Ir.´. Didier Thierry - Tradução J. Filardo
Para um V. M:. , quando “desce” do cargo,
essa descida não se limita ao seu aspecto ritualístico e se traduz em uma
série de vantagens e desvantagens, cuja natureza varia, em nossa opinião,
dependendo da personalidade de cada um.
Para começar, gostaria de dizer que o fato de
ter de considerar esta função em termo é necessariamente iniciática para o
futuro Ex-V:. M:., e eu encontrei diversos V:. M:.s que estavam longe de ser os
mais narcisistas, não desejar ocupar esta função: como tal nada é anodino
em Maçonaria. Pode sempre, certamente, existir várias razões para
não assumir uma função, mas no ritual de instalação do colégio de
oficiais é dito que é geralmente o Ex-V:. M:. que honrando essa posição;
é que alguma parte da instrução maçônica se baseia discretamente na necessidade
iniciática que ele teria de passar por esta etapa. É também a única articulação
semântica direta que faz o referido ritual entre duas funções da loja: para as
outras funções, o ritual se contenta em esclarecer a função em si, sem maiores
digressões e sem referência a uma outra função.
O ritual lembra a humildade necessária que o
ex-venerável deve ter, ou pelo menos aprender com a migração de uma posição de
posição mais solar para a posição dita a mais humilde: é dizer pouco demais.
Assim a função de cobridor é bem menos comum e, portanto, menos humilde do que
se possa pensar: primeiro tem-se que deixar algumas migalhas de privilégio ao
pobre ex-venerável, às vezes adoçar um pouco a sua angústia, e é por isso que o
cobridor pode se dirigir diretamente ao V:. M:. sem passar pelos vigilantes.
Mais a sério, é uma forma simbólica de afirmar sua capacidade de não precisar
de uma transmissão de palavra triangulada, portanto, dominar r suficientemente
aquilo que precisa ser dito, como dizer, e não precisar mais adquirir a
temperança necessária para esta abordagem.
Bem entendido, estas virtudes acordadas ao
cobridor originam-se de tanto de sua função quando da real capacidade daquele
que a ocupa de ter superado ou não este obstáculo. Além disso, durante a
cerimônia de posse, o cobridor presta juramento no altar, na mesma condição dos
principais oficiais da Loja, e não é apenas nomeado entre as colunas. Sua
instalação não se faz “por último”, como se se atribuísse uma lógica linear ao
desenrolar da cerimônia, mas “sob cobertura” dos outros oficiais tendo
jurado, uma posição que confirma sua qualidade de defensor da loja e de seus
ocupantes, mas igualmente suas prerrogativas de Ex-VM.
Há, portanto, uma pequena ambivalência, mas
esta é necessária; no ritual de instalação entre o espírito e a letra, a letra
quase qualifica o cobridor como recluso, e o espírito que lhe empresta,
ao contrário das prerrogativas, um papel menos visível, mas também estrutural.
Convém atentar para esta ambivalência quando queremos entender melhor a
progressão maçônica: de fato, a ambivalência de um fato não é a transformação
de um significado, ela é adicionado por aquele que teria evoluído de um
outro significado possível.
Quanto ao restante, não passam de questões de
caráter, mas nada, em todo caso, será tudo preto ou tudo branco: esta separação
aparente entre as funções de V:. M:. e de cobridor, muito separada, é até
mesmo um pouco caricatural em sua formalização moralista, tal como vista no
ritual não terá de igual, na minha opinião, a não ser a diversidade e a nuance
de comportamentos diante desta tradução simbólica desde o Oriente em direção ao
Ocidente: eu falo somente de tradução e não apenas de descida, porque o
cobridor normalmente está localizado no ocidente de sua loja, mas também
deslocado em direção ao norte e não no centro ou em direção ao sul : podemos
ver nisso classicamente, um meio de se apoiar sobre o caráter discreto, de
contenção necessária que o novo cobridor deve a partir de agora aplicar quanto
à sua influência sobre a loja, posição ao nore que lhe permite meditar sobre
a relatividade das coisas. Eu vejo aqui a necessidade de, desculpem o neologismo,
não “frontalizar” a relação entre o VM atual e o cobridor, e “suavizar”
esta ligação se isso for necessário: já constatei, de fato, em
lojas de diferentes graus e de todos os gêneros, a atitude latente de um
cobridor cioso de suas antigas prerrogativas, de desafiar a autoridade do V:.
M:. através de intervenções tão numerosas quanto inúteis.
A espada que o cobridor possui não deve ser
dirigida para o interior da loja, mas para fora, e usando uma metáfora um
pouco simplista, lutar contra demônios externos, porque agora estamos em um
vaso fechado, onde as divergências, se tiverem que existir, devem permanecer
ligadas ao exercício iniciático, e não são, portanto, de responsabilidade
do irmão cobridor. A espada não é realmente portada pelo cobridor, a não
ser quando ele se levanta, se aproxima da porta da loja, sejam para sair da
loja para verificar a regularidade da abertura dos trabalhos, ou a regularidade
de um irmão que chega.
O cobridor está, assim, de certa forma armado
para um eventual combate contra elementos capazes de perturbar o bom andamento
dos trabalhos: ele pode passar instantaneamente do meio sagrado ao ambiente
profano, o que testemunha nela a necessidade de maturidade iniciática: é
algo, eu penso, sobre o que se deve meditar, em relação à constância com que um
iniciado deve fazer prova diante da variabilidade de seu ambiente.
Encontramos, no colar usado pelo irmão
cobridor, aquilo que no ritual de instalação significava um elo existente entre
o V:. M:. e o cobridor, ou seja, uma espada flamejante, uma relíquia do passado
recente, em que todos os outros oficiais carregavam o emblema da sua função do
momento.
Há, portanto, sem insistir demais sobre este
ponto, alguma coisa no estabelecimento da ligação virtual com o V. M:. – cobridor
que se origina da vigilância e da intemporalidade e, portanto, de uma possível
abertura sobre o espiritual incorporada à temporalidade necessária de outras
funções. Um último ponto é o sentimento subjetivo e variável,
inclusive em um mesmo indivíduo, que desperta o local ou o assento do cobridor:
é o sentimento de ser o irmão mais isolado da loja, não só do V. M:. , mas
também do conjunto de irmãos, a posição ocupada pelo mestre de harmonia
variando de uma loja para outra.
Existe um duplo aspecto relacionado com este
sentimento; primeiro, um lado incontestável de “descanso do guerreiro”
acampado no fundo, ou à entrada da loja, dependendo como isso é entendido e que
permite abarcar o conjunto da loja. E depois há também, e este é certamente o
que provoca às vezes intervenções excessivas de parte do cobridor, um
sentimento de “aposentadoria” compulsória.
O amplo espaço de movimentação diante do
cobridor, aliado a esta incontrolável impressão de estar preso ao Ocidente
poderia levar a se pensar em um esplêndido sentimento de isolamento.
É verdade que a posição do cobridor pode ser
sentida como uma espécie de exílio, se ele considera que a sua terra natural
era o Oriente, mesmo que saibamos, os maçons, não sermos proprietários de
nenhuma das funções simbólicas.
O exílio evoca um estado de “aposentadoria” e
pode, portanto, levar ao fortalecimento de todos os instintos, com o risco de
vê-los exacerbados. Esta necessidade favorece a interiorização
daquilo que se conheceu, seja favorecendo a idealização dessa mesma
lembrança, e lá onde está o perigo.
Voltemos ao Antigo Testamento: tanto o Êxodo
nos dá a imagem de uma fuga sem retorno quanto o exílio, a serem abordados como
um todo, sugere dois pontos ligados por um traço: o antes e o depois: assim, o
exílio pode exacerbar as ligações pelas lembranças de uma pertença roubada e
pela esperança de um retorno, o que não corresponde, é claro, ao que se precisa
esperar dessa função.
0 Comentários