Por Irmão Armindo Azevedo (*)
A data de 6 de novembro, que deu início a
esta COP 27 que chega agora ao fim, não foi escolhida por acaso pelos seus
organizadores; ela coincidiu com as celebrações do Dia Internacional para a
Prevenção da Exploração do Meio Ambiente em Tempos de Guerra e Conflito Armado.
Como afirmaram os responsáveis das Nações Unidas na altura da criação desta
efeméride, em 2001, o meio ambiente é por norma a vítima não divulgada das
guerras, entre fontes de água contaminadas, colheitas incendiadas, florestas
cortadas e solos envenenados com o intuito de assim prejudicar os inimigos e
obter vantagem militar.
Para além disso, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estabeleceu já uma correlação: Nos últimos 60 anos, pelo menos 40% de todos os conflitos internos estiveram ligados à exploração de recursos naturais, seja pelo seu valor elevado seja pela sua escassez. Basta mencionarmos, por exemplo, a ligação entre os terroristas moçambicanos e o tráfico de madeiras exóticas, para comprovarmos a razão de ser da conclusão do PNUMA.
Por regra, embora a atual guerra da Rússia à
Ucrânia seja uma exceção, é mais elevada a probabilidade de conflitos armados
em grande escala em países com menor índice de desenvolvimento, precisamente
aqueles que mais estiveram em foco nesta conferência climática em Sharm
El-Sheikh. Entidades como o Climate Vulnerable Forum, o fórum
internacional constituído por 58 países membros de África, da Ásia, das
Caraíbas e da América Latina e Pacífico e que representa cerca de 1,4 mil
milhões de pessoas, têm prosseguido uma linha de atuação que visa precisamente
levar ao reforço dos apoios dados para a transição energética e o combate às
alterações climáticas nos países mais pobres e com menor estabilidade interna,
em especial no hemisfério sul. Sendo também aqueles onde é esperada uma maior
pressão demográfica numa altura em que o planeta já atingiu -- e ultrapassou --
o assombroso número de 8 bilhões de habitantes, prevendo-se chegar aos 9 bilhões
já em meados da próxima década.
Para os maçons, toda esta situação é
preocupante e provoca diversas reações e reflexões, que deverão conduzir
obrigatoriamente a ações concretas no sentido de corrigir as assimetrias
existentes e minorar os efeitos negativos a nível climático. Também para esse
efeito, a Maçonaria Regular portuguesa reativou muito recentemente a
Confederação Maçónica da Língua Portuguesa -- CMLP, com a intenção de esta vir
a tornar-se o fórum privilegiado de diálogo, mas também de concertação de
iniciativas que, no âmbito da lusofonia maçónica, permitam ir ao encontro dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) identificados pelas Nações
Unidas na Agenda 2030.
A Maçonaria Regular está numa situação
privilegiada, pela nossa abrangência não apenas territorial, mas também social,
para servir como plataforma de intercâmbio de recursos, de definição de
atividades e de comunhão de princípios, inquietudes e experiências, entre os
países que partilham o português como língua comum.
Na minha qualidade de economista, sei bem
avaliar a dimensão quantitativa dos apoios económicos que são necessários ainda
para os cumprimentos dos objetivos traçados pela ONU, em especial nos países em
desenvolvimento. Mas, como Maçom e responsável pela Maçonaria Regular em
Portugal, cumpre-me destacar também a relevância da parte intangível, mas não
menos fundamental, desse esforço coletivo.
Se a COP 27 deu agora um passo determinante para a implementação efetiva de medidas, visando uma definitiva passagem das palavras aos atos, também a Maçonaria Regular, em plataformas e fóruns como a CMLP, mas igualmente em outras, continuará a tratar o combate aos efeitos das alterações climáticas como uma prioridade, ao nível das suas ações de solidariedade e de fraternidade. Precisamos, todos nós, de tirar o pé do acelerador nesta "autoestrada para o inferno ambiental", tão assustadoramente descrita pelo secretário-geral António Guterres, e de colocar toda a tração numa mudança assente na solidariedade, na fraternidade e na esperança. É chegada a hora de um verdadeiro Pacto de Solidariedade Climática!
Fonte: https://www.dn.pt
(*) Armindo Azevedo, Grão-Mestre da Grande Loja Regular de Portugal-Grande Loja Legal de Portugal
1 Comentários
A defesa do meio ambiente passa pela reordenação e limitação da extração de minerais bem como fiscalização dos rejeitos, dos tratos com desastres como o da alunorte e os da Vale do Rio Doce.
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