No dia 2 de novembro de 1822, apenas dois meses após a proclamação da Independência do Brasil, o então Ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros, José Bonifácio de Andrada e Silva, determinou a abertura de uma devassa contra os maçons. O episódio, pouco lembrado nos manuais escolares, representa uma das páginas mais controversas da história política e maçônica do país.
À época, o Brasil recém-liberto de Portugal vivia uma intensa efervescência ideológica. O movimento maçônico, que havia desempenhado papel decisivo na articulação da Independência, passou a ser visto com desconfiança pelo novo governo. Muitos dos líderes do processo emancipatório — entre eles Dom Pedro I, José Bonifácio e outros patriotas — eram iniciados ou mantinham estreita relação com as Lojas Maçônicas, que serviram como espaços de debate político, intelectual e social.
Entretanto, logo após a consolidação do poder imperial, as tensões se agravaram. José Bonifácio, temendo o fortalecimento de grupos opositores e a possível fragmentação da jovem nação, ordenou uma investigação ampla — a chamada "Devassa Maçônica". O inquérito tinha como objetivo identificar e punir maçons considerados subversivos à autoridade imperial.
As consequências foram severas. Diversos irmãos foram presos, perseguidos ou forçados ao exílio, e várias Lojas interromperam suas atividades. A devassa marcou um período de refluxo e silêncio maçônico, impondo prudência às ações da Ordem. Contudo, longe de extinguir-se, a Maçonaria brasileira resistiu, reerguendo-se como força moral e intelectual nas décadas seguintes.
Este episódio histórico revela a complexa
relação entre poder político e liberdade de pensamento. A mesma sociedade que
ajudou a fundar o Brasil independente foi, paradoxalmente, reprimida em nome da
estabilidade nacional. Ainda assim, o ideal maçônico de liberdade, igualdade e
fraternidade sobreviveu — e continuou a inspirar gerações de brasileiros na
construção de uma pátria mais justa e esclarecida.
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