Entre Luzes e Sombras

 


   
Por Luiz Sérgio Castro

Dizem que a Maçonaria nasceu da pedra bruta — e talvez por isso traga em si tanto a firmeza do granito quanto as rachaduras que o tempo insiste em abrir.

Era para ser um templo erguido sobre o aperfeiçoamento moral, um espaço onde os homens buscassem, juntos, a luz da verdade. Mas, em algum ponto da jornada, as tochas se dividiram e algumas passaram a iluminar apenas o próprio rosto de quem as carrega.

O que antes era exceção tornou-se rotina.

Nos salões onde se pregava fraternidade, ecoam agora sussurros de desconfiança.

Há irmãos que já não se reconhecem pelo aperto de mão, mas pelos jogos de poder, pelas alianças silenciosas, pelas vaidades que se disfarçam de zelo pela Ordem.

Perseguir o próprio irmão virou um esporte discreto, quase elegante — praticado entre colunas, com palavras medidas e sorrisos de cerimônia.

Tramar nas sombras, dissimular, manipular... tudo feito sob a mesma luz que deveria revelar, não esconder.

E Maçonaria Brasileira, que nasceu entre as claridades de Bonifácio e Ledo, parece carregar também o peso das sombras que eles mesmos projetaram.

Há algo de humano — e, portanto, de trágico — nessa história.

A instituição que nasceu para libertar homens acabou, em muitos momentos, aprisionando-os em suas próprias vaidades.

Mas talvez ainda haja esperança.

Porque mesmo nas pedras rachadas, a luz encontra frestas.

E se algum dia o Maçom decidir olhar para dentro, sem medo de se reconhecer, talvez descubra que o verdadeiro inimigo nunca foi o irmão ao lado — e sim o orgulho que mora em cada um de nós.



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