Dizem que a Maçonaria nasceu da pedra bruta — e
talvez por isso traga em si tanto a firmeza do granito quanto as rachaduras que
o tempo insiste em abrir.
Era para ser um templo erguido sobre o
aperfeiçoamento moral, um espaço onde os homens buscassem, juntos, a luz da
verdade. Mas, em algum ponto da jornada, as tochas se dividiram e algumas
passaram a iluminar apenas o próprio rosto de quem as carrega.
O que antes era exceção tornou-se rotina.
Nos salões onde se pregava fraternidade, ecoam
agora sussurros de desconfiança.
Há irmãos que já não se reconhecem pelo aperto
de mão, mas pelos jogos de poder, pelas alianças silenciosas, pelas vaidades
que se disfarçam de zelo pela Ordem.
Perseguir o próprio irmão virou um esporte
discreto, quase elegante — praticado entre colunas, com palavras medidas e
sorrisos de cerimônia.
Tramar nas sombras, dissimular, manipular...
tudo feito sob a mesma luz que deveria revelar, não esconder.
E Maçonaria Brasileira, que nasceu entre as
claridades de Bonifácio e Ledo, parece carregar também o peso das sombras que
eles mesmos projetaram.
Há algo de humano — e, portanto, de trágico —
nessa história.
A instituição que nasceu para libertar homens
acabou, em muitos momentos, aprisionando-os em suas próprias vaidades.
Mas talvez ainda haja esperança.
Porque mesmo nas pedras rachadas, a luz
encontra frestas.
E se algum dia o Maçom decidir olhar para
dentro, sem medo de se reconhecer, talvez descubra que o verdadeiro inimigo
nunca foi o irmão ao lado — e sim o orgulho que mora em cada um de nós.


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