A SOLIDARIEDADE

Por Irmão Carlos E. Maurin

Para delimitar o tema, iniciarei esta reflexão definindo o conceito de Solidariedade.

Solidariedade: segundo o Dicionário da Real Academia diz: é o insólito ou obrigação conjunta. Adesão a uma causa.

Solidário, ria: Aplica-se a insílidum ou obrigações conjuntas, e a quem as contrata.

Do ponto de vista filosófico, podemos apontar que este termo é de origem jurídica que na linguagem corrente, comum e filosófica, significa:

1) relação ou interdependência recíproca: Por exemplo, “Solidariedade dos fenômenos”;

2) assistência recíproca entre membros de um mesmo grupo (por exemplo, Solidariedade, família, Solidariedade humana, etc.).

Nesse sentido, fala-se de solidariedade para indicar a doutrina moral e jurídica que toma a solidariedade como ideia fundamental (Bourgeois, La solidarité, 1897).

A humanidade, em sua evolução sem fim, vem passando desde tempos remotos por despertares de solidariedade cujas manifestações dificilmente são vistas neste século. Estes sentimentos traduzem-se por vezes em grupos, em coletividades de homens que, despidos do egoísmo inato com que a vida nasce, sentem a necessidade urgente de abrigar o seu espírito em ambientes de fraternidade onde possam trabalhar em benefício dos seus semelhantes.

Assim, pretende-se a formação de uma sociedade perfeita que, possuindo as mais elevadas concepções sobre a missão do homem, o estimule, incitando-o a construir, meditar e desenvolver sua mentalidade como justa homenagem ao progresso e à civilização. Só assim foi possível aperfeiçoar as artes, as ciências e as indústrias e purificar os costumes e o melhor sentido de compreensão que se pode ver em cada manifestação da Natureza.

Mas nesta tarefa titânica, em que se realizaram séculos de trabalho e luta, ainda não se dissipou o horizonte de um bem-estar definitivo, de uma união plena e de paz na Humanidade. E é que a cooperação profana em fluxo é como um lago onde as águas se tornam turvas à menor brisa, e onde há lábios que modulam e selam uma aliança, é para que mais tarde o furacão do ódio e da discórdia desperte.

Uma das bases fundamentais da instituição maçônica é a solidariedade, e com certeza sua vida não teria se estendido até nossos dias, se os maçons não a tivessem praticado com todo carinho e amplitude.

A Antiga Constituição Estatutária das Lojas Maçônicas da Inglaterra, publicada pela primeira vez pelo Caro Irmão Krause como uma das três Constituições mais antigas da Irmandade dos Maçons, diz entre outras coisas:

Devemos ser solidários... «Estar prontos a servir a todos e, na medida do possível, unir os laços de uma amizade duradoura; não veja para isso, impedimento na diferença de religião ou de opiniões.»

O verdadeiro maçom não pede solidariedade, dá-a integralmente, lealmente, e quem o faz é um homem nobre, íntegro, que não espera reciprocidade. Irmãos, cultivemos em nossos corações o sentimento de pura solidariedade e o ofereçamos sem relutância a todos os Irmãos, e quando todos formos mais perfeitos, essa solidariedade será para todos os nossos semelhantes entregue sem esforço ou ostentação, sutilmente como a Violeta que se descobre ao espalhar o requinte de seu aroma.

Além da solidariedade, aderimos à ESPERANÇA, é o nosso guia e com isso quero dizer que vivemos. A vida, que nos permite contemplar tão belos espetáculos naturais, é a mais preciosa fonte de vigor que impulsiona nossas obras. Enquanto ela não nos abandonar, procuremos fazer-nos dignos da Ordem, pois assim estaremos cumprindo deveres de humanidade que o mundo profano não pode compreender porque tem um espesso véu de preconceito social, intolerância e baixa paixões sobre seus olhos.

Como aprendizes hoje nossos passos são desajeitados, mas a esperança de saber caminhar direto para o Oriente em busca da Luz e também marchar decididamente de um lado ao outro do Templo, investigando o que ignoramos.

Busquemos aquela verdade formidável que nos abrirá o horizonte onde encontraremos mais luz para o nosso trabalho e os meios mais precisos para erguer dentro de nós aquele templo do qual já construímos três degraus e que estamos decididos a equipar depois de cinco.

Para encontrar a Luz, devemos lembrar o que Kant nos aponta, como ele resolve os fatos, não em outros fatos mais simples da consciência, mas em elementos que, combinados entre si, reproduzem um fato novo. A análise passa então a fazer uma criação de síntese. Ela constitui a união das leis do entendimento sob princípios. Não se dirige diretamente aos objetos, mas apenas aos juízos do entendimento.

Seguindo o pensamento kantiano, na lei moral não se atende senão à iniciativa pessoal. Respeite a pessoa em si antes nos outros; sempre como um fim, nunca como um meio, o kantismo aparece como um racionalismo crítico e integral, no qual a Razão pura define exatamente seu valor e os limites de seu domínio, onde estende seu império soberano, dando ao homem seu máximo de ciência, vontade e esperança.

Lembremos que o racionalismo de Kant penetrou profundamente na Maçonaria e no pensamento francês do século XIX. A moralidade kantiana é a carta legal do nosso direito individual. A razão prática confere ao indivíduo, como pessoa moral, igualdade entre todos os seres dotados de discernimento. É a ideia principal da declaração dos direitos do homem e das teorias da democracia. A moral internacional encontra aí sua principal fonte de teorias e práticas.

Nossa instituição está profundamente impregnada dessas doutrinas; e no campo de ação, nossos atos respondem sempre a uma inspiração kantiana.

No apiário humano, o homem caminha e luta, mistura-se em mil manifestações diversas; materialidade, o consumismo o absorve e ele não tem pressa em se orientar para faróis de luz onde possa romper o tênue véu de escuridão. Mas chega um dia em que, sedento de amor fraterno, quando, animado por um espírito de investigação da verdade, em sua essência mais infinita, o neófito se une à imensa cadeia da Maçonaria, moldando seu espírito dentro dela com as doutrinas de uma , filosofia prática e pura.

O tempo da ação das individualidades, por mais poderosas que sejam, já passou; os tempos atuais são os da predominância de organismos coletivos que somam, fortalecem e multiplicam os poderes individuais.

É colaboração, e mais do que isso, solidariedade junto com fraternidade, o chamado para imprimir novos rumos e horizontes para o sucesso em todas as esferas da atividade humana.

Para realizar um trabalho fecundo e útil, é necessário que a fraternidade, juntamente com o sentimento de solidariedade, presida a todos os atos de cada um dos membros da Maçonaria, e dominada por tão nobre sentimento, ajude na trabalhar, oferecer sua assistência determinada, estabelecer diretrizes, indicar medidas e estratégias de progresso, em uma palavra, trabalhar maçônico.

Unidos e em Interação Social Solidária, aqueles de nós que se dizem irmãos devem coexistir, porque servimos com intenções puras e limpas em nossas ações. Os mesmos ideais de progresso humano, e enquanto o fizermos e porque o fizermos, a fraternidade mais íntima deve proteger-nos a todos, em todas as circunstâncias conducentes a agir com nobreza.


BIBLIOGRAFIA:

1. F.F.G. “Deveres dos irmãos”. Prancha. Da Loja Nº. 9, 1923.

2. Nicola Abbagnano. "Dicionário Filosófico". Editar. F.C.E. México-Buenos Aires., pp.1206.1963.

3. Reflexões de C. Maurin. Livro. O que é Filosofia.



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