. Deus me encaminhou para Goiânia, quando todos
indicavam São Paulo. Aqui fui recebida no Hospital de Queimaduras de
Goiânia".
Hospital
símbolo nacional e internacional de competência científica e muito sentimento
de humanismo, carinho, dignidade, respeito e bênçãos.
A
família Piccolo é dedicada ao paciente queimado desde a década de 1960, quando
o Doutor Nelson Picolo, falecido em 1988 e sua esposa, advogada e
administradora de empresas, Emília Hilda Sarto Piccolo, fundaram o Pronto
Socorro para Queimaduras. A expectativa era de um atendimento de 100 pacientes
por ano. Hoje 15 mil anualmente. Em sua história, mais de 270 mil pacientes,
com atendimento especializado em queimaduras e setor de fisioterapia.
Nelson
Picolo pioneiro no tratamento de queimaduras no Centro-Oeste Brasileiro,
desenvolvendo método próprio que favorece a cicatrização das lesões e o
conforto do paciente, criou tecnologia de ponta ao desenvolver mesa cirúrgica
inovadora para os procedimentos necessários em pacientes queimados. Suas
iniciativas inspiraram a criação de centros de queimados em todo o Brasil. O
Núcleo de Proteção aos Queimados, sociedade civil de interesse público, auxilia
em todas as etapas da reabilitação dos sobreviventes a queimaduras, tendo como
corpo clínico as Doutoras Maria Tereza Sarto Piccolo, Mônica Sarto Piccolo,
Ricardo Piccolo Daher, Luiz Alberto Monteiro Daher e Sílvia Piccolo Daher e
Nelson Sarto Picolo.
O
doutor Nelson Picolo, "in memorian", foi homenageado em 1998 e 2001,
com o prêmio Tanner-Vandeputi-Boswick, da Fundação da Sociedade Internacional
de Queimaduras e com a Comenda Everett Idres Evans,da American Burn
Association, sempre concedida à um estrangeiro de grande destaque na área de
queimaduras.
Cristina
Lopes Afonso detalha que “Nelson Picolo montou uma enfermaria de queimaduras no
Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Goiás, onde se tornou
professor. Enfermaria de queimados gera custo alto e os pacientes não são muito
bem-vindos, porque tem um cheiro característico, dores características e aí ele
começou a ser questionado. A enfermaria foi fechada”. O desafio, a semente no
seu coração indicaram o nascimento do Pronto Socorro para Queimaduras Ltda,
conhecido.
Ao
falecer já tinha instituído uma ponte importantíssima para o Hospital com os
Estados Unidos. Hoje, seu filho, Wilson Sarto Piccolo é presidente da Sociedade
Mundial de Cirurgia Plástica.
Doutora
Cristina chegou pela dor e permaneceu pelo amor e compromisso. Afirma que o
local é a sua casa, onde ela renasceu. Lembra que Doutor Nelson lhe disse
enquanto o seu tratamento acontecia. "Faz vestibular de fisioterapia.
Finalize o curso e venha trabalhar com queimaduras". Uma frase para quem
estava no calvário, mas indicando uma perspectiva. “Lutei muito e paciente
retornei a Curitiba e fiz o curso”. Após quatro anos, sozinha e por terra,
cheguei a Goiânia, fui à Doutora Mônica Piccolo para saber se a proposta de
emprego estava de pé. Resposta imediata. Claro!
Assim,
no dia 1° de abril de 1991 abriu o Serviço de Fisioterapia nas dependências do
Instituto Nelson Picolo. “Começou o meu renascimento, a construção da minha
cidadania. Queimadura passou a ser a minha meta. E há 23 anos dedico-me de
corpo e alma. Nesta luta irei até os meus últimos dias de vida”.
Durante
este tempo fez parte da fundação do primeiro curso de fisioterapia do Estado de
Goiás, na ESEFEGO, hoje UEG. Instituiu a Sociedade Brasileira de Queimaduras, a
Federação Latino Americana de Queimaduras e a Liga Acadêmica de Queimaduras.
Escreveu capítulo de livro sobre teatro de queimaduras para alunos da ESEFEGO.
Integra corpo docente de vários cursos de pós-graduação em Dermato Funcional e
“me enfileirei no combate ás injustiças praticadas pelo Sistema de Saúde
Brasileiro, no qual sobra discurso e falta compromisso de gestão”. É professora
de Pós Graduação no Centro de Estudos e Formação Integrada, professora do curso
de Ivo Pitangui, na Santa Casa do Rio de Janeiro, integra a Sociedade
Internacional para Acidentes de Queimadura e Presidente da Associação Goiana de
Diabetes Juvenil.
“Fui
agraciada ao longo dos anos, com importantes horarias, mas no meu coração,
guardo com agradecimento a Deus os títulos de Cidadã Goiana e Cidadã
Goianiense, agradeço ter chegado ao Estado de Goiás, pois Goiânia foi a única
possibilidade de sobrevivência para mim e aqui adotei Ademar Manoel da Silva e
Teresinha Brum Silva como meus pais goianos. Goiânia passou a ser a cidade do
meu segundo nascimento e nunca mais deixou de ser referência de amor, cidade
que me possibilitou minha segunda vida”.
Ao
final de nossa conversa eu a questionei com muita ênfase. A senhora tem uma
bela e sofrida história. Determinada, nos mostra o que sempre foi na vida. Hoje
é uma bandeira pessoal para confortar pessoas muito sofridas e às vezes sem
mínimos recursos.
Ao
entrar na política a senhora não corre um grande risco de perder a sua
história? A prática política de hoje está muito descreditada e envolvida com
atos corruptos. O político de hoje, na maioria, é visto como sem compromisso
com o povo e compromissado apenas com os seus interesses pessoais.
Com
absoluta segurança respondeu: “Pela minha história, pelo meu sofrimento, por
aqueles que faço curativos todos os dias, pelos meus amigos e amigas, pela
família Piccolo, pela Maçonaria que respeito e tenho circulação, via meu pai
adotivo, pelos mais de seis mil votos tenho que me dedicar inteiramente a mudar
a prática política. Não tenho padrinho. Nenhum padrinho em nenhum momento de
minha campanha. Respeito e sou muito respeitada na Câmara Municipal de Goiânia.
Sei onde estou pisando. Não me curvarei a qualquer insinuação que possa macular
o meu interior.
Concito
todas as mulheres homens de bem que se filiem aos diversos partidos e se
candidatem, pois juntos poderemos contribuir para tornar o político, confiável.
Não permitamos que as pessoas de bem, lideranças dos mais diversos setores se
afastem, pois aí, perderemos nossa influência positiva na administração pública
com trabalho de aperfeiçoamento dos princípios éticos e democráticos”.
Barbosa
Nunes ´Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil
-barbosanunes@terra.com.br.
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