Da Redação
Uma nova página na história da
maçonaria brasileira está sendo escrita com o recente surgimento da maçonaria
negra, inspirada no modelo da Prince Hall, tradicionalíssima instituição
norte-americana com raízes no século XVIII. Fundada discretamente há cerca de
três anos em São Paulo, com núcleos também no litoral paulista e em Minas
Gerais, a iniciativa ambiciona promover inclusão e representatividade em um
cenário historicamente dominado por homens brancos. A meta, segundo seus
idealizadores, ecoa um novo grito de abolição, desta vez no campo simbólico e
social.
Alexandre Arantes, 51 anos, um
dos pretos que trilhou o caminho da maçonaria tradicional para fundar o ramo
nacional da Prince Hall, compartilha sua visão: "A Prince Hall é uma das
mais antigas do mundo, concentrada nos Estados Unidos. Ela acabou abrigando
negros em razão da segregação." Oriundo do Mandaqui, bairro da zona norte
de São Paulo com forte presença negra, Arantes, iniciado na maçonaria há três
décadas, enxerga a Prince Hall no Brasil como o início de "uma nova
história no mundo, principalmente no Brasil. É uma missão de levar a maçonaria
às mais diversas camadas sociais. Não é um ingresso em massa, mas de forma
madura, paulatina, segura."
A perspectiva de Adriano Marcos
Gonzaga, 48 anos, venerável mestre de duas lojas Prince Hall no Brasil, reforça
esse ideal. Morador da Casa Verde, também na zona norte paulistana, Gonzaga, um
empresário bem-sucedido na área de confecção, com 15 anos de experiência
maçônica, vivenciou a predominância branca em sua loja anterior. Sem
ressentimentos, ele reconhece a importância "abolicionista" da
iniciativa. "Não é uma maçonaria contra brancos, mas de negros",
enfatiza. Contudo, ele confessa ter imaginado uma adesão maior. "Acredito
que nem todos conseguem ter essa compreensão de que o negro pode acessar o
lugar que ele quiser. Imaginei que viriam em peso, mas não. Está totalmente
fora da realidade dos negros no Brasil, queremos mudar isso."
Um nome de peso que já se juntou
a essa jornada é o do rapper Happin Hood. O artista, o primeiro rapper de
expressão a ser iniciado na maçonaria negra, relata ter sido inicialmente
homenageado pela Prince Hall. "Eu tinha conhecimento sobre a maçonaria por
um tio meu que fazia parte e, um ano após essa homenagem, fui iniciado como
aprendiz." Entusiasmado, ele descreve a maçonaria negra como "um
espaço para que homens pretos conversem sobre assuntos diferenciados e possam
se ajudar e planejar trabalhos sem interferência de ninguém."
A história da maçonaria no
Brasil registra poucos nomes negros de destaque. Uma notável exceção é Luiz
Gama, intelectual múltiplo e patrono da Abolição, que alcançou o mais alto grau
na maçonaria, o de venerável mestre. A chegada da Prince Hall ao país busca,
portanto, ampliar essa representatividade e oferecer um espaço de pertencimento
e fortalecimento para homens negros.
Com cerca de 80 membros
atualmente, o ramo brasileiro da Prince Hall nasceu da iniciativa de maçons
egressos de outras lojas, inclusive brancas. Iniciou suas atividades com três
lojas e hoje conta com seis unidades. Desmistificando as antigas e infundadas
acusações contra a maçonaria, a Prince Hall segue princípios semelhantes a
outras lojas, com a exigência de que o candidato seja alfabetizado e possua
estabilidade financeira. Interessados que atendam a esses requisitos podem,
inclusive, se candidatar online, demonstrando a modernidade e a abertura da
instituição.
A maçonaria negra Prince Hall surge no Brasil como um movimento promissor, carregado de significado histórico e potencial transformador. Ao abrir suas portas para a inclusão e oferecer um espaço de representatividade para homens negros, ela não apenas diversifica o cenário maçônico nacional, mas também ecoa um chamado por equidade e reconhecimento em toda a sociedade brasileira.
Esse artigo é baseado na matéria de autoria de Marcos Zibordi publicada no portal Terra.com.br
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