Em um Funeral Maçônico: Pertencente ao Além


O Rito que Une os Irmãos na Eternidade

A sala está em silêncio. Com passos ritmados e solenes, os maçons se posicionam dois a dois. De terno escuro e avental branco, adentram a cerimônia que marcará para sempre a memória dos presentes. Então, o mestre funerário, despojado de chapéu, luvas e joias, entoa:
“Nosso irmão chegou ao fim de suas labutas terrenas. O frágil fio que o prendia à Terra foi rompido e o espírito liberto alçou voo para o mundo desconhecido.”

Estas palavras iniciam o rito fúnebre maçônico — uma das cerimônias mais simbólicas e tocantes da tradição da Arte Real. Celebrações como essa ecoaram nos funerais de maçons célebres como George Washington, Wolfgang Amadeus Mozart e Thurgood Marshall. Cada uma delas é uma ponte entre o visível e o invisível, entre a vida e o além, entre irmãos que se despedem e aqueles que permanecem.

Mas o funeral maçônico não é apenas um tributo ao falecido — é também um serviço profundamente voltado aos vivos. A cerimônia, apesar de breve (dura em média sete minutos), é repleta de simbolismo e emoção, oferecendo conforto, inspiração e uma nova compreensão tanto para maçons quanto para seus familiares e amigos não iniciados.

Um Rito para os Vivos

“O serviço consegue encapsular lindamente a nossa visão espiritual”, afirma Dan Moran, maçom veterano da Loja Santa Bárbara nº 192. Ele relata como o rito fúnebre revelou ao público um aspecto oculto, mas essencial, da vida do falecido. Muitas vezes, familiares se emocionam ao ver tantos estranhos — maçons desconhecidos — prestando homenagens com profundo respeito e fraternidade.

Ao participar do funeral de seu pai, também maçom, Moran redescobriu sua própria relação com a Ordem. “Foi comovente e fortaleceu minha conexão com a Maçonaria”, diz. “Também me ajudou a reconstruir minha compreensão do meu pai.”

Simbolismo e Esperança

No cerimonial, elementos simbólicos marcam presença: o avental branco de pele de cordeiro (símbolo da pureza), o ramo de acácia (representando a imortalidade da alma), uma planta perene e o Livro Sagrado repousam sobre o caixão. Esses símbolos, às vezes desconhecidos dos familiares, ganham novo significado quando explicados durante o ritual. “De repente, aquele avental estranho do vovô passa a ter um sentido profundo”, diz Matt Vander Horck, Grande Palestrante e membro da Loja Long Beach № 327.

Esse vislumbre dos valores maçônicos inspira. Muitos visitantes, tocados pelo cerimonial, expressam o desejo de conhecer melhor a Maçonaria ou mesmo de ingressar nela. Para os familiares, o rito não é apenas uma despedida: é uma revelação. Um símbolo de pertencimento que continua mesmo após a morte.

A Loja Que Nunca Fecha

Na Maçonaria, todo irmão tem direito a um funeral com honras maçônicas. O Mestre da Loja, junto à família, organiza o rito com carinho, mesmo que o falecido não tenha frequentado a Loja com regularidade. Isso se deve a um princípio fundamental: a fraternidade é eterna. Como diz Moran, “a maioria dos maçons a serviço do meu pai não o conhecia, mas estavam ali, firmes, porque sabiam que ele era parte da mesma corrente de união.”

Para quem observa de fora, é um testemunho poderoso de solidariedade. Para os irmãos, é uma lembrança de que não importa o tempo ou a distância: uma vez maçom, sempre maçom.

Um Chamado ao Compromisso

Moran reforça a importância de que os maçons mais jovens conheçam e valorizem esse rito. “Será que eles percebem o quão belo é o culto e que provavelmente participarão dele um dia, seja como oficiantes ou homenageados?” Refletindo sobre sua própria trajetória — iniciado aos 23 anos e hoje com décadas de vivência maçônica —, ele se sente tocado ao imaginar que um dia as mesmas palavras que ele já proferiu ecoarão em sua própria despedida.

E quando o mestre funerário conclui sua fala, dirigindo-se à “loja abençoada que tempo algum pode fechar”, há uma certeza que transcende o momento: ali, na luz eterna da fraternidade, todos os irmãos se reencontrarão, para nunca mais se separarem.


Em tempos de perda, o funeral maçônico não apenas consola. Ele revela. Ele conecta. Ele transforma. É um rito de passagem que reafirma o que os maçons carregam consigo desde a iniciação: que pertencem a algo maior, uma corrente viva que atravessa as eras e resplandece mesmo diante da morte.

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